Me arrependo de muitas coisas. Mas só das que eu não fiz. Já estou bem grandinho e penso que parar para lembrar da minha adolescência seja alguma forma de apego ao passado. Eu devia largar disso, não é? 

Ou eu deveria aproveitar a vida e fazer todas essas coisas que tenho vontade?

Ficar na rua até tarde, olhando o céu, observando as estrelas, sentindo a brisa fria da noite. Beber, beijar, ouvir músicas que mexam com meu cérebro, que me causem arrepios na espinha. Fumar, ingerir certas substancias… 

Quero sair com amigos e rir espontaneamente. Quero falar de coisas divertidas, quero ser eu. Falar sobre teorias da conspiração ou sobre aquela série bacana que todo mundo está assistindo. Daquele filme que todos esperam chegar aos cinemas.

Ler todos aqueles livros que tenho na minha estante.

Quero sentir que estou vivo e que vale a pena continuar assim. Quero sentir minha mente livre, leve… Quem sabe momentaneamente vazia. Quero ser saudosista na hora certa, para as coisas certas.

Relaxar, esquecer de todas as preocupações e responsabilidades que chegaram sem avisar. Só um pouco… Somente um pouquinho… Poder sorrir e me divertir como há muito eu não faço.

Viajar, conhecer lugares, culturas diversas, outras línguas, climas novos. Quero ver neve. Quero ir a praia mais uma vez.

Se eu tivesse coragem, quem sabe eu já tivesse feito tudo isso e muito mais. Largar tudo e sair correndo, gritando. Sinto inveja de quem consegue se libertar. Mas aí é que está a questão: Eu devo? Não devo? Posso? Não posso?

Há pessoas que dependem de mim, e pessoas de quem eu dependo. Simplesmente não posso abandoná-las. E nada disso seria justo se repentinamente eu saísse por aí sem saber se aqueles com quem eu me importo estão bem.

Não conseguiria me sentir a vontade, e não aproveitaria nada daquilo que desejo.

A frase “as vezes é bom ser egoísta para o nosso próprio bem estar.” martela em minha mente de maneira constante. Me pergunto, eu devo mesmo ser egoísta por mim? Eu me levo nessa tentação e muitas vezes me arrependo e tudo termina com uma vontade forte de querer desaparecer.

Se sou maduro o suficiente? Eu não sei. Porém tenho noção de que preciso melhorar em alguns aspectos. Especialmente aprender a ouvir e esquecer, e não absorver…

Me sinto responsável por pessoas, me preocupo e absorvo a agonia. E isso me prejudica, mas se eu não tentar nada… Eu serei uma péssima pessoa?

Levar pequenos acontecimentos a sério demais… Quando já estou saturado de outros, pode soar infantilidade de minha parte. Mas a verdade é que estou desesperado e quebrado por dentro. Eu não sei qual é o meu limite, mas me sinto cada vez mais próximo. Não importa se tem como retardar isso, ele sempre volta e volta forte. Esmagador.

Os problemas sempre estarão aí, mais cruéis do que nunca. Sempre ouço que não podemos desistir, mas… É tão difícil. Querer esquecer de tudo é sedutor demais.

Ah… Eu devia me declarar para aquela garota. Mas não vou… 

Ah… Eu devia tirar férias. Não posso…

Ah… Eu devia ser mais produtivo no trabalho. Não consigo…

Ah… Eu devia desabafar com alguém. Não consigo também… É mais difícil ainda…

Eu só consigo escrever.