O Farol e a Marinheira escrita por Pikenna


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Um pequeno e rápido conto para vocês, que eu postei no meu blog há um tempo já e agora to postando no site. Espero que gostem.



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O Farol e a Marinheira

Por Pikenna/Rebeca

One-shot

Saudosismo. Me sinto velha falando tal palavra, mas ela me leva para longe, para aquelas lembranças de nós dois. Inspiro seu cheiro ainda impregnado na cama, me inebriando momentaneamente com ele. Ouço sua voz sussurrar ao pé do meu ouvido palavras que eu não dei importância à semântica ou ao contexto, eu só escutava o som da sua voz. Vejo os contornos do seu rosto na minha mente com aquele leve esgar de lábios formando um sorriso que me faz automaticamente sorrir. Sinto o seu toque masculino na minha pele que me faz arrepiar. Lembro das suas vagas promessas nunca cumpridas. Do brilho em seu olhar que sempre continha um desejo implícito ali, segundas intenções. Do entrelace dos seus dedos aos meus que eu pensei que nunca seriam desfeitos. Dos seus beijos ora cálidos ora avassaladores. Das suas risadas esporádicas e da sua seriedade torturante. Lembro de cada detalhe. E são eles que me fazem recordar dos nossos momentos, os quais não voltarão e dos quais tenho saudades. Uma saudade sufocante. Uma saudade doida. Uma saudade com gosto amargo.

Onde está? Para onde vai? O que faz? Queria perguntar. Mas é melhor me calar. Sinto saudade somente dos seus detalhes que não me arrancaram lágrimas, uma noite em claro no estado depressiva, um pós-festa arruinado pelo simples fato de você ter me evitado a noite inteira. Não sinto falta dos detalhes que me afastaram de você e que continuam a me afastar. Não sei para onde vai, mas espero que esteja seguindo o melhor caminho, ainda que esse caminho seja sem mim. Não queria tê-lo deixado só. Não queria ter desistido de você. Mas é impossível lutar contra uma brava maré que me empurra para longe com violência. Eu não tenho forças. Canso fácil. Canso de lutar, porque fico fatigada. A possibilidade de me afogar tentando nadar no meio de ondas selvagens é enorme. Prefiro esperar na praia, segura, olhando para sol que nasce e se põe, completando o ciclo natural e formando uma palheta de cores digna de apreciação. Prefiro me manter longe, longe do perigo.

Queria alcançar o farol para que ele voltasse a brilhar, mas o mar é perigoso com suas ondas em fúria e seus animais misteriosos escondidos no fundo. Como navegar em direção ao farol com um barquinho de madeira singelo? É muito arriscado. E o farol talvez nem deseja que seja novamente ligado. Pelo menos não pela singela marinheira. Almeja aquela capitã do navio que enamorou por longos anos, cujos cabelos se avermelhavam ao toque do sol. A marinheira desistiu. Tentou ao máximo chegar perto do farol, mas não obteve êxito em sua jornada. Se tentasse com mais afinco... Não dá. Ela prefere observar o farol ao longe, na areia, esperando pelo seu brilho que nunca vem. Então ela abraça os joelhos e fixa o olhar ao longe, permitindo que a água das ondas molhe seus pés descalços.

Sinto-me exatamente como a marinheira que se apaixonou pelo farol apagado, cujo brilho só presenciou três vezes. Mas ao contrário dela, decidi não esperar. Decidi andar pela beira-mar para onde o vento me levava. Perdi inclusive meu chapéu no meio desse caminhar. Uma forte brisa soprou-o para longe, para o meio do mar e eu não quis ir buscar. Vou andando descalça sobre a areia, pensando em você, no quanto ainda gosto de você, relembrando seus detalhes. Nossos detalhes que remetem aos nossos momentos. Nossos poucos e curtos momentos. Cada vez que dou um passo, me afasto mais do farol. Adeus. Adeus farol. Não vou esperar pelo seu brilho. Não vou aguardar que decida o que quer da vida. Apenas espero que quando decidir não seja tarde demais para voltar atrás ou seguir em frente.

Eu juro que tentei entende-lo, mais do que possa imaginar, mas nesse tentar, eu me perdi, me esqueci e já não me compreendo mais. Na sua incógnita, eu criei meu automistério e na sua ausência eu senti a minha falta. Ainda sinto saudades de você e ainda te desejo. Não sei o que fazer com esse sentimento. Com esse gostar. Então, vou caminhando por essa areia, deixando o mar tocar os meus pés descalços. Vou caminhando sem saber onde chegar. Vou relembrar de mim para te esquecer. Ou pelo menos tentar. Tentar já é um passo afinal, certo? Espero que sim.


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