Claire's Anatomy escrita por Clara Gomes


Capítulo 14
Capítulo 14 – Shake It Out.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessu!
Aqui vamos nós com mais um capítulo, com a introdução de uma nova parte do enredo.
A música de hoje é essa maravilha, que acho que é pouco conhecida. Essa letra é muito legal, então caso vocês se interessem, recomendo bastante. Aqui o link: https://www.youtube.com/watch?v=WbN0nX61rIs
Agora vamos ao capítulo. Boa leitura!



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O passado é uma coisa complicada. Muitas das vezes, quando pensamos na palavra “passado”, coisas ruins acabam vindo em nossa mente. Coisas ruins que fizemos, que fizeram a nós ou que aconteceram conosco; coisas das quais nos arrependemos até hoje... Mas o passado não é necessariamente apenas acontecimentos. Também são pessoas. Pessoas que fizeram parte de nossas vidas, e que deixaram marcas, boas ou ruins.

Desfilava pelos corredores do hospital, sentindo-me um máximo, mesmo um pouco desengonçada devido à minha barriga gigantesca que já parecia que ia explodir. Era oficial: eu era uma residente. Já me sentia mais importante, ao pensar que era melhor pelo menos que um bando de internos iniciantes, que não entendiam quase nada de medicina. Eu me sentia poderosa. Como se pudesse salvar o mundo com meu estetoscópio e um bisturi. Okay, talvez isso seja um pouco exagerado.

— Bom dia. – sorri para uma enfermeira, encostando-me no balcão – Você pode me arrumar o prontuário da Agnes Davis? – pedi, ainda sorridente. A mesma entregou-me o prontuário e eu assenti como agradecimento, adentrando o quarto da paciente logo em seguida – Bom dia, Srta. Davis. Como passou a noite?

— Bem... Fiquei bem grogue por causa dos remédios, mas estou bem melhor agora. – respondeu a paciente.

— Ótimo! Então, eu vou enviá-la para alguns exames antes que a Dra. Torres chegue, e depois da avaliação dela, eu a prepararei para a cirurgia. – afirmei, sorrindo simpática – A Dra. Torres irá explicar melhor sobre o procedimento, pois eu não estou à par de qual será a abordagem. – aproximei-me dela e fiz alguns exames de rotina, como checar as pupilas, reflexos, etc. – Eu vou pedir para os enfermeiros te levarem para o Raio-X e um exame de sangue, não vai ser demorado, eu prometo.

— Okay... – riu fraco, parecendo nervosa – Você sabe do meu namorado? Ele já chegou?

— Eu não sei, mas posso procura-lo para você. – respondi e ofereci-me.

— Eu agradeço. – sorriu fraco, concordando com a cabeça.

— Tudo bem, assim que eu tiver notícias dele, eu a procuro novamente. – assenti e deixei a sala, segurando o prontuário – Um hemograma completo e Raio-X para ela, por favor. – pedi à enfermeira que estava por trás do balcão, e abri o prontuário, fazendo algumas anotações.

— Com licença, você é médica aqui? – perguntou um homem moreno, aproximando-se de mim.

— Sim. Dra. Claire Scofield. – respondi, virando-me para ele – Posso ajudar?

— Talvez. Você conhece uma médica chamada Rebecca Cooper? – ergueu uma sobrancelha, e eu franzi o cenho como resposta. Por que aquele homem estaria procurando Rebecca?

— Sim, ela é minha amiga. E você é...? – olhei-o desconfiada.

— Que bom! Ajude-me a encontrá-la, por favor. Eu sou o pai dela. – pediu, encarando-me com certo desespero.

Abri a boca para falar alguma coisa, mas simplesmente não sabia como reagir. Rebecca nunca falou muito dos pais, apenas que não tinha contato com eles e que eram péssimas pessoas. Ela definitivamente não estava interessada em revê-los, e podia apostar que saber que eles estavam ali a tiraria do sério.

— Eu... vou procura-la para o senhor. Pode esperar na Sala de Espera, que assim que eu a encontrar eu o aviso. – falei finalmente, tentando não parecer tão incerta quanto a reação da morena.

— Okay, muito obrigado. – agradeceu e virou-se, deixando-me sozinha e sem reação. Aquilo não estava me cheirando coisa boa, e estava preocupada que teríamos mais um problema a seguir.

Preenchi o prontuário rapidamente e bipei Rebecca numa Sala de Descanso. Eu caminhava de um lado para o outro, nervosa e pensando nas possibilidades do porquê o pai dela estaria a procurando. Será que alguém da família estava com leucemia, e as células tronco de Cooper seriam a única esperança? Ou talvez precisassem da doação de um órgão. Foi no meio de um desses cenários imaginários que a morena adentrou a sala, com o cenho franzido.

— Qual é o problema? É alguma coisa com os bebês? – perguntou preocupada, colocando a mão em minha barriga.

— Não! – exclamei, livrando-me de suas mãos – Bom, um homem veio até mim hoje enquanto eu preenchia um prontuário...

— Ele te feriu? – cortou-me, assustada – Ele te estuprou? – sussurrou, olhando-me desconfiada.

— Deixe-me terminar, Jesus! – retruquei, impaciente – Ele me perguntou de você. – ergui uma sobrancelha, na esperança que sua ficha caísse.

— De mim? O que ele queria? Eu não estou devendo nada, né? – indagou, agora aparentemente intrigada.

— Era seu pai. – desembuchei, respirando aliviada por acabar com o suspense, e fiquei encarando seu rosto, esperando sua reação.

— O que ele queria? – questionou, agora com a cara fechada.

— Ele não disse, só pediu para que eu te encontrasse. – respondi, analisando-a.

— Diga a ele que me encontrou, mas eu não tenho interesse. – rebateu, virando-se para sair da sala.

— Simples assim? – uni as sobrancelhas, inconformada – E se for algo sério? Se ele precisar de ajuda...?

— É, simples assim. Ele não estava por perto quando eu precisei dele. Nem minha mãe... falando nela, você a viu?

— Não, só seu pai.

— Que bom, espero que ela esteja morta! – riu, aparentemente de nervoso – Eu não vou falar com ele. Simplesmente não vou. – deu de ombros e abriu a porta.

— Rebecca! – chamei, inutilmente, pois ela bateu a porta antes que eu pudesse falar mais alguma coisa.

Bufei e esfreguei as mãos no rosto, tensa. Mas é claro que eu tinha que estar metida naquilo, não podia ser com mais ninguém!

Antes de eu tomar coragem para sair da sala, meu bipe disparou, e era Callie. Lembrei-me de minha paciente e que prometera a ela que saberia de seu namorado, mas acabei sendo distraída por outro problema. Suspirei e saí dali, seguindo para o quarto dela rapidamente.

— Eu sinto muito pelo atraso Dra. Torres, é que surgiu um problema e eu tive que... – tentei desculpar-me, mas a médica me interrompeu.

— Problemas surgem o tempo todo, ah se surgem! Mas nossos pacientes em primeiro lugar, né? – sorriu ironicamente, e eu apenas assenti como resposta, engolindo em seco – Dra. Scofield, apresente a paciente, por favor. – pediu, virando-se para a mulher.

— Okay... – peguei o prontuário, para caso precisasse confirmar alguma informação – Agnes Davis, 29, vai precisar de uma substituição de quadril por uma prótese no lado direito.

— Obrigada, Scofield. Então, Agnes, seus exames me parecem perfeitos para a cirurgia, podemos prosseguir. Está marcada para as 15:00. – confirmou com a cabeça, e voltou-se para mim rapidamente – Claire, você pode explica-la como será a operação?

— Claro. Bom, nós vamos fazer uma artroplastia, que é substituir seu quadril por uma prótese. Depois de devidamente anestesiada, nós a posicionaremos da maneira correta e depois de preparar sua pele, faremos uma incisão em seu quadril. Porém, eu não tenho certeza de qual será a abordagem da Dra. Torres, assim como eu disse anteriormente. – olhei para a cirurgiã, como se insinuasse que ela explicasse.

— Dê a ela as opções e os prós e contras de cada uma. – ordenou, observando-nos séria e de braços cruzados.

— Sem problemas. Há três possíveis abordagens. Primeiramente, a abordagem posterior, na qual a posicionaremos deitada de lado, no seu caso do lado esquerdo, faremos uma incisão lateralmente em sua coxa direita que irá até seus glúteos. A vantagem dessa é que você mancará menos, mas o problema é que há mais chances de deslocamento da prótese. – expliquei, tentando ser o mais clara possível – A segunda opção é a abordagem anterior, na qual você será colocada de barriga para cima, e apesar de ser mais complexa, os riscos de deslocamento da prótese são menores. – continuei, desviando meu olhar discretamente para Callie, na tentativa de decifrar seu rosto para saber se eu estava indo bem – E, por último, há a abordagem lateral. Você também ficará de barriga para cima, e a incisão será na parte lateral do quadril. Há mais chances de mancar do que as outras, contudo a vantagem é que a taxa de deslocamento é menor. – finalizei, assentindo e me virando para a cirurgiã, esperando sua resposta.

— Você não esqueceu de nada não? – questionou, fazendo-me repassar em minha mente tudo o que estudara sobre o procedimento.

— Ah, é claro. Há a opção de miniincisão, cuja vantagem seria uma cicatriz menor. – dei de ombros, demonstrando um pouco de desprezo para a abordagem.

— Qual seria o tamanho das incisões? – perguntou a paciente, alternando olhares entre Torres e eu.

— 15 a 20 centímetros, e a miniincisão 10 centímetros. – respondi.

— Uau, é quase a metade, né? – Agnes riu fraco, e encarou Callie – Qual é sua sugestão, Dra.?

— Qual é sua sugestão, Scofield? – a morena passou a bola para mim, fazendo a paciente me olhar.

— Bom, isso depende do estilo de vida que você pretende levar. Se mancar não for um problema, eu escolheria a abordagem lateral. – afirmei, tentando parecer certa do que dizia.

— Você pode fazer essa, Dra. Torres? – disse, olhando a médica.

— Sim, mas eu gostaria de fazer pela abordagem anterior, apesar de ser mais complexa. De acordo com seus exames, você é uma candidata viável para essa abordagem, e os riscos de mancar e de deslocamento são menores. – falou a ortopedista, com a convicção que eu esperava ter um dia.

— Se a doutora fala que é o melhor, quem sou eu para contestar? – a moça riu fraco – Eu topo.

— Ótimo! – Torres sorriu – Você não acabou de explicar, Scofield. Continue.

— Okay... – respirei fundo – Depois de aberta, iremos deslocar a cabeça femoral, e serraremos essa parte fora. Nós removeremos a calcificação e cartilagem degenerada, e depois de alguns testes, posicionaremos a prótese. Faremos os testes finais e se tudo estiver certo, fechamos. – terminei, sorrindo fraco.

— Mais alguma pergunta? – indagou a cirurgiã, encarando a paciente.

— Você viu meu namorado? – perguntou a mulher, olhando para mim.

— Eu sinto muito, acabei tendo que resolver algumas coisas e não pude saber dele. Mas eu pedirei a uma enfermeira para checar. – respondi, afirmando com a cabeça.

— Bem, eu acho que é isso. – disse Torres – Vejo você na SO. – sorriu e saiu do quarto.

— Eu virei prepara-la para a cirurgia em algumas horas, até mais. – acenei e segui Callie para fora, até o balcão – Você poderia por favor checar se o namorado dela está no hospital? Obrigada. – pedi à enfermeira do balcão, entregando-lhe o prontuário, e ela respondeu com um balançar de cabeça positivo.

— Bom, no pré-operatório eu só tenho ela, agora são apenas uns pós-operatórios e se algo aparecer na Emergência... – falou Callie, mexendo em seu bipe.

— Eu soube que você está limpando sua agenda porque vai para a África com a Arizona, fico feliz por você. – tentei ser legal, mas a mesma me respondeu com um olhar um pouco gélido.

— Obrigada. – agradeceu, parecendo um pouco nervosa – Você está dispensada por enquanto, espero te ver só na SO. Ah, e pode escolher um de seus colegas para nos auxiliar nessa operação, vou precisar de mais mãos lá. – falou antes de seguir pelo corredor.

Estranhei um pouco, mas decidi deixar de lado. Foi enquanto eu pensava no que faria a seguir, que senti uma mão em meu ombro, fazendo-me virar bruscamente, um pouco assustada.

— Você encontrou minha filha? – questionou o pai de Rebecca, com um olhar suplicante.

Suspirei e puxei-o para um canto, na tentativa de sermos discretos naquela conversa.

— Sim, eu a encontrei. – respondi, falando baixinho, e seu rosto se iluminou – Mas ela não quer falar com o senhor. – continuei, fazendo-o entristecer-se novamente.

— Droga! – reclamou, suspirando – Nós precisamos dela! – exclamou, encarando-me agoniado – Diga a ela que nós sabemos que erramos, e sentimos muito, mas... a mãe dela tem Alzheimer. – finalizou, deixando-me chocada. Por essa eu definitivamente não esperava.

— Oh meu Deus! Eu sinto muito! – falei, tapando a boca com a mão – Ela está muito mal?

— Ela tem poucos dias bons, e na maioria das vezes ela age como se estivéssemos vivendo há uns 15 anos atrás. Ela chama pela Rebecca, e não se conforma quando eu digo que ela está morando em outro continente. Então nós ficamos sabendo de um experimento que o Dr. Shepherd está fazendo para curar o Alzheimer, e por coincidência Rebecca trabalha aqui. Foi por isso que eu corri com a mãe dela para cá, eu sei que ela não quer nos ver nem pintados de ouro, mas nós precisamos dela. – explicou, tristemente.

— Diante dessa situação, eu creio que ela vá ceder. Eu espero! – disse, concordando com a cabeça, tentando passar segurança – Vocês já conversaram com o Dr. Shepherd?

— Não, queríamos falar com ela primeiro... Talvez ela até facilite o processo para nós.

— Eu entendo... Bom, eu vou tentar convencê-la a recebe-los, enquanto isso, eu acho melhor vocês procurarem um lugar mais confortável para ficarem.

— Vamos fazer o seguinte, eu vou te passar meu número, e você me liga se obtiver algum sucesso. – afirmou e eu assenti, acompanhando-o até o balcão, onde pedi um post-it e uma caneta para a enfermeira, e ele anotou um número de celular – Por favor, nós precisamos muito dela. – pediu mais uma vez, com desespero no olhar.

— Eu farei tudo o que estiver em meu alcance. – balancei a cabeça afirmativamente, e o homem sorriu grato, deixando-me sozinha novamente.

Segurei o papel com seu número e suspirei, processando toda aquela informação. O que os pais de Rebecca fizeram de tão ruim, para que ela tivesse tanto ódio dos dois? Por outro lado, saber da situação de sua mãe poderia afetá-la mais ainda.

—-

Sentei-me na mesma mesa de sempre com meus amigos, e Diego e Anastasia tagarelavam sobre seus pacientes. Rebecca e eu ficamos em silêncio, trocando alguns olhares desconfiados durante todo o almoço. Esperei que os outros saíssem da mesa e só sobrássemos nós duas, para começar a falar.

— Eu vou participar de uma cirurgia com a Torres hoje e ela me pediu para convidar um de vocês para nos auxiliar, tem interesse? – falei finalmente, tentando puxar assunto com algo mais leve.

— Claro, que tipo de cirurgia que é? – assentiu, dando um gole em sua latinha de refrigerante em seguida.

— Artroplastia. – respondi, e a mesma não disse nada, apenas continuou balançando a cabeça. Um silêncio pesado formou-se entre nós novamente, e eu sentia que meu cérebro ia explodir – Eles realmente precisam de você, Rebecca. – quebrei o silêncio, tentando ser cautelosa.

— E daí? Nem ligo. – deu de ombros, e continuou a comer.

— Sua mãe tem Alzheimer. – desembuchei, fechando os olhos e respirando fundo. Ao abri-los, deparei-me com uma Rebecca estática, com o rosto neutro – Você...

— Hm. – ergueu uma sobrancelha e limpou a boca com um guardanapo de papel, jogando-o sobre sua bandeja a seguir.

— Hm? É tudo o que tem a dizer? – questionei, inconformada.

— Como eu disse: “nem ligo”. – deu de ombros novamente e levantou-se, levando sua bandeja consigo.

— Como você pode ser tão fria?! Sua mãe está com uma doença degenerativa incurável, e você simplesmente diz que não liga? – retruquei, inconformada.

— Eu, fria? Você não sabe de nada. Isso não é da sua conta, então pare de se meter. – fez um gesto para que eu parasse, e deu as costas, seguindo para dentro do hospital.

— Rebecca! – chamei, novamente sendo ignorada. Bufei e soquei a mesa, sem saber como lidar com a situação.

Levantei-me fui até a lixeira do refeitório, jogando os restos de comida nela. Deixei a bandeja junto com as outras sujas e segui até o vestiário dos residentes, que era bem mais chique que o dos internos. Assim que pudemos levar nossas coisas para aquele espaço, fizemos uma festa, pois a sensação de crescimento era ótima.

Peguei minha escova de dentes em meu “armário” e escovei meus dentes rapidamente, torcendo para que Rebecca entrasse ali para continuarmos nossa conversa. Esperei um pouco, sem sucesso, e segui para o quarto da paciente.

— Olá de novo, vim prepara-la para a cirurgia. – cumprimentei, sorrindo fraco.

— Você disse que encontraria meu namorado. – falou, e eu franzi o cenho.

— Eu pedi a uma enfermeira para procurar saber dele. Eu sinto muito.

— Eu preciso dele antes de ir para cirurgia. – pediu, parecendo amedrontada.

— Hey, sua cirurgia é simples, não precisa ficar assustada. Tenho certeza que ele estará aqui te esperando quando você acordar. – afirmei, tentando acalmá-la.

— É que nós fazemos tudo juntos... – suspirou, aparentemente prestes a chorar.

— Ele não poderá estar lá dentro, mas estará com você quando estiver se recuperando, okay? – sorri fraco e ela assentiu, enquanto a preparava para a operação.

— Estamos prontas aqui? – perguntou Callie, adentrando o quarto.

— Sim. – respondi, dando espaço para os enfermeiros levarem a maca.

— Vai ficar tudo bem, Agnes. Nós vamos tomar conta de você. – disse a cirurgiã, e seguimos com a equipe para a SO.

Entramos no local de lavar as mãos, e pouco depois Rebecca juntou-se a nós.

— Bem na hora. – comentou Torres, olhando para a morena – Está familiarizada com esse procedimento?

— Claro. – respondeu Cooper, indo esfregar-se – Qual será a abordagem?

— Anterior. – afirmou Callie.

— Ousada. – a residente ergueu as sobrancelhas – Como é o nome dessa paciente?

— Agnes Davis, por quê? – disse a cirurgiã, franzindo o cenho.

— Droga! O namorado dela deu entrada na Emergência, acidente de carro. Ele ficou perguntando sobre ela um tempão, dizendo que ela ia fazer uma cirurgia. Irônico. – explicou a morena, encarando a mesa de cirurgia através do vidro que nos separava dela.

— Ele está bem?! – questionei, preocupada.

— Ele está na mesa do Hunt, não me atualizei do caso. – falou, dando de ombros.

— Bom, vamos salvar quem podemos, e torcer para salvarem o rapaz. – afirmou Torres, adentrando a SO com as mãos levantadas.

Assenti e segui a cirurgiã, assim como Rebecca. Colocamos nossas luvas e aproximamo-nos da mesa, onde a paciente já estava devidamente posicionada.

— Okay, então vamos conferir. O que diz no prontuário? – disse a ortopedista, olhando a equipe de enfermeiros.

— Agnes Davis, 29, artroplastia do lado direito, abordagem anterior. – uma enfermeira leu.

— Muito bem, então vamos começar. Lâmina 10. – estendeu a mão para uma enfermeira, iniciando o procedimento.

— Você tem que falar com seus pais, Rebecca. – afirmei, quebrando o silêncio.

— Sério? Até aqui você vai me encher com esse assunto? – retrucou, rindo ironicamente – Eu já disse que não estou interessada, e não ligo.

— Foi exatamente por esse motivo que eu te convidei para essa cirurgia. Porque você não pode fugir e me deixar falando sozinha enquanto estivermos aqui. – falei, brava.

— Vocês podem, por favor, deixar seus problemas fora da minha SO? Aqui não é lugar para lavar a roupa suja. – repreendeu-nos Callie, concentrada na operação.

— Ah, por favor, você vive vomitando seus problemas e sua vida pessoal na SO! – rebati, sem pensar. Em todo caso, a culpa era dos hormônios da gravidez – Ela tem Alzheimer, Rebecca. E você se recusa a pelo menos dar um “oi”.

— Quem tem Alzheimer? – questionou Torres, curiosa.

— Ninguém. – respondeu Cooper.

— A mãe dela. – falei junto com a morena, que fuzilou-me com o olhar.

— Sua mãe tem Alzheimer e você se recusa a falar com ela? Que tipo de pessoa é você? – a cirurgiã franziu o cenho de maneira acusadora.

— O que vocês querem que eu faça? Eu não tenho a maldita cura do Alzheimer, droga! – exclamou a residente, estressada.

— Mas o Derek pode ter, e eles estão atrás disso. Talvez você possa coloca-los numa boa posição com o Shepherd, para facilitar as coisas. – eu disse, encarando-a séria.

— Eu nem tenho intimidade com o Shepherd! – retrucou – Eu não vou ajudar aqueles dois, nem se estiverem morrendo. Eles que se virem. – continuou, e a raiva era explícita em sua voz.

— Nossa, o que eles te fizeram para você odiá-los tanto assim? – questionou Torres, com uma pitada de ironia.

— Não é da sua conta, na verdade não é da conta de ninguém. Eu quero mais é que eles se explodam! Maldito o dia que eles pousaram em Seattle. – berrou, alterando-se.

— Okay, acalme-se... – disse a ortopedista, encarando a jovem com preocupação – Você deveria dar uma chance, e tirar todo esse ódio desse seu coraçãozinho. Só dizendo. – aconselhou, voltando a prestar atenção na operação – Agora vamos focar nessa paciente, ela precisa de nós. – apontou para a incisão – Deslocando a cabeça femoral. – foi possível ouvir o barulho do deslocamento – Serra oscilatória. – estendeu a mão para a equipe de enfermagem, e uma enfermeira entregou-a a serra – Serrando o colo femoral. – continuou, antes de ligar a serra. Estiquei minha cabeça para assistir ao procedimento, e pude ver o pedaço de osso sendo cortado – Muito bem, expondo acetábulo. – devolveu a ferramenta e continuou – Fresas acetabulares. – pediu às enfermeiras novamente – Removendo calcificação e cartilagem degenerada. – assim o fez – Inserindo componentes femorais e acetabulares de teste. – posicionou uma parte da prótese – Okay, agora vamos testar os movimentos. – a médica fez alguns movimentos gentis como teste – Estamos prontos para continuar. Inserindo prótese. – uma enfermeira entregou-lhe a prótese, e Callie posicionou-a com cuidado – Vamos fazer mais um teste... – fez outros movimentos – Perfeito, estamos prontos para fechar. Quem de vocês duas vai querer?

— Eu! – falamos juntas, e olhei torto para Rebecca.

— A garota que se recusa a falar com a mãe com Alzheimer não deveria ter direito de fechar. – ergui uma sobrancelha, desafiadoramente.

— Desculpa aí Cooper, mas pode fechar, Scofield. – Torres deu de ombros, saindo dali.

— Isso não é justo! – reclamou Rebecca, revirando os olhos – Quer saber, vai se ferrar, Claire. – disse e saiu da sala também.

Revirei os olhos e respirei fundo aproximando-me da incisão.

— Grampos! – pedi às enfermeiras. Estava exausta fisicamente e emocionalmente, então escolhi os grampos para ser mais rápido.

—-

Adentrei o quarto de um paciente homem, que acordou lentamente ao me ver.

— Quem é você? – perguntou, um pouco grogue.

— Eu sou a médica da Agnes. Ela estava louca atrás de você antes da cirurgia, e eu fiquei sabendo do seu acidente e vim checar se estava tudo bem. – respondi, mantendo a distância de sua cama.

— Oh, Agnes... Ela está bem? – falou, sorrindo bobo e logo transformando seu rosto em preocupação.

— A cirurgia foi um sucesso. Vocês poderão se ver em breve. – afirmei, sorrindo fraco.

— Diga a ela que eu a amo. – pediu, e eu assenti.

— Eu direi. Agora você pode descansar. – falei, antes de deixar aquele quarto.

Segui para o andar do quarto de Agnes, e pouco depois estava lá dentro, esperando a jovem acordar.

— George? – chamou a moça, ainda se localizando.

— Seu namorado sofreu um acidente de carro, mas nossos médicos tomaram conta dele, e ele está bem agora. Ele também teve que passar por uma cirurgia, então também está num quarto se recuperando. – expliquei, o mais calma possível.

— Oh meu Deus... Meu querido George. – disse a paciente, preocupada.

— Ele pediu para eu dizer que ele a ama. – sorri de canto, e ela abriu um sorriso imenso.

— Eu o amo também... Tenho certeza que ele sabe.

— É claro que sabe... – assenti – Agora eu vou deixa-la descansar. Boa noite. – despedi-me e saí dali, seguindo diretamente para o vestiário.

Adentrei o local cheio de residentes e caminhei lentamente até minha prateleira, trocando de roupa sem pressa, pois meu corpo não aguentaria pressa. Quando terminei de me vestir, peguei o post-it com o número do pai de Rebecca, e suspirei. Agarrei minha bolsa e pedi um táxi para me levar em casa, pois tinha certeza que minha carona se recusaria a me levar.

Ao chegar em casa, fui o mais rápido possível para meu quarto, e me tranquei lá dentro. Joguei-me na cama e disquei o número no celular, e esperei alguém atender. Depois de vários toques, acabou indo para a caixa postal, então decidi deixar um recado.

— Boa noite, Sr. Cooper. Aqui é a Claire, a amiga da Rebecca. Eu contei a ela, mas ela se recusa a vê-los. Eu sinto muito, eu tentei de tudo para convencê-la, mas não deu certo. Na minha opinião, é melhor vocês procurarem o Shepherd o mais rápido possível, e começarem logo o tratamento. Talvez, com o tempo, nós seremos capazes de convencer Rebecca de acompanha-los. Eu não sei o que aconteceu no passado, mas ela parece ter um grande problema para perdoá-los. De qualquer forma, pode ligar nesse número sempre que precisar de alguma coisa, eu estarei à disposição. Sua filha tem feito muito por mim, e eu quero retribuir o favor. Bom, é isso. Tchau, Sr. Cooper.

Mas, para seguirmos em frente, às vezes temos que nos desapegar do passado. Resolver os assuntos pendentes. Porque, eventualmente, o passado vai voltar para nos assombrar, e seremos forçados a encará-lo. Bata de frente com seu passado, perdoe quem tem que perdoar, e siga a vida. Eu sei que é difícil, e às vezes parece impossível. Mas não é.


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Notas finais do capítulo

Como a fanfic é de Grey's Anatomy, não podia faltar algo relacionado com Alzheimer hihihi
E o que vocês acham que os pais da Rebecca fizeram de tão ruim para ela agir assim? Digam aí nos comentários!
Espero que tenham gostado do capítulo. Beijão!