Eu nunca achei graça nesses eventos regados a hipocrisia, falsas demonstrações de afeto e fábulas descabidas, mas Abigail havia me convencido a comparecer a mais uma das reuniões que o Black Tiggers High School promovia todos os anos.

Não vou dizer que estar novamente naqueles corredores e voltar ao ginásio não seria legal, afinal eu guardava boas memórias do colégio. Inclusive, quando estudava aqui, eu amava a energia do local e as flâmulas com os dizeres “Go Tiggers” por toda a parte. As cores eram fascinantes e até as aulas no laboratório de química agora pareciam fazer falta. Há dez anos a minha maior preocupação era não repetir nenhuma roupa ou Patty Sanders poderia me fazer almoçar na mesa dos perdedores. Esta situação até me arrancava risos atualmente, mas nunca de minha irmã mais velha, Rebecca, cujas roupas iam parar misteriosamente no meu closet.

No entanto, eu não havia mantido contato com ninguém que estudara lá na mesma época que eu, a não ser a própria Abigail que era como se fosse da família. Vivemos no mesmo bairro durante toda a infância e só nos desgrudamos quando fomos para a universidade; e apesar das mais de quinhentas milhas de distância que separam Sacramento e Salt Lake City, não nos separamos. Mantivemo-nos firmes até após namoros e as responsabilidades que a vida adulta nos trouxe, apenas aguardando que o destino nos levasse de volta para perto uma da outra. E foi o que ocorreu pouquíssimos meses após a formatura: nos fixamos em Denver, há poucos minutos de Loveland, onde tudo começou.

Por essas e outras é que eu não poderia negar a súplica de Abby a voltar para nossa cidade natal e chegar a tempo do reencontro da turma de 2006. Claro que estávamos atrasadas! Chegaríamos depois de todos ou não seríamos nós! Bem… Apesar que o fato de o convite ter atrasado para chegar até as mãos de Abigail havia cooperado para a falta de planejamento. Eu sequer havia recebido aquele maldito papel! E, se recebesse, não perderia tempo e dinheiro para fingir que a vida de todos os meus ex-colegas era maravilhosa.

Mas, Abigail não pensava assim. Ela queria esfregar na cara da ralé as suas quarenta e oito libras a menos, seu noivo/marido astro do Denver Broncos e sua montanha vulgo anel de noivado de 41,78 quilates. Tudo havia ocorrido sucessivamente… A perda de peso, o namoro e, por fim, o recente noivado. Ela era só felicidade!

Eu sei o que você deve estar pensando… “Nossa, mas que garota mais interesseira e aparecida!”. Mas, não. Eu garanto. Abby é a garota mais doce e querida que eu conheço. Ela era a “gordinha da turma” até o último ano do colegial, então, para ela era muito importante fazer isso para que superasse o bullying e fizesse cada um daqueles idiotas engolir todas as brincadeirinhas de mau gosto. Além do mais, ela havia sentado na mesa dos perdedores por umas três semanas e esta era uma lembrança amarga que não a deixava desde então. Aquilo era mais uma questão de honra para a pobre Abby, então não hesitei em pegar o carro, dirigir por quase uma hora até Loveland e realizar seu desejo de revanche.

— “Vingança” é um prato que se come frio. — disse a ela assim que entramos na picape, rumo à reunião.

Mas, você acha que adiantou? Sem chances. A engraçadinha ainda respondeu que não havia problema pois amava sushi. Ok. Eu já estava acostumada com o senso de humor de Abigail. Ela era muito espontânea e falava qualquer bobagem, mas mesmo assim eu achava super hilário, só pela forma como ela simplesmente dizia.

— Espero encontrar cada um desses bastardos. — Abby murmurou pelo caminho, enquanto folheava um antigo anuário.

Eu só conseguia rir das caras e bocas que ela fazia. E foi assim até estacionarmos em frente ao colégio.