Suspirei olhando para o teto da sala de modo entediado e um tanto irritado, faziam cinco meses que eu havia me mudado sozinha para aquele maldito apartamento. O que eu não esperava, era não estar totalmente sozinha.

— Você parece irritada. – Ouvi um murmúrio e estreitei os olhos, ainda os mantendo na mancha de mofo do teto

— Você me irrita. – Rosnei em resposta – Se você vai morar comigo, devia ao menos pagar a estadia.

— Aceita quatro virgens? – Debochou e eu abaixei o olhar para o ser sentado no encosto do sofá

— Eu vou trazer um padre, vou virar cristã e começar a ler versos da bíblia para você. – Ele riu dando de ombros, se levantando enquanto cantarolava:

— Você já tentou isso antes. – E saiu, desaparecendo dentro de alguma parede

— Filho da puta.

Bem, minha dor de cabeça tinha nome, mas não um sobrenome. Porque sabe, é meio que difícil um demônio se chamar John Carter ou algo do tipo. Mas é, o nome dele era John. Quer dizer, era um dos vários nomes que ele recebeu.

Isso mesmo, um demônio habitava o maldito apartamento e eu não podia nem ao menos me mudar.

Primeiro, porque minha moradia era tão perto da faculdade que eu poderia ir a pé.

Segundo, era barato e os vizinhos não falavam comigo, o que era uma benção.

Terceiro, eu era muito orgulhosa para me deixar ser vencida por aquele demônio.

Ele até tentava ser legal, nota-se que eu disse tentava. Ok, talvez eu não o ajudasse muito já que o que tinha de orgulho, eu tinha de mal humor. Principalmente de manhã. E era por aquilo que eu havia escolhido morar sozinha, mas foi uma desgraça quando aluguei o apartamento e John veio de brinde.

— Você vai se atrasar para a sua faculdade, senhorita Daphne.

— E você para seu sacrifício da tarde. – Resmunguei, como sempre, ele apenas riu de algum lugar do pequeno apartamento. Suspirando, eu me levantei, pegando tudo que precisava e falando sobre o ombro, sabendo que ele iria escutar – Vou voltar com alguém, acho bom você ficar invisível ou eu irei pendurar os crucifixos de novo!

— Blá, blá, blá. Você é irritante. – Senti um vento gelado atingir minha nuca e eu virei o rosto para o lado que ele veio, John estava perto, deixando-me me ver em seus olhos negros. Eu já disse que a aparência dele era, ao menos, agradável? Bem, eu não sabia se era uma carcaça qualquer ou se aquela era a verdadeira aparência dele.

Eu já havia lhe perguntado, mas única coisa que recebi em resposta foi um arquear de sobrancelhas malicioso e um “bem, acho que nunca saberemos”.

— E você é um demônio. – Bufei em resposta, vendo aquele sorriso brilhante e levemente macabro estampar seu rosto pálido

— Obrigado, capitã óbvia. – Rolei meus olhos e saí, fechando com força a porta, fazendo o número 696 tremer.

— Só espero que quando eu volte não tenha nada do ritualzinho dele no meio da sala. – Resmunguei para mim mesma enquanto descia as escadas.

Na verdade, eu duvidava que ele realmente fizesse algum tipo de ritual, ele apenas parecia querer me irritar.

Apostava na segunda opção.