Survival escrita por Nara


Capítulo 3
Confusão


Notas iniciais do capítulo

▲ Tem muitas cenas que me lembram muito algum joguinho, meu Deus, é divertido escrever;
▲ Perdoem o fato das fontes nas capas serem analfabetas e não terem acento e não desistam de mim;
▲ Armin faz sua primeira aparição, mas só terá seu próprio foco mais pra frente;
▲ Gente, espero de verdade que os capítulos grandes não sejam um incômodo pra vocês jdsksdk;
▲ ESPERO QUE GOSTEM.



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As criaturas deram um passo para trás, prontas para ganhar impulso e partir para cima deles. Por que Zora não havia resolvido as coisas de uma vez? Se ele tivesse os poderes que ela tanto havia prometido, se sentiria bem mais confiante, e não iria olhar para aqueles olhos negros engolindo seco e pensando em como eles ansiavam devorá-lo.

Como imaginava, apenas ele sentia medo. Para ela, era a coisa mais comum do mundo, ou pelo menos parecia. 

— Zora, por que não me entrega os poderes de uma vez? — tentava ainda que sem muito espaço, ganhar uma distância das criaturas que os cercavam.

— Só lhe dar os poderes, não significa que estará pronto, Lysandre. Muitos têm medo de como usar o próprio poder quando vão acabam de ganhá-lo, além de que leva um tempo para se acostumar com eles. E eu acho que você tem que poupar suas energias para quando formos derrotar o que realmente viemos derrotar. Essas coisas são só distrações. Por isso... — ela deu três passos à frente, fazendo com que um dos bichos gritasse e fosse em sua direção, fazendo-a girar duas vezes a espada que tinha em mãos e com a velocidade que ganhou, fazer uma investida; cortando ao meio o corpo da praga. — Eu irei te mostrar como fazer.

— Zora, você...

Não teve tempo para comentar mais nada.

A ação dela atraiu as criaturas irracionais em sua direção, fazendo Lysandre ganhar tempo para recuar um pouco, observando o que parecia ser um combate contra os bichos.

Dois deles, que soltavam saliva excessiva por suas bocas, ergueram seus braços exageradamente finos e longos tentando arranhá-la e puxá-la com suas enormes unhas. Ela desviou, mas logo os mesmos pularam em cima dela ao mesmo tempo. Sem muito trabalho, a garota deu o que parecia ser uma cambalhota no chão, fazendo com que o ataque de ambos não a atingisse no ar, e com um dos joelhos apoiados no chão, ela ergueu novamente sua espada. Lysandre poderia jurar que aquela espada pareceu ganhar um brilho intenso e aparecer algumas marcas do cabo a ponta, que não pareciam ter significado, mas eram brancos, e lembravam um pouco flocos de neve olhando-os de longe. Ela lançou a espada na lateral de um dos nazorgs, e o poder daquela mesma espada era tanta, que mesmo sem fincar naquele corpo, o que deveria causar um arranhão, tirou parte da carne dele deixando um buraco profundo no local e fazendo-o ir parar no chão.

Nazorgs pareciam se desintegrar após serem atingidos, era meio triste pensar que já foram huntsmans cheio de boas intenções. E a quantidade deles parecia absurda, assim que Zorana matou aqueles, outros dois se aproximaram, fazendo o grupo ter aproximadamente oito nazorgs.

Lysandre estava encostado na árvore mais próxima, encarando com espanto. Detestava se sentir tão fraco, parecia que não tinha nada o que fazer. Ele deveria estar a ajudando, mas era ela que estava se arriscando.

Eram como se aqueles bichos estivessem esquecido dele. Eles praticamente só atacavam quem corria, pareciam cachorros. Embora se estavam com fome e de qualquer jeito teriam que eliminá-los, para salvarem a si mesmos.

Todos se reuniram para atacar Zorana, um subindo em cima do outro. Para bichos que pareciam tão lentos, as criaturas ganhavam uma velocidade assustadora quando planejavam atacar.

Uns quatro pareceram derrubá-la no chão ficando por cima dela, tanto que o corpo cinzento deles haviam atrapalhado a visão, não conseguia mais ver o corpo dela!

— ZORA! — gritou por impulso, não se importava em chamar a atenção dos bichos pra ele, não queria nem pensar que ela seria devorada por eles em sua frente!

O tempo que levou para as criaturas o encararem, foi o tempo em que sentiu um tremor no chão, e uma luz azulada veio dela derrubando pra longe dois dos que estavam em cima dela, luz que parecia vir de sua espada. Quando conseguiu vê-la novamente, notou que não havia sequer um arranhão!

Ela pisou nas costas de um deles com o pé esquerdo, ele tentou mordê-la fazendo com que ela o chutasse e seu pé direito pisasse em seu rosto o segurando. O outro nazorg que foi em sua direção teve seus braços cortados, e pulando para o chão, ela deu um giro fazendo sua espada cortar ao mesmo tempo, metade do corpo dos dois oponentes — se é que poderia chamá-los assim.

A velocidade dela era tanta, não podia deixar de se surpreender a cada golpe que dava.

Se aqueles seres fossem racionais, com certeza teriam partido pra longe depois de vê-la estraçalhar outro que tentou atingi-la pelas costas, mas as investidas não paravam.

Zorana jogou seu corpo pro ar, saindo do chão um pouco mais alto que um humano normal conseguia. E se posicionando, fez com que durante a queda, quando estava quase a atingir o chão, sua perna se lançasse fortemente contra a parte de trás da cabeça do que estava a esperando cair para mordê-la. O impacto fez o pescoço dele quebrar, e ela parou novamente contra o chão xadrez, posicionando-se elegantemente diante dos que restavam, e ao ver que estavam cruzando seu caminho, bateu a espada contra o chão fazendo com que uma trilha de gelo fosse em suas direções até que atingisse seus corpos, assim os congelando.

 Era... Magnífico!

Não o fato dela estar matando a sangue frio aquilo que uma vez foi tão humano quanto os dois ali, mas como ela era boa!

Sexo frágil? Isso nunca existiu. Conhecia alguns colegas de pensamento ultrapassado que viviam tratando mulheres como frágeis, mal sabiam, que não durariam dois minutos em uma luta contra uma daquela!

Mas ainda era terrível se sentir inútil naquela situação. Além de nunca ter visto nada parecido, era assustador. Quantos monstros como aqueles poderiam existir? Isso porque Zora chegou a afirmar que existiam coisas bem piores...

Ela pegou outro pelo braço e o fez passar por debaixo de suas pernas, puxando-o por cima novamente e cortando seu corpo de cima pra baixo.

Era mais habilidosa do que havia pensado.

Por um segundo abaixou a cabeça, perguntando-se se seria capaz de fazer algo pelo menos parecido ao que ela estava fazendo. Não queria ficar assistindo aquilo...

— Lysandre, cuidado! — gritou, fazendo-o se assustar e erguer seu rosto, vendo a boca aberta e cheia de pontiagudos dentes vinda na reta direção de seu rosto. Fechou os olhos, como se esperasse a dor, ou a possível morte, acontecer de uma vez.

Mas ela não aconteceu, e após esperar alguns minutos para tirar a mão que cobria seu rosto, enxergou a criatura caída no chão com seu corpo atravessado pelo o que parecia ser uma lança prateada.

Encarou a huntresses abruptamente, ela estava em volta de todos os corpos que havia atingido. O tempo em que esteve com os olhos fechados foi o suficiente para ela derrotar todos que sobraram?!

Ela desviou o olhar que tanto o encarava para a direita. Lysandre voltou a encarar o corpo do bicho que havia o atacado, que já estava sumindo e se transformando uma nojenta gosma preta. A lança continuava ali, e foi quando percebeu que ela foi lançada da direção que Zora estava encarando, fazendo com que ele também encarasse lá.

Aquela lança pairou sobre o ar e se desfez em pedaços, dividindo-se ainda no ar em diferentes adagas de prata que em uma velocidade surpreendente voltaram para quem a lançou.

Olhou para os pés que caminhavam em passos lentos até o local em que se encontrara. Usava botas pretas, e conforme ergueu seu olhar, percebeu que o mesmo vestia uma roupa tão “discreta” quanto de Zorana; a roupa que era uma mistura do branco e do vermelho, unia tanto uma capa em suas costas quanto um capuz embutido na blusa que vestia por baixo. Haviam algumas proteções que lembravam armaduras em áreas especificas de seu corpo, principalmente braços e tórax.

Lembrava muito o jeito que Altair, de Assassin's Creed, vestia em sua época.

Pensando bem... Era exatamente como a roupa de Altair!

Era uma referência descarada ao jogo.

— Não sabia que você tinha voltado pra cá, Zora — o garoto pronunciou, sorrindo descaradamente e erguendo finalmente seu rosto dando a visão de seus olhos azuis e seu cabelo preto, que só dava para enxergar mais a franja com aquele capuz. — Como sempre, distraída... Quase que o novato foi morto antes mesmo de receber os poderes — ele encarou Lysandre de lado.

A lança cuja forma havia sido modificada a adagas, continuava inexplicavelmente no ar. Elas estavam formando um circulo em volta do corpo daquela cópia fajuta de Altair. Era ele que havia o salvado. Ele controlava aquele tipo de arma e podia modificar sua forma e levá-la à distância.

Antes que pudesse agradecê-lo por salvá-lo, Zora se pronunciou, aproximando-se do indivíduo com a espada abaixada:

— Você se mudou? Pensei que trabalhasse e protegesse a sua cidade, não a nossa.

— Pensei que você não se importasse tanto com essas coisas, até porque está pouco se lixando pra onde vou ou deixo de ir, você fez um trato comigo, e depois sumiu do mapa — ele falou, desinteressado.

— Mesmo assim — murmurou séria. — Por que está aqui? 

— Isso é assunto meu.

— Você não teria se mudado por nada, obviamente — ela estendeu sua mão na direção dele, e, automaticamente, as armas dele voltaram ao formato de lança e foram parar nas mãos dela. — Não sei o que planeja, mas sei que é um jovem problemático. Ficarei de olho em você, em todo caso.

Apesar dele parecer incomodado por ela tirar dele sua arma tão audaciosamente, ele abriu um meio sorriso, fingindo não ligar.

— Faça o que achar melhor — deu de ombros. — Mas precisarei de minha arma de volta, se for pra derrotar o Drunly.

— Então a criatura é um Drunly? — Zora perguntou, e ele assentiu.

Lysandre, confuso, viu que seria um bom momento para fazer aquela famosa pergunta.

— O que seria um Drunly?

Era tanta coisa pra processar. Tantos nomes estranhos para decorar...

Lysandre sempre soube que havia uma parte no mundo inexplorada e cheia de coisas inacreditáveis, só não pensou que viveria para ver parte daquilo. E era mais sério que isso, tinha noção que a partir do momento que sua mãe voltou a sua vida, o acordo com Zora havia sido oficialmente feito, No momento em que os poderes fossem recebidos, sua vida só teria a razão de destruir todas aquelas criaturas que sequer poderia imaginar.

— Você só saberá vendo — Armin respondeu seco.

— Por que... Tem esse nome? — insistiu em perguntar, fazendo o garoto rir.

— E eu que vou saber, cara?

Encarou Zora perdido.

— Essas criaturas não têm um nome ao certo, quando são descobertas em algum universo, a pessoa tem o direito de nomeá-los — explicou pacientemente. — Há pessoas de diferentes lugares e línguas que poderiam ter os dado esses nomes. Nós o reconhecemos por já termos lidado com sua espécie antes e já termos nos informado sobre eles. Esse tipo de situação, só será normal para você com o tempo, não ocupe sua mente com esses detalhes agora.

— T-Tudo bem.

Ela virou seu rosto, voltando a mirar Armin que parecia entediado.

— Você já pode ir. Deixe isso conosco.

— Mas já? — ele fingiu estar decepcionado, aproximando-se. — Logo agora que as coisas estavam ficando interessantes... — lamentou, tirando sua lança da mão dela, que se tornou uma única adaga que guardou contra sua roupa; na lateral de seu corpo. — Mas já que estou aqui, com certeza nos veremos mais vezes, Zora.

— Provavelmente, Armin.

Ele continuou a caminhar, parando ao lado de Lysandre que estranhou o jeito sério que ele o encarou, já que durante aquela conversa, ele não mostrou ter uma personalidade muito séria ou madura.

— Você já deve ter feito seu desejo, não é?

— Sim — Lysandre respondeu.

— Tomara que tenha sido algo que realmente queria. Saiba que mensageiros como Zorana, que são humanos, não sabem administrar suas emoções por conta dos poderes acumulados. Não é natural quando um humano se transmuta com um mensageiro mágico assim...  — avisou, sorrindo de lado e voltando a andar, ficando dois largos passos de distância de onde estava quando retomou a fala: — Ela não lutará por você, se é o que quer saber. Se ela te ajudar, é apenas porque precisa de você vivo por algum motivo... Que ainda não sei — suspirou, tirando o capuz que o cobria a cabeça e virando seu rosto para ele. — Se quiser sobreviver, assim como eu, lute apenas por si mesmo — dito isso, ele sumiu do nada como se fosse um holograma. Aquele conselho de Armin era um tanto inusitado, e Lysandre não confiava tanto nele para dar bola ao que dizia. Ele parecia ser habilidoso, mas imprudente.

— Ignore-o — ela falou, despreocupada. — Temos que ir. Temos duas horas até que o portal se feche — ela puxou a manga de sua blusa, mostrando a ele que uma tatuagem tribal de escorpião que ela tinha em sua pele se alterou de forma formando o que lembravam ponteiros de relógio, assim como seus números; era o simbolismo do que deveria ser um vetor comum de um relógio. — É melhor nos apressarmos.

— É... Impressionante. Essa tatuagem tem um simbolismo?

— Não necessariamente, todo huntsman ganha uma tatuagem assim para guiá-lo em sua devida missão, isso quando ele ganhar experiência. Mas há quem acredite que haja um simbolismo por traz da marca... Só futuramente saberemos. Assim como sua marca será diferente da minha.

— Entendo... Acho que também ire-

Ergueu o olhar, surpreendendo-se por não ver Zorana por perto, e inesperadamente, vendo-a aparecer em sua frente com a mão direita envolvida por uma chama negra. Não teve tempo para protestar, ela atingiu seu corpo com toda força que tinha, e era provavelmente a pior sensação física que já havia sentido.

O interior de seu corpo inteiro parecia arder em chamas que se intensificavam cada vez mais. Sem pensar, um grito de dor escapou de sua garganta, enfraquecendo seu corpo que em breve acabaria caindo ao chão.

Seus olhos quase rolaram quando finalmente a sensação parecia ter passado e a garota se afastou, empurrando-o brutalmente contra a árvore que antes estava encostado, mantendo seu corpo descansando.

Era estranho como há um minuto atrás sentiu uma dor que poderia muito julgar que o tiraria a vida, e agora era como se toda a energia de seu corpo tivesse ido embora. Nunca sentiu um misto de sensações tais como aquelas. Relaxando suas costas, seu corpo enfraqueceu até que sentasse ao chão.

— Você ficará bem — ela garantiu, chutando um daqueles bichos que apareciam nas árvores e tentou subir no pescoço dele, que no momento não tinha reparado como era.

Ajoelhou-se, encarando-o.

— Eu...?

— Sim, a magia está presente em você agora. Não sei se devo parabenizá-lo, ou dar meus pêsames — comentou, fazendo com que ele se perguntasse se ela havia ironizado ou não. — Escute, Lysandre — disse abrindo sua mão e concentrando uma fonte de energia na mesma. Poucos segundos se levaram para algo se formar em sua palma. — Esse cristal deve estar sempre presente com você a partir de hoje — disse mostrando um cristal que formava uma pirâmide e tinha uma luz neutra esverdeada em seu interior. Lysandre até tentou sorrir, era bonito de se ver, ainda mais se tratando de sua cor favorita. — Você simplesmente não pode ficar longe disso.

— Por quê?

— Depois falamos disso — ela puxou a mão dele, colocando o mesmo cristal em sua palma, que se tornou preso em um cordão. — Use-o — disse olhando pro colar formado e se afastando. — É melhor que se recupere logo, nosso tempo está acabando. O tempo aqui pode passar mais rápido do que em nossa dimensão, recomponha-se, Lysandre — disse encarando a paisagem um tanto exótica.

Aquilo conseguiu aumentar sua ansiedade. Ainda sentia medo de tudo em que estava se envolvendo, porém, não queria ser derrotado tão facilmente!

Zora, Armin...

Eles pareciam ter dedicado uma vida aquele trabalho. Ninguém no fundo quer se tornar um huntsman. Mas não iria morrer ali, não logo em seu primeiro dia naquele lugar, e nem logo agora que sua mãe tinha voltado! Era quase uma promessa que faria a si mesmo, iria sobreviver, por ele e pelos outros. Por mais perigoso que aquilo fosse, também tinha noção que poderia salvar pessoas...

 

→ •✥• ←

 

— Você está pronto? — Zora perguntou, encarando uma imensa porta que estava, literalmente, no meio do nada. Aquela floresta parecia ser igual não importava o quanto corressem, assim como se depararam com outros nazorgs, apesar de que conseguiram despistar, segundo a mensageira, aqueles haviam acabado de ganhar aquela forma. Não fazia idéia de quantos huntsman existiam no mundo, mas morriam em monte, mesmo que ela defendesse que acreditava que muitos deles já haviam morrido há muitos anos.

— Pronto? — suspirou fundo. — Acho que iremos descobrir agora.

Seu corpo, aparentemente, havia voltado ao normal. Faltava menos de uma hora para o portal se fechar, teriam que se apressar e dar o melhor deles mesmos. A ansiedade continuava intensa em seu peito, como se estivesse queimando tanto quanto as chamas negras que a moça havia imposto em seu corpo.

— Vamos — ela empurrou a porta, que deu a visão de uma imensa sala que com certeza seria bem maior por dentro do que parecia por fora. Lançando um sinal para ele entrar, a garota o seguiu, cautelosa. — Com certeza é aqui, a sensação aqui é muito forte.

— Sim, eu sinto — concordou. — Eu... Sinto... — repetiu surpreso olhando para a própria mão. Estava sentindo o mesmo que ela como huntsman!

Aquilo não poderia ser mais estranho e... Mágico.

— Farei o que estiver em meu alcance para ajudá-lo, mas você também terá que testar suas habilidades. Quanto mais ganhar experiência em combate, mais fortalecerá sua própria força, Lys.

— Me chamou de Lys? — murmurou estranhando.

— Ah... Vi sua mãe e aquela sua amiga, Rosalya, te chamando assim. Desculpe.

— Você pode me chamar assim, Zora. Fique tranqüila.

— Certo. Lysandre... Digo, Lys!

— Sim?

— O que Armin lhe contou não é uma total mentira. Ter me tornado uma mensageira, quando isso em questão não é minha verdadeira natureza, faz com que meu lado emocional seja confuso pra mim... Mas eu não me orgulho do que faço — falou, desviando o olhar. — Essa nunca foi para ser minha profissão! Mas agora... Eu não estou sozinha aqui, você está comigo. Por isso irei lutar ao seu lado aqui. Terminaremos isso rápido, eu prometo.

Ele abriu minimamente um sorriso.

— Eu sei que irá lutar comigo, Zora. Eu não conseguiria sem você e sua magia como mensageira.

— Minhas habilidades não vêm de eu ser mensageira — ela retrucou, o surpreendendo. — A única habilidade de um mensageiro da magia que utilizo, é o de poder fazer um acordo com um humano. Fora isso, minhas habilidades são a de qualquer outro huntsman. Estamos lutando aqui de modo igualitário — ela ganhou frente, erguendo em posição de combate sua espada.

Apenas assentiu, não sabia o que respondê-la, já que não esperava ouvir nada parecido. Esse tempo todo, as habilidades dela que ele tanto admirou, foi algo que ela treinou e controlou por muito tempo até chegar naquele nível. Queria ser como ela, e não fraquejar e não poder ajudar um ente querido em perigo.

Aproximou-se do centro daquela “sala”. As paredes eram como o chão lá fora; tinham as cores e ordens de um xadrez. No entanto, o piso era negro e exageradamente brilhante, dava para ver seu reflexo perfeitamente sobre onde pisava. Estava esperando, mesmo temendo, que aquele bicho que esqueceu o nome finalmente surgisse. Maior que seu medo de vê-lo, era seu medo de ficar preso ali.

Na parte mais escura daquele local, foi onde ouviu um ranger dos dentes acompanhado de um rosnado. Seu corpo foi ordenado por seu cérebro a se preparar para o que viesse, e aos poucos, ele finalmente surgiu das sombras. Lysandre não saberia dizer quanto de altura aquilo tinha, e calcular isso seria o menor de seus problemas, mas era bem maior do que qualquer bicho de estimação que poderia ver.

A pele dele parecia ser avermelhada, e não parecia ter rosto, apenas uma imensa boca aberta que não dava a visão de mais nada em sua cara, nem mesmo olhos, se ele tivesse. Havia dois furos, de onde ele respirava, em seu pescoço. Os dentes dele eram completamente desiguais, os de cima eram pontiagudos tais como os baixo, mas os dentes da parte inferior de sua boca eram bem maiores e extremamente amarelados. Seu corpo parecia ser coberto por uma casca de proteção em quase nele todo, exceto do pescoço pra cima. Seus braços continham espinhos, e seus dedos unhas quebradas porém afiadas.

Então seria assim... Só poderia matá-lo atingindo sua cabeça.

— Zora — chamou sua atenção, recebendo um olhar determinado e pronto para partir pra ação.

Estendendo sua mão em frente ao seu corpo, reuniu uma energia que nem sabia que era capaz de reunir, formando uma espada ainda maior que a de Zora, que parecia formar um raio com as ondas que a lâmina era dividida. Seu cabo era verde e preto, o qual ele segurou firmemente. A mesma luz esverdeada presente em seu cristal envolveu todo o seu corpo em um movimento brusco, fazendo com que suas roupas também se alterassem, mesmo que não pudesse ver já que estava focado naquela aberração da natureza que continuava berrando ao ponto de fazer o chão vibrar.

Sem avisos, juntou a coragem que tinha e correu em volta do bicho, que tentou bater seu braço espinhoso nele. Lysandre pulou mais alto do que previra para desviar daquele ataque, nunca sentiu seu corpo tão ilimitado... O assustava, mas ao mesmo tempo enchia seu eu de adrenalina.

Zorana lançou sua espada cortando um dos enormes espinhos do bicho. Ele levantou sua pesada pata para pisoteá-la, mas ela correu por baixo do espaço que tinha embaixo de seu corpo e pulou o mais longe possível. Lysandre, sacudindo a espada no ar que fazia um uivo contra o vento, continuo desviando das pisoteadas e mordidas que ele tentava lançá-lo.

— O Drunly só será morto se algo atravessar seu corpo — Zorana falou, deixando-o preocupado. Seria tão mais fácil atingi-lo na cabeça onde não tem nenhuma proteção, mas parece que naquela dimensão a lógica não existia! — Perdemos seis minutos nessa brincadeirinha, é melhor pensar rápido.

— Eu nem sei quais são todas as minhas habilidades ainda, imagina saber como usá-las...

— Você precisará apenas de algumas delas para derrotá-lo... Eu irei distraí-lo.

Não fazia idéia se estava pronto. Mas o que poderia dizer a ela? Estava tão envolvida quanto ele. Se ela se arriscaria tanto, faria o mesmo.

A garota começou a correr, sua velocidade era impressionante, mal conseguia acompanhar. A criatura chegou a conseguir a atingir com seu rabo, derrubando-a por volta de uns cinco metros, deixando seu corpo se encontrar ao chão e jogando-o para trás, ela se voltou de pé com o abrupto movimento.

O Drunly caminhou em direção dela, e ela correu sem muita escapatória em direção a parede ao seu lado, subindo sobre ela e ganhando impulso para pular no casco de suas costas. Ela enfiou sua espada contra a boca de quem a tentava morder com seus assustadores dentes, congelando e impedindo que conseguisse fechar aquela boca enorme e estranha.

— Lysandre!

Havia entendido perfeitamente o que ela queria que fizesse, embora não tivesse certeza se daria certo. Correndo pra frente da sala para estar de frente ao Drunly, cortou uma de suas patas traseiras após quase ter sido atingido pelo monstro que tentou fincá-los as unhas. Quando ficou de vez em frente a ele e novamente encarando onde deveria ter um par de olhos, percebeu que ele estava se debatendo e dificultando o equilíbrio de Zorana em cima do mesmo.

Ergueu sua espada, fechando as pálpebras e tentando se concentrar. Por mais que uma força desconhecida fosse dominar seu corpo, aprenderia a usá-la. Não faria disso sua fraqueza.

A mesma luz verde de seu cristal — que por sinal sentiu esquentar em sua pele, envolto no colar em seu pescoço — rodeou sua espada fazendo com que sua força tremesse sua mão que a segurava. A mesma luz formou uma pequena bola que se dividiu em três no ar, lançando em direção ao monstro como se fosse lasers, e atingindo-o nas patas da frente e em sua cabeça.

Abrindo os olhos, percebeu que aquilo havia paralisado seu corpo, e ele tentava sem muito sucesso se soltar. Sem tempo para perder, e querendo de uma vez acabar com aquilo, fez o que possivelmente era a coisa mais arriscada que já teria tentado: correu em direção a ele e em um salto não-humano e colocou a espada em frente ao corpo do bicho, intensificando seu poder sem ter idéia do que isso faria.

Aquela luz que envolveu seu corpo o causava calor, mas não podia mais parar, fechando seus olhos e deixando-se guiar por seus instintos. Conseguiu ouvir um tanto longe Zora chamando seu nome. Aquilo parecia ter sido um grande erro... Estava agora encostando-se contra aquele troço horrendo.

Não iria morrer!

Não pra uma criatura ridícula daquelas.

Rangendo os dentes, juntou o resto de força que tinha intensificando ainda mais e finalmente voltando a abrir seus olhos, percebendo que havia acabado de passar não só sua espada como também seu próprio corpo pelo Drunly.

COMO AQUELA COISA PODERIA SER POSSÍVEL?

Batendo seu corpo contra a parede, foi parar ao chão, tentando erguer o rosto para ver se havia o derrotado. Zora que estava em cima dele teve que saltar sentindo uma onda elétrica passando por seus cascos.

Só conseguiu encará-lo surpresa, e um pouco orgulhosa. Ele poderia estar jogado no chão, mas era mais pelo susto e a falta de costume com tudo aquilo, do que por algum ferimento. Ele era bem inexperiente, mas via potencial nele, como em muito tempo não sentia.

O chão ainda tremia, e o teto parecia estar desmoronando com a junção do monstro se debatendo e do poder que Lysandre usou contra ele. As paredes que estranhamente pareciam derreter, estavam se acabando também.

Havia acabado? Acabado mesmo?

— Falta apenas dois minutos, Lysandre! — Zora correu até ele o abraçando. Não era exatamente um abraço carinhoso, ela apenas o envolveu para que juntos saíssem de uma vez daquele lugar. E era o que ele mais queria. Apertou seus olhos, escondendo seu rosto no ombro dela, e aquela mesma luz que o trouxe aquele mundo, agora estava o levando de volta.

O vento da mesma rua que se lembrava de correr, estava agora batendo em seu rosto e fazendo seus fios prateadores dançarem no ar. Zorana soltou os braços que estavam em volta de seu corpo, o fazendo cair ajoelhado no chão. Aquele mundo surreal no qual havia entrado, trazia emoções mais reais do que o próprio mundo em que estava agora. Era tudo intenso. Exageradamente intenso.

Ela o encarou, sem expressão. Lysandre se saiu bem, mas a mente dele deve estar fervendo em dúvidas e preocupações. Era normal, para um novato.

— Hoje até que foi fácil. E você se saiu bem — elogiou, colocando a mão em seu ombro. Olhou para o fim da rua, onde o mesmo caminhão desgovernado antes visto, estava parado e um grupo de pessoas rodeava a situação. Ele havia batido contra uma loja de roupas, mas pelo o que notara, não feriu ninguém. — Veja, Lys — ela o virou, fazendo encarar ainda com a mente desorganizada, uma garotinha no colo do pai, enquanto a mãe dela tentava acalmá-la do susto.

Papai... Foi quase... — a pequena, que deveria ter por volta dos sete anos, choramingava no ombro do seu pai. — O caminhão estava vindo pra cima de mim e da mamãe... Foi horrível...

Zorana e Lysandre se entreolharam. Embora ainda estivesse assustado até com sua própria sombra, ver que salvou uma vida, como havia sido avisado que faria ao derrotar uma daquelas criaturas, conseguia sentir que estava pelo caminho certo. Mesmo que esse caminho fosse uma terrível disputa pela sobrevivência...

 


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