Obscuro escrita por Benihime


Capítulo 14
Capítulo 13




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Três semanas depois de ser hipnotizada, Nia ainda era ela mesma. O demônio não conseguira assumir de novo nem sequer uma vez.

Se sua força de vontade era sobre humana sua saúde, por outro lado, declinava a olhos vistos. Pesadelos não a deixavam dormir direito, enjoos fortíssimos faziam com que não conseguisse comer … O demônio, mesmo sem conseguir suplantá-la completamente, estava dando um jeito de destruí-la.

Naquela tarde em especial, com a atmosfera dourada do final do dia, Nick e Nia estavam juntos no quarto dela, a jovem aninhada na poltrona de olhos fechados e o rapaz sentado no parapeito largo da janela.

— Nick. — Ela chamou de repente, quebrando o longo silêncio.

— O que foi, gata? — Ele respondeu. — Precisa de alguma coisa?

— Não, nada disso. Só estou um pouco entediada. — Foi a resposta. — Pode me passar o Ipod que está do seu lado?

Nick obedeceu sem questionar. Nia colocou um dos fones e depois o olhou como se o desafiasse. Ele sentou-se num dos braços da poltrona e colocou o minúsculo par no ouvido.

— E aí, que tipo de música você gosta?

— Clássica. — Ela respondeu. — Duvido que você conheça alguma.

— Você se surpreenderia. — O jovem zombou. — Coloque sua preferida e eu digo se conheço.

Ela sorriu e escolheu uma música. Nick reconheceu a melodia na mesma hora.

— Sonata ao Luar. — Nia disse. — Caso esteja se perguntando.

— Mentirosa. — Nick rebateu. — Isso é parte do balé do Lago dos Cisnes. A Morte do Cisne, se não me engano. — O rapaz riu alto com a surpresa de sua companheira. — Já assisti a mais apresentações desse balé do que posso contar. Nunca perde o encanto.

Nia deu uma risada baixa, olhando-o como se o visse pela primeira vez.

— Ora ora, Nicolas. — Ela provocou. — Sempre me surpreendendo.

— Esse é meu prazer e meu privilégio, morena.

Os dois ficaram sentados juntos, apreciando a música até Nia declarar estar cansada e Nick ajudá-la a voltar para cama, subindo protetoramente os cobertores até o queixo da jovem.

— Eu odeio isso. — Ela confessou. — Estar assim tão fraca, a ponto de não poder fazer nada sozinha.

— Hey, não tem mal nenhum em aceitar um pouco de ajuda quando se precisa. — Nick declarou, sentando-se na cama perto da jovem. — Orgulho, Nia, só piora as coisas, porque acaba afastando quem mais queremos manter por perto.

Ela não respondeu, apenas se aninhou sob os cobertores e fechou os olhos. Nick estava para sair quando a voz de Nia o chamou de volta, tão baixo que ele mal a ouviu.

Nia gesticulou para que ele se aproximasse, soerguendo-se nos cotovelos para encará-lo com severidade, como se esperasse algo importante.

— Meu verdadeiro nome … — Apesar da rouquidão, a voz dela soou alta e clara pela primeira vez em dias. — É Natalia Cresswell. Suponho que você saiba o que fazer com essa informação.

Nick simplesmente assentiu, surpreso com a revelação, e a deixou sozinha para que ela pudesse descansar, ainda pensando no que havia acabado de ouvir.

Mais tarde, naquela madrugada, o rapaz se surpreendeu ao ver-se lendo a mesma frase em seu livro várias e várias vezes. Ao finalmente perceber que não conseguiria se concentrar, levantou-se e decidiu dar uma caminhada.

Ele desceu as escadas e, ao chegar ao primeiro andar, viu a porta da frente aberta. Ao ouvir o choro de uma mulher, correu na direção do som e encontrou Nia ajoelhada na grama.

— Nia. — Ela não esboçou reação ao ouvir seu próprio nome. — Nia, está tudo bem? O que aconteceu?

Sem resposta. Ele se aproximou devagar, com uma sensação de desastre iminente crescendo em seu peito a cada passo. Apesar da hora avançada, o brilho da lua cheia que iluminava o céu lhe permitiu ver a substância escura que manchava o rosto, as mãos e o colo da moça.

Nick se esforçou para não esboçar reação nenhuma, sabendo que seria a melhor maneira de lidar com a situação. Ele simplesmente se aproximou em silêncio e tomou Nia nos braços, mantendo-a imobilizada o melhor que pôde enquanto a carregava. Ao entrar no casarão, gritou a plenos pulmões por Cassie e James.

— O que foi? — A loira apareceu correndo, deslizando graciosamente até parar à sua frente. — O que diabos aconteceu?!

— Eu não sei! — Foi a resposta. — Preciso que a leve para cima e lhe dê um banho quente. Ela está muito gelada.

A loira assentiu e obedeceu sem mais perguntas. Nick pegou uma lanterna e, acompanhado por seu irmão, voltou ao local onde encontrara Nia. Lá, escondido pela folhagem, havia um gato. Ele fora brutalmente estripado e tudo estava espalhado pela folhagem numa confusão sangrenta.

— Precisamos agir. — O rapaz mais novo declarou.

— Nick, ainda não é a hora. — James protestou. — Precisamos esperar e ter certeza.

— Ela é filha de Lacey Cresswell. — Nick revelou. — Não podemos mais esperar.

— O que?! Como sabe disso?

— Na … Nia me disse. — O moreno passou as mãos pelos cabelos, num gesto de frustração. — Diabos, mano, ela acabou de provar sangue!

— Se ela é mesmo filha de Lacey … — James disse devagar, ainda chocado com a novidade. — Então você tem razão, não podemos esperar. Vamos fazer o ritual pela manhã, está bem? Até lá já teremos tudo preparado.

Vinte minutos mais tarde, Nick espiou furtivamente para dentro do quarto de Nia. Ela já estava deitada, de costas para a porta, mas se virou quando o ouviu.

— Estou acordada. — A morena disse baixinho. — Pode entrar, e feche a porta. Preciso falar com você.

Ele obedeceu. Assim que se aproximou, Nia estendeu uma das mãos para pegar a sua, puxando-o mais para perto até Nick estar sentado na beira da cama. Nem mesmo então ela o soltou, e o jovem notou o quanto a pele dela estava fria, quase como se estivesse segurando um cubo de gelo.

— Então, o que você queria me dizer?

— Quero que você me prometa que vai tomar cuidado. — Ela declarou, sorrindo ao vê-lo parecer surpreso. — Não sou boba, Nicolas, eu sei qual é o próximo passo lógico nesse caso, e nem quero pensar no que essa coisa dentro de mim vai fazer. Então … Sua palavra, por favor.

— Tem a minha palavra. — O jovem moreno sorriu. — Nenhum de nós estará correndo perigo dessa vez.

— Nicolas, seu mentiroso.

Ele quase riu ao notar o quão facilmente ela enxergara sua mentira.

— Está bem, então me deixe dizer de outro modo. — Nick sorriu para ela, tentando esconder seu nervosismo. — James e eu sabemos o que estamos fazendo, e vamos tomar todas as medidas de segurança possíveis. Está melhor assim?
Nia o encarou em silêncio por alguns segundos antes de por fim relaxar.

— Tudo bem. — Ela disse. — Mas, se você se machucar tentando me proteger, eu te mato.

Essa pretensa ameaça fez Nick soltar uma sonora gargalhada.

— Tente descansar um pouco. — Ele sugeriu. — Você vai precisar de energia amanhã.

— James quer começar amanhã?! — Os olhos dela se arregalaram de choque. — É tão ruim assim?

Nick viu o medo nos olhos dela, e isso o comoveu. Nia estava fragilizada, talvez não tivesse condições de encarar o que vinha pela frente. Era quase desumano imaginar aquela criatura magra e exausta passando pelo brutal ritual de exorcismo.

— Calma, não é tudo o que dizem. — O rapaz gentilmente a fez voltar a deitar-se. — Vai dar tudo certo amanhã, eu garanto. Não precisa se preocupar.

— Mais uma coisa. — Ela subitamente pareceu mais forte, mais como a jovem cheia de vida que ele conhecera. — Cassie. Deixe minha irmã fora disso. Eu não quero que ela se machuque.

— Vou tentar, mas você sabe como ela é. — Nick respondeu. — Sua irmã vai querer estar presente, e não podemos exatamente proibi-la.

— Apenas faça o que puder, está bem?

— Eu farei. Você tem a minha palavra.

— Obrigada, Nicolas.

Ele ficou ali até que Nia voltasse a dormir e a mão dela escorregasse da sua, completamente incapaz de deixá-la. Tinha a sensação de que, o que quer que tivesse acabado de nascer entre eles naquele quarto, terminaria muito em breve.


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