Lá estava ela. Aqueles cabelos cor de mel, deitada bem ao meu lado. Ela estava de costas e eu podia ver a tatuagem dela através da blusa branca. Ela dizia me amar. Eu ficava lá, por horas contornando aquela tatuagem e vendo como ela se encaixa no papel em que ela tinha na minha vida. O meu anjo.

Acordei com o despertador tocando desesperadamente, o desliguei antes que alguém em casa acordasse. Me levantei e fui até o banheiro. Fiquei me olhando no espelho relembrando todos os sonhos que tive com Emily até ali. No total foram 5. Quando fui ver já estava com um sorriso bobo apaixonado.

Toda vez que percebo que estou apaixona, lembro-me que cheguei ao fundo do poço. Não podia amar ninguém, eu e ela sofreríamos muito. Isso sempre acabava comigo. Mas amar tem sempre seus altos e baixos.

E eu odiava amar Emily.

Odiava ama-la pelo simples fato de saber que nunca a terei. Ela namora, e com certeza o cara é mais importante para ela do que eu. Mas ela era o meu anjo.

Dei um tapa em meu próprio rosto em tentativa de acordar. Odiava entrar em transe desse modo.

Escovei meus dentes tentando tirar Emily da minha mente.

Como todo apaixonado sabe. Isso é impossível.

Decidi tomar um banho gelado para me acordar. Fiquei paralisado no meio do banho ainda pensando em Emily.

Eu odiava estar apaixonado.

Sai do banho e coloquei uma calça moletom e uma camiseta larga, para me senti confortável em casa.

Me lembrei que amanhã teria que cantar na festa da irmã de Brenda.

Meu Deus eu iria ver Emily. Um sorriso enorme surgiu em meu rosto e quase pensei que ele chegaria a minhas orelhas.

Odiava estar apaixonado.

Corri até a garagem colocar as coisas no carro. Conferi instrumento, por instrumento. Não queria estar o dia perfeito da irmã mais nova de Brenda.

Nem pagar de bobo para Emily.

Merda. Tudo voltava a Emily.

Voltei para sala e minha já estava acordada assistindo TV.

—Bom dia mãezinha – Dei um beijo em sua bochecha.

—O que estava fazendo na garagem? – Disse ela em um tom frio.

—Eu também te amo, mãe – Me sentei no sofá, bem ao seu lado.

— Me responda

— Estava arrumando os instrumentos para amanhã.

—Você vai mesmo tocar nessa festa?

—Você não vai me impedir mãe.

—Eu sei que não vou. Você é teimoso demais.

— Que bom que você sabe.

Peguei o controle de sua mão e coloquei em um desenho animado. Eu nunca tive maturidade o suficiente para parar de assistir desenhos.

—Filho, qualquer coisa que te acontecer por lá, você me liga?

—Mãe eu não vou morrer amanhã.

—Mas você sabe que eu fico preocupada!

—Não fique, eu ficarei bem. E sim, eu te ligo. – Disse dando uma piscadinha para ela.

Nós rimos um pouco, mas nossa conversa foi interrompida pelo barulho da campainha.

—Eu atendo. – Disse me levantando e me dirigindo para a porta.

—Olá – Disse o cara de paletó que carregava uma maleta e um papel.

—Olá, em que posso ajuda-lo? – Perguntei com o máximo de gentileza possível em minha voz, mas eu mesmo pude sentir a insegurança.

—Eu tenho aqui um aviso de atraso de pagamento do aluguel da casa. Se o pagamento continuar atrasado vocês serão despachados em 2 meses.

—Obrigada pelo aviso senhor. – Peguei o papel e fechei a porta. Tratei de esconder antes que minha mãe veja.

—Quem era filho? – Pude ouvi-la gritar da sala.

—Só um vendedor enchendo o nosso saco. –Menti.

Não queria que a minha mãe ficasse estressada com isso, ela já tinha problemas o suficiente. Eu iria conseguir metade daquele dinheiro tocando amanhã no aniversário.

Voltei para o sofá e me sentei ao lado de minha mãe.

—Você vai mesmo tocar, não vai? – Ela me disse e eu pude sentir a ansiedade em sua voz.

—Claro mãe. Tudo pelo o meu sonho – Disse dando um sorriso, que infelizmente, não foi correspondido.