Acordei com sol batendo no meu rosto e suspirei.

É claro que meu quarto tinha cortinas, mas eu havia decidido não fechá-las, para que não dormisse até muito tarde.

Me troquei rapidamente e fui até a minha varanda, que dava para o imenso jardim. O cheiro de primavera que pairava pelo ar era mais delicioso do que qualquer outro cheiro daquele palácio. Ele, de alguma forma, me lembrava minha mãe.

Era doloroso pensar nela. Ela nunca aceitaria o fato de que eu mataria alguém inocente que estava me tratando bem. Ser assassina de aluguel havia significado matar pessoas corruptas e cruéis, até aquele momento.

Suspirei e me apoiei na bancada da varanda.

Voltei a prestar atenção no jardim e vi James caminhando. Era difícil digerir a beleza dele. James tinha um certo brilho que permanecia com ele até de noite. Era como olhar para o sol.

Como se escutasse meus pensamentos, o olhar de James encontrou o meu, e ele me lançou um sorriso radiante.

— Bom dia, princesa! - ele gritou

— Bom dia! - sorri

— Venha para fora! - James gritou - O dia está lindo demais para ser desperdiçado dentro dessas paredes grossas! Tenho comida!

Assenti e saí dos meus aposentos, tentando lembrar do caminho inverso de que havíamos feito logo depois que eu chegara. Já no primeiro andar, trombei com Severus.

— Oi, Sev! - sorri

— Oi, Lils. - ele disse - Como passou a noite?

Suspirei.

— Pode ter sido a melhor noite de minha vida. - sorri

Ele concordou.

— Eu estava indo tomar café da manhã com James, lá fora. - eu disse

Severus franziu as sobrancelhas.

— Por que?

— Porque ele me convidou. - respondi

Severus deu ombro.

— Você sabe o que está fazendo, não sabe? - disse ele em voz baixa

O encarei.

— O que quer dizer? - perguntei

— Eu esperei por você ontem à noite, no seu quarto. - ele disse - Mas você ficou perambulando pelo castelo com o príncipe.

Bufei.

— Não sei se você lembra do que viemos fazer aqui. - sussurrei

— Eu lembro. - ele retrucou - Só temo que você esteja se esquecendo. Vocês dois já estão relativamente íntimos.

— Eu não estou apaixonada por ele, se é isso que você quer dizer. - respondi rispidamente - Eu que sei lidar com a nossa situação, Severus, não você. Eu fui contratada, não você. Pare de agir como se você fosse meu pai, ou meu namorado.

Severus revirou os olhos.

— Quanto mais tempo eu passar com James, mais rápido poderemos sair daqui. - eu disse, e em seguida já me pus a caminho do jardim, deixando-o parado em silêncio no meio do corredor vazio.

…

— Essas tortinhas são a melhor coisa que eu já comi. - eu murmurei, colocando o último pedaço da última tortinha de morango na boca.

James e eu estávamos sentados em uma toalha, perto da fonte do jardim. Ele havia pego tanta comida que suspeitei que ele tinha planos de me convidar para o café mesmo se não tivesse me visto na janela.

Ele riu.

— Minerva pode fazer mais, sempre que você quiser. - ele disse - Ela é a melhor cozinheira desse reino. E de todos os reinos. E ela é a melhor pessoa do mundo.

Sorri.

— Você conversa muito com ela?

Ele assentiu.

— Quando eu era criança eu passava horas e horas na cozinha. - ele disse - Ela era como uma mãe para mim.

— E agora?

— Ela ainda é como uma mãe para mim, mas eu tenho responsabilidades. - ele disse, como se a palavra tivesse um gosto ruim.

Ri.

— O que você faz? - perguntei

Ele me encarou.

— Lá vem você ficar me perguntando sobre minha vida. - ele sorriu

Dei de ombros, sorrindo.

— Eu tenho mexido nas finanças do reino, com Peter. - ele disse - E eu tenho treinado muito, por causa da ameaça do ditador de Durmstrang.

Assenti e senti uma raiva crescendo dentro de mim. Era James que cuidava das finanças e do dinheiro que estava indo para o povo. Não era possível que ele era inexperiente ao ponto de deixar o reino piorar daquela forma.

— Eu sei que isso não é da minha conta mas… - murmurei - Você sabe que está fazendo um trabalho horrível, não sabe?

— Perdão?— exclamou James

— Hogwarts está indo de mal a pior a cada dia. - continuei - As coisas nunca foram boas, mas agora a população está quase toda em miséria absoluta.

— Isso não é possível. - ele murmurou

— Por que não? - perguntei - Você é arrogante o bastante para crer que não faria contas erradas?

James me encarou.

— Eu assumi as finanças há meses, e eu tripliquei a cota de dinheiro destinada ao povo. - ele disse - Eu sei que as coisas estão péssimas, mas eu tenho tentado melhorá-las todos os dias.

O encarei, em silêncio.

— Você tem certeza de que as coisas não estão nem um pouco melhores? - ele perguntou

Assenti.

— Eu tenho uma amiga próxima que tem família no reino. - murmurei - Fora dos muros não tem comida, água ou segurança para todos.

James suspirou e se levantou.

— Sinto muito, Lily. - ele disse - Eu tenho que achar Peter, precisamos revisar contas para descobrir o que está acontecendo.

Assenti.

Ele se virou para o palácio.

— James! - chamei

Ele me encarou.

— Me desculpe por tê-lo chamado de arrogante. - eu disse - Eu sei que você está fazendo um ótimo trabalho, alguma coisa deve estar acontecendo…

Ele assentiu.

— Não tem problema. - ele disse - Obrigada por ter me contado.

Assenti.

Ele se virou para o palácio novamente e saiu correndo.

Suspirei e deitei na toalha.

O céu estava azul como os olhos do meu avô e isso me fez sentir muito sua falta. Ele era um homem tão bondoso. Seria possível a situação do reino não ser culpa de James?

Tentei afastar aqueles pensamentos da minha cabeça. Afinal, não faria diferença ser ou não culpa de James. Ele estaria morto em menos de um mês.

— O que você está fazendo, princesa? - perguntou Sirius, que havia chegado por trás de mim.

— Lily, por favor. - sorri

Ele assentiu, sorrindo, e se sentou ao meu lado.

— Só estou pensando um pouco. - continuei

— Você viu James essa manhã? - ele perguntou

Assenti.

— Ele estava aqui há alguns minutos, mas saiu para resolver finanças com Peter. - murmurei

Sirius concordou.

— Ele tem estado louco com o dinheiro do reino. - ele disse - Ele assumiu há algum tempo e tem se dedicado muito para melhorar a situação do povo. Ele vai ser um ótimo rei.

Assenti, envergonhada.

— Mas, enfim, James me pediu para que eu lhe pedisse desculpas pelos meus comentários inapropriados sobre vocês dois. - Sirius sorriu - Me desculpe.

Deixei escapar uma risada.

— Não tem problema. - murmurei

Ele deu de ombros.

— James é meu melhor amigo, eu tenho a necessidade de fazê-lo passar vergonha constantemente. - ele sorriu - E vocês dois parecem estar se dando muito bem.

Assenti.

— Ele é encantador. - respondi

Sirius concordou.

— E você? - perguntei - Se dá bem com alguma garota?

Sirius riu.

— Não mesmo. - ele disse - E não temos muitas garotas na academia. Ou na Ordem. Na verdade, não temos garota alguma. Regras são regras.

— Essa é uma regra estúpida. - deixei escapar

— Você já viu uma garota que luta tão bem quanto um membro da ordem? - ele desdenhou

— Já ouvi falar de uma… - dei de ombros

— Lily Evans? - ele sorriu

O encarei e assenti, silenciosamente.

— Eu nem mesmo sei se ela é real. - ele disse - Ninguém nunca a viu e sobreviveu para contar a história.

— Deve ter alguém por trás de todos aqueles mortos. - argumentei

Sirius concordou.

— Bom, então eu aceito que Lily Evans poderia lutar tão bem quanto alguém da Ordem. - ele disse - Mas eu teria que lutar com ela para afirmar com certeza.

— Ela te mataria. - ri

— Ela iria tentar… - ele disse

Revirei os olhos.

Por um segundo, desejei estar ali como eu mesma, para poder desafiar Sirius para uma luta. Não que eu o mataria, se pudesse evitar.

— Quando eu estiver no comando, eu posso começar a fazer testes para as garotas também. - Sirius disse - Acho que não custa nada tentar.

Assenti.

— Também acho.

Sirius se levantou.

— Eu tenho que ir. Combinei com James que treinaríamos um pouco. - Sirius disse - Qualquer dia desses, você deveria ir até o salão de armas para nos assistir.

Dei uma risadinha.

— É claro. - eu disse

Ele fez uma reverência com a cabeça e se retirou, mal sabendo que em sua frente estava a assassina mais mortal do reino. Talvez até de todos eles.