Sakura batia um pé no outro, sentada em sua mesa do hospital. Ela estava ligeiramente nervosa com a notícia que havia recebido duas horas antes, enquanto conversava casualmente com Tsunade no escritório da mesma.

“Espero que você torne agradável a estadia de Gaara.”

Com essa frase de tão poucas palavras, a médica fora informada que, daqui a quatro dias, o Kazekage chegaria até Konoha para resolver com a Quinta questões diplomáticas e acordos secretos que só poderiam ser feitos pessoalmente, ficando na vila por sete dias. Isso não era anormal, acontecia esporadicamente; entretanto, a garota ficou surpresa com o fato de que ele não ficaria em um hotel de luxo ou nos quartos especiais na Torre da Hokage, e sim em sua casa.

Ela e Naruto haviam decidido seis meses atrás que morariam juntos, quando a notícia do falecimento de Sasuke veio à tona. Ele havia morrido em batalha contra um time da Akatsuki e, consumidos pela solidão e tristeza, além do medo de perderem um ao outro também, os dois amigos se refugiaram na companhia constante que tinham ao dividir um apartamento espaçoso e acolhedor.

No entanto, ela não havia pensado que Naruto fosse ser tão sem noção a ponto de convidar Gaara, o Kazekage, para ficar com eles durante sua estadia, e muito menos sem consultá-la antes. Ele havia feito o convite na última visita do rapaz, porém não pareceu ter esquecido do mesmo ao oferecer novamente o apartamento para o amigo.

Sakura, no entanto, estava ainda mais surpresa que Gaara tivesse de fato aceitado o convite.

Ela não tinha nada contra o Kazekage ou ressentimentos em relação a ele, longe disso! Porém algo a incomodava ligeiramente pela última experiência em que teve um contato maior com ele.

Cinco anos antes, logo quando Sakura completou dezesseis anos, foi mandada para uma espécie de intercâmbio em Suna. Lá, ela ensinou às equipes médicas coisas que havia aprendido em Konoha, e também ganhou um vasto conhecimento sobre a medicina local com ervas do País do Vento.

Ela havia ficado acomodada em um dos quartos luxuosos destinados às pessoas que vinham em missões importantes, geralmente diplomatas ou outros Kages. Por esses cômodos serem situados na Torre do Kazekage, ela muitas vezes encontrava Gaara pelos corredores e ele, muito político e educado, sempre a perguntava sobre o que ela estava achando de sua estadia. Ela se pegava atraída pela beleza do garoto e se sentia inclinada a conversar sobre assuntos menos impessoais, porém nunca havia tido a oportunidade de fazê-lo.

Até dois dias antes de retornar para Konoha, em uma noite especialmente fria em que Temari convidou-a para jantar em sua casa, sendo recebida calorosamente pela amiga e por Kankurou, que considerava muito Sakura por ela ter salvado sua vida no ano anterior. Gaara também estava lá, sendo reservado como sempre. Aquela comida que ela não se lembrava do nome estava delicioso e, após o jantar, Sakura educadamente se ofereceu para lavar a louça.

No meio do seu mais novo afazer, Sakura foi surpreendida pela chegada do garoto de cabelos vermelhos, dizendo que havia se incomodado com a folga de sua irmã, fazendo uma visitante lavar a louça, e que dividiria o restante do trabalho com ela. No fim, os dois acabaram conversando bastante – mais por insistência de Sakura, que sempre começava um novo assunto quando Gaara deixava o anterior morrer – e, então, a iryou-nin foi capaz de observar a beleza do seu companheiro de perto, logo quando ele começou a se tornar mais familiar com ela e cooperar para o rendimento da conversa, interessado em saber mais sobre ela.

Naquela noite, Sakura desejou para todos os deuses de que se lembrava o nome para que uma força sobrenatural consumisse Gaara e que ele tomasse-a em seus braços e beijasse-a, porém nenhum deles pareceram animados em atender a sua súplica.

Pelo frio excessivo que tomou a Areia, Temari impediu que Sakura fosse embora e ofereceu-lhe o quarto de hóspedes para passar a noite (com o consentimento de seus dois irmãos, diga-se de passagem). Na manhã seguinte, sem querer incomodar qualquer um dos residentes da casa, acordou bem cedo pronta para se retirar, novamente encontrando Gaara, também preparado para sair. Como iriam pelo mesmo caminho, o Kazekage convidou-a para tomarem café da manhã juntos em uma padaria que ele frequentava todas as manhãs antes do trabalho.

Talvez Sakura estivesse com muito sono, talvez o calor tivesse mexido com o seu cérebro ou talvez aquele café pago por Gaara tivesse a iludido ligeiramente, porém ela podia jurar que o interesse que ela sentia por ele não era tão unilateral quanto ela imaginava que era.

Tal memória amedrontava ligeiramente a mulher de olhos jade. Gaara, agora mais velho, também estava mais bonito, provavelmente mais sociável e ficaria em sua casa por sete dias. Uma semana inteira convivendo com um rapaz atraente, educado e que fez o coração da Sakura de dezesseis anos bater mais forte em uma noite fria e em uma manhã quente em Suna.

Depois de alguns segundos, percebeu que a relutância em receber o Kazekage em sua casa apenas por memórias tolas adolescentes do passado era completamente estúpida. Oras, ela era uma mulher adulta, forte, inteligente e esperta, e poderia muito bem conviver com um homem (supostamente) heterossexual embaixo do mesmo teto que ela sem que os seus hormônios bagunçassem a sua cabeça. Ela não era mais uma adolescente sem noção alguma de relacionamentos!

Como a boa mulher adulta, forte, inteligente e esperta que ela era, afirmou para si mesma que os sete dias com Gaara dentro de sua casa seriam livres de qualquer problema, seja lá qual fossem.