Terminando de limpar o bar, observava o móvel lustroso tentando ignorar o desconforto que sentia com o rumo que a conversa entre Anna e Neko tomava. A garota mais velha era um poço de curiosidade e Anna não via nenhum problema em preencher essa curiosidade.

Com um suspiro pesaroso, puxou a carteira de cigarros do bolso pegando um entre os dedos, enquanto apoiava os cotovelos no bar, desistindo de tapar os ouvidos contra o assunto e moveu sua atenção as duas garotas, a voz melodiosa da única garota dos Homra somente aumentava a misticidade do fato, chamando todos no ambiente a ouvirem.

— Um dos fatos da nossa sociedade é que todos temos uma alma gêmea, não importa quando tempo leve para a encontrar, ainda chegara o dia que essas duas almas se tocarão. Por isso, todos temos uma marca rabiscada em algum lugar em nosso corpo. Um nome, normalmente uma assinatura para representar a sua alma gêmea, e em raros casos alguns chegam a ter mais de um nome. Esses seriam os companheiros de vida. – A voz de Anna manteve-se suave o durante toda a conversa, enquanto era óbvia a emoção e agitação nos olhos bi colores de Neko.

— Mas, mas qual a diferença entre os dois?

— Alma gêmea é aquela que tem como objetivo, desafiar e despertar o que a de melhor na pessoa para que ela possa evoluir. Alguém que faz de você uma pessoa melhor, bem, na verdade eles não fazem dela uma pessoa melhor ..., mas a fazem ser uma pessoa melhor porque inspiram-na. Já um parceiro de vida é alguém que é confiável e atencioso com suas necessidades e desejos. Claro, um parceiro de vida também é alguém que você está atraído e que você ama e cuidar. – Os olhos avermelhados da albina baixaram delicadamente enquanto a mesma esfregava o pulso por cima do vestido. E de onde ele estava encostado no bar, ele apenas podia olhar compreensivamente para a garota mais jovem, enquanto sentia o nome desenhado em seu quadril quase que pulsando com a lembrança.

Acendendo o cigarro, inalou a fumaça para em seguida solta-la, esperando que seu desconforto e dor saísse com ela, mas isso era algo que ele sabia que não funcionaria, ele já tinha tentado antes. O cigarro apenas era algo que o fazia lembrar ainda mais dele.

Suoh Mikoto.

O terceiro rei vermelho, o líder do Homra, seu rei, o nome que estava desenhado contra sua cintura ... sua alma gêmea. E esse era um fato que lhe deixava com um gosto amargo e cheio de perguntas que nunca seriam respondidas. Por que aquele indomável homem tinha que ter sido sua alma gêmea? Por que ele não tinha sido o escolhido por Suoh? Por que ele não tinha tentado mais?

Era engraçado o quão amargo ele tinha se tornado. Ele não costumava a pensar assim.... quando ele tinha conhecido Suoh, ele estava alegre. Quando ele tinha se tornado próximo do ruivo, ele tinha estado exultante. Quando ele tinha descoberto que além de seu próprio nome, Suoh tinha outro nome em suas costas, Totsuka Tatara... Ele tinha sido compreensivo, pois era algo imutável. Quando o ruivo tinha escolhido Totsuka-san, e apenas o outro loiro.... Ele tinha...ele nem mesmo sabe dizer como exatamente ele se sentiu quando viu os dois juntos.

Não que tivesse sido um fato que Mikoto fazia questão de esconder, o relacionamento entre ele e seu segundo no comando. Ele apenas estava lá, em pequenas ações, pequenos movimentos que tinham chicoteado nele mais do que ele esperava, as cicatrizes ainda estava lá, tão escarlates e ardentes quanto as chamas de seu próprio poder.

E quando Mikoto escolheu apenas continuar com a sua vingança, não se importando com aqueles que estava deixando para trás, a lição sobre almas gêmeas e parceiros de vida tinham sido entalhadas em sua alma, pelo menos a dor que poderia ver com isso.  Ele aprendeu que as almas gêmeas sempre chegam quando estamos prontos para eles e não um momento mais cedo. Eles chegam quando estamos prontos para aprender as lições que nós estávamos destinados a cumprir. Assim como que as relações entre alma gêmeas muitas vezes não eram para sempre, como os contos de fada falavam.

Nas noites em que a melancolia é mais alta ele se pergunta, se ele não tinha passados muitos anos obcecado sobre o encontro sua alma gêmea, e no fim não tinha entendido o que realmente estava pedindo. Uma vez ele comentou a Anna sobre isso, e a pequena tinha lhe retrucado com uma resposta que o tinha deixado pensativo.

“Eu penso que as vezes as almas gêmeas não ficam juntas porque a relação poderia ser muito intensa e com muita energia para a relação que ela acaba por chegar ao fim uma vez que as lições necessárias foram aprendidas. ”

Agora, observando a ponta escarlate de seu cigarro, ele se pergunta que tipo de lição ele pode ter ensinado ao seu selvagem rei e principalmente.... Qual lição ele próprio tinha aprendido?

— Izumo – A voz feminina em conjunto com dois delicados braços lhe circulando a cintura interrompeu suas divagações. Olhando para baixo, olhou questionador para Anna que apenas apertou mais os braços em sua volta, antes de lhe questionar em voz baixa. — Você está bem? Estava com um olhar distante.

Sorrindo para a garota que era uma pequena luz para todos do Homra, ele se perguntava se ela e sua empatia tinham sentido o rumo de seus pensamentos. Apagando o cigarro no cinzeiro, apenas lhe disse a verdade.

— Eu vou ficar bem.