Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 27
Capítulo 26 – Live and Let Die (Parte I).


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindo, 2018! Como passaram esses últimos dias? Espero que bem.
Nada melhor do que começar o ano com um "início de temporada". Nem acredito que já estamos no que seria a 4ª temporada da fic! Que coisa louca.
Esse capítulo foi o maior que eu já escrevi na minha vida, então decidi dividi-lo em duas partes, uma será postada hoje, e a outra amanhã, pois dia 04/01/2017 foi quando eu postei o Piloto, logo amanhã É O ANIVERSÁRIO DE 1 ANO DA FIC! E como comemoração, irei sair da regra e postar as duas partes do capítulo essa semana.
Teremos vários novos personagens, e eu deixarei o elenco nas notas finais, porque essas já estão bem grandes. Já deixo claro que os novatos serão secundários, ou seja, não pretendo explorá-los tão profundamente. Mas cada um terá um pouco de destaque sim ao longo da história.
A música de hoje é uma bem bacana do Paul McCartney, mas que é mais famosa na versão do Guns N' Roses, e sempre que eu ouço ela lembro diretamente da cena do velório do pai da Fiona no Shrek 3 hahaha aqui está o link da versão do Guns, porque eu gosto mais: https://www.youtube.com/watch?v=6D9vAItORgE
Bem, vamos logo para o capítulo. Espero que gostem! Boa leitura!



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A vida é um ciclo. Nascer, crescer, reproduzir, envelhecer, morrer. Ou pelo menos na teoria é assim. Mas nós sabemos que isso não funciona muito bem na prática. Podemos nascer e morrer. Podemos morrer antes de reproduzir. Podemos envelhecer e nunca reproduzir. A única certeza é que a morte vem para todos, mesmo em momentos diferentes.

O hospital estava caótico. Todos estavam esperando a chegada do pessoal que sofrera o acidente de avião. Havia uma semana desde que a notícia se espalhara, e finalmente eles foram encontrados em uma floresta deserta. Pelo menos era o que diziam os boatos.

Encontrava-me no heliporto, onde os helicópteros com os acidentados pousariam. Nós ainda não havíamos recebido nenhuma informação mais específica, como se alguém tinha morrido ou se machucado seriamente, e a curiosidade estava me comendo por dentro.

Foi possível ouvir o som estrondoso das aeronaves chegando, e todos ali presentes voltaram seus olhares para o céu, acompanhando os movimentos dos helicópteros.

— Todos saiam da frente! – ordenou Bailey, que saiu primeiro, e todos obedeceram-na, dividindo-se para abrir espaço em frente a porta que daria no elevador.

Em seguida, alguns paramédicos retiraram duas macas de dentro da aeronave, e pude ver quem eram: Sloan e Robbins. Um traumatologista acompanhou-os junto com alguns residentes, e rapidamente todos entraram no elevador. Pouco depois, mais um helicóptero aproximou-se, e de lá saíram mais dois: Yang e Shepherd, que também foram escoltados para baixo por uma equipe. E, por último, chegaram Grey, que estava desacordada, e Webber. Logo atrás deles, um paramédico tirou outra maca, que possuía um saco sobre ela. Todos ficaram encarando a cena apreensivos, provavelmente já deduzindo o que acontecera.

— Onde está Lexie? – questionei, franzindo o cenho. Eu já desconfiava, mas não queria acreditar.

— Você realmente não sabe? – ironizou Rebecca, virando-se para mim com os olhos tristes.

Então era verdade. O corpo dentro do saco era o dela. Lexie Grey estava morta.

Senti meus olhos encherem-se de lágrimas, mas tentei evitar o choro, principalmente ali. Voltei a encarar os dois médicos, que vinham em nossa direção.

— Okay gente, o show acabou, de volta ao trabalho! – exclamou Richard, parando antes de entrar no elevador.

— O corpo dentro do saco é o da Dra. Grey? – alguém perguntou, e todos ficaram observando o antigo Chefe, esperando uma resposta.

— Sim. A Dra. Grey não resistiu aos ferimentos, e morreu no local da queda. – afirmou o homem, confirmando as suspeitas de todos – Agora vamos trabalhar! – finalizou e entrou no elevador, onde o paramédico esperava com Meredith e a maca com o cadáver.

O choque foi generalizado, e todos começaram a falar sobre aquela morte inesperada. Apenas nós quatro, os antigos alunos de Lexie, ficamos em silêncio, tentando digerir o que acontecera.

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Depois daquele início de manhã um tanto quanto intenso, estávamos reunidos mais uma vez, só que na Sala de Reuniões. Todos os residentes em seu segundo ano encontravam-se lá, aguardando alguém pronunciar-se. Rebecca, Anastasia, Diego e eu estávamos sentados em volta da mesa, todos com as caras fechadas e calados, enquanto o resto não parava de conversar por nenhum instante. Nós quatro estávamos realmente sentidos com a morte de Lexie, mas nenhum conseguira falar sobre ainda. Preferíamos ficar em silêncio.

— Bom dia. – cumprimentou Webber, parando de frente para a multidão de médicos, que calaram-se assim que o viram – Eu sei que hoje foi um dia bastante conturbado, mas temos obrigações a serem feitas, então eu peço o foco de vocês, por favor. Cada um de vocês irá receber cinco internos, e como vocês já devem saber, eles têm quase 0 preparação para trabalhar verdadeiramente em um hospital. Não faz muito tempo desde que vocês vestiram seus uniformes e lidaram com algum paciente pela primeira vez, então devem lembrar-se bem como é a sensação. Logo, tenham um pouco de empatia, mas também mantenham a firmeza. Sejam os professores que tiveram, ou que desejavam ter tido. Eles estão aqui para aprender, e vocês são responsáveis por eles, então qualquer erro de seus internos cairá sobre vocês. Façam amizade com eles, mas mantenham a posição de autoridade. Para alguns de vocês será mais fácil, e para outros será impossível. No entanto, faz parte da formação de vocês como médicos, então tentem dar o melhor nisso. Lembrem-se que futuramente vocês todos poderão trabalhar lado a lado com seus internos, e que futuros ganhadores de Harper Avery ou até do Prêmio Nobel poderão estar passando em suas mãos, e suas instruções os ajudarão a conquistar tais coisas, assim como salvar centenas de vidas. – explicou motivadoramente, alternando olhares com cada um – Eu sei que conseguem fazer isso. Sejam pacientes. É só isso. Encontro vocês em alguns minutos no saguão para distribuir-lhes os internos, agora tenho que dar mais um discurso para eles. Até mais. – assentiu e saiu da sala, e os residentes voltaram a tagarelar, com ainda mais vigor. Nós quatro continuamos quietos, nos entreolhando. Aquele seria um longo dia.

— Nós deveríamos ir para o saguão. – sugeriu Rebecca, sem tirar a melancolia da voz.

— É, nós deveríamos. – concordei, mas continuamos sentados. A ideia de ter que lidar com pessoas naquele dia, estava sendo pior que tortura para mim, e provavelmente para os outros três também.

Continuamos ali por mais algum tempo, até que Diego levantou-se repentinamente e seguiu para fora. Nós três nos entreolhamos e seguimos o rapaz, caminhando em silêncio até o saguão, que ficou lotado depois de alguns minutos.

— Agora vamos à distribuição. – afirmou Bailey, parando entre a multidão de residentes e a de internos, segurando uma prancheta. Começou a falar alguns nomes, e os grupos iniciaram a juntarem-se e saírem dali. Fiquei observando a cena, um pouco ansiosa para saber quem seriam os meus. Apesar de toda a tensão daquela semana, eu ficara me preparando para aquele momento, não querendo estragar tudo. E se eu fosse uma péssima professora? – Darla Halls, Daniel Hughes, Sudarshana Bhatta... charya? – pronunciou o nome com dificuldade, franzindo o cenho – Cecelia Mitchell e Steve Jenkins, vocês estão com a Dra. Claire Scofield. – apontou para mim, e eu gelei ao ouvir meu nome, arregalando meus olhos. Os cinco jovens aproximaram-se de mim e ficaram encarando-me, como se esperassem uma reação.

Estudei-os com os olhos, tentando fixar suas feições em minha mente. Como Lexie conseguiu? Aquilo era impossível. E relacionar os nomes com as pessoas? Deveria ser mais complicado ainda. Alternei olhares entre eles, encarando cada um separadamente. A primeira que observei foi uma jovem ruiva, que parecia até muito nova para estar ali, e ela sorria abobalhada. Passei para o rapaz ao seu lado, que possuía cabelos castanho-escuros e olhos verdes, e encarava-me com os braços cruzados, parecendo entediado. Ao seu lado encontrava-se uma garota aparentemente indiana, que olhava em volta, curiosamente. O próximo era um homem branco de cabelos e olhos castanhos, que parecia já ter seus 40 anos, e eu franzi o cenho, estranhando. Por último, avistei uma moça negra e provavelmente “acima do peso”, que fitava-me com um semblante intimidador, enquanto mantinha as mãos na cintura.

— Você vai dizer alguma coisa ou vamos ficar aqui parados o dia todo? – indagou a jovem que observei por último, ainda mantendo a postura amedrontadora.

— E-eu... Desculpem-me. – gaguejei, nervosa – Vamos para um lugar mais reservado, assim poderemos conversar melhor. – forcei um sorriso – Sigam-me. – pedi e parti em direção a um corredor, e parei ao encontrar uma parte vazia – Primeiramente, vamos aos nomes. Apresentem-se, por favor.

— Cecelia Mitchell. – começou a ruiva.

— Daniel Hughes. – disse o rapaz mais novo.

— Sudarshana Bhattacharya. – falou a indiana, fazendo-me arregalar os olhos para seu nome. Eu realmente ia ter que decorar aquilo?

— Que nome hein. – Daniel riu-se, erguendo as sobrancelhas – “Sud” soa melhor, não concordam? – sugeriu, olhando para os outros e para mim. Não obteve resposta, então apenas deu de ombros, revirando os olhos.

— Continuando, eu sou o Steve Jenkins. – o homem mais velho ergueu a mão, sorridente.

— Darla Halls. – afirmou a negra, ainda com seu ar intimidador. Aquela garota me lembrava alguém...

— Okay... Eu sou Claire Scofield, como a Dra. Bailey disse, e estou no segundo ano de residência. Eu não tenho muitas regras a princípio, só gostaria que vocês se reportassem a mim antes e depois de fazerem qualquer coisa relacionada a trabalho. Conforme for necessário, pode ser que eu adicione mais alguma coisa, mas por enquanto é isso. Qualquer dúvida, vocês podem tirar comigo, e mesmo que eu não saiba de cara, vou procurar saber. Lembrando que nós seis estamos ainda em fase de aprendizagem, então não somos melhores que ninguém. – tentei fazer um discurso bacana, mas não tinha esse dom. Os cinco não falaram nada, apenas continuaram me encarando, então decidi seguir em frente – Alguma dúvida agora? – a ruiva ergueu a mão, e eu apontei para ela, como se a deixasse falar.

— Eu ouvi falar que alguns médicos se envolveram em um acidente de avião recentemente, e eles chegaram no hospital hoje. Vocês os conhecia? – perguntou, olhando-me curiosa, e os outros imitaram-na. Fiquei sem reação a princípio, e engoli em seco antes de responder.

— Sim, eu conhecia todos eles. Inclusive, minha residente morreu nessa queda. – respondi, tentando não parecer tão abalada – Mais alguma coisa? Que não seja sobre a vida pessoal dos médicos, por favor. – finalmente entendera porque a única regra de Lexie era não falar sobre a vida pessoal deles. Aquilo era irritante. Todos continuaram em silêncio, e eu decidi terminar aquela conversa logo de uma vez – Ótimo, vamos começar.

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— O que estão fazendo aqui? – indaguei, aproximando-me de meus amigos. Os três estavam parados em frente à janela de um quarto, encarando seu interior.

— Assistindo a isso. – Diego respondeu indicando com a cabeça a paciente que se encontrava ali. Virei o rosto para ver quem era, e fiquei surpresa ao me deparar com Cristina Yang, que fitava o teto, com os olhos parados, sem ao menos piscar. Se as máquinas não dissessem o contrário, poderia até pensar-se que ela estava morta.

— O que aconteceu? – questionei, confusa.

— Ela esteve em um acidente de avião, sabe? – ironizou Anastasia, e eu revirei os olhos.

— Eu sei, mas por que ela está assim?

— Eu ouvi falar que ela sofre de Transtorno do Estresse Pós-Traumático. É por isso que ela está agindo assim. Esse foi o cúmulo do trauma. – explicou Rebecca.

— Quanto tempo será que ela vai ficar assim? Coitada... – disse a loira, fazendo cara de pena.

— Eu não sei. Vamos sair daqui, isso está me deixando deprimida. – falou Cooper, e nós assentimos, seguindo pelo corredor.

Pegamos nosso almoço no refeitório e caminhamos até nossa mesa, que encontrava-se ocupada por algumas pessoas que eu nunca vira por ali, então deduzi que eram internos. Paramos e ficamos encarando-os de cara feia, enquanto os cinco conversavam animadamente. Gomes limpou a garganta, numa tentativa de chamar a atenção, o que pareceu funcionar, pois os jovens calaram-se e viraram-se para nós.

— Saiam. Agora. – ordenou o rapaz, e os mesmos pegaram suas bandejas e apressaram-se para sair dali, alguns desculpando-se no processo. Quando eles já estavam longe, nos entreolhamos e caímos na gargalhada, negando com a cabeça – E eu lhes apresento meus internos.

— Vocês viram as caras deles? Eles ficaram apavorados. – Lewis riu-se, enquanto sentava-se na mesa.

— Eu tratei de tocar o terror neles logo de cara. Comigo não vai ter esse negócio de amizade não, ou eles me respeitam ou vão comprar café pelo resto da carreira. – afirmou o moço, com firmeza.

— Nós éramos tão estúpidos assim? Os meus parecem que nunca viram um hospital por dentro, nem mesmo como pacientes. Puta que pariu! – exclamou a morena, já sentada.

— Ah, eu estou tentando ser legal com os meus, mas a qualquer momento eu posso espanar com todos eles e manda-los para o quinto dos infernos! – falou a loira, começando a comer sua salada de sempre.

— Os meus são afrontosos até, mas eu peguei o que seria o clube dos desajustados no colégio! Eu não tenho nada contra, até porque eu mesma fazia parte desse clube, mas eu não dei sorte! Eu tenho uma indiana com um nome que parece mais que alguém bateu a cabeça no teclado do computador na hora de escrevê-lo, uma menina que parece estar no segundo colegial, um cara que tem uns 40 anos, e uma moça que toda vez que me olha, parece que vai me matar! Eu é que tenho medo dos meus internos, ao invés do contrário. – reclamei, antes de enfiar uma batatinha em minha boca.

— Espera, um cara de 40 anos? – Anastasia olhou-me boquiaberta.

— Olha lá, a que se amarra em um cara experiente! – Diego riu-se – E você não estava envolvida em um rolo aí...? – ergueu uma sobrancelha, fazendo a garota corar-se.

— Cale a boca! Eu não estou envolvida e nenhum rolo não! – retrucou, e atirou um tomate-cereja nele, que gargalhava.

— Bem sutil, parabéns. – Rebecca disse sarcasticamente, enquanto comia.

— Okay, eu estou saindo com um enfermeiro... Eli Lloyd. – cedeu, parecendo sem graça – Mas não é nada sério!

— Espera, enfermeiro Eli... O ex da Bailey? – questionei, franzindo o cenho, chocada. Lewis apenas assentiu e deu de ombros, com cara de culpada – Não acredito! – neguei com a cabeça e ri.

 

3 meses depois.

 

— Onde está a Dra. Torres? – questionei a uma enfermeira, enquanto procurava a médica pelos corredores. Eu estava sob os serviços dela naquele dia.

— Ela está no quarto do Dr. Sloan. – respondeu a moça, e eu sorri agradecida, seguindo para o local indicado em seguida.

Enquanto me aproximava dos arredores do quarto, notei uma movimentação estranha ali, e apressei-me para descobrir o que era.

— Recuperação incrível, não? – disse Avery, que estava do lado de fora ao lado de Callie.

— A saturação está boa? Está fora da máquina? – perguntou Shepherd, que aparentemente acabara de chegar, sorridente.

— A pressão está 11 por 6. – respondeu Jackson, alegremente.

— O que aconteceu? – indaguei ao ficar mais próxima. Olhei para dentro do quarto e vi o que parecia Sloan acordado, e abri um sorriso – Ele acordou? – ergui as sobrancelhas, surpresa.

— Sim. Ele até está fazendo comentários sexuais inapropriados com Brooks. – afirmou a ortopedista, fazendo a interna mencionada rir-se.

— Tudo bem. – a garota deu de ombros, negando de leve com a cabeça.

— Não, não está. Mas agora, estou curtindo. – Torres rebateu, animadamente – Claire, você pode cuidar dos meus pós-operatórios, por favor? Estou um pouco enrolada aqui. – pediu-me, e eu assenti.

— Claro. Eu tomo conta disso. Aproveite seu amigo. – concordei, e ela agradeceu com um sorriso, entrando no cômodo.

— Acha que é um surto? – questionou Derek, e virou-se para Richard, que também observava tudo.

— Talvez. – respondeu o antigo Chefe, com dúvida na voz.

— Acho que não é. – o neurocirurgião negou com a cabeça, mas eu não senti muita sinceridade em suas palavras. Ele pareceu dizer aquilo apenas para sentir-se melhor.

— O que é um surto? – perguntou a interna, olhando-os curiosamente.

— Muitos pacientes finais têm um surto final de energia. Eles melhoram antes de piorar. – explicou Webber.

— Mas não é isso. – falou Avery, e eu senti a mesma coisa que a voz de Derek.

— Mas em pouco tempo, ele vai fazer o que todos fazem. Ele vai ter epifanias, vai dizer o que realmente importa na vida, vai chamar a família... – disse o mais velho, mas Shepherd interrompeu-o.

— Ele está contando piadas sujas. Não é um surto. – negou com a cabeça, sorrindo um pouco forçado.

— Também acho que não é. – o novo cirurgião plástico riu fraco, encarando Mark através do vidro.

— Bom, eu também espero que não seja... Mas eu tenho pacientes, então... Tchau. – falei e saí dali, seguindo para onde ficavam os pós-operatórios.

Encontrei Rebecca anotando algumas coisas em um prontuário, e aproximei-me dela para contar as boas novas.

— Você ouviu falar? – perguntei, brotando ao seu lado.

— Sobre...? – franziu o cenho, pelo jeito sem fazer a mínima ideia do que eu estava falando.

— Mark Sloan acordou. – afirmei, e ela arregalou os olhos.

— Sério? Por essa eu não esperava. – fez cara de surpresa e largou a caneta – E como ele está?

— Acordado e lúcido, então creio que está bem. –  sorri e encostei-me no balcão ao seu lado – Mas há desconfianças também de que é um surto. – disse mais baixo, mexendo nas unhas com expressão de preocupada.

— Será? – ergueu as sobrancelhas, surpresa – Seria bem triste. – fez uma cara melancólica e um biquinho.

— Seria. Mas eu espero que não seja um surto. Sloan é gente boa, não merece morrer desse jeito. – tentei parecer mais relaxada, e ficamos em silêncio por alguns instantes, processando as informações. Enquanto isso, eu pedi a uma enfermeira os prontuários da Dra. Torres, e a moça colocou uma pilha sobre o balcão.

— Eu preciso ir, meus internos estão muito quietos, e você sabe que isso não é um bom sinal, então... Vejo você mais tarde. – sorriu e entregou o prontuário a uma enfermeira, antes de afastar-se, e eu apenas acenei com a mão, mantendo um sorriso fraco no rosto.

— Nós queremos cirurgias. – uma voz feminina falou, e eu virei-me rapidamente para ver quem era, um pouco assustada. Dei de cara com meus 5 internos encarando-me desafiadoramente, e ergui uma sobrancelha, debochada.

— E eu quero ganhar na loteria. – rebati sarcasticamente, e voltei minha atenção para um prontuário que pegara da pilha.

— Já faz 3 meses que a gente começou a trabalhar nesse hospital e a única vez que vimos uma SO por dentro foi quando o Dr. Webber mostrou-a no nosso primeiro dia. Em todas as outras turmas, pelo menos um interno já participou de alguma cirurgia, enquanto nós ficamos para trás. – afirmou o rapaz mais novo, que depois de muito sacrifício, aprendi que se chamava Daniel.

— Eu não sei se vocês perceberam, mas um avião com alguns médicos caiu recentemente, e o hospital está um completo caos, então... – usei de ironia novamente, fazendo-os revirarem os olhos.

— Olha, sem querer ser insensível, mas isso não é problema nosso. Nós acabamos de entrar nesse hospital, e queremos ser treinados igual todos os outros internos de todos os outros anos foram. Não é justo deixar um problema, do qual não temos nada a ver, nos prejudicar. – argumentou a ruiva, cujo nome era Cecelia.

Suspirei e fiquei encarando-os por alguns instantes, enquanto pensava em uma alternativa. Intercalei olhares entre cada um, lendo suas expressões, e acabei chegando à conclusão que, de certa forma, eles estavam certos. Se isso tivesse acontecido no meu ano, provavelmente eu e meus amigos já teríamos feito um complô igual àquele, ou até pior. Respirei fundo novamente, finalmente tomando minha decisão.

— Tudo bem. Se vocês querem cirurgia, vocês terão cirurgia. Mas se tem alguma coisa que eu aprendi com minha residente, Dra. Lexie Grey, é que para conseguir alguma coisa, você tem que fazer por merecer. Então, aqui está como vai ser: eu vou entregar um paciente do pós-operatório da Dra. Torres para cada um de vocês, já que ela está atolada em um milhão de coisas hoje. – comecei a distribuir os prontuários que estavam empilhados sobre o balcão – Depois, eu vou avaliar cada paciente. O melhor de vocês, vai participar da cirurgia que a Dra. Torres realizará no Dr. Shepherd hoje ao entardecer. É uma chance única. – sorri ao vê-los comemorando, e pude sentir um clima competitivo se formando – Que vença o melhor. – dei uma piscadinha e deixei-os para trás. Pude ouvir alguns cochichos em minhas costas, que iam desde ameaças até gabações, o que me deixou ainda mais satisfeita.

Sobre a cirurgia em questão, eu estava extremamente ansiosa para ela. Seria uma operação de risco, que poderia fazer um dos melhores neurocirurgiões do mundo perder totalmente a capacidade de operar. A pressão era enorme, e, juntando com os problemas pessoais pelos quais Callie estava passando, tudo se tornava um desafio de proporções catastróficas. No entanto, eu acreditava no potencial da ortopedista, e, desde que eu fora chamada para participar – por indicação de Derek, o que me deixara ainda mais orgulhosa – eu estava me preparando atenciosamente. Todo momento livre que eu tinha, aproveitava para estudar o procedimento, e Torres e eu já havíamos o praticado diversas vezes, até aquele grande dia chegar.

Meu transe foi quebrado quando passei em frente ao quarto de Ronan, e pude ver seu rosto através da janela. Kathleen conversava animadamente com ele, mostrando algumas roupinhas unissex de bebês, e ele estampava um sorriso bobo no rosto, parecendo genuinamente feliz. Nossos olhos cruzaram-se por um instante, e o homem fechou um pouco o sorriso, revelando uma certa tristeza no olhar. Seguiu-me com os olhos, até que desviou a visão para sua esposa, que aparentemente chamara-o a atenção.

Desde que Kathleen descobriu que estava grávida, eu nunca mais entrara no quarto de Ronan. Ele continuava internado sob observação, podendo ter uma crise a qualquer momento. Não foi por falta de bipes que eu não o vira mais, afinal, nos primeiros dias, o homem não parara de me bipar. No entanto, com a correria da queda do avião e da entrada dos novos internos, eu podia esconder-me atrás de outras preocupações, não precisando atende-lo. Então, depois de um tempo, ela parou de me bipar por motivo à toa. E quando ele realmente precisava de algo, eu mandava um de meus internos, assim evitando-o quase completamente. Contudo, momentos como aquele aconteciam às vezes, pois, por mais que eu evitasse, não tinha como simplesmente não passar ali em frente.

Abaixei a cabeça, constrangida, e apressei o passo para sair logo de uma vez do campo de visão deles.

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Fazia algumas anotações nos prontuários dos pacientes de Callie que vira naquele dia, até que ouvi meu bipe disparar e olhei-o para ver quem era. Apressei-me pelo corredor, ao ver que era uma emergência com um de meus internos, e em tempo recorde subi as escadas até o andar indicado, sem ao menos ver o que estava na frente. Adentrei o quarto e encontrei Daniel, aparentemente desesperado, tentando reanimar um paciente.

— O que aconteceu?! – exclamei entre o sons das máquinas, enquanto colocava um par de luvas.

— Ele simplesmente parou! – respondeu o rapaz, afobado – Carregue para 300. – pediu, segurando o desfibrilador – Afasta! – deu o choque no homem, inutilmente – Carregue de novo. Afasta! – tentou novamente, sem sucesso – Carregue para...

— A quanto tempo ele está parado? – perguntei, já desacreditada de que ele voltaria.

— 17 minutos. – respondeu uma enfermeira, e eu ergui as sobrancelhas, tomando minha decisão.

— É isso aí, vamos anunciar. – afirmei, respirando fundo.

— De jeito nenhum! Esse homem não vai morrer! Não no meu turno! – retrucou Hughes, virando-se rapidamente para mim e depois de volta para o paciente – Carregue para...

— Não carregue para nada! – cortei-o, olhando seriamente para o enfermeiro encarregado do aparelho – Ele se foi.

— Ainda há chances. – falou entredentes, observando-me por cima do ombro.

— Eu disse não! – o interno virou-se novamente para o paciente, ameaçando querer tentar revivê-lo novamente. Em um movimento rápido, empurrei-o para o lado com meu quadril e tomei as pás de suas mãos, fazendo-o dar alguns passos para trás para tentar equilibrar-se – Hora da morte: 16:17. – anunciei, olhando no relógio em meu punho. Entreguei os objetos que segurava para o enfermeiro e encarei Daniel, que assistia à mim chocado.

— Que porra foi essa?! – indagou, erguendo o volume da voz.

— Olha o linguajar e o tom! – repreendi-o – Quem você pensa que é? Você tem brincado de médico por esse hospital faz apenas 3 meses, nunca tratou de um paciente sozinho, nunca colocou os pés numa SO, e fica bancando o especialista por aí, agindo como se fosse superior a todo mundo. Quando eu disser alguma coisa, você obedece! Assim como quando algum Atendente diz alguma coisa, eu obedeço. A próxima vez que você passar por cima das minhas ordens, eu não vou pensar duas vezes antes de te reportar para o Conselho, está me escutando? Você pode perder sua bolsa e seu estágio. Agora se coloque no seu lugar! – disse, já irritada com ele.

— Se você é incompetente e não conseguiria salvar esse paciente, isso é problema seu, agora eu conseguiria! Fique fora do meu caminho, Insossa. – rebateu, com o cenho franzido.

— Se você acha que salvar um paciente consiste em apenas enfiar o desfibrilador no peito dele até ele voltar, então você deveria voltar para a faculdade, pois não aprendeu nada. – ergui as sobrancelhas sarcasticamente.

— Também, olha pro paciente que você me deu! Você escolheu justo um velho de 100 anos para mim, só pra ele morrer na minha mão e você ter motivos pra me chamar de incompetente e não me deixar participar da cirurgia da Torres. Só porque eu falo a verdade, você fica de marcação comigo! – acusou-me, fora de si.

— Pacientes morrem, Daniel! Não importa a idade que eles tenham. A primeira paciente que morreu nas minhas mãos foi uma jovem de uns 20 anos. Eu entreguei os prontuários aleatoriamente, então azar o seu que pegou o idoso do transplante de quadril. Mas acontece! Às vezes nós temos sorte, mas quase sempre temos azar, então acostume-se! As coisas não vão dar certo para você 100% do tempo. Ser um médico é tentar ao máximo obter êxito, mas também saber aceitar a derrota. Seu paciente morreu e você não vai ser o primeiro interno da sua turma a participar de uma cirurgia, lide com isso! Provavelmente você ainda não está preparado para tal coisa! Sempre haverá a próxima semana, o próximo mês, a próxima cirurgia. Se você continuar nessa carreira, você ainda vai pisar na SO. Agora amadureça e não me venha agir como um garotinho mimado, porque de crianças já não basta meus filhos para eu cuidar. Você quer falar mal de mim pelas costas? Ótimo. Mas eu realmente espero que mesmo com raivinha boba de mim, você aprenda alguma coisa e vire um médico de verdade. – desembuchei, deixando as palavras que estavam presas na minha garganta saírem – Você tem potencial, Hughes, só precisa aprender algumas coisas. Mas o tempo se encarrega disso. Minha parte eu estou fazendo. – suspirei, abaixando um pouco a guarda – Agora vá, deixe que eu lido com a família. Só não destrua nada no caminho por causa do seu ataque de raiva, okay?

— Eu odeio você. – disse rispidamente e deixou o quarto.

Será que eu estava sendo uma má residente? Bom, para falar a verdade, naquele momento, eu não estava me importando muito. Estava com a sensação de dever cumprido, pois tinha certeza que alguma lição aquele moço havia aprendido. Mesmo me odiando.

Ri fraco e neguei a cabeça, despreocupada. Finalmente notei que a equipe já havia tomado as providências com o cadáver, e segui para fora, focada em avisar a família daquele senhor.

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A hora da cirurgia estava quase chegando, então decidi que deveria escolher o interno que participaria conosco. Daniel já estava fora do páreo, então fui atrás dos quatro outros pacientes.

Comecei pelo paciente de Darla, um homem aparentemente na meia-idade. Bati na porta já aberta e adentrei o quarto, encontrando-o sozinho. Franzi o cenho, estranhando não encontrar a médica no quarto.

— Boa tarde, senhor. Onde está a Dra. Halls? – indaguei, olhando em volta.

— Aquela garota é maluca! Vocês deveriam educar melhor seus médicos. Ela não tem um pingo de educação, nós discutimos o dia inteiro! Ela pode até ser talentosa em relação à medicina, mas como pessoa é horrível. Não quero vê-la nem pintada de ouro! – respondeu o homem, constrangendo-me. Parece que tínhamos uma a menos no páreo.

— Eu sinto muito senhor, prometo que iremos trabalhar nisso. – forcei um sorriso, já pensando em mil jeitos de corrigir Darla – E como o senhor está?

— De saúde bem, mas minha paciência está no negativo. – rebateu, realmente parecendo estressado.

— Okay... Qualquer coisa que o senhor precisar, pode me bipar. Passar bem. – falei e saí dali, com minha cara queimando. Eu sabia que minha interna era difícil de se lidar, mas achei que com os pacientes ela seria melhor. Enganei-me.

Caminhei para o próximo quarto, que era no mesmo corredor. O próximo paciente seria o da indiana, a qual chamávamos de Sud por seu nome ser um palavrão difícil de pronunciar. Bati na porta e entrei, encontrando a jovem sentada na poltrona ao lado da cama, fazendo algumas anotações, enquanto sua paciente, uma menina adolescente, ressonava.

— Você precisa de alguma coisa, Dra. Scofield? – questionou Sud, olhando-me curiosa.

— Não, eu estou checando os pacientes de vocês... Mas creio que não vou poder conversar com ela. – eu disse, observando a médica.

— Na verdade, você vai poder falar com o pai dela. Ele foi comprar um café, e falou que já voltava. Se não estiver com tanta pressa, pode esperar para falar com ele. – sugeriu, dando de ombros.

— Okay, eu vou esperar. – assenti, e escorei-me na parede, ainda encarando a garota – Como ela está? – acenei com a cabeça em direção à paciente.

— Muito bem, ela está apresentando uma recuperação excelente. Estou impressionada. – respondeu, olhando com certo carinho para a paciente.

— Isso é muito bom. A recuperação é mais acelerada nessa idade mesmo. – sorri fraco. Estava começando a considera-la para a cirurgia. Precisava do relato do pai da paciente para confirmar, mas ela me parecia a pessoa certa.

— Boa tarde, Dra. – falou um homem, adentrando o quarto – Algum problema? – uniu as sobrancelhas, parecendo preocupar-se.

— Não, eu só queria ter uma palavrinha com o senhor. Pode ser? – sorri de leve, para tentar acalmá-lo.

— Claro. – deu de ombros.

— Sud, por favor. – pedi, e a mesma olhou-me um pouco confusa a princípio, mas logo pareceu entender a situação, e arregalou os olhos. Ela provavelmente percebeu que eu estava os avaliando para escolher, e isso deixou-a com uma expressão mais tensa.

— O-okay, Dra. Scofield. – concordou com a cabeça e saiu dali rapidamente, deixando-me a sós com o homem.

— A doutora tem certeza que não tem nenhum problema? – indagou ainda com uma pitada de preocupação.

— Não tem nenhum problema. É que eu estou avaliando meus alunos, então gostaria de saber como foi a performance dela hoje. – disse, esperando sua resposta, e de certa forma torcendo que fosse boa.

— A Dra. Batatachyra? – riu-se, negando com a cabeça – O único problema dela é o nome extremamente complicado, porque de resto ela foi uma graça. Minha filha adorou ela, porque ela deixou-a bem confortável, e nem pareceu se importar com a gente falando o nome dela errado o tempo todo e ainda rindo disso. Eu gostei dela. – deu de ombros – Ela não arredou o pé do quarto o dia todo.

— É Dra. Bhattacharya. – ri junto, comemorando mentalmente por ter finalmente decorado o nome dela – Fico feliz em ouvir isso. Eu não a conheço bem, mas ela realmente parece ser uma ótima garota. De qualquer forma, vocês precisam de alguma coisa?

— Creio que no momento não. – negou com a cabeça, olhando em volta.

— Okay. Obrigada pela ajuda. Qualquer coisa, você pode nos bipar. Passar bem. – afirmei e deixei o local, dando de cara com Sud do lado de fora, encarando-me com apreensão.

— Calma aí, Dra. Sud. Eu os manterei atualizados quanto ao resultado. Pode voltar ao seu trabalho. – virei as costas e continuei meu caminho, seguindo para o próximo, que era um jovem que aparentava estar entre os 20 e 30 anos, o paciente de Cecelia – Boa tarde. – cumprimentei depois de entrar no quarto – Como estão as coisas? – olhei para o rapaz e depois para a interna, que parecia como se tivesse sido pega no flagra.

— T-tudo bem. Muito bem. – a ruiva forçou um sorriso, deixando-me desconfiada.

— Você pode nos dar licença, Dra. Mitchell? – pedi, olhando-a com os olhos levemente estreitos.

— Claro! – respondeu e olhou para o paciente, deixando o quarto com velocidade.

— Eu atrapalhei alguma coisa? – questionei, erguendo uma sobrancelha.

— Essa garota é doidinha. – riu-se, negando com a cabeça.

— Defina “doidinha”. – cruzei os braços e continuei encarando-o.

— Mesmo sendo minha médica, ela correspondeu a todos os meus flertes! Acho que quando eu sair do hospital, já tenho uma transa ganha. – sorriu maliciosamente e olhou para fora. Segui seu olhar e encontrei Cecelia, que assistia a tudo pela janela.

Antes de julgá-la, lembrei-me de minha situação. Como eu poderia brigar com ela por fazer exatamente o que eu estive fazendo nos últimos meses? Afinal, toda a minha história com Ronan começara de forma parecida. Talvez eu deveria alertá-la de como aquilo poderia acabar mal para ela, e que ela poderia machucar-se profundamente por causa de um cretino desses.

— E seu papel como médica, ela o fez bem? – perguntei, tentando espantar meus pensamentos.

— As enfermeiras que fizeram tudo! A garota não mexeu um dedo para nada, só serviu para me fazer uma boa companhia. – respondeu, e voltou a sorrir no final da frase.

Bufei e fechei os olhos, frustrada. Então era esse tipo de médico que eu estava treinando? Será que era o carma?

—  E como você está? – suspirei, desgostosa.

— Estarei melhor depois de passar umas horas a sós com aquela belezinha. – apontou para ela e mandou um beijinho – Até me sinto culpado, porque ela aparenta ter uns 16 anos, mas ela jura que tem 24, então não é crime mesmo, já que ela é maior de idade e eu também...

— Okay, eu terminei por aqui. Qualquer coisa, pode me bipar. Passar bem. – cortei-o, já cansada daquilo. Saí do cômodo e encarei a jovem, inconformada. Neguei com a cabeça e olhei-a seriamente, como se dissesse que teríamos uma conversa depois. Contive-me a isso e segui para o último, finalmente. Já estava cansada do mesmo discurso para todos.

A última paciente era uma mulher de uns 50 anos. Bati na porta e encontrei-a rindo com meu interno, e já temi ter outro caso de tensão sexual entre meus alunos e pacientes. Limpei a garganta para chamar a atenção, e ambos olharam para mim.

— Posso ajudar com alguma coisa, Dra. Scofield? – indagou Steve, educadamente. Por ser um homem mais velho, ele sabia portar-se melhor, e eu tinha certa simpatia por ele. Mesmo ainda não entendendo porque ele estava cursando medicina àquele ponto.

— Eu vim checar como estão as coisas. Posso conversar com a paciente a sós, Dr. Jenkins? – falei, e o mesmo pareceu um pouco apreensivo.

— Claro. – assentiu e saiu dali.

— Então, como estão as coisas? O Dr. Jenkins tratou-a bem? – perguntei, colocando as mãos nos bolsos do jaleco e estudando o rosto da mulher.

— Steve é um amor! Tratou-me super bem... – sorriu largo – Ele é tão... tão... – pareceu perder-se em pensamentos, e eu senti o tom erótico em sua voz – Você me entende, não? Eu não quero parecer a velha tarada, mas ele além de simpático, é um pitelzinho... – continuou, e eu tentei não parecer muito constrangida. Realmente, a beleza do médico era notável, pois mesmo não sendo dos mais jovens, tinha uma aparência bastante conservada. Realmente, levava as senhoras à loucura.

— Eu entendo... – ri sem graça – E quanto aos seus afazeres médicos?

— Ele foi bem prestativo, mas me pareceu um pouco atrapalhado em algumas situações. Apesar que não prestei muita atenção nisso, afinal tinham coisas que mereciam mais a minha atenção... – deu uma piscadela para mim, e eu engoli em seco, corando.

— Okay... – respirei fundo e tentei manter o foco – E como a senhora está?

— Ótima! Esplêndida! – respondeu exageradamente, e eu ergui as sobrancelhas.

— Isso é ótimo! – sorri forçado – Bem, creio que terminei por aqui. Qualquer coisa, é só me bipar. Passar bem. – dei as costas para ela e saí dali apressadamente, antes que ela fizesse mais algum comentário indelicado sobre a aparência de meu interno.

— E então...? – disse Steve, olhando-me com certa dúvida.

— Eu os biparei assim que tiver uma resposta concreta. – afirmei e saí dali.

Segui para uma Sala de Descanso e tranquei-me lá. Sentei-me em uma das camas e pousei o queixo em uma mão, pensativa. Eu já havia riscado o Daniel de primeira, claramente, e dado sua devida lição de moral. Depois riscara Darla, e eu precisava ensiná-la a ter bons modos com os pacientes. Cecilia não só estava flertando com o paciente –  algo que eu não tinha moral nenhuma para falar sobre, no entanto, teria que falar – assim como pelo jeito não tinha feito absolutamente nada de sua função como médica. Sud parecia a melhor opção até então, porque fora bastante atenciosa com sua paciente e estava empenhada no serviço, mesmo que simples. No entanto, ainda estava com minhas dúvidas quanto a Steve, que também me pareceu estar fazendo as coisas corretamente, além de ser mais maduro do que os outros.

Que coisa complicada! Como Lexie conseguiu escolher um de nós? Eu claramente fui eliminada logo de primeira, assim como Daniel. Mas o que será que os outros fizeram de errado? Infelizmente, não poderia perguntar para ela.

Passei um tempo refletindo sobre os fatos, até finalmente chegar ao meu veredicto. Levantei-me e bipei todos para encontrarem-me na frente do quarto em que Derek estava internado para ser preparado para a cirurgia. Estava quase na hora, e eu estava com a mente tão ocupada que até esquecera-me de ficar nervosa.

Esperei para que todos chegassem, e o último a aparecer foi Daniel, com uma cara não muito amigável. Engoli em seco e respirei fundo, encarando cada um separadamente. O clima estava tenso, e todos pareciam estar nervosos.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Já têm alguma conclusão sobre os novos personagens? Se sim, quais? E a Lexie morreu, gente... Se vocês soubessem como foi difícil ter que passar por essas mortes de novo para escrever... Creio que nossos personagens estão ainda mais abalados do que nós, fãs daquele ser mais fofinho do mundo. #RIPLexieGrey
Como dito nas notas iniciais, vou deixar aqui o elenco dos internos: Amber Riley como Darla Halls; Sam Claflin como Daniel Hughes; Asin como Sudarshana Bhattacharya; Katherine McNamara como Cecelia Mitchell; Hugh Jackman como Steve Jenkins.
Espero que tenham gostado do capítulo. Até amanhã! Beijos!