Rua Lillgston escrita por SmileLove


Capítulo 2
Arco-íris ambulante


Notas iniciais do capítulo

Mais ummm.....!!! ♡



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"São muitos sonhos para serem realizados em pouco tempo. E borboletas demoram para aprender a voar. - Lia.

 

Hoje eu acordei com uma disposição maravilhosa. Para voltar a dormir.

Acho que se algum dia alguém no mundo disser: " Ei, a Lia acordou e disse que está muito disposta a correr no parque ou limpar a casa em quinze minutos" estarão falando de outra garota. Porque essa não sou eu. Eu não acordo disposta.

Nunca disse isso a ninguém, mas eu realmente gosto da neve. Ela é bonita e quando a vejo tenho vontade de escrever. Ontem, por sinal, eu escrevi. Falando em ontem, foi um dia legal. Pelo menos a parte do Bar/ lanchonete/ padaria/ ou seja lá o que é aquele lugar. Sai de lá super tarde, mas valeu a pena.

Não sei o que vou fazer hoje. Até agora me limitei a sair da cama enrolada no cobertor como uma idosa e jogar-me no sofá, para depois fazer uma caneca de leite quente e machimelou. Lógico, que ainda embrulhada nas cobertas.

E foi assim que eu passei a manhã e tarde de domingo: assistindo " Os cavaleiros do Zodíaco" pela terceira vez e tomando chocolate quente. Era bom, mas me sentia vazia.

Quando deu uma da tarde, resolvi viver e levantei, indo trocar de roupa.
Nada mais nada menos que uma calça e um moletom maior que eu. Até me preocuparia em me arrumar, mas não vou a nenhum lugar importante, só dar uma volta pela rua e tentar não me meter em encrencas. Afinal, sou mestre em fazer isso.

Sai pela porta e estava descendo as escadas, no terceiro degrau, quando uma caixa de papelão vinda de um lugar inanimado escorregou pelo corrimão da escada de cima e caiu na minha cabeça. O impacto foi tão grande que achei que ficaria sem pescoço.

— Aí....merda! - Passei a mão na cabeça, onde doia. De onde diabos aquilo tinha vindo? Do céu?

— Você tá bem? - perguntou um voz feminina. Levantei a cabeça.

A garota era estranhamente engraçada. Parecia um arco- íris ambulante. Usava uma saia azul de bolinhas amarelas, meia até os joelhos da cor rosa bebê, um All Star azul com camiseta preta de uma banda desconhecida e o que mais me chamou atenção: as luvas coloridas. Eram de um verde azulado, rosa e com pouco marrom. Além disso, os dedos da luva estavam cortados, mas provavelmente fazia parte do modelo. As unhas pintadas de amarelo, roxo, verde - água e rosa. Era um estilo diferente, mas legal.

— Estou bem. - Me levantei, limpando a calça. - Mas de onde veio aquilo? - apontei para a caixa.

Sorriu, sem graça.

— É meu. Caiu sem querer. - encarou a caixa, e depois disse apressada: - Mas juro que a intenção não foi cair na sua cabeça.

Eu ri.

— Que bom, não é mesmo? Fico muito feliz em saber disso. - sorriu e se agachou, pegando a caixa. E então falamos, ao mesmo tempo:

— Como se chama?

Rimos, também ao mesmo tempo.

— Marina. - Ela disse.

— Lia. - estendi a mão. Ela apertou. Suas luvas eram quentinhas.

— Você é nova aqui? Nunca te vi antes.

— Ah! Minha tia é moradora dum apartamento no quinto andar, mas ela comprou um agora ao lado do 38. Essas caixas estavam lá no terraço, em um quartinho. Ainda não sei porque ela deixou lá, mas não perguntei.

38. Meu apartamento.

— Eu sou a moradora do 38. - Ela ergueu a sombrancelha, e então disse, entrando pela porta ao lado da minha.

— Então até mais, vizinha. - e se foi.

Terminei de descer as escadas, e dei graças a Deus pelo porteiro não estar na portaria.
Assim que o vento gelado atingiu meu rosto, me arrependi infinitamente de não ter colocado nada por debaixo do moletom. Maldita preguiça que me persegue.

— Ei, Lia. - virei pro lado. Geraldo, o moço do sorvete, me gritou do outro lado da rua, com o carrinho colorido cheio daquelas maravilhas geladas. - Vai um sorvete ai? - ele sorriu.

Geraldo era um senhorzinho que já estava na casa dos setenta anos. O que eu mais gostava nele era que sempre estava sorrindo. Fazia chuva, frio, sol, calor, não importava. Ele sempre estava ali. E era só nessa rua.

— Bom dia! - gritei, sorrindo. - Eu até queria, mas só estou com o cartão, as moedas ficaram lá em cima.

Ele atravessou a rua, parando na minha frente.

— Ah, mas não tem problema! - pegou um sorvete sabor flocos, meu favorito.

O mais legal era que só estava ali a quatro, ou melhor, cinco dias. E ele já até sabia o meu sabor favorito.

— Você já é de casa, vai como presente. - sorriu, entregando.

Juro que pensei em não dar um abraço nele, mas era um senhor tão fofinho. E o pior é que ele não tinha ninguém. Morava sozinho numa casa perto daqui. Sorri e o abracei, pegando o sorvete.

— Obrigada! Tenha um bom dia. - Me virei, acenando. Ele sorriu de volta, acendo também.

O mais estranho de tudo era o fato de estar um frio de lascar, mas ainda assim, ele estava vendendo sorvete.

Bem, não existe hora para tomar sorvete.

Andava pela calçada e então vi o letreiro, mais uma vez: " Mystery ballosagna".
Não pensei nem duas vezes e entrei. Acho que ontem estava realmente muito escuro e com muita gente, porque eu realmente não reparei no estilo " Anos sessenta" do lugar. O piso era branco e preto, como xadrez. Isso foi o que mais gostei.

Fui em direção a bancada, e uma moça com cabelos curtos e pintados de avermelhados atendeu. Ela era bonita.

— O que vai querer? - Mas não muito sorridente.

Olhei as opções no vidro, e me encantei com um cupcake Azul com detalhes em roxo. Era o último.

— Me vê aquele ali, por favor.- apontei pro roxo.

Ela olhou na direção dele, mas apontou para um rosa, que estava do lado. - Esse? - neguei com a cabeça.

— Não. - Apontei de novo. - Aquele.
Ela olhou, mas mais uma vez apontou para outro. Amarelo dessa vez.

— Esse aqui? - neguei mais uma vez.

— Não, moça. - comecei a me irritar. - Aquele roxinho.

Ela olhou.

— Ah! O laranja?

Parei, a encarando. Essa mulher deve ter problemas graves que nem um daltônico comum teria.

— Não. - respirei fundo. - O roxo.

Foi o cúmulo da minha paciência quando ela apontou para um verde. Será que seria muita agressão bater nela?

—Moça, é o roxo! - apontei, fazendo mais força no vidro. - RO. XO.

Ela bufou, me encarando com ódio. Então pegou a barra do meu moletom e puxou para mais perto da bancada, sussurando, irritada:

— Dá para aceitar o laranja ou qualquer outra cor logo, menina? Eu estou o dia INTEIRO querendo comer essa PORCARIA de cupcake roxo e não consigo! Só quando o lugar fechar!

Tive que me controlar para não rir alto. Era sério isso?

— O.k....Então pode ser o amarelo, por favor. - Me afastei, um pouco assustada.

O olhar maligno foi embora e ela sorriu como um anjinho.

— Claro, pode deixar que eu levo lá!

Forcei um sorriso. Estava pronta para me afastar, quando vi uma plaquinha: " Precisa - se de funcionários"

Quase pulei de alegria. Voltei ao balcão e perguntei:

— Moça, vocês ainda estão precisando de funcionários? - apontei para a plaquinha. Ela seguiu meu olhar e disse:

— Estamos sim. Na verdade, é algo tão urgente que o Pablo disse para contratar quem estivesse disposto. Se não fosse um bêbado ou psicopata, lógico.

Abri um sorriso maior que o mundo. - Quero um vaga!

Ela olhou desconfiada.

—Preciso dos documentos, lindinha.

Peguei na carteira. Algum tempo depois ela entregou um papel e disse que eu começava as meio dia e quarenta do dia seguinte.
Me sentei em uma mesa mais ao fundo. Fiquei alguns minutos observando o lugar, quando o barulho do sininho da porta me despertou.

Queria não querer que fosse o garoto de ontem a noite, mas a verdade era que estava praticamente fazendo uma macumba aqui mesmo para que fosse ele. Mas não era. E eu me surpreendi ao ver Marina varrer o lugar com os olhos e vir na minha direção, sorridente.

— E aí, vizinha? - se sentou na minha frente. - Não sabia que vinha aqui.

— Descobri esse lugar ontem. - peguei um pacotinho de açúcar daqueles que ficam na mesa. - Sabe, eu ainda não me conformo de não ter te visto antes no prédio. - Apesar de estar lá só a cinco dias, completei mentalmente.

— Ah, já era de se esperar. Eu cheguei só ontem, não moro com a minha tia. Mas vou passar praticamente esse ano todo com ela. Minha mãe está viajando.

Contive a vontade de perguntar sobre seu pai.
Uma garçonete se aproximou da mesa, perguntando a Marina o que ela queria. Pediu café.

— Não gosto de café. - comentei.

— Então você é uma alienígena. - brincou.

♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢♢

Assim que cheguei em casa, joguei meus sapatos pro ar, tirei o moletom e mesmo estando só de sutiã por baixo, me joguei no sofá. Estiquei o braço e peguei o caderno preto- azulado em cima da mesinha de centro cheia de papel de bolacha.
As letras brilhavam em prateado: O caderninho de Poemas de Lia.
Toda vez que lia esse título era impossível não rir. Inevitável. Só podia ser coisa da minha vó. Assim que descobriu que eu escrevia poemas, comprou esse caderno e mandou fazerem o título.
Abri, lendo o primeiro poema escrito a uns cinco anos atrás:

"Borboletas voam de uma forma tão bela.
E eu gosto mais ainda delas quando estão dançando no meu estômago.
Aqui esta tão escuro, mas eu amo essa sensação de alívio.
São muitos sonhos para serem realizados em pouco tempo.
E borboletas demoram para aprender a voar.
Esse teto negro por conta do escuro me proibide de ver a lua brilhante.
Mas eu sei que ela brilha lá fora.
E isso é uma das coisas que mais me faz sorrir.
A escuridão é tao negra, e ao mesmo tempo tão clara aos meus olhos.
A claridade é tao viciante, mas ao mesmo tempo tão ardente.
Palavras são tão pequenas perto de sentimentos tão grandes.
Eu estou apenas me sentindo livre.
E isso é tão bom.
Quando eu fechar os olhos, posso ir para um mundo paralelo.
E quando acordar de manhã, vou viver de novo."
Mas quando chegar a noite e eu olhar para o teto, tampando meus ouvidos com a musica, eu serei uma borboleta, e pela primeira vez, não deixarei ninguém cortar minhas asas."


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Notas finais do capítulo

Bye bye....^-^



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