Survival escrita por Nara


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

▲ Prólogos são sempre chatinhos, eu sei. A fic só começa pra valer no próximo capítulo em diante, mas foi necessário colocar os detalhes desse aqui;
▲Essa fanfic tem magia e aventura como principais gêneros, mas romance futuramente poderá ser incluso;
▲ Tem pequenas referências a Madoka Magica (amo forte);
▲ TIVE QUE MUDAR TANTO O NOME QUANTO APARÊNCIA DOS PAIS DO LYSANDRE/LEIGH, JURO QUE FOI NECESSÁRIO. Futuramente talvez entendam;
▲ A arte da capa do prólogo: by Almichan-pink
▲A aparência de Zora é representada por Krulcifer Einfolk do anime Saijaku Muhai no Bahamut, no entanto, a personagem em si não tem nada a ver com Krulcifer no geral;
▲ A personalidade de Lysandre não é idêntica ao do jogo na primeira fase da fanfic por motivos de: ele passa por muitos traumas e com o tempo verão que tudo o que ocorreu o afetou e muito;
▲Muitas coisas vocês só irão entender com o tempo. Não tem como ler/assistir uma história desse gênero e entender como tudo acontece logo nos primeiros capítulos;
▲Espero que gostem, e se possível, que comentem ♥



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Os raios de sol bateram em seu rosto, aos poucos invadindo seu quarto através da pequena brecha na janela, fazendo o garoto se remexer preguiçosamente sobre a cama confortável e tão espaçosa, colocando o travesseiro em cima de seu rosto. Suas nove horas de sono pareciam não ter sido nada, pois estava cansado como se não tivesse pregado os olhos a noite inteira, ou talvez fosse apenas sua falta de costume em retomar seus horários de aula.

Levou longos minutos para se considerar realmente acordado e tentar se arrumar. A imagem que via no espelho não era das melhores, todavia, estava bem mais apresentável do que antes de ter aceitado fazer tratamento. Só de pensar em como se permitiu destruir nos últimos anos... Não. Não iria pensar naquilo.

Só deveria olhar o lado bom: Hoje irá voltar para a escola, rever seus amigos e professores, e estudar as matérias que gosta. Apesar de ter perdido o costume, iria voltar a ver o lado positivo nas coisas.

Atravessando o corredor, viu seu pai fazendo o café da manhã, parecendo bem atrapalhado na verdade. Assim que Christopher percebeu sua presença, se virou com um sincero sorriso, desejando bom dia. Estava tão aliviado por finalmente ter seu filho por perto, em segurança. Embora Lysandre, na verdade, se sentia um pouco culpado por ter causado tanta preocupação aos seus parentes, e também um pouco incompetente, levando em conta que não podia deixar de lembrar que em sua idade Leigh — seu irmão mais velho — já morava sozinho e criava muitos planos pro futuro. Todos os problemas que havia desenvolvido tinham afetado mais os outros, do que a ele mesmo.

— Você quer alguns ovos? Acabei de preparar — Christopher ofereceu, colocando-os no prato branco. Lysandre, tomando seu café, negou levemente com a cabeça, fazendo o homem se sentar na cadeira a sua frente, também pegando o que ia comer. — Seu irmão ligou, queria saber como você estava... — sorriu fraco. — Ele disse que amanhã vem visitá-lo.

— Eu não acho necessário... — Leigh não estava morando tão perto, e não queria atrapalhá-lo e fazer com que perdesse um dia de trabalho para ir até ali apenas para vê-lo, embora também sentisse falta dele.

— Não se preocupe, tenho certeza que ele ficará feliz em vê-lo. Você é muito importante para essa família, Lysandre.

Já tinha uma noção do por que dele falar aquelas coisas. Seu pai nunca foi do tipo que sabia ser carinhoso, mas depois de tudo, ele tinha um profundo medo de perdê-lo, e não queria ser tão distante dele, quanto era antes.

— Tudo bem... Obrigado, pai — disse se levantando. — Acho melhor eu ir, não quero chegar atrasado em meu primeiro dia — riu forçado, tentando passar uma animação que não existia, mas que pareceu deixar o homem a sua frente contente, sorrindo para ele.

— Eu posso levá-lo, se quiser. Não deve ficar tão longe de meu local de trabalho.

— Não se preocupe comigo, pai. Eu realmente ficarei bem.

— Já que tem tanta certeza... Boa aula, meu filho.

Sorriu levemente, se retirando.

Quando as coisas haviam ficado assim? Seu pai querendo protegê-lo até de ir para a escola... Vai ver nem percebeu que as coisas mudaram tanto desde a morte de Angela, sua mãe. O garoto tão inocente e cheio de vida que existia nele anos atrás, jamais imaginaria que ao presenciar não só o estupro como também assassinato de sua mãe, ficaria traumatizado e se envolveria em tantos problemas até que acabasse sendo internado por seu vício em drogas; a decisão mais difícil que Christopher e Leigh, assim como o resto da família, poderiam ter tomado.

O caminho até a escola foi completamente calmo e sem interrupções. Sinceramente, era estranho voltar para lá, principalmente porque já fazia por volta de três meses que as aulas começaram, e ele estava um pouco atrasado.

Não sabia se teria dificuldade nas matérias, em voltar a falar com seus colegas, ou em se comunicar com novos alunos. Era como se tivesse ficado afastado por anos... Mas não era o tipo de pessoa que iria surtar por algo tão simples, mesmo imaginando que seriam dias tediosos naquela sala de aula.

De qualquer modo, só faltavam dois anos para se formar, não poderia ser tão difícil aturar aquilo de novo.

— LYS! — sentiu alguém praticamente pular em suas costas, o que deixou um tanto envergonhado. — Eu senti tanta a sua falta!

Riu baixo, reconhecendo a colega.

— Quanto tempo, Rosa — respondeu simpático, retribuindo o abraço que ela rapidamente rompeu para encará-lo, ela parecia verdadeiramente contente em vê-lo. — Pelo visto, ainda estuda em Amoris, pensei que tivesse se mudado... Mas então, como vai?

— Eu estou bem, mas quero saber de você. Como você está? — bagunçou seu cabelo, deixando-o sem graça. Era estranho estar falando com a garota que um dia gostou depois de tanto tempo, e que por ironia do destino, agora namorava seu irmão.

— Eu estou bem.

— Mesmo?

Já sabia onde ela queria chegar. Rosalya, como namorada de Leigh, tinha uma noção do que havia acontecido com ele, mesmo que não soubesse da história completa.

Ninguém no colégio sabia de tudo, na verdade.

— Mesmo.

— Hum... Espero que esteja sendo sincero comigo, pois não vou sair do seu pé enquanto você estiver aqui. 

— Jamais mentiria pra você. Mas confesso que sobre a parte de você ficar no meu pé, me deixou um pouco preocupado.

— Sem graça — disse batendo de leve em seu braço e fazendo-o rir baixo com o gesto. — Você fez muita falta por aqui, sabia?

— É mesmo? Eu...

Enquanto caminhava não conseguiu deixar de ouvir alguns comentários negativos entre um garoto que bateu contra seu ombro ao lado de outro colega.

Soava como um: “Você viu que o drogadinho voltou pra escola?” “É mesmo, continua com as mesmas roupas de filhinho da mamãe, também”.

Lysandre riu forçado da piada de mau gosto, mas sabia que iria aturar aquilo mais vezes na escola, e não se importava. Não tinha que provar nada a eles. Sabia os motivos para ter feito o que fez, não precisava provar para mais ninguém.

— Lys... Venha — Rosalya, que percebeu o desconforto, o puxou pelo pulso continuando a caminhada. — Depois terei uma conversinha com eles, não se preocupe — falou irritada.

— Não precisa.

— Claro que...

O garoto parou em sua frente, fazendo-a ficar confusa.

— Não arranje confusão por minha causa, está bem?

— Mas Lys...

— Falo sério, Rosalya — se virou, continuando a andar. Não queria assustá-la, mas precisava fazê-la entender. Ela sempre arranjava alguma briga quando se metiam com seus amigos, Lysandre sabia melhor que ninguém. — Vamos, o sinal já vai tocar.

— O-Ok — concordou, levando alguns minutos para segui-lo, visto que ainda estava tentando se acostumar com o jeito atual dele. Ele havia mudado muito, deve ter sido muito pressionado... Com certeza aquilo a preocupava. Queria voltar a ver a mesma energia que ele passava em seus shows no passado, ele era um jovem talentoso.

As primeiras aulas foram meio tediosas, e foi estranho para ele alguns de seus colegas o encararem como se não conseguissem acreditar que ele estava ali. Não foram muitos deles que chegaram até ele para tirar suas dúvidas, mas entendia a surpresa deles.

Como imaginou, estava tendo dificuldade em se lembrar de algumas matérias, mas como o bom aluno que sempre foi, conseguiu aos poucos acompanhar o conteúdo que estudavam. Os professores não tocaram no assunto sobre sua recuperação nem nada do tipo, pelo visto, estavam tentando não falar de algo tão delicado por enquanto, e era o que ele honestamente queria, seria ruim se os colegas que não sabiam do ocorrido, passassem a saber.

Durante as segundas aulas, adiantou o estudo e ignorou alguns discursos dos professores, focando-se em seu caderno de músicas. Fazia um tempo que não escrevia nada, mas parecia estar rimando com facilidade, embora, tudo o que tentasse escrever soasse extremamente melancólico em sua mente.

Ouviu alguns alunos se retirando de suas carteiras, percebendo assim que o sinal havia tocado e era hora do intervalo. Tinha passado rápido quando começou a se distrair com seus rascunhos no caderno, isso era bom, pois mostrava que pelo menos não havia deixado de amar algo que gostava tanto de fazer, como aconteceu com outros hábitos que tinha.

Rosalya, como havia prometido, não saiu de seu pé durante todo o recreio. Castiel também havia se aproximado e falado sobre algumas idéias que tinha pra uma música, ele foi um dos primeiros a saber dos problemas de Lysandre, e mais do que qualquer um ali, sabia que Lysandre não queria falar a respeito, estava apenas tentando começar do zero.

Foi bom estar ao lado dos dois, eram uns dos poucos ali que poderia chamar de amigos. Conseguia se sentir bem, mesmo que por poucos momentos, ao lado de Rosalya e Castiel. Era bom estar perto de pessoas... Ver que havia vida onde não conseguia ver antes.

 

 

Quando as aulas finalmente acabaram, Lysandre pôde relaxar seu corpo.

Confessou para si mesmo antes de sair daquela sala de aula, que não estava mais agüentando as pessoas fofocando a seu respeito ou o encarando estranho. No tempo em que ficou afastado, pelo o que pôde ver, as pessoas haviam criado diversos boatos e explicações malucas para seu desaparecimento.

Estava achando engraçado, mas não queria pensar em aturar aquilo o resto do ano.

Chegando à frente da escola ficou esperando Castiel, que disse que o acompanharia até onde seus caminhos até casa se igualassem.

Rosalya que estava acabando de conversar com algumas colegas, se separou do grupo e sorriu para ele, beijando sua bochecha e dizendo “até amanhã”.

Continuou a esperá-lo por alguns minutos, sua paciência era impressionante.

— Você me esperou mesmo — Castiel comentou assim que se aproximou sem avisos.

— Você me pediu para esperá-lo, oras.

— Sim. Mas não achei que você fosse levar a sério — riu forçado. — Eu já teria me mandado em seu lugar.

— Realmente. Acho que me esqueci que você é um grande de um trapaceiro, Castiel. — levantou levemente a sobrancelha.

Castiel fez uma careta, desgostando de sua brincadeira.

— Assim você me ofende, Lysandre. Não sou tão previsível.

— Tem certeza?

— Cale-se!

O ruivo continuou com suas brincadeiras inocentes durante todo o percurso, até que tivesse que seguir a rua oposta a de Lysandre, se despedindo e cruzando seu caminho.

Levou alguns minutos para se sentir só, caminhando pela rua quase deserta. Antes que pudesse desfrutar dessa mesma sensação que não vinha sendo tão ruim, seu celular tocou, atendendo a ligação de Leigh que falava o quanto estava empolgado em poder vê-lo, e que já estava na casa de seu pai esperando sua chegada. Também queria ver seu irmão, fazia algumas semanas que não ouvia sua voz, estava contente por estar ali.

— E como foi na escola? — Leigh perguntou interessado, entrando em outro assunto.

— Foi bom.

— Só bom? Bem que poderia entrar em mais detalhes... Foi tão chato assim? — riu leve, fazendo com que Lysandre também risse com ele.

— Não foi chato... Nem maravilhoso. Por isso, foi apenas bom. É normal para o primeiro dia, gosto do colégio e sei que com o passar do tempo, as coisas ficarão melhores.

— Se você diz... Deve ser verdade. Continue pensando assim.

SOCORRO!”

Lysandre parou imediatamente ao ouvir uma voz, que parecia ser feminina, protestar no beco não tão longe de onde estava. Leigh não demorou em perceber que ele havia se assustado com algo.

— Lysandre, está tudo bem?

Por favor, pare!”

A voz não cedeu, e isso estava começando a incomodá-lo. Se uma moça estava correndo perigo, não pensaria duas vezes, iria ajudá-la. Só de pensar que poderia ter evitado o que aconteceu a sua mãe... Mas foi fraco demais pra isso.

Não deixaria aquilo se repetir.

— É... Leigh... Tem um amigo me chamando, eu posso te ligar depois?

Estranhando, o mais velho respondeu de ímpeto:

— Claro... Mas vê se não se atrasa hein.

— Pode deixar — riu nervoso, tentando disfarçar sua ansiedade. — Não vou demorar a chegar em casa.

— Está bem. Até mais.

— Até — finalmente desligou, guardando o celular e correndo como conseguia. Atravessou a rua sem nem olhar aos lados, a voz havia parado de chamar, e estava temendo o pior.

Será que a pessoa recebeu ajuda, ou como sempre, ele chegou atrasado para poder ser útil?

ME SOLTA! — a moça se debatia, enquanto um estranho com o que parecia ser um capuz preto assim como o resto de suas roupas, a segurou pelos braços, já ferida do que parecia ter sido um combate físico.

Lysandre, parado em frente ao local, passou imediatamente pelo espaço estreito entre o beco, chamando a atenção de quem a segurava, que a largou no chão brutalmente apenas para encará-lo.

— O que faz aqui? — o agressor perguntou.

Estava começando a ter uma noção da cilada em que se encontrava. Desde quando agia daquele jeito? Tudo bem que não daria tempo de chamar a polícia, e ficou desesperado se lembrando de cenas não tão agradáveis quando a ouviu gritando, mas normalmente ele não era tão impulsivo, sempre agia pela razão.

As coisas realmente mudaram pra você Lysandre, pensou.

— Deixe-a em paz — se aproximou, ajudando a moça a se levantar. Seus olhos azuis claros, que pareciam ser um pouco mais escuros que o seu cabelo da mesma cor, o encaravam com extrema curiosidade, não sabia o que interpretar do mesmo olhar, mas continuou a ajudá-la, como um bom cidadão qualquer. — Você está bem? — perguntou educadamente, ela apenas assentiu levando um tempo para respondê-lo com o mesmo gesto. — Que bom que está bem... Ele te feriu? — segurou seu braço, que estava cheio de marcas roxas.

Aquele monstro...

Por que chegaria tão longe agredindo uma garota tão nova e inocente?

Se ele tivesse feito algo a mais com aquela garota...

— Você... Não deveria estar ajudando ela.

— O que está falando? — cerrou firmemente o cenho, encarando-o com uma raiva que nunca tinha sentido antes. Sim, aquilo o lembrava de seus piores traumas, e sabendo que muitas mulheres por aí passavam pelo o que sua mãe passou, e se não tivesse chegado ali, aquela mesma garota poderia ter sofrido mais do que aquela agressão, não conseguia aceitar de cabeça abaixada, não mais. — Se você tivesse encostado um dedo nela, juro que eu...

— Não seja patético! Eu não tenho interesse no corpo da garota — respondeu de modo grotesco. — Você realmente não a conhece... Mas por ter conseguido a encontrar aqui, vejo que minhas tentativas em evitar que vocês colidissem, foi arruinada. — ele se virou. Em momento algum havia conseguido enxergar algo além de sua boca, aquela capa que usava o camuflava muito bem. — Um dia irá se arrepender por tê-la salvado.

— Espere! — tentou alcançá-lo.

— Nossa conversa já está encerrada. Se você me interrompeu e escolheu ajudá-la a viver, agora lide com as conseqüências.

O que diabos eram essas conseqüências que ele estava falando? Por acaso seria punido por salvar uma vida?

Essa não! Ele estava se distanciando... Sem esforço algum.

Não poderia deixá-lo fugir!

Por que sempre acabavam fugindo depois de um ato tão cruel? E o pior seria pensar que assim como no caso de estupro/assassinato de Angela, a agressão que a garota sofreu não daria em nada para a polícia. Isso o revoltava além da compreensão humana, mas mesmo correndo e tentando alcançá-lo, o desgraçado fugiu, parecia ter evaporado.

Era tão difícil conter a fúria que estava carregando em seu peito, não sabia o que fazer primeiro, e se realmente ligaria pra polícia.

Frustrado, fechou o punho e socou a parede ao seu lado, machucando os ossos de sua mão, mesmo que o impacto não fosse tão forte.

Merecia mais dor, merecia.

Continuou a socar percebendo o quão fracassado era por sempre falhar nesse sentido. Não queria pagar de herói, ou o que quer que fosse. Sabia que poderia muito bem ter sido morto, e que se aquele homem estivesse armado, poderia muito bem ter atirado em sua cabeça em sua primeira aparição.

Por falar nisso, era estranho ele não ter o atacado e nem mostrado arma alguma. Ele simplesmente agrediu a garota sem mais nem menos e resolveu sair depois?

— Você está bem? — a doce voz feminina o perguntou, fazendo-o voltar para si e perceber que deveria estar a ajudando e não descontando em si mesmo.

— Eu que deveria perguntá-la isso — suspirou, aproximando-se. — Está tudo bem? Como se sente? — a analisou tentando ver se não estava com algum ferimento grave. Estava realmente preocupado.

— Eu estou bem, obrigada. Você realmente me salvou. Foi por pouco.

Ela parecia mais calma. Sorriu. Não esperava que ao retomar sua rotina de antes, teria uma ação como aquela logo no primeiro dia. Mas estava aliviado de tudo ter ficado bem.

— Acho melhor te levar pra um médico, ou algo assim...

— Não. Eu estou bem.

— Tem certeza? Nesse caso, deveria ligar pra alguém vir te buscar, é perig-

— Meu nome é Zora. — esticou seu braço para que ele apertasse sua mão. — É Zorana, na verdade. Mas não gosto de meu nome. Chame apenas de Zora.

Com um aperto leve e breve de mãos, Lysandre também se apresentou:

— Sou Lysandre. Chame-me como preferir.

Só naquele momento em que foi interrompido, se deu conta de como suas roupas, tal como seu nome, eram um pouco diferentes. Zorana vestia o que parecia ser um vestido vermelho com uma abertura na frente que dava a visão tanto do espartilho preto que usava por baixo como também dos shorts da mesma cor, além da meia branca até sua coxa e das botas altas da cor do vestido. Parecia uma personagem de game, embora sua roupa estivesse meio desleixada, provavelmente pelo ataque que sofreu.

— Estou muito grata — ela voltou a falar, fazendo ele se sentir um pouco inadequado por reparar em suas vestes, mesmo que em momento algum tivesse demonstrado más intenções olhando pro seu corpo. Estava apenas surpreso com ela. — Gostaria de agradecer o que fez por mim, Lysandre. Embora não saiba como.

— Você não precisa agradecer nada, Zora.

— Preciso sim.

Coçou a nuca, sem jeito.

Realmente ela não precisava agradecer, se fosse outra pessoa em perigo, ele também tentaria ajudá-lo. Desenvolveu um forte senso de justiça depois de tudo o que aconteceu. Não se importava em arriscar sua vida, se fosse ajudar alguém.

— Acho melhor eu levá-la para casa. A não ser que se sinta desconfortável em minha companhia, deve ter ficado assustada... Nesse caso, te entrego meu celular, pode ligar para quem puder te buscar. Também posso levá-la para a polícia para prestar uma denúncia... Como você preferir.

— Lysandre, não vai mesmo aceitar nada em forma de agradecimento? Dinheiro? Comida? Nada mesmo?

Ela insistia demais no assunto...

— Não vejo necessidade. O que eu fiz, foi obrigação minha. Não há por que eu ser recompensado por isso, estou sendo franco com você, Zora.

Zorana... Era um belo nome para ele, não entendia porquê ela desgostava.

— Já que é o caso... Por que não faz um acordo comigo? Assim, ficaríamos quites, e poderei lhe dar algo que você aceite. 

— Que tipo de acordo?

A garota abriu um pequeno sorriso ladino.

— Posso realizar o desejo que você quiser... Não importa quão impossível pareça ser esse desejo, eu realizarei o que você me pedir. No entanto, você se tornará um huntsman, viverá para destruir criaturas sobrenaturais, não vistas ao olho humano. Estaria disposto a arriscar sua vida por esse mesmo desejo?

O garoto abaixou a cabeça, e após um longo suspiro, colocou sua mão na testa dela.

— Acho que você deve ter batido forte demais a cabeça...

— Eu estou bem. A proposta é verdadeira, realmente irei realizar um desejo seu.

Claro. E Papai Noel também existe.

— O que você é? Uma fada? — riu fraco, sem parecer ofensivo.

— Não. Estou mais para uma mensageira da magia.

— Tá, tá — continuava sendo uma boa idéia levá-la ao médico, mas convencê-la não seria fácil, iria aos poucos, puxando assunto para fingir interesse nas maluquices que ela falava. — Vamos sair daqui — pegou delicadamente em sua mão, guiando-a até a rua mais próxima, e puxando assunto para não assustá-la. — E então... Fale-me mais sobre esse acordo. Posso desejar qualquer coisa mesmo?

— Sim, pode.

— Acho que não. O que eu desejo não pode ser cumprido — sorriu triste. — Mas agradeço mesmo assim sua intenção.

— Qual seu desejo? Ter sua mãe de volta?

Como ela sabia daquilo?

— Do que está falando?

— Sua mãe... Foi violentada sexualmente e morta há três anos, não é? Desde então, você passou a se envolver com drogas e bebidas, tentando esquecer o trauma que foi presenciar aquela cena terrível. Ficou internado por longos meses passando por tratamento para deixar o vício, além de tomar infinitos remédios para depressão e ansiedade. Sim, eu sei. Conheço seus piores pesadelos, Lysandre. Por isso estou lhe dando a chance de mudar isso.

— Como...  — ficou sem reação ao ouvir aquilo tudo. — Como sabe tanto?

— Sei quase tudo sobre você.

Ok. Era melhor pensar racionalmente, já havia usado muito de seu lado emocional pra se arriscar salvando-a e fazendo coisas que em seu juízo perfeito jamais se permitiria!

Aquilo era apenas uma infeliz coincidência...

Ela deve ter lido sobre ele em algum lugar, ou o adicionado em alguma rede social, lido alguma informação que algum de seus parentes deve ter deixado escapar... É isso. Essa era a explicação lógica... Nem tanto assim, mas iria acreditar nela.

— Zora, eu lhe salvei, e estou feliz por isso. Mas por favor, não vamos falar sobre isso, ok? — disse sério.

— Tudo bem, só me responda... Qual desejo escolheria?

Ela não ia mesmo deixar aquilo de lado... Era melhor respondê-la de uma vez.

— Se eu fosse mesmo viver arriscando minha vida como você deu a entender, — fez uma pausa, respirando fundo. — eu pediria algo de grande valor. Se pode mesmo “realizar” qualquer coisa, eu pediria para trazer minha mãe de volta, apagar as coisas terríveis que a aconteceram e permitir que ela tenha uma boa vida. Isso valeria meu risco de vida.

— Entendo... Certo, Lysandre.

— ZORAAAA! — ouviu uma outra garota chamar, correndo ao encontro de Zorana e abraçando forte. — Você está bem? O que aconteceu? — a belíssima negra de olhos âmbar e volumosos cabelos cacheados em tom prateado parecia extremamente preocupada, como se já soubesse, mesmo não estando presente, que a outra havia sido atacada.

— Estou bem, Alice — ela sorriu calma. — Que bom que está aqui. Esse é o Lysandre, — se virou para o garoto. — ele me salvou. — falou, fazendo-a fazer uma expressão confusa. — Lysandre, essa é Alice, uma colega.

Lysandre se sentiu aliviado por ela ter encontrado uma amiga. Com certeza ela poderia ajudar Zora melhor que ele.

— É um prazer conhecê-la, Alice. — cumprimentou.

— Obrigada por salvá-la, Lysandre — agradeceu, se virando para Zora. — Nós precisamos ir agora! — disse a encarando de um modo que a fez entender ao que ela se referia. — Vamos logo, Zora! — se apressou, afastando-se.

Zora encarou Alice correndo, e antes que fosse alcançá-la, encarou Lysandre de um jeito determinado que ele não havia reparado antes.

— Sobre seu desejo: Pode ter certeza, que sobre sua mãe... O que a aconteceu a ela será desfeito. Será como se nunca tivesse acontecido.


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Notas finais do capítulo

▲Huntsman é caçador, acho que não preciso explicar sjkdsjk. Mas é como são chamados os que eliminam criaturas e tudo mais;
▲ O que acharam????



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