Segundo ato escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 4
Intermissão II




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POV Ginny

 

Continuei sentada no sofá, tão acomodada como antes, e encarei a tela do celular durante todo o tempo em que a foto do meu ex marido aparecia na tela, me mostrando aquele sorriso desconcertante e os olhos verdes que eu ainda considero encantadores.

A despeito de tudo isso, no entanto, Harry estava muito enganado se achava que eu ia atender as ligações e virar sua amiguinha. Eu sabia o que ele ia perguntar, e se estivesse mesmo tão preocupado comigo não teria saído de casa.

Deixei o aparelho cair no assento ao meu lado quando voltou a ficar silencioso e continuei comendo meu sorvete de morango, mas agora já não conseguia mais me concentrar no livro aberto sobre minhas pernas.

Meu olhar focou de novo o brilho dourado da aliança que envolvia meu dedo anular da mão esquerda, simbolizando uma união que só existia nas fotos empilhadas no nosso antigo quarto. Eu sabia que tinha que parar de usá-la, mas todas as vezes que tentei tirar não consegui concluir a ação e acabei escorregando-a de volta para o local onde se acomodava tão bem.

A nova linha dos meus pensamentos, que já se enveredava perigosamente para assuntos que não deveriam me importar e consistiam basicamente no que Harry estaria fazendo sem mim e como estaria usando seu tempo livre, foi interrompida por uma nova chamada que não consegui de forma alguma encarar como coincidência.

—Oi, Mione. - Dessa vez atendi e levei o aparelho ao ouvido.

—Oi, Gin, você está bem? Faz dias que ninguém te vê.

Mais precisamente três semanas, no nosso último encontro eu estava carregando duas malas com a mudança de quem provavelmente a pediu para fazer essa pergunta.

—Essa preocupação é sua ou da pessoa que estava me ligando até dois minutos atrás? Porque não estou conseguindo acreditar na coincidência.

—Estamos só preocupados, Gin. - Ela não negou a especulação, me dando certeza absoluta.

—Mione, diga ao Harry que se preocupar comigo não faz mais parte do escopo de tarefas dele.

—Não é só o Harry, eu e o Ron também.

—Ah, é? Nev também estava preocupado comigo, sabe o que ele fez? Veio aqui em casa umas duas vezes nesse meio tempo.

—Gin, por favor! As vezes que tentamos você já tinha compromisso.

—E também não vejo motivo pra estar todo mundo querendo desesperadamente me ver. O que vocês estão achando? Que vou cometer suicídio? - Meu tom irônico deixou a reclamação quase infantil.

—Não, só estamos querendo que você saiba que pode conversar e contar conosco, porque é impossível que você não esteja triste. - Ela deu uma pausa, como se estivesse mesmo falando para uma criança. - O outro lado da situação estava morando aqui até ontem e nos deu uma boa ideia de como isso dói, e olha que ele nem é dramático igual a você.

Mal registrei a última parte.

—Estava? Não está mais?

—Não, ele alugou um apartamento e o Ron o ajudou a levar as coisas hoje de manhã.

—Uhn. - Murmurei, sem saber o que dizer.

Harry tem uma nova casa agora. Eu sabia que aconteceria, mas a confirmação me mostrou que eu não encararia isso tão normalmente quanto gostaria.

—Vamos sair, fazer alguma coisa só nós duas. - Minha cunhada sugeriu. - Faz tempo que não temos um dia de meninas.

Mione era quase tão minha amiga quanto Neville, diferenciando apenas no fato de que nos conhecíamos só desde a adolescência e não a vida inteira, mas tinha a infinita vantagem de também gostar de alguns passeios que envolviam provadores e os corredores iluminados de um shopping.

A ideia me empolgou, eu estava mesmo precisando fazer alguma coisa diferente do que encarar uma sala de aula e lamentar a minha vida.

—Gostei da ideia, vamos.

—Sábado que vem? Hoje já está meio tarde e eu vou sair com o Ron.

—Combinado, passo aí para te buscar umas onze e almoçamos em algum lugar.

—Sem pressa para voltar pra casa?

—Sem pressa, é óbvio. Na sexta a noite combinamos nossas roupas.

Nós duas gargalhamos com a frase familiar que antecedia todos os nossos passeios de adolescente.

—Até lá, Gin.

—Até, beijos.

Depois de uma semana em que nada diferente aconteceu, exceto a companhia de Nev e Luna para jantar um dia, tomei café em casa sem pressa e saí no horário combinado para buscar minha cunhada numa manhã ensolarada de sábado.

Ela abriu a porta pouco tempo depois que buzinei e se acomodou no banco ao meu lado para me dar um abraço. Havia um acordo mútuo de que não falaríamos sobre nada que envolvesse coisas tristes, então meu primeiro comentário foi sobre sua roupa.

—Eu disse que com essa camiseta o sapato azul ficaria melhor, está linda. - Elogiei.

—Obrigada. - Virou para afivelar o cinto de segurança. - Ron não entendeu nada ontem quando me viu tirando foto das roupas para mandar pra você.

—Esse meu irmão sem imaginação. - Zombei. - Vocês dois estão bem?

—Estamos. Ele te mandou um beijo, saiu para o futebol um pouquinho antes de você chegar.

—Obrigada, se ele estiver em casa quando voltarmos eu entro para vê-lo.

—Aonde vamos?

—Estou aberta a sugestões, mas pensei naquele shopping novo.

—Tem muita coisa legal lá, né? - Comentou pensativa.

—Tem, mas ainda não olhei tudo.

—Então vamos.

Cruzei as ruas tranquilas até nosso destino, ainda vazio devido o horário e dia da semana, e não tive problemas para encontrar uma vaga perto da entrada.

Nenhuma de nós duas tinha pressa, então a princípio caminhamos rindo e conversando por entre os corredores, apenas olhando as vitrines mais legais, e nos concentramos em procurar um lugar para almoçar.

—Obrigada. - Agradeci ao garçom que colocou o prato na minha frente.

Mione fez o mesmo e a princípio não falamos nada, apenas concentradas em devorar o salmão bem preparado que parecia tão apetitoso quanto o cardápio sugeria.

—Como está sendo em casa? - Ela me perguntou um tempo depois, soando receosa.

Era muito tempo de convívio para que eu achasse que ela realmente não perguntaria nada, eu já estava tão preparada que nem perdi tempo me incomodando.

—Está indo. - Dei de ombros, porque não havia muito mais o que dizer. - Ainda é estranho chegar em casa e saber que ninguém vai entrar daqui a pouco, e não sei o que fazer com as cervejas na geladeira. O Ron não quer, não?

Ela riu um pouco e eu acabei acompanhando.

—Vou perguntar pra ele.

O silêncio que se seguiu não durou muito.

—E a noite?

—A gente tem que ver o lado bom, não é o que todo mundo diz? Ninguém mais fica puxando minha coberta.

—Falando sério agora.

—É a pior parte, nunca pensei que fosse tão difícil me acostumar a dormir sozinha de novo. Parece que falta alguma coisa, mas vai passar.

Ela não falou nada e eu entendi que ela não soubesse o que dizer.

—E ele? - Me rendi à vontade de saber.

—Ficou muito quieto esses dias todos, mesmo quando conversava conosco parecia estar meio distante, mas nós notamos que ele está triste.

Eu conseguia imaginar com perfeição a expressão distante que ela citou, era a mesma que exibia quase o tempo todo em casa ultimamente, pensando em outras coisas enquanto eu tentava conversar, e calado o tempo todo se eu não tentasse puxar assunto. Isso quer dizer que eu não o fazia mais feliz?

Chacoalhei a cabeça para espantar suposições que provavelmente estragariam nosso passeio e tomei um gole grande do meu suco.

—Guarde esses assuntos só pra você, ta bom?

—É claro, Gin. - Mione rolou os olhos, como se meu pedido fosse dispensável.

—Estou falando do Ron, ele não consegue segurar a língua enorme dele dentro da boca.

—Coitado. - Defendeu o marido, soando quase ofendida.

Terminamos nossos pratos e seguimos para as lojas que nos chamaram atenção, começando a parte mais divertida dos nossos encontros. Opinei em todas roupas sociais que ela experimentou para completar seu guarda roupas de trabalho e ela fez o mesmo quando experimentei alguns vestidos para usar no verão que já estava no fim.

Saímos da terceira loja com algumas sacolas a mais e ela me puxou para dentro da quarta, que não vendia nada além de lingerie.

Debrucei no balcão e apenas olhei enquanto Mione se decidia entre modelos e cores diversas, mas semelhantes na quantidade escassa de tecido e pudores.

—Não vai comprar nada? - Perguntou, me mostrando um conjunto verde que era exatamente do jeito que eu compraria se houvesse um motivo para isso.

—Para chegar em casa, vestir e te mandar uma foto? Obrigada, vou me poupar esse gasto inútil.

Ela gargalhou abertamente da minha expressão carrancuda, sem nem se incomodar com o tom irônico da minha resposta.

—Lingerie nunca é demais.

—Lingerie é o que eu mais tenho, Mione, obrigada.

Encerrei o assunto e esperei ela terminar de fazer suas compras.

Enquanto minha amiga se decidia, continuei olhando para o conjunto sensual que ela abandonou no balcão ao que eu estava encostada. Não se veste algo assim para depois colocar uma calça jeans e passar o dia dando aula, eles tinham um objetivo bem diferente e muito específico. Eu tinha inúmeros daquele, uma variedade de modelos e cores que enchia uma gaveta inteira do meu armário, mas não conseguia me lembrar da última vez em que estive dentro de um, nem mesmo no meu aniversário, pouco menos de um mês antes do Harry ir embora, nem no dele, duas semanas antes do meu.

Eu não me incomodava em vestir e ele não se interessava em pedir. Até nisso deixamos de ser nós mesmos, e éramos ótimos nesse quesito quando eu ainda era o foco da sua atenção.

Empurrei para longe a pontada de insegurança que me acometeu dizendo que eu não era mais atraente para o meu próprio marido, tentando me convencer a todo custo de que ele ainda me olhava, ainda que não com a mesma expressão de vontade e frequência de quando as coisas ainda eram ótimas.

—Vamos? - A voz da minha amiga me despertou dos devaneios.

—Quer ajuda para carregar? - Perguntei irônica, vendo o tanto de coisas que ela estava carregando.

—Eu aguento sozinha, obrigada. - Respondeu da mesma forma e se dirigiu ao caixa.

Quando esgotamos nossa energia e paciência, enfiamos todas as sacolas no porta malas e nos acomodamos para voltar para casa.

—Gin… - Seu tom cauteloso me fez arquear a sobrancelha.

—Uhn.

—Esse ano vamos comemorar o natal lá em casa, já falamos com seus pais, você também está convidada.

—Ele vai estar lá?

—Somos a família dele também, você sabe.

Respirei fundo, dizendo para mim mesma que era impossível evitá-lo para sempre e uma hora eu teria que encará-lo de novo.

—Você não pode faltar, Gin.

—Mione, o Harry não vai me impedir de estar nos lugares, claro que vou passar o natal com a minha família. Não vou deixar de fazer qualquer coisa que seja com vocês porque ele resolveu dar o ar da graça também.

—Assim que se fala. - Parabenizou, parecendo aliviada. - Quer jantar comigo e o Ron? Ele com certeza já estará em casa essa hora.

—Quero.

Continuamos nosso caminho em meio a assuntos mais leves, e eu a ajudei a tirar todas suas sacolas do porta malas quando chegamos à casa em que ela e meu irmão moravam desde que se casaram.

Mione abriu a o portão e me deixou entrar na frente, o carro do Ron na garagem indicava que ele já estava ali. Nunca tivemos cerimônia param entrar na casa um do outro, então sem esperá-la girei a maçaneta da porta da sala e entrei, afinal já tinha dias que eu não o via e estava com saudades.

—Oi, Roniquinho. - Cumprimente animada.

Ao contrário do cabelo ruivo que eu esperava ver no sofá que fica de frente para a entrada, um par de olhos verdes me encarava sem dizer nada, sério e impassível, mas levemente surpreso. A postura calma e relaxada que ele demonstrava sendo traída pelo maxilar travado com força, quase prendendo a respiração.

A última vez que vi aquele rosto, não foi a expressão calma de agora que encontrei, e sim monte de fúria e gritos que ainda ecoavam todas as noites na minha cabeça quando eu me deitava para dormir.

Eu não saberia precisar o tempo que fiquei parada no mesmo lugar, sem conseguir desviar o olhar daqueles olhos verdes que também me encaravam. Foi tempo suficiente, no entanto, para eu saber que não queria vê-lo, pelo menos não naquele momento, não quanto tudo ainda era tão recente e não seria nada além de literalmente vê-lo.

Não me importei em olhar em volta, nem em procurar meu irmão, nem em ser educada. Não me importei com absolutamente nada, nem com como isso pareceria, apenas me virei sem dizer nada, empurrei as sacolas da minha cunhada para ela e cruzei a garagem novamente. O portão estava destrancado, então não tive problemas para entrar no carro e ir para casa.

 

POV Harry

 

Hermione entrou um segundo depois que Ginny se virou e saiu sem dizer uma palavra, num gesto que me dizia muito claramente que eu não era bem vindo nem no seu campo de visão.

—Nossa, que simpática. Ai! - Elogiei sarcástico e minha amiga me deu um tapa na testa quando passou por mim.

—Fica quieto, Harry. Oi, amor.

Ela e o Ron se cumprimentaram com um beijo e ele se sentou para dividir o sofá com ela.

—Achei que ela fosse ficar pra jantar.

A especulação não era para mim, mas foi impossível não ouvir.

—Ela ia, mas não ficou.

—Vão em frente, me culpem pela falta de civilidade e contato com a família também. - Tentei ser irônico, mas só consegui soar amargurado.

Os dois me olharam desconfiados, mas nenhum deles falou nada. Continuei sentado na mesma posição, olhando para a porta por onde poucos minutos antes minha ex mulher tinha passado.

Foi o maior tempo que já fiquei sem vê-la desde que me levantei da mesa daquele boteco para ir ao banheiro e ela esbarrou em mim porque estava chegando atrasada, como sempre, no aniversário do próprio irmão. Agora percebi que nem eu e nem meu estômago estávamos acostumados com essa falta toda, porque eu não conseguia pensar em nada além daquela expressão indecifrável e ele não parava de dar cambalhotas.

Trinta dias não era tempo suficiente para deixar alguém mais bonito, mas a saudade conseguia fazer isso com perfeição e Ginny me pareceu ter quase uma luz própria reluzente ao redor. Eu poderia ter dito a ela que estava ainda mais linda do que antes, mas era um pouco tarde para os tais elogios que minha colega de trabalho citou.

Um mês inteirinho sem ouvir histórias de alunos, sem ter que fazer o jantar para dois quando chego em casa cedo nem encontrar o meu já pronto quando chego tarde, sem ouvir aquela risada fácil e escandalosa, sem ninguém me perguntando se eu quero companhia para tomar banho e depois reclamando que molhou o cabelo por minha culpa. Mas também era um mês sem nenhuma briga por motivo ridículo.

—Harry?

—Oi. - Me virei para encarar uma Hermione com expressão divertida.

—Você vai?

—Onde?

—Ficar pra jantar. - Esclareceu num tom que me dizia que aquela pergunta já tinha sido feita.

—Vou.

—Então desmancha essa cara de idiota. - Ron falou sem muita empatia e eu lhe lancei um gesto obsceno.

—Francamente, porque vocês dois não sentam e conversam logo? - Mione me perguntou, querendo mesmo entender.

—Porque nada mudou, Mione.

—Mudou sim, meu caro, agora eu aguento más respostas porque você quer saber se ela está bem e eu é que tenho que perguntar, a gente só esquece que a Ginny sabe melhor que todo mundo aqui somar um mais um.

Ri do péssimo trocadilho, mas ela não pareceu achar graça.

—Se esse é o problema, não se incomode porque não vai mais acontecer, ao que parece me preocupar com ela não faz mais parte do meu escopo de tarefas, não é?

Ela rolou os olhos para o meu tom sarcástico ao repetir o recado que ela mesma me deu.

—É disso que eu estou falando, parecem duas crianças! - Jogou os cabelos cacheados para trás, exasperada. - Ficam aí repetindo essas intriguinhas bestas, mas um não para de querer saber como o outro está.

—Ah, então se preocupar comigo faz parte do escopo de tarefas dela? - Li nas entrelinhas e entendi como me era conveniente.

—Não dá para conversar com você, Harry.

—E com a Ginny dá?

—Sim, passamos um dia ótimo juntas.

Pensei em agradecer a maneira sutil com que ela disse que não faço falta, mas decidi que era melhor não prolongar o assunto.

Pelo visto minha ex esposa era muito mais eficiente em criar novos hábitos e se desfazer dos antigos, porque ela já conseguia passar um dia ótimo com a amiga no shopping e eu ainda errava o caminho da minha nova casa se me distraísse enquanto dirigia.

Por duas ou três vezes me atentei apenas quando já estava quase embicando o carro no portão da casa, agora, dela. A última vez, inclusive, aconteceu no meio da semana que passou e o carro do Nev estava parado lá na frente. Na ocasião senti pena dos ouvidos dele, mas agora sei que provavelmente ele estava rindo e se divertindo dos assuntos espirituosos que Ginny tirava sabe lá de onde quando os dois estão juntos, e não servindo de muro para lamentações que provavelmente não existiam.

Será que ela também acorda a noite sentindo falta de alguém do lado e se lembra que agora é assim que as coisas são ou já superou mais esse detalhe?

Ginny continuou morando na nossa casa, dormindo na nossa cama, cercada das nossas coisas, convivendo com tudo o que era nosso, e pelo visto já conseguia agir melhor do que eu que recomecei sem nada que a lembrasse além da foto na minha carteira e alguns presentes que ela me deu e vieram na minha mala.

Mas por que é que estou pensando nisso, afinal? Eu é que fui embora, a ideia de que ela me supere e viva bem sem mim não deveria me apavorar dessa forma.

—E como está na casa nova? - Minha amiga perguntou enquanto eu mastigava um pedaço de pizza.

—Me acostumando. - Dei de ombros, sem mais o que dizer sobre isso.

—Vou ver se essa semana passo lá para conhecer.

—Cuidado, não vão caber vocês dois. - Ron zombou do tamanho do meu novo lar.

—Eu não preciso de nada maior que aquilo. - Defendi meu modesto apartamento.

—Se você se sente bem lá é o que importa, Harry. - Minha amiga comentou.

—As coisas já acalmaram no trabalho ou ainda está fazendo aqueles horários loucos?

—Não está mais tão corrido, mas ainda temos muito o que fazer. - Meu amigo não precisava saber que a intenção daqueles horários loucos era evitar os assuntos que ele puxava e que envolviam sua irmã.

—Meus pais te mandaram um beijo, falei com eles essa semana.

—Obrigado.

Os meus ex sogros moravam numa cidade pequena cerca de quarenta minutos de distância daqui, e sempre tinham me tratado como muito mais que um genro.

—Harry, esse ano o jantar de natal será aqui em casa. - Mione me informou. - Nem pense em inventar desculpas para não vir! - Acrescentou quando adotei uma expressão pensativa.

—Eu venho, mas você já sabe o clima que vai ficar se ela não vier porque eu estou aqui. - Apontei para a sala enquanto dizia, indicando que eu estava falando da pessoa que se recusou a entrar. - A prévia foi ótima, e por mais que eu me sinta acolhido, vocês são a família dela na verdade.

—Pare de ser idiota, somos a sua família também. - Ron me jogou um guardanapo, que errou o alvo e foi parar no chão da cozinha.

—E pode descartar essa preocupação, Ginny já confirmou que vem.

—Tudo bem. - Dei de ombros, tentando parecer casual, mas internamente calculando quanto tempo faltava para o encontro iminente.

Assim que terminamos de comer, me despedi dos dois e atravessei a cidade em direção ao prédio na área mais central da cidade, onde agora eu morava.

Deixei meu carro na garagem subterrânea e subi de elevador os quatro andares necessários. Entrei direto na pequena sala modestamente decorada com um sofá de dois lugares e uma TV.

Fui direto até a cozinha, dividida do cômodo anterior apenas por um balcão, e tomei um copo de água enquanto olhava as luzes acesas da cidade, amplamente visíveis nessa altura, depois fiz o caminho inverso e entrei no meu quarto, o cômodo mais ao fundo que acomodava um guarda roupa, uma cama de casal e uma cômoda abaixo da janela, deixei minha carteira e as chaves em cima do único criado mudo.

Deixei minha roupa de lado e depois de um banho demorado me joguei na cama sem me incomodar em afastar o lençol, o clima quente o suficiente para eu não precisar me cobrir.

Me estiquei e alcancei a carteira, trazendo-a para a minha frente e abrindo direto na foto que mostrava Ginny sorridente em nossa lua de mel, o cabelo voando com o vento forte do litoral paradisíaco em que estávamos.

Por vários minutos admirei a foto à minha frente, quase sentindo o cheiro de maresia e me vendo de novo por trás da câmera digital enquanto fazia as vezes de fotógrafo.

Eram dias como aquele que eu queria de volta, em que nada além de nós dois juntos importava e aquele sorriso grande para o qual eu estava olhando espelhava o meu. Nós estávamos tão felizes naquele dia que poderia estar chovendo, ainda teria sido perfeito.

Bufei contrariado, joguei a carteira de volta onde estava e me levantei para fechar a janela, mas parei a meio caminho e olhei para ela pensativo, por que eu estava indo fechá-la? Ginny era quem odiava dormir com o que ela chamava de um caminho livre para insetos voadores, essa possibilidade nunca me incomodou.

Me deitei novamente e, aproveitando o ar refrescante da noite, uma das liberdades recém adquiridas com meu novo estado civil, dormi pouco tempo depois.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
Eles demoraram um mês para pelo menos se verem outra vez, e essas foram as reações. Não foram muito promissoras, né?
Não deixem de me dizer o que acharam.
Beijos e até semana que vem.



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