Ligações Perigosas escrita por Maria Gellar


Capítulo 2
Medidas desesperadas




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Era domingo, aproximadamente oito horas da noite, e o clima estava estável.

Apesar do atentado da noite anterior, eu já me sentia mais aliviada. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde eles viriam atrás de mim. Acredito que demorou muito para os inimigos do meu pai perceberem que podem atingi-lo através de sua filha.

Bem, mas no tempo presente, eu estava no meu quarto, mais precisamente sentada de pernas cruzadas em minha cama, olhando a lista de coisas já tinham sido feitas para o baile e o que ainda faltava fazer. Ser presidente do comitê de eventos sociais era uma maneira de me ocupar já que não fazia mais nada além de estudar. Li a lista mais uma vez e concluí: Amanhã eu já posso colar o cartaz de divulgação, pensei. E esse teria que ser o melhor baile de todos, eu estava merecendo uma boa festa.

Meus pensamentos foram interrompidos por fracas batidas na porta.

— Anne? — perguntou a voz do outro lado. Era o meu pai.

— Sim, pai. Pode entrar. — falei um pouco alto.

Ele entrou e se sentou na cama, de frente para mim.

— Filha, tem alguém lá embaixo que queremos que conheça. — sua expressão estava hesitante.

— Quem? — perguntei com curiosidade.

Um parente distante? Um futuro pretendente? - essa última foi a pior das hipóteses, odeio quando meus pais tentam bancar os cupidos - Enfim, foram as primeiras coisas que vieram à minha cabeça.

— Vamos descer, você já irá saber. — Roger levantou-se e pegou na minha mão para que eu fizesse o mesmo.

Levantei-me com uma expressão um tanto ansiosa. Quem poderia ser? Odiava quando tinha todo esse suspense. Achava desnecessário e sou a favor de pessoas diretas. Sem enrolação.

Roger é rígido e é sempre quem me conta as notícias ruins, já que minha mãe desabaria em lágrimas se tivesse que fazê-lo alguma vez.

E se, agora, ele não conseguiu me dizer quem eu iria conhecer, coisa boa não poderia ser. Eu só ficava imaginando quem poderia ser tão horrível que nem mesmo meu pai - o ditador inveterado - conseguiu me contar.

Quando chegamos à grande escada de madeira, meu pai soltou minha mão e desceu à minha frente. Fiquei parada no topo da escada por alguns segundos.

Depois, fui descendo degrau por degrau calmamente, com uma mão no corrimão de madeira escura, e a outra balançando ao lado do meu corpo.

Eu vi minha mãe ao lado de um homem, que aparentava ter uns 30 ou 35 anos. Ele era significativamente mais alto do que eu, loiro, olhos azuis escuros, barba por fazer, corpo definido, pele branca e rosto perfeitamente esculpido e, ainda, pude notar pela camiseta branca de manga que tinha braços levemente musculosos. Até que era...bonito. Nossa, eu nunca havia reparado tanto assim em um só homem. Mas ele realmente era bonito.

Minha mãe estava murmurando alguma coisa para o homem que até então supus ser quem eu precisava conhecer.

Parei a três degraus do chão e olhei os três à minha frente: meu pai que abraçou minha mãe de lado e ficou com a mão no seu ombro, minha mãe segurando essa mão e ao lado, o homem que estava com as duas mãos para trás e a coluna ereta. Parecia aquela pose que os príncipes faziam nos livros de histórias.

— Annelise, este é Derrick James. — Roger falou, e pausou por um instante esperando que eu falasse alguma coisa. Não o fiz. Então, continuou. — Ele é um segurança particular e nós o contratamos para protegê-la.

Demorei alguns segundos para absorver a informação. Segurança. Particular. Proteger. Essas três palavrinhas ficaram ecoando em minha mente por alguns minutos que pareciam segundos. Minha boca ficou entreaberta e, provavelmente, eu estava com a cara mais pateta do último século.

Quando recobrei meus sentidos, percebi que todos esperavam minha resposta com ansiedade.

— Segurança particular?! Para quê? — perguntei demonstrando incredulidade, mas sem alterar o tom de voz. Não queria dar uma de louca e ter mais um motivo para ter alguém me vigiando.

— Filha, — minha mãe se soltou dos braços de Roger e deu passos até ficar à minha frente. Ela pegou na minha mão, e olhou para cima, já que eu estava três degraus mais alta. — Seu pai está passando por um momento difícil na empresa. Seu... rival está querendo atingi-lo de qualquer forma e provavelmente vai pensar em você como primeiro plano.  Você já foi atacada ontem, não queremos que se repita. Isso é para seu bem. Tente entender. — ela então, voltou para o lado de meu pai.

Eu cruzei os braços e suspirei.

Vou tentar entender. Mas só tentar. Sei que não vou conseguir, meu pensamento foi esse.

Então, o tal de Derrick— pensei no nome com um tom sarcástico - se aproximou de mim e estendeu uma mão para frente para me cumprimentar.

— Prazer em conhecê-la, Senhorita Vitter — ele estava tentando ser o mais educado possível, eu podia perceber. Mas nem toda a educação do mundo iria tirar minha raiva do momento.

Descruzei um braço e coloquei a mão espalmada de frente para ele, como se estivesse parando alguma coisa.

— Você não precisa me impressionar, até porque isso seria humanamente impossível, então, me chame só de Annelise. — fiz minha voz soar o mais grossa que podia. Voltei a cruzar os braços. — Agora se me der licença, eu vou voltar ao meu quarto.

— Como quiser. — respondeu, e com a mão que estava estendida fez uma reverência que nem os homens faziam antigamente.

Dei um sorriso falso, sem mostrar os dentes, me virei e subi a escada pisando muito forte nos degraus e fazendo o maior barulho que podia.

Quando faltavam quatro degraus para chegar ao segundo andar, Derrick me chamou. Eu virei e falei um "O que foi?", muito áspera.

— Faça um bom trabalho com o baile. Fiquei sabendo que é o último do ano, ou seja, você terá que caprichar. E sou muito exigente com festas. — ele deu um sorriso sarcástico sem nem ao menos mostrar os dentes.

Metido. Estava ali não faz cinco segundos e já acha que pode ficar de piadinhas alheias? Argh!

Um momento. Eu sou muito exigente com festas, repeti a fala dele em minha mente. Mas... como ele poderia julgar a festa se ele não está em meu colégio? A não ser que... Não. Tudo menos isso. Nem pensar.

Como se lesse meus pensamentos, Felícia respondeu minhas perguntas:

— Ah sim querida, nos esquecemos de te dizer: Derrick vai estar no seu colégio a partir de amanhã. — minha mãe falou com receio, provavelmente querendo ver a minha reação.

— Como é possível ele estudar comigo sendo que parece ser meu pai?— questionei, achando-me muito inteligente pela pergunta.

— Porque não irei como um colega e sim como um avaliador da qualidade do seu colégio. — o próprio Derrick explicou e eu bufei.

Saí batendo o pé até o meu quarto, fazendo mais barulho ainda.

Quando cheguei à porta, eu abri-a e bati o mais forte que podia para que todos lá embaixo escutassem.

Sentei na cama novamente e olhei os papéis do baile todos espalhados ao lado meu lado. Juntei tudo em um monte, e coloquei em cima da minha cômoda que tinha um espelho logo em cima. Olhei-me no espelho, e falei para mim mesma.

— Eu não preciso de um guarda-costas. Eu posso me cuidar sozinha. — disse, olhando o meu reflexo e piscando rapidamente.

Quando fui me virar para deitar na cama, enrosquei meu pé na base da cômoda e vi o chão se aproximando. Caí, mas coloquei meus cotovelos para trás, assim minha cabeça não se chocou contra o mesmo. Apoiada nos cotovelos, falei comigo mesma novamente:

— Talvez eu precise. — admiti, fazendo uma careta.

Levantei-me e puxei o edredom que estava arrumado na cama, afofei o travesseiro. Joguei-me na cama, e puxei o edredom até minha cabeça, ficando totalmente coberta, invisível para quem me olhasse de fora. Coloquei minha mão esquerda para fora, assim eu desliguei o abajur e tudo ficou escuro.

Minha esperança era acordar no outro dia e perceber que foi tudo um pesadelo lúcido. É, aquele tipo de pesadelo que você está consciente, sabe? Aquele que faz parecer que realmente aconteceu, mas na verdade, era só você que teve um sonho realístico demais.

O triste era que eu acordei dessa fantasia e me convenci de que amanhã Derrick estaria ali.

E pior: indo para a mesma escola que eu. Na mesma sala, provavelmente.

Estava cansada, apesar de não ter feito nenhum esforço aparente durante o dia, e por sorte, caí num sono rapidamente.

Livrei minha mente dos pensamentos perturbadores.


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Notas finais do capítulo

Se alguém se interessar pela continuação, por favor, comente!
Beijos no coree ♥



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