Duendes de Noel escrita por Lucas Temen


Capítulo 1
One Shot


Notas iniciais do capítulo

Fiquei muito orgulhoso por essa minha one do desafio Expresso Polar, eu espero que tenham uma ótima leitura e não se esqueçam de deixar um comentário! E, lembrem-se: nada é o que parece ser.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/720103/chapter/1

Catalunha, 25 de Dezembro de 1872

 

Consuela pisoteava o gramado coberto por neve em busca de seu irmão Francisco, dois anos mais velho, que havia desaparecido dentre os grandes pinheiros, os quais haviam próximos a casa da família de ambos.

Seus cabelos lisos e aloirados em penteado chanel esvoaçavam, enquanto a garota de apenas dez anos de idade tremia de frio e cruzava seus braços para conter-se da temperatura gélida presente.

A grande quantidade de roupas era típica para as baixas temperaturas do inverno da Espanha, mesmo que houvesse neve em quase todos os meses do ano. O que Consuela trajava não era diferente disso: segunda-pele bege, casacos na cor preta e branca e um casaco de pele amarronzado, enquanto suas pernas levavam tecidos semelhantes à segunda-pele, além de uma calça preta, meias brancas e bota amarela e, como acessório importante, vestia um cachecol que rodeava seu pescoço e boca, os esquentando daquela congelante condição térmica.

À medida em que adentrava aquela floresta de pinheiros, mais difícil ficava de visualizar o caminho, afinal, eram tantas árvores que escureciam até mesmo as mais brancas camadas de neve. Consuela estava trêmula, mas agora, também, por medo.

Vá embora! Por favor! Ela ouviu os gritos estridentes de seu irmão, então os seguiu, tendo como objetivo encontrar o menino.

Não! Por favor, não! Mas era tarde.

Consuela havia chegado no ponto de onde a voz vinha, mas não enxergava nada além de manchas vermelhas de tamanhos grotescos no chão. Respirou fundo, então notou que aquilo era sangue. Suor frio escorria sobre seu rosto e a menina ficou ainda mais trêmula.

Ao olhar no fundo da floresta, notou que olhos famintos e castanhos a encaravam em uma mistura de ódio e prazer. Então o dono daqueles olhares se aproximou vagarosamente, mostrando ser um homem baixo, gordo, de cabelos e barba em tom esbranquiçado, o qual trajava roupas escuras e em grande quantidade.

— Por favor, só devolva meu irmão! — Gritou Consuela de longe.

O homem mostrou as mãos e essas apresentavam muito sangue, como se tivessem saído de sua própria derme. Consuela deu um grito e isso foi a última coisa que pôde fazer, antes de ser pega à força e desmaiada pelo apertado e demorado enforcamento feito pelo homem desconhecido.

 

Embarcação para o Polo Norte, 24 de Dezembro de 1878.

 

Ajoelhada em pregos de metal, Consuela era castigada por errar no crochê de uma blusa que fora obrigada a fazer, afinal, era só o que fazia agora. Enquanto isso, o homem obeso de roupas vermelhas e gorro da mesma cor a observava com ódio, aguardando até o tempo final do castigo, o qual ele decidia repentinamente.

A garota, anteriormente capturada, vivia há seis anos no porão de uma embarcação junto a diversas pessoas de idades aparentemente iguais, sendo escravizada e torturada para que fizesse roupas, brinquedos, entre outras milhões de coisas, as quais não sabia o objetivo.

— Seu tempo acabou, agora volte a trabalhar. — Ordenou o homem, indo até as costas da menina e soltando a corda que prendia suas mãos numa força capaz de deixar hematomas.

Lágrimas escorriam sobre suas bochechas rosadas, mas Consuela já estava acostumada com isso. Voltou até o canto onde ficava, sentada no chão, então continuou a fazer o carrinho de rolimã de madeira que começara anteriormente.

— Consuela... — Chamou uma voz ao lado, sussurrando para que não houvessem problemas. — Ouvi dizer que estamos indo para o Norte Polo, ou Polo Norte, algo assim.

Era Michelangelo, um garoto de madeixas aloiradas e olhos azuis tão iluminados que poderiam se comparar a clareza de sua pele, se não fosse tão pálida. Era o único companheiro de Consuela, afinal, os "duendes" não mantinham muito contato verbal um com o outro.

— Eu só queria voltar para casa. — Falou em um tom quase inaudível, visto que sua voz estava rouca de tanto chorar e baixa, para que ninguém a escutasse, apenas Michelangelo.

O menino notou os cortes feitos pelo castigo nos joelhos de Consuela, os quais escorriam sangue pelo chão emadeirado da navegação. Ele, com compaixão, apenas pegou o pano molhado que guardava, caso fosse castigado, e passou pelos joelhos da menina.

Então, num ato involuntário, os dois fitaram um ao outro e Michelangelo não hesitou em sorrir de lado, afinal, gostava da loira de longos e ondulados cabelos e não iria deixar que um castigo estragasse seu dia, mais do que já era estragado pelo cárcere privado vivido ao seu lado.

— Terminem brevemente o que hão de fazer, duendes, pois logo estaremos chegando ao destino desses presentes! — A dupla ouviu o que o homem de vermelho havia falado, então separaram-se, voltando às suas tarefas.

Ele se retirou, indo até o andar de cima e deixando todos os trabalhadores sem supervisão.

— Consuela, eu tenho um plano. — A garota deu um pulo. O susto havia sido grande, afinal, não era comum que falassem com ela durante tanto tempo, principalmente sobre algo a se fazer contra o homem que os comandava.

— Plano?

— Sim, mas vou precisar de ajuda.

E, em alguns minutos, todos aqueles injustiçados pelo velho estavam prontos para a missão contra aquela escravidão, pois haviam ambos um mesmo desejo em comum: liberdade.

 

Polo Norte, 25 de Dezembro de 1878

 

A embarcação encontrava-se estática. Não havia ninguém, que não fossem os adolescentes, os quais trabalhavam há anos para a chegada desse momento único.

Presos no porão do navio, a maioria tentava desbloquear a porta para a saída, mas não obtinham quaisquer resultados. A insegurança e pessimismo tomavam conta de Consuela e ela se sentia cada vez mais fraca.

— Conseguimos! — Gritou Michelangelo do alto da escada de madeira, visto que havia tido sucesso em abrir a passagem.

Muitos gritavam, alguns choravam, mas todos encontravam-se num mesmo estado emocional de felicidade e trabalho cumprido. Aos poucos, eles se retiravam da embarcação emadeirada e caminhavam sobre o clima gélido do Polo Norte.

Consuela foi a última, levando consigo um ar de segurança. Não sorria igual os outros, nem chorava, mas estava em seu sentimento de paz individual. Porém não havia acabado o seu sofrimento.

Ela ainda tinha a morte de seu irmão para vingar.

— Consuela, nós estamos livres! — Exclamou Michelangelo animado e com um sorriso alinhado e contente que ia de ponta a ponta.

Consuela deixou um leve sorriso escapar, mas não podia perder seu foco.

— O que houve?

— Ele matou meu irmão. — Disse um pouco triste, então abaixou sua cabeça e deixou que uma lágrima escapasse. Fungou, então levantou-a com confiança. Secou as lágrimas e continuou a dizer. — Não posso deixar isso assim.

— O que está pensando em fazer? — Michelangelo não entendia a vingança e cerrava o cenho, enquanto perguntava sobre. Achava perigoso o que Consuela estava se sujeitando a fazer, mas não negou ajuda.

— Vou encontra-lo e, por fim, vingarei a morte de meu irmão. — E permaneceu caminhando em linha reta.

Michelangelo, solidário e interessado por Consuela, a seguiu em sua caminhada sem rumo. Pisavam com botas de couro sobre a neve, enquanto se esquentavam daquela temperatura com panos e tecidos gastos de suas vestimentas.

— Como fará isso? — Perguntou Michelangelo curioso. A caminhada parou.

— Não me faça perder o foco, Michelangelo. Temos que encontrar o velho primeiro e, depois disso, planejaremos algo. — Disse em tom frio, assim como o vento que jogava seus longos cabelos para trás e prosseguiu sua caminhada seriamente.

Enfim, ao alcançarem um destino qualquer, notaram a presença de diversas cabanas. Curioso, como sempre, Michelangelo aproximou-se de uma delas junto de Consuela e perguntou a primeira coisa que lhe veio à mente para uma das três senhoras presentes lá.

— Olá, aonde posso encontrar um homem gordo e barbudo? — Perguntou, deixando um clima de surpresa lá presente. Consuela irritou-se com a chegada inesperada do rapaz na cabana das senhoras.

Elas, então, tentaram comunicar-se em alguma língua desconhecida para eles, o que irritou ainda mais a adolescente, essa que preferiu retirar-se da cabana o quanto antes possível, afinal, estava envergonhada e percebeu que aquela conversa não chegaria em lugar algum.

— Michelangelo, não precisa me ajudar mais. Vou dar um jeito sozinha e, se ele voltar ao navio, quero que o mate para mim. — Ela pediu, então abaixou sua cabeça pensativa sobre o que iria fazer.

Michelangelo apenas levantou-a com seu dedo indicador e depositou nos lábios trêmulos e roxos – devido ao clima gelado – da garota um beijo inocente e rápido.

— Fica bem, por favor —  Disse Michelangelo, enquanto segurava nas mãos da loira e apertava suas pálpebras uma contra a outra, impedindo que lágrimas caíssem.

Ela soltou-se das mãos do rapaz, seguindo por outro caminho e o deixando para trás. Consuela gostava da maneira como ele a tratava, mas precisava focar em sua missão. O desejo de ver a pessoa pela qual a fez sofrer por tantos anos morta era maior que o de amar alguém que havia a ajudado durante esse tempo todo.

Precisava disso, afinal, doía demais manter todas aquelas lembranças de seu irmão em sua mente e saber que tudo acabou por conta de um psicopata que a escravizou. Era triste, melancólico, mas era real.

Quando atravessou por uma pequena floresta de pinheiros, pôde observar um local repleto por crianças agasalhadas e diversos iglus lá presentes. E, por fim, o homem estava lá. Entregava os brinquedos, as roupas e as diversas criações feitas por ela e pelo resto dos "duendes", como eram chamados por ele.

O sorriso era verdadeiro naquelas crianças e Consuela estranhou a ausência de algum parente lá, apenas havia uma senhora que aparentava ter muitos anos de idade e que cuidava das crianças junto ao homem, que começou a brincar com algumas delas.

Ela mantinha dúvidas em sua cabeça sobre o homem, pois sempre tratou tantas pessoas de maneira terrível e parecia contente e realizado como nunca antes ao lado daquelas crianças.

Começou a forçar sua mente em pensar rapidamente, então visualizou um pedaço de madeira em formato pontudo sobre a superfície nevada, o qual poderia machucar facilmente. Pegou-o e aguardou até que o homem de vermelho e branco saísse dali. Era sua chance de vingar os seis anos de muito sofrimento vivido e não iria hesitar por causa de crianças solitárias, as quais ela nem sabia da existência anteriormente.

Minutos depois, então, o homem caminhou até a floresta de pinheiros, onde Consuela se escondia e aguardava pela chegada dele. Após passar próximo a ela, a garota saiu de seu esconderijo em meio as árvores e seguiu-o ligeiramente, enquanto segurava o pedaço de madeira e mantinha em si uma confiança própria e desejo por vingança nunca sentido antes.

Quando finalmente levantou a madeira até o homem, ele se virou, a assustando e deixando-a com tamanho nervosismo nunca antes presenciado. Mas ela não desistiu, tentou avançar com o pedaço pontudo, mas não obteve sucesso.

O homem esquivou-se e pegou na única arma que a garota teria com força, a deixando indefesa e chorosa. Consuela já se considerava morta e suas lágrimas eram cada vez mais intensas.

— Só queria saber: por que fizeste isso?! O que eu fiz para você?! O que meu irmão fez?! — Exclamava aflita e incapacitada. Era o máximo que podia fazer, afinal, não havia para onde correr, ainda mais pelo fato de que o velho rapidamente a agarraria.

E foi isso que ele fez: pegou Consuela pelo pescoço e jogou-a contra a neve. Depois posicionou-se por cima da jovem, praticamente desacordada, retirou seu gorro e puxou fortemente suas barbas esbranquiçadas, essas que saíram com facilidade, pois eram falsas.

Também removeu sua peruca branca e Consuela pôde notar no rosto do homem uma semelhança familiar, mas sua visão era turva demais para isso. Aos poucos, notou algo que nunca havia desconfiado antes.

— Francisco? — E lágrimas desceram sobre suas bochechas como cachoeiras. Sua vida passou em frente a seus olhos e sentiu como se nada mais fizesse sentido. — Francisco Noel?

— Adeus, irmãzinha. — Disse ele, então apunhalou a parte pontuda do pedaço de madeira no coração de Consuela, afundando-o com tamanha força que ele sempre teve.

Consuela Noel obteve óbito com o maior sentimento de depressão que havia tido em toda sua vida: seu irmão estava vivo e era o velho que atormentava sua vida e a de todos os duendes de Noel.

A responsabilidade em acabar com a vida daquele ser maldito e diabólico, agora, era toda de Michelangelo. A existência do Papai Noel só dependia dele, por isso, cabe às pessoas decidirem se acreditam ou não que um homem de tamanha psicopatia continua vivo até hoje.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Espero que sim! Tiveram uma surpresa com essa revelação? Deixem nos comentários, pois eles são muito importantes para o desenvolvimento da minha escrita e da minha autoestima de escritor, mas apenas desejo que tenham se entretido com essa leitura misteriosa. Boas festas! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Duendes de Noel" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.