A Senhora da Sorte escrita por Ana Letícia
Com raiva, Andrômeda arrancou o bracelete e sentou-se no chão frio. Não entendia como a própria mãe pretendia esconder dela toda aquela história, e sua avó então, era a última pessoa do mundo de quem Andrômeda esperava esse tipo de coisa.
Sem pensar, ela pegou o telefone e ligou para a avó.
— Como pôde mentir para mim? - perguntou assim que ela atendeu.
— Eu menti sobre o quê, meu bem? - perguntou a avó.
Andrômeda se enganara, ligou para a vovó Allen.
— Desculpe, vovó. Eu queria ligar para outra pessoa.
— Está bem então, procure se acalmar.
E desligou o telefone.
Andrômeda dessa vez ligou para a pessoa certa.
— Eu sei que você mentiu para mi, vovó. - disse com raiva.
— Eu não queria que você ficasse obcecada com essa história. - respondeu a vovó Montenegro.
— Mas eu tinha o direito de saber!
— Mas do que adiantaria você saber da existência do colar de ele foi roubado?
— Eu tenho o colar, vó, o colar e o bracelete.
— Mas o bracelete pertence aos Torres… Ah, não , Andrômeda, você roubou.
— Eles roubaram primeiro.
— Não te criamos para ser ladra!
— Não me importa mais. Eu tenho duas joias, e sei onde as outras duas estão, e vou pegá-las, eu vou ser a Senhora da Sorte.
— Andrômeda, isso não é uma boa ideia, você vai se tornar uma pessoa ruim.
— Veremos. - E então desligou.
***
Lana estava inquieta. Como roubaria os brincos de Lamína se ela estivesse usando eles? Ela estava realmente boa em convencer pessoas a fazerem coisas que não queriam, e depois de muito trabalho conseguiu convencer Lisa a lhe dar o endereço de Lamína. Depois de uma longa busca no Google Maps, Lana resolveu chamar um táxi. Ela pegaria os brincos esta noite.
Durante o caminho ela repassou o plano todo umas dez vezes, não tinha espaço para falhas ou contratempos, era roubar e sair.
O táxi parou em frente a casa de Lamína e Lana desceu, andou até a porta e tocou a campainha.
Uma mulher de cabelos negros e olhos azuis atendeu a porta.
— Olá? - disse ela.
— Olá, convide-me para entrar. - disse Lana usando o poder do anel.
— Entre por favor.
— Você é quem mesmo? - disse Lana.
— Jilian Grace.
— Então, Jilian Grace, que tal você ir fazer umas compras?
— Eu preciso mesmo fazer compras, sim, eu vou.
— Mãe?? - gritou Lamína.
— Estou indo para o super mercado, filha. - respondeu Jilian.
— O que?? - gritou Lamína.
— Vá agora! - ordenou Lana.
Jilian vestiu o casaco e saiu.
— Mãe, você acabou de voltar do super mercado e…
Lamína entrou na sala e viu Lana.
Lana percebeu que ela ia correr e gritou:
— Não se mexa.
Lamína parou o que estava fazendo.
— Diga-me onde estão os brincos. Agora!
— Estão na minha escrivaninha.
— Está falando a verdade? - disse Lana com mais ênfase.
— Sim.
— Então não se mexa.
Lana procurou o quarto de Lamína, quando o encontrou viu os brincos na escrivaninha. Ela os pegou e escondeu no bolso interno do casaco.
Voltou para a sala onde Lamína ainda estava parada.
— Por favor, não leve os meus brincos. - pediu Lamína.
— Sinto muito, para ser a Senhora da Sorte eu preciso deles.
— Não, por favor.
— Cala a boca! - disse Lana, e Lamína calou-se.
— Você, hum, pode voltar a fazer o que quiser daqui a cinco minutos.
Lana sabia que essa ordem quebraria o poder do anel. E então, abriu a porta e foi embora.
***
Usar o bracelete a deixava perturbada. Andrômeda estava deitada em sua cama com milhões de ideias passando por sua cabeça, quando o telefone tocou.
— Andrômeda?
— Senhora Hinostroza? O Pablo está bem?
— Sim, ele está bem, a radiografia está normal, já voltamos para casa. Ele está dormindo.
— Ah, que bom.
— Você pode vir vê-lo amanhã.
— Irei sim. Obrigada.
Andrômeda desligou e respirou fundo. Pelo menos Pablo estava bem, jamais se perdoaria se tivesse machucado ele de verdade.
Um plano aparentemente bom estava se formando na cabeça de Andrômeda. E ela estava disposta a seguir com ele.
Ela desceu as escadas para falar com a mãe.
— Me desculpe por ter jogado o colar. Eu estava nervosa, Pablo estava no hospital e eu roubei o bracelete da família dele.
A senhora Allen levou as mãos ao rosto.
— Minha filha… roubando! Andrômeda, não te criamos para isso.
— Mas eu posso ser a dona da sorte, mãe! Qual o problema em fazer umas coisinhas erradas?
— O problema é que você já está obcecada, isso não é nada bom, filha.
— Onde está o colar?
A mãe estendeu o colar para ela.
— Eu vou pegar as outras joias.
— Espere! Andrômeda, você realmente pode ser a Senhora da Sorte.
— Claro que posso, só preciso reunir as joias.
— Não, filha. Apenas as descendentes da família Montenegro podem ser.
— O que quer dizer com isso?
— A lenda foi contada várias vezes, mas o que muitas pessoas não sabiam era que além das joias existe uma outra coisa.
— O quê?
— A essência da confiança, é a quinta peça para a joia suprema, apenas quem tiver a essência pode ser a Senhora da Sorte.
— Desde quando sabe disso?
— Sua avó me ligou logo depois de você ter ligado para ela.
— Então a joia suprema pertence a mim?
— Sim.
— Então Lana jamais conseguiria. - murmurou Andrômeda.
— Eu vou atrás das outras joias.
Andrômeda saiu pela porta. E colocou o colar no pescoço sob a luz do luar.
***
Lana estava se sentindo vitoriosa. Conseguira facilmente pegar os brincos de Lamína, e agora podia ouvir os pensamentos de todo mundo.
Deitada em sua cama, ela girava o anel no dedo, um sorriso malicioso brincava em seus lábios. Agora era só precisava convencer Andrômeda a lhe dar as suas joias. Isso seria fácil.
— Lana, querida. - disse sua mãe.
— Sua colega está aqui para se desculpar. - disse a senhora Winters.
— Que?
A mãe de Lana abriu a porta do quarto e empurrou Andrômeda Allen para dentro.
— Espero que vocês façam as pazes. - disse a mãe dela e saiu do quarto fechando a porta.
— O que está fazendo aqui? - disparou Lana.
— Vim te dizer uma coisa, quero pegar os brincos da Lamína e…
Lana percebeu os olhos de Andrômeda em suas orelhas.
— Sua safada. Você já pegou os brincos! E aquela conversa de “podemos ser as donas da sorte juntas”?
— Você disse que não ia rolar. - rebateu Lana.
— Acho que não posso confiar em você então.
Lana olhou fixamente para Andrômeda, estava tentando ler seus pensamentos. Mas a mente de Andrômeda parecia um turbilhão, ela não parava de pensar várias coisas ao mesmo tempo,Lana não conseguia captar seu pensamento central, não podia prever o que ela ia falar.
— O bracelete neutraliza os brincos. - disse Lana.
— É.- disse Andrômeda.
— É genial.
— Verdade.
Andrômeda pegou um ursinho de pelúcia da prateleira de Lana e o girou nas mãos.
— Seu anel também não funciona comigo.
— Isso não é justo! - bradou Lana.
— É mais que justo. “É genial” . - disse Andrômeda imitando a voz de Lana.
Lana riu.
— Pois é uma pena que você tenha que tirá-lo na escola. Não vai querer que Pablo veja que você roubou a família dele não é?
Andrômeda ficou pálida.
— Você não vai contar, vai?
— Claro que não. Você seria obrigada a devolver e eles esconderiam num lugar mais seguro, é claro que com meu anel eu poderia pegar mas não quero me dar ao trabalho. Mas você não vai poder usar perto dele, e ele sempre está na sua cola. - Lana riu – E eu vou cuidar para que ele não saia do seu pé.
— Você é baixa.
— E você é ladra.
— Você é uma ladra pior que eu!
— Ora ora, podemos ficar nessa discussão por dias e nada muda o fato de que temos o que a outra quer. E ainda tem a Lamína, ela pode tentar algo.
— Lana.
— O quê?
— Quando você pegou os brincos da Lamína, você lembrou de proibir ela de contar para o Lorenzo que eu roubei a família dele!?
E foi a vez de Lana ficar pálida.
Elas correram para a saída da casa.
— Para onde vão, meninas? - gritou a senhora Winters.
— Vamos, hum, tomar um iogurte. - disse Lana.
Andrômeda franziu a testa e Lana deu de ombros.
— Não volte tarde. - disse a mãe dela.
Elas correram pelo meio da rua em direção à casa de Lamína.
— Espera! - gritou Andrômeda.- Ela pode estar indo para a casa do Lorenzo.
— De onde tirou isso?
— O bracelete me fez pensar muita coisa.
— Mas tem razão, vamos para lá.
Elas correram para a casa dos Hinostroza, estavam entrando no jardim quando viram Lamína esticando o braço para apertar a campainha.
— Não! - gritaram juntas.
Lamína parou e se virou. Foi pelo efeito do anel de Lana.
— Você não pode contar para ninguém que Andrômeda roubou o bracelete, e nem sobre as outras joias. - disse Lana.
— Não posso contar. - repetiu Lamína.
Alguém abriu a porta da casa dos Hinostroza.
— Pensei ter ouvido um grito. - disse Lorenzo.
As três olharam para ele. Andrômeda e Lana ficaram geladas.
— Eu vim aqui falar com você, e eu, eu…. Eu… - gaguejou Lamína.
— Ela não consegue contar. - sussurrou Andrômeda.
— Ela veio aqui se declarar pra você. - disse Lana. - Estávamos encorajando, viemos dar apoio.
— Isso mesmo. - disse Andrômeda.
— Diga a ele, Lamína, que você gosta dele mesmo, de verdade. - disse Lana usando o poder do anel.
Lamína, sem ter escolha disse:
— Eu amo você, Lorenzo.
— Oh, - disse Lorenzo.- eu não sabia, bem, hum, minha mãe tá me chamando.
Lorenzo correu para dentro de casa.
— Eu odeio vocês! - disse Lamína e foi embora.
Lana e Andrômeda respiraram aliviadas.
— Foi por pouco. - disse Lana
— Você quase estragou tudo, Winters!
Lana revirou os olhos.
— Eu vou para casa. - disse Andrômeda depois de um tempo.
— Também vou. Mas nós temos um acordo?
— Não confio em você, além disso…
— O quê?
— Nada, mas não pense que vai me roubar facilmente.
— Veremos. - disse Lana.
E caminharam de volta para suas casas.
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