Segundo ato escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 11
Intermissão IX


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, quem fala aqui é a Fe! A Paulinha teve uns imprevistos e para não deixar vocês sem capítulo de SA me pediu para postar.
Sem mais delongas, vejo vocês lá nas notas finais :)



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POV Ginny

 

A euforia de saber que eu ainda mexia com Harry de alguma forma durou pouco, mais precisamente apenas até eu chegar em casa e me ver sozinha entre todos aqueles cômodos que planejamos juntos. E daí que eu ainda ainda o excitava, que diferença isso fazia quando na prática não tínhamos mais nenhum tipo de contato?

A pequena troca de mensagens veio apenas para confirmar o que eu sempre soube: meu ex marido não era bobo, e embora não gostasse nada de números, não demorou nem um pouco para somar dois mais dois e entender minhas intenções. Não me senti de forma alguma constrangida por ele saber, mas entendi o recado de que para ele aquilo também não mudava nada, continuamos apenas sendo uma lembrança na vida do outro.

Eu não deixaria que essa nova informação me fizesse voltar a lamentar a vida e chorar pelo que não tinha mais, como há vários meses não fazia, então me forcei a não pensar em nada que envolvesse Harry e uma mulher de rosto desconhecido juntos e continuei levando minha rotina exatamente como antes: aulas que eu lecionava, aulas que eu assistia e qualquer outra coisa que eu tivesse vontade de fazer sempre que algum tempo me sobrava.

As aulas do doutorado tomavam apenas duas tardes da minha semana, mas as que restavam eu preenchia com trabalhos, correções, atividades na faculdade e, esporadicamente, saía com alguns colegas do corpo docente. Num desses encontros, em uma pizzaria no centro da cidade, Allan, um especialista em física quântica que havia ministrado uma palestra para os alunos, se juntou a nós para se divertir um pouco também.

A noite se arrastou em meio a risadas, conversas, bebidas, brincadeiras e olhares, tanto dele para mim, quanto meus para ele. Allan era um homem bonito, divertido e inteligente, características suficientes para eu continuar exatamente onde estava a cada vez que um dos meus colegas de trabalho se levantava para ir embora.

Quando só restava eu e ele ali, descobri que envolvente e atraente também poderia ser incluído em sua lista de característica. Não recusei o primeiro beijo, nem o segundo, nem o décimo e também disse sim ao seu convite para ir até a casa dele. Eu sabia exatamente o que esperar quando chegasse lá e não fui decepcionada em nada.

A nossa noite agradável e prazerosa acabou no sábado após o café da manhã, que foi tomado num horário mais apropriado ao almoço. Depois disso eu tomei um banho, vesti outra vez as roupas que estava usando quando cheguei e voltei para casa depois de dizer sim ao último pedido: meu telefone.

Nos dias que se seguiram não tive nenhuma notícia dele, o que me passou completamente despercebido, e as lembranças da noite de sexta ficaram arquivadas num lugar onde meu cérebro praticamente não as via, junto com todas aquelas coisas que se faz apenas para matar algum tipo de vontade.

Saí da minha aula de terça feira completamente cansada e com uma carga enorme de trabalho para a semana seguinte. Atravessei a universidade com minha pilha de livros e cheguei ao estacionamento sem encontrar ninguém conhecido, o que me ajudou a ir mais rápido para casa. No caminho, quando parei no semáforo de um cruzamento bastante movimentado, um adolescente me entregou um panfleto publicitário que eu ia jogar direto no chão em frente ao banco do passageiro, mas o produto oferecido me fez parar a meio caminho e prestar mais atenção: oportunidade única de ter seu próprio refúgio no interior.

Só desviei meus olhos do papel quando o som da buzina do carro de trás me indicou que eu deveria voltar a andar, mas a partir daí o trânsito não teve mais minha completa atenção.

Harry era louco para comprar uma chácara no interior, um lugar para irmos aos finais de semana, sozinhos ou com a família, deixar um pouco de lado a correria da cidade e apenas espairecer. Eu, no entanto, nunca fui muito inclinada à vida no campo e não via nenhum sentido em adquirir outra propriedade, então acabava desencorajando e não concordando com a ideia.

Pensando agora, me pareceu um gesto extremamente egoísta da minha parte, porque tínhamos condições suficientes para isso e era só uma casa, mas o faria feliz. Não que nosso tempo fosse completamente livre para pequenas viagens todos os finais de semana, mas poderíamos ter arranjado um tempo a cada um ou dois meses, passado o final de semana inteiro juntos, longe dos problemas e de qualquer outra pessoa, e compartilhado uma infinidade de bons momentos.

Estacionei o carro na garagem e esperei o portão automático se fechar antes de entrar, ainda segurando o mesmo folheto. Me sentei na mesa de jantar e li as informações contidas ali: localização, tamanhos, preços aproximados, facilidades do local. Agora que não havia mais minha negação, será que ele ainda pensava nisso? Será que a tal namorada sabia o suficiente dele para apanhar um panfleto como esse no semáforo e guardar apenas para que ele visse que ela se importa? Será que ele pedia a opinião dela, dividia planos, sonhos e também tentava convencê-la dizendo como seria legal os filhos deles correndo pela grama?

Pensar nisso trouxe aquele velho aperto por dentro, aquele incômodo quase físico que me fazia querer pegar o telefone e exigir agora saber onde ele estava, com quem e o que estava fazendo. Fechei os olhos com força para tentar aquietar a sensação, senti minhas mãos se fechando em punho e o papel se amassando entre meus dedos, mas nem me importei. Quando abri os olhos de novo, senti a umidade se acumulando neles, a sensação de perda, aquela vontade enorme de voltar no tempo.

Como nada do que eu realmente queria era possível, me limitei a jogar no lixo a pelota que virou o anúncio, secar os olhos e buscar meu material de estudo que ainda estava sobre o banco do meu carro. Eu não podia fazer nada para mudar meus sentimentos nesse momento, mas podia me concentrar em mantê-los o mais afastados possível, escondidos atrás da minha muralha de números e fórmulas.

Ron e Mione me convidaram para jantar com eles no sábado, o que eu aceitei sem nem precisar pensar muito, eu já não os via há mais dias do que o habitual. A última vez me encontrei com eles também também foi a última vez que me encontrei com Harry, quase um mês atrás, mas os dois eram uma saudade que eu podia matar quando quisesse.

Cheguei até a casa deles no fim da tarde para termos mais tempo juntos. Me acomodei na mesa da cozinha com minha cunhada e nos estendemos em uma conversa longa enquanto meu irmão, responsável pelo cardápio do dia, terminava de preparar as panquecas recheadas em que ele se dizia especialista.

Por mais que meu irmão também não fosse nada quieto, acompanhar o ritmo de conversa da esposa comigo era algo que ele não conseguia fazer, então logo após terminarmos de comer ele saiu da cozinha e se acomodou no sofá da sala para assistir um pouco de TV. Entre um assunto e outro com minha cunhada, ouvi quando meu nome foi chamado:

—Gin, seu celular está tocando.

Pedi um minuto para ela e fui até a sala apanhar o aparelho, que exibia um número desconhecido na tela. Sem conseguir identificar, agradeci ao Ron por me avisar e voltei à cozinha enquanto atendia a chamada.

—Alô?

—Ginny? - A voz não me era completamente estranha, mas também não consegui distinguir de imediato.

—Isso, quem é?

—É o Allan, tudo bem?

Me surpreendeu saber quem estava falando, mas nada como a cara que Mione fez para mim quando me ouviu cumprimentá-lo e confirmar que estava livre no próximo final de semana e gostaria de sair com ele outra vez. Mal tive tempo de encerrar a chamada e ela me lançou a primeira pergunta:

—Quem é Allan?

—Um palestrante de física que se apresentou na universidade na semana passada, e depois saiu conosco para comer umas pizzas.

—Bonito?

—Nenhuma capa de revista, mas sim,bonito.

—Você saiu com ele? - Perguntou interessada.

—Sim, nós dormimos juntos depois do jantar. - Contei de uma vez, já sabendo que ela faria rodeios em torno da pergunta até eu falar tudo.

Minha cunhada abriu a boca numa expressão engraçada de surpresa e curiosidade.

—Me conta tudo!

—Tudo mesmo? Eu posso ser bem detalhista, você sabe, não vá me interromper depois que eu começar. - Ameacei em tom de brincadeira e ela riu.

—Deixa pra lá, só me conta o essencial. Foi bom?

—Matou a vontade, era esse o objetivo, então foi.

—Foi bom o suficiente para você querer sair com ele de novo, né?

—Sim, bom o suficiente para isso.

—E depois disso vocês vão continuar se vendo?

—Não vejo por que não, ele é legal. - Dei de ombros para enfatizar que para mim era indiferente.

Deixei meu celular sobre a mesa e mudamos de assunto outra vez, dando continuidade à nossa lista de conversas que pareciam não ter fim.

 

POV Harry

 

Eu sabia que estava atrasado para encontrar Vivian na casa dela, mas infelizmente meu carro não estava dando muita atenção para isso e a bateria do meu celular também não se importava.

Em nossos quase dois meses de relacionamento, eu nunca havia me atrasado para nenhum compromisso, mas dessa vez nada estava funcionando, então achei melhor começar a me preparar psicologicamente para o interrogatório que se seguiria assim que eu passasse pela porta e em todos os argumentos que teria que usar para ela não acabar a noite com a cara fechada para mim.

Se algum ponto positivo havia nisso tudo, é que a reconciliação seria fantástica. Sempre era.

—Ei, Harry, quer uma carona para casa? Amanhã você chama um mecânico e resolve isso, essa hora acho que não vai encontrar mais ninguém. - Minha colega de trabalho ofereceu.

Chegar atrasado já era ruim, com a Helen, então, seria insuportável. Mas era a única alternativa viável nesse momento.

—Acho que vou aceitar, mas estou indo para a casa da Vivian, você se importa?

Ela não fez a menor questão de disfarçar a cara de desagrado, mas ao menos dessa vez não  fez nenhum comentário.

—Não me importo, fazer o que? Entra aí.

Durante o percurso, desviei completamente o assunto de mim com perguntas a respeito do bebê. Ela ainda não sabia o sexo, mas já estava comprando todas as coisas possíveis em cores neutras, o que me fazia suspeitar que quando as opções rosa ou azul se tornassem viáveis já não houvesse onde guardar mais nada.

Quando viramos na rua da casa da minha namorada, ao longe eu a vi no portão recebendo uma caixa de pizza.

Meu primeiro pensamento foi que agora tudo seria pior, mas mantive isso só para mim.

—Obrigado, Helen. E me conte se conseguirem descobrir o sexo na consulta de amanhã. - Me despedi e me inclinei para dar um beijo em seu rosto.

Enquanto ela também se despedia, vi de canto de olho quando Vivian me identificou dentro do carro e parou para me esperar. Ela lançou um aceno simpático para a moça ao meu lado e se acomodou encostada à grade, sem demonstrar nenhuma pressa.

Me apressei em sair do carro e ir até lá, apreensivo.

—Oi, Vi. Meu carro não queria funcionar e Helen me deu uma carona. - Expliquei, mantendo um passo de distância entre nós.

—Acontece. - Foi sua única resposta antes de se adiantar e me dar um beijo. - Tomei a liberdade de pedir, estava com fome.

—Ótimo, também estou.

Eu a olhei sem saber o que esperar diante da falta de reação, mas ela já tinha se virado para entrar e não percebeu.

Atravessamos o hall de entrada, subimos de elevador e jantamos em meio a uma conversa tão normal que eu não consegui relaxar. Tudo o que eu pensava era na hora que ela explodiria e exigiria respostas enquanto fazia as acusações mais descabidas possíveis.

—O que foi, Harry? - Sua voz interrompeu meu devaneio um tempo depois.

—Nada, por quê?

—Não sei, você nem parece que está aqui. - Explicou, dando de ombros.

—Ah, desculpe. - Falei para desviar o assunto, mas depois achei melhor explicar tudo de uma vez sem esperar que ela perguntasse, porque eu já conhecia esse jogo também. - Olhe, o que aconteceu foi que meu carro não estava funcionando quando saí da empresa, meu celular está sem bateria e Helen me ofereceu uma carona. Eu só me atrasei porque tive uma reunião no fim do dia, então não consegui sair a tempo.

Disse tudo de uma vez, me explicando, mas no fim ela estava me olhando meio divertida.

—Tudo bem, imprevistos acontecem. - Me olhou meio confusa antes de voltar a focar seu prato. - Foi tudo bem na reunião? Odeio essas coisas no fim do dia. Mais pizza?

Estávamos juntos há pouco tempo, então Vivian não se espantou com minha falta de tato ao lidar com a situação, mas eu não consegui deixar de olhar para ela como se fosse de outro mundo.

—Não, obrigado. Foi tudo bem. - Respondi desviando o olhar para baixo.

Eu nunca gostei de momentos como esse, quando a verdade cai sobre nós com um peso esmagador e tudo se torna claro como deveria ter sido desde sempre.

Deixei os talheres sobre o prato e passei as mãos no cabelo, subitamente cansado. A quem eu queria enganar? Olhei para a mulher à minha frente: os cabelos pretos e curtos emoldurando o rosto despreocupado e jovial, bonita e inteligente, querendo compartilhar boa parte da sua vida comigo.

Eu sonhei em ouvir aquelas palavras nos sete anos anteriores: a confiança, em mim e nela, o reconhecimento de que não se controla tudo e que imprevistos acontecem, a simpatia espontânea e verdadeira com qualquer outra mulher que se aproximasse de mim sem deixar uma distância mínima de dois metros e, mais importante, que isso não significasse uma mini guerra nuclear todas as vezes, algumas inclusive quando nenhuma das situações acima tinha acontecido fora da sua imaginação.

Era a frase certa, a reação certa, o fim de noite certo e a paz tão certa e desejada, mas tudo acompanhado da pessoa errada.

Por um lado parecia completamente insano para mim, mas se nesse momento eu tivesse como escolher entre a calmaria e a compreensão de agora e a companhia explosiva e gostosa que vinha me fazendo falta há quase um ano, eu voltaria correndo para casa. Minha ex casa.

Vivian era linda e interessante, mas se explodisse daquele jeito comigo uma vez sequer, eu a deixaria falando sozinha sem nem olhar para trás. Ginny o fez por sete anos, a maioria dos quais minha única preocupação era contornar a situação para que ela não se sentisse mal.

A verdade era que algumas coisas só se suportava de uma pessoa: a pessoa certa.

Mas também não era justo continuar aqui quando eu gostaria de estar em outro lugar, e eu não conseguiria continuar com isso.

—Vi, escute. - Comecei, me virando para ela.

Seu olhar descrente e superior me mostrou que ela já sabia de tudo. Não sei se isso facilitava ou não.

—Continue, estou escutando.

—Desculpe, mas não posso continuar com isso. - Falei de uma vez.

—E eu terei uma explicação ao menos?

Não havia como dizer isso sem magoá-la, mas eu não sairia daqui com mentiras.

—Se eu for sincero comigo mesmo, não é aqui que eu quero estar.

—É com ela, não é? A ex. - Seu tom de descaso ao dizer a última palavra não me passou despercebido, mas foi compreensível.

A única coisa que eu havia dito era que eu  já havia sido casado. Não dei nomes, descrições, não mostrei uma foto, nem expus os motivos para não ser mais. Ginny era um assunto que eu não costumava debater nem comigo mesmo, então não o faria com mais ninguém.

—É ela, sim.

Assim que confirmei, Vivian soltou uma risada debochada que me incomodou.

—Uau. - Comentou me encarando. - Ela era tão louca e insegura assim?

—O que? - Eu ouvi perfeitamente bem, só gostaria de ter certeza.

Foram exatamente os termos que usei antes de sair batendo a porta e deixando a vida toda para trás. Ouvindo agora, de outra pessoa, me pareceu tão ofensivo que optei por não responder à altura.

—Você chegou se explicando por uma coisa tão idiota, como se eu fosse exigir saber todos os seus passos. Ela exigia, não exigia? - Perguntou com superioridade, e isso me irritou profundamente.

—Eu não vou falar sobre isso. - Afirmei para seu olhar cético.

—Não sei o que você espera, Harry, mas é melhor não continuarmos com isso mesmo, porque eu nunca serei tão sem auto confiança assim, nem tão ridícula e neurótica. - Continuou no mesmo tom.

—Você também nunca será ela, o que é uma pena em muitos aspectos que não te dizem respeito. - Respondi para fazer jus à necessidade gritante de defender a pessoa que ela atacava injustamente e que não tinha nada a ver com isso.

Seu olhar cortante não escondeu completamente a mágoa que havia por trás da raiva contida. Respirei fundo para me acalmar também, e me levantei.

—Melhor eu ir embora.

—Também acho. - Concordou friamente.

—Desculpe por isso. - Falei antes de abrir a porta e sair.

Não era a primeira vez que eu protagonizava essa ação, mas dessa vez o que me encontrou na rua foi a liberdade, não a culpa.


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Notas finais do capítulo

Será que eu ouvi um amém para o fim desse namoro do Harry? Mas justo quando conseguimos nos livrar da Vivian aparece um tal de Allan na história?? Já digo que não gostei... hauhauha
Se vocês são como eu e estão com os nervos a flor da pele para ver o Harry e a Ginny juntos de novo, eu posso imaginar a ansiedade pelos próximos capítulos.
Não deixem de dizer nos comentários o que vocês acharam desse capítulo que terminou bombástico, afinal como não aumentar as esperanças ao ver o Harry defendendo a Ginny? A Paulinha vai amar saber todas as opiniões de vocês!
Agora é só fazer o coração aguentar até a semana que vem...

Bjus da Fe :)



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