Another Way to Die escrita por Claire Smith


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Bom, dessa vez são dois capítulos, então aproveitem porque hoje coloquei todos os irmãos para conversarem.

Mas primeiro vamos ver no que vai da essa conversa das irmãs Hooper.



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Molly Hooper

Fazia muito tempo que eu não falava com Agatha. A última vez havia sido antes do funeral do nosso pai, e ainda assim, só conseguia lembrar dos nossos gritos e acusações. As lamúrias e desavenças das irmãs Hooper.

— Já faz muito tempo, Molls – ela disse, e o apelido me fez voltar de forma inconsciente no tempo, para uma época em que éramos adolescentes comuns e inteligentes com uma vida normal... Antes da minha irmã vender drogas.

Aquela seria uma longa conversa, então tentei amenizar as coisas.  

— Como você está? -  perguntei, deixando de lado o tom autoritário que usei com ela instantes atrás.

Ela sorriu levemente, percebendo a mudança em minha voz, antes de responder.

— Bem melhor – disse. - É muito bom não ser perseguida a cada esquina por um cartel de drogas - forçou um sorriso.

— Como você...  - fui interrompida.

— Longa história - ela respondeu rapidamente, se esquivando do assunto. Balançou devagar a cabeça com os olhos fechados. - Posso contar isso uma outra hora, mas agora não é o momento.

— Ok – concordei, minha pergunta ficaria para depois. Senti o silêncio invadir a sala. Tinha medo do resto da conversa.

Resolvi ser uma boa anfitriã. Fui até a cozinha pegar algo para bebermos.

— Vinho – Agatha disse ao ouvir os barulhos no outro cômodo.

Sorri. Algumas coisas não mudavam.

Peguei duas taças e me perguntei porque nossa relação não era simples como escolher uma bebida, mesmo sabendo que ela nunca seria tão fácil.

— Vim para fazer as pazes – ouvi ela dizer.

Apareci em seu campo de visão. Ela tirava os saltos, pondo-os perfeitamente alinhados ao lado do sofá; sua expressão não mais maliciosa ou confiante, pela primeira vez desde que a descobri em meu apartamento, era a da garota que me acompanhara em algumas festas do colegial.

— Não entendi – menti.

— Ah, entendeu sim – retrucou e expirou com força. Parecia decidir o que dizer. - Não me orgulho da discussão que tivemos após a morte de papai, assim como não me orgulho de ter deixado você e mamãe, mas Molly, entenda, foi necessário. Se eu tivesse ficado ali, em Cardiff, com você e todas as lembranças ruins dos últimos dias, apenas... - ela parou de falar, dando-me tempo para pensar.

Enchi as duas taças com o vinho e ofereci uma delas à Agatha, que sorveu tudo num piscar de olhos. Ela estendeu o recipiente em minha direção e indicou querer mais.  

Fiz uma cara de desaprovação para ela, mas eu mesma também tomei o líquido rapidamente. Tornei a encher as taças.

— Não queria ter matado Tony – ela disse cabisbaixa e triste, chamando nosso pai pelo apelido.

— Você não o matou.

— O matei de desgosto – continuou. - Você não o viu quando descobriu que eu vendia drogas, e que ainda guardava algumas partes da mercadoria em nossa casa – relembrou. - Eu vi toda a incredulidade nele, em cada gesto dele, e eu senti medo, Molly. Quando ele ergueu a mão e fez o movimento claro de quem me bateria, eu permaneci parada, pronta para apanhar se fosse preciso, porque naquele momento, o rosto dele não era o mesmo, ele não era o nosso querido pai, e eu me odiava por ter sido a pessoa a transformá-lo em ira – seus olhos estavam marejados, sua voz esganiçada e ainda assim forte, ela era mais parecida com nosso pai do que admitiria. Prosseguiu. - Ele baixou a mão, dizendo que não conseguiria fazer aquilo. Ele me olhava como se não reconhecesse mais a filha, como se tudo o que me fora ensinado  não servisse para nada.

Continuei olhando para ela ao mesmo tempo em que via o que era descrito. Naquele fatídico dia, quando cheguei da escola, não encontrei minha família espalhada pela casa ou conversando na cozinha; naquele dia, quando entrei, deparei-me com papai sentado em sua velha poltrona, ouvindo os relatos da vida de vendedora de entorpecentes da minha irmã. Ela nos contou tudo, ou ao menos achamos que sim, sobre a rede que comandava não apenas o subúrbio da cidade, mas também as festas caras dos jovens ricos. Uma rede que fazia a taxa de crimes aumentar em algumas épocas e roubava a grana dos idiotas ricos. Nossa mãe, Margareth, estava ao lado de Agatha e ouvia cada palavra dita com o rosto impassível e ainda assim protetor. Dava para ver que ela havia chorado, mas lá estava ela segurando a mão de sua filha mais velha.

Nosso pai levantou-se e pegou a espingarda no armário dos fundos, se despediu da gente e saiu.

Nós sabíamos que ele iria atrás da tal rede, ele ia tentar trazer a filha de volta aos eixos, ele ia contatar a polícia, e ia montar um novo cerco ao tráfico local. Mas em meio às discussões e gritos, meus, de mamãe e de Agatha, nós nunca imaginamos que ele morreria antes de tentar alguma coisa. Antonie Hooper morreu sozinho. Parada cardíaca. Capotou o carro algumas vezes depois disso. Perdera o controle.  

— Foi você quem contou a ele? - Agatha perguntou. Podia suspeitar que ela mesma também relembrava tudo.

Fiquei em silêncio por um momento antes de falar.

— Não precisei – respondi. - Nunca contei a eles. Por mais que eu quisesse contar eu resolvi cumprir a minha promessa. Não dizer uma palavra.

Ela continuou bebendo o vinho, sem a mesma vontade de minutos atrás. Sabia o que viria a seguir, eu mesma tinha a minha própria cota de raiva acumulada.

— Eu odiei você com todas as forças - ela disse. Não desviou o olhar ao dizer isso. - A filha que eles sempre quiseram era você, a mais amada, querida e perfeita Molly Hooper. E eu, cometendo apenas um mísero erro, fui condenada em uma noite ao equivalente de uma vida inteira – disse com raiva.

— Devo assumir a culpa por seus atos? - perguntei.

Ela pensou um pouco.

— Não, apenas podia ter me apoiado - disse com uma naturalidade impressionante.

— Apoiado? - ela só podia estar brincando. - Quantas vezes fui avisá-la? Quantas vezes eu protegi você? Eu quase fui presa no seu lugar, e tudo que diz é que devia ter te apoiado? - perguntei aos gritos.

Ela se levantou num pulo.

— Suas malditas palavras eram "eu te ajudo, eu te protejo". Para que droga isso servia se a minha própria irmã estava contra mim?

— Sinto muito não seguir os seus passos, Agatha. Tenho certeza que eu devia ter ido vender drogas ao seu lado, quem sabe até usado, ou feito pior. Depois eu fugiria pra França ou qualquer outra merda de país para proteger a minha linda e ingênua irmãzinha dos perigos que ela arrumou - gritei, cheia de sarcasmo.

— Cale a boca, Molly.

— Cale a boca, você - respondi. - Até onde eu saiba, este apartamento é meu, e eu grito com quem eu quiser aqui.

Agatha não respondeu. Ela começou a andar pela sala, com as mãos na cintura, murmurando todo o tempo.

— Estamos parecendo duas adolescentes – comentei, ainda sentada no sofá.

— Eu sei – ela concordou. Parou de andar e sentou-se novamente ao meu lado.

— Charlotte vai casar - ela falou de repente. - Ela pediu para convidá-la - minha irmã falou.

Olhei para ela.

— Nossa prima? - perguntei, e assim que ela assentiu fiz outra pergunta. - E qual a relação dessa notícia com nossa conversa?

Ela suspirou com desdém.

— Nenhuma, só quis informá-la, é umas das minhas missões a cumprir aqui em Londres. E assim, o clima de briga entre a gente podia se desfazer - respondeu. - Me desculpe.

— Me desculpe também - respondi, e ainda alfinetei. - Não é fácil lidar com você.

— Não comece, ó deusa da sabedoria – e gargalhou, o que me fez sentir calafrios pelo corpo.

Ganhara o apelido no ensino médio depois de um trabalho de filosofia, e ela sabia que não gostava que me chamassem assim. Suspirei e procurei mudar de assunto.

— Para quando é o casamento?

Ela vasculhou a bolsa como se a resposta estivesse ali dentro - e estava -, ainda sorrindo, e tirou o convite.

— É daqui a duas semanas – ela leu.

— Que rápido - peguei o convite das mãos dela, queria ler as informações eu mesma. Fiquei surpresa ao ler o nome do noivo e o local da festa. - George Herbert? O dono da franquia de jóias? No Castelo de Powis?

— O herdeiro da franquia, irmãzinha. Nossa prima conseguiu conquistar o milionário, vai casar como uma princesa, e ainda vai ganhar uns parentes interessantes – ela disse, animada. - Mas o melhor eu ainda não te contei, quem você acha que está organizando tudo? - perguntou, ansiosa e inclinada para mim.

Pensei se conhecia algum organizador de eventos.

— Não faço ideia – falei.

Ela me olhou, desapontada.

— Eu estou organizando o evento, Molly. Bom, eu e minha equipe – disse. - Pensei que mamãe contasse tudo sobre mim para você.

— Bom, é mais fácil ela ter dito e eu esquecido, ainda somos distantes, lembra? – falei. - Desde quando você é promoter?

— Desde de o momento que cansei de ser garçonete na França. Demorou um pouco, mas consegui – disse.

Sorri para ela, um sorriso verdadeiro porque estava muito orgulhosa.

— Isso é ótimo, estou feliz por você.

Isso serviu para aliviar a tensão entre nós duas. Certamente sentindo o mesmo que eu, Agatha segurou minha mão e disse:

— Eu sei, Molly. Obrigada. Apenas quero que você e mamãe sintam orgulho de mim. Eu mudei, apenas deem uma chance, ok?

Dar uma chance. Eu ainda estava zangada com ela, pelas acusações que fez, por ter nos deixado sozinhas sem enfrentar as consequências de seus atos, mas eu queria que aquela rixa acabasse, mesmo sabendo que não seria do dia para o noite. Uma mudança nunca era.  

Assenti para minha irmã, pois achei não ser capaz de expressar em um simples sim ou ok tudo o que queria dizer.

— Tenho um presente para você - disse. Foi até a cozinha e voltou com o embrulho que vi quando cheguei. - Espero que goste, mas vendo sua estante, acho que acertei nas escolhas.

Dentro do pacote estavam dois livros. O primeiro era sobre patologias, contando todas as mais recentes descobertas científicas nesse campo; o segundo, era o meu livro de contos de Shakespeare que havia deixado em casa antes de me mudar para Londres. O livro estava completamente restaurado, com as lombadas refeitas e encadernado à mão. Estava lindo!

— Conheci um amigo que é restaurador de livros antigos – ela disse. - E ele amou ter que refazer todos os detalhes da capa original, afinal isso é de 30, 40 anos atrás? Nossa vó tinha bom gosto ao te dar isso, agora você pode reler tudo mais uma vez.

Aquele era um dos melhores presentes que já ganhei, e minha irmã sabia disso. Ela amava ser convencida e se certificava em sempre ser. Sem nem pensar duas vezes, fui até ela e a abracei. As vezes, ela era um amor.

— Calma, Molls. Não vá chorar, por favor. Não gosto de vê-la toda emotiva.

Dei uma batida de leve em seu ombro e apertei ainda mais o abraço. Assim que se soltou disse:

— Ai, que dor! Não precisava me apertar tanto. Você também é manhosa assim com seu namoradinho? - perguntou, rindo.

Peguei uma almofada e joguei nela, que desviou; joguei outra e essa acertou o alvo, mas infelizmente ela continuou sorrindo.

— Ah, não, não. Molly Hooper não tem nada de manhosa, ela faz o estilo agressiva, não é irmãzinha?

Eu havia mesmo pensado que ela era um amor?

— Agatha, eu te odeio, garota – falei, indo em sua direção.

Ela pegou a bolsa e os sapatos, pulou o sofá e caminhou até a porta gargalhando.

— Não odeia, Molly. Você é uma mulher adorável demais para isso, e eu não fui a única a perceber essa qualidade – abriu a porta e se virou para mim mais uma vez. - Te mando notícias minhas, ó deusa da sabedoria – falou, fez uma reverência exagerada e fechou a porta antes que eu jogasse outra almofada nela.

 

Sherlock Holmes

— Não tenho o dia todo, Mycroft – disse ao meu irmão, após ele entrar em sua sala privada no Diogenes Club, onde me fizera esperar por quase uma hora.

— Oh, poupo-me de suas reclamações, Sherlock – disse, puxando a cadeira e sentando-se. - Até onde fui informado não há mortes iminentes nesse caso, e você não colocou fogo nesta sala para chamar atenção, logo seus assuntos podem esperar.

— O caso James Moriarty não pode esperar – repliquei.

— Sim, é verdade – concordou.

Fez-se silêncio.

Mycroft Holmes nunca concorda comigo, a não ser para me irritar.

— Bom, então?

— Então - falou, ao tirar uma pasta de uma das gavetas – espero que faça bom uso das informações que consegui.

— Algo novo?

— Talvez – estava sendo cauteloso. - Falemos de seus protegidos antes – e entregou-me o arquivo que, mesmo sem nome, sabia se tratar da nova fase do Lazarus.

Torci o nariz ao ouvi-lo dizer protegidos, eu apenas estava fazendo meu papel, tentando evitar os estragos que poderiam ser causados por Moriarty.

Com a pasta em mãos, concentrei-me em somente saber dos planos que poderíamos usar. A parte inicial era dedicada aos Watson. Toda a história de John Hamish Watson e Mary Morstan. Ou, no caso, da mulher que herdou o nome da verdadeira Mariah Evelyn Morstan.

— Conseguimos isso com base em informantes sólidos e confiáveis. Infelizmente não é um histórico completo, mas sabemos o suficiente sobre a vida de agente governamental, agente duplo e agente independente da Sra. Watson, e isso apenas me faz ver o quão interessante ela é - meu irmão elogiou.

Fechei o arquivo por um instante.

— De onde vem essa repentina admiração por uma mulher? - perguntei com escárnio.

— Sei dar o devido valor a uma quando vejo as qualidades necessárias para tal deslumbramento, irmãozinho. Algo que, creio eu, você não seja capaz.

Ignorei o comentário e voltei minha atenção ao documento em mãos.

— Suponho que essas informações não são do interesse de John Watson, estou certo? - perguntou.

— Absolutamente.

— Então apenas eu, você e alguns antigos contatos de Magnussen sabemos a verdadeira identidade de Mary e sua vida secreta?

— Sim, os únicos - confirmei, ainda concentrado na pasta.

— Bom, espero que não se importe com a provável redução acidental em nosso seleto grupo.

— Não esperava nada diferente.

Mycroft havia pensado em várias situações possíveis, exagerando demais talvez, ao elaborar planos de contenção e proteção. As mais prováveis sendo, mudar os Watson de país, o que me fez imaginar meu amigo John tentando se adaptar aos modos nada londrinos de outras nações; ou as mais complicadas, e um pouco difíceis, como transformar ele e a esposa em agentes da rainha.  Para isso, seriam necessários meses de treinamento – que talvez não tivéssemos - e claro, um falso trágico acidente que os vitimasse. Como, pelo que tudo indicava, a senhorita Morstan possuía grande experiência em campo, não seria uma alternativa tão inviável.

Passei a página e no alto da folha seguinte, em letras garrafais, lia-se HOOPER.

Molly Elizabeth Magdalen Hooper. Natural de Cardiff. Sua mãe, Margareth Hooper, era aposentada; mantinha uma floricultura e era sócia em uma pousada na região. Antonie Hooper, seu pai, era policial e havia sido morto em serviço há alguns anos. Agatha Charlotte Hooper, sua irmã invasora de domicílios, era uma organizadora de eventos.

— Ah, obrigado, Mycroft – disse ao me lembrar do encontro com a irmã de Molly – por não avisar que havia alguém no apartamento – acusei-o.

— Desculpe, irmão. Não tive como avisá-lo – seu tom de falsa inocência só o fazia mais insolente.

— Vai ter que fazer melhor que isso para me convencer – disse a ele. - Recebi sua mensagem de confirmação sobre as informações no momento em que chegava ao apartamento da Hooper. Seria uma cortesia de sua parte, que não sei como ousei esperar, que me avisasse de qualquer situação que fugisse do padrão.

— Calma, Sherlock, deixe de drama – falou, claramente se divertindo. - Apenas quis garantir uma primeira impressão sem manipulações. E então, como ela é?

—  Como se você não soubesse - disse a ele. - Fisicamente um pouco mais alta que Molly. Podem ser os saltos – pensei a respeito. - Visualmente, elegante. Socialmente, incisiva, confiante e, ainda não formei total opinião, mas também um pouco manipuladora.

— Uma mulher vaidosa, pelo visto. Nada parecida com a srta. Hooper.

— Há algo no passado delas – continuei – algo que deixa Molly numa confusão de emoções, o que é incomum já que ela costuma ser objetiva em sua decisões. Descobriu algo sobre isso?

Ele assentiu.

— Passe duas páginas e veja – falou. - Agatha vendia drogas para clientes ricos na cidade natal das duas. O pai descobriu e, ao que tudo indica, morreu a caminho de um embate com a rede de narcotráfico local, mas essa informação morreu junto com ele e não consta nos arquivos oficiais, em respeito ao bom nome e reputação do policial.

Aquele era um fato inesperado. Se eu fosse julgar a personalidade dela, diria se tratar de algo nas proporções da irmã, mas estava enganado. Entretanto, isso explicava o tratamento de Molly.

— Mas essa não é a parte mais interessante do que encontramos – Mycroft disse.

— E qual seria? -  perguntei, lendo rapidamente as possíveis situações de uma rota de fuga para Molly. Algumas citavam treinamento parecido ao do exército ou militar para a formação de novos agentes. - Você está mesmo cogitando transformá-la numa agente? - perguntei incrédulo.

Ele não pareceu surpreso com meu espanto. Na verdade, parecia já esperar por isso.

— Claramente – respondeu. - Ela seria uma adição interessante ao serviço, bem como se tornaria uma mulher ainda mais forte, mas claro, apenas se a situação se fizer necessária, e apenas se ela assim quiser - fez um gesto com a mão como se o assunto não importasse tanto naquele momento.

— Ela é a Molly – disse -, uma legista sem nenhuma prática com armas, manipulações ou riscos.

— Isso é o que você pensa. Tudo se aprende, Sherlock – disse, repreendendo-me. - Mas atenha-se aos fatos antes de me apedrejar por uma ideia. Nas suas breves e iniciais investigações sobre a vida dela, o que descobriu sobre o pai?

Não tive que pensar muito a respeito.

— Não mais do que tem nesse arquivo – disse. - Estou desapontado por só haver isso, imaginei que com sua influência fosse haver mais a saber.

— E há - respondeu. - Leia a última folha, por gentileza – pude sentir que  havia deixado passar algo.

E antes que eu pudesse ler tudo, ele simplesmente jogou o que sabia em mim.

— Antonie Hooper serviu a rainha durante mais de vinte anos de sua vida. Foi um dos mais honrados agentes de campo que tivemos, seu trabalho era bem visto e elogiado, e como todos exigimos, era discreto. Sua reputação cresceu ao ponto de lhe serem dadas os melhores trabalhos. Atuou com a CIA, em alguns momentos e durante uma dessas investigações em conjunto descobriu uma possível reserva de material nuclear e a localização para a pérola negra dos Bórgias, numa zona sem aparente dono no Oriente Médio, e quase conseguiu localizar a região exata antes de o realocarem. A CIA ama esses fatos um tanto nebulosos - revirou os olhos. - Entretanto, passado algum tempo, comprovou-se que a área era falsa e que depoimentos foram manipulados para que perdêssemos tempo examinando algo que não traria frutos - ele parou.

— Suponho haver mais nessa história.

Ele concordou.

— Cinco horas atrás, nossos melhores hackers interceptaram uma mensagem cifrada que dizia se tratar de uma grande descoberta, destinada a quem pudesse pagar mais – uma pausa. – Simplesmente, resolveram anunciar que uma reserva nuclear foi encontrada, coincidentemente no mesmo local registrado há vinte anos.  

— Quem fez o anúncio?

— Ainda não sabemos – ele disse com um suspiro. – Mas isso foi feito ao mesmo tempo em que Moriarty deixava seu recado na delegacia, e se eu apostasse, certamente seria nele, ou em sua rede.

— E as pérolas?

— A CIA já está investigando.

Aquilo estava ficando elaborado demais. O que Moriarty ganharia ao possuir um material desse tipo?

— Poder para negociar com qualquer célula terrorista do mundo – murmurei para mim mesmo.

— Não murmure, diga o que tem para dizer – Mycroft irritou-se.

— Apenas certifique-se sobre a autoria da informação, preciso me concentrar no que vai acontecer – respondi, levantando-me. Coloquei a pasta no bolso do casaco.

— Nada de se envolver em outro casos enquanto esse estiver em curso, deixe o caso da mulher-bomba para qualquer outro resolver. Manterei contato sobre o que precisar – ele disse. – E quanto ao endereço que veio junto ao envelope, quando irá? – perguntou.

Suspirei. Quem ele pensava que era para simplesmente escolher os casos em que devia trabalhar?

— Provavelmente hoje à noite. Não quero adiar o inevitável por muito mais tempo - pensei no local e imaginei qual serventia um prostíbulo tinha para um plano de Moriarty.

— Não se apresse, Sherlock. Talvez seja isso que o precisa, de um período de relaxamento. Espero que aproveite a companhia ou as companhias, afinal tudo depende de seus gostos um tanto duvidosos – e sorriu com sarcasmo, o que raramente fazia.

— Não se preocupe, irmão– disse antes de sair. - Tenho um plano em mente.

 


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