O Aventureiro escrita por roberto145


Capítulo 6
VI - A Insustentável Leveza do Ser Pt. III




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A neblina se intensificava com o passar de dois dias, atingindo o ápice justamente quando Noibat teria a sua alta do centro responsável por tratar de seus ferimentos. Embora eles não fossem tão graves, poderiam evoluir para complicações e, assim, por em risco a vida do pequeno pokémon. Johann acompanhava-o nesse período, mesmo que acabasse perdendo aulas e dificultasse um pouco a sua situação na tutoria. Porém, ainda que os médicos tentassem lhe libertar daquela tarefa, o garoto continuava irredutível. Havia recebido aquele presente de Brunhild e prometido a ela que cuidaria dele. Jamais o abandonaria. Jamais abandonaria qualquer um de seus companheiros.

Devido a densa bruma que envolvia toda a cidade de Snowbelle, a visibilidade era prejudicada a níveis alarmantes. Os motoristas eram submetidos a rigorosas exigências e, caso não as cumprissem, sofriam pesadas punições. Já se percebia que aquele fenômeno meteorológico se incorporava na rotina da cidade. Johann, porém, ao ceder a sua teimosia e aceitar deixar o lado de Noibat por algumas horas, ainda se surpreendia com aquele potente evento. O garoto, ao ter a confirmação de que o morcego não corria mais riscos e poderia ser liberado até a tarde, retornava ao dormitório. De lá, após um banho para afastar o sono de noites mal dormidas, decidia voltar às aulas, pelo menos as da manhã, para evitar punição. Após elas, iria pegar de volta seu pokémon.

Durante o tempo em que retornava ao prédio onde deveria aprender alguma coisa sentia os cochichos atrás de si, assim como os olhares maldosos e as risadas de chacota. Entretanto, mais do que isso, a sua preocupação era dirigidas apenas ao recontro daqui a algumas horas. Assim, passava aquele tempo, que parecia interminável, em sua carteira, embora seu corpo estivesse agitado e demonstrasse com os pés batendo regularmente no chão. Com a última palavra do professor, levantava rapidamente, já com os pertences arrumados em sua mochila. Era o primeiro a sair da sala de aula. Andava a passos muito rápidos, descendo a escada quase de três em três degraus. Desvia das pessoas a sua frente com grande maestria. Não tardaria, por isso, para já estar próximo a saída da tutoria. Contudo, o seu dinamismo logo era freado por um grupo sentado nos sofás em frente ao balcão de recepção do local.

—Ora, ora... Veja bem quem está com pressa – um dos garotos levantava-se. Não havia dúvidas, era um dos capanguinhas de Phill. - Por que tanta pressa? Sente-se com a gente e vamos conversar...

Johann não respondia, tentando recuperar o ritmo perdido por aquele desagradável encontro. A expressão de muitos do grupo modificava-se, embora o do falastrão ainda permanecia risonha. Assim que Johann o ultrapassaria, com uma calma até fria, o outro garoto jogava o braço direito sobre os ombros dele, girando o corpo e ficando de frente à saída. Tão gélido quanto o dia, soltava as seguintes palavras bem baixo: não fará uma desfeita, não é? Em seguida, acertava um soco nas costelas. Ainda que fosse leve, carregava muita hostilidade.

Ao agredido, não restava nada a menos de desvincular daquele braço em seu ombro, empurrando-o levemente em seguida. Olhava-o, mas antes que fizesse alguma coisa, os demais aproximavam-se formando uma meia lua à frente de Johann. Este mantinha uma expressão não de raiva, embora a sentisse, mas sim de preocupação. Provavelmente, tornaria uma de suplicante, mas os segundos seguintes impediam a transformação.

—Já sei o porquê da bixinha estar assim! – o tom de voz calmo e frio subitamente era carregado por uma maldade. – Deve ser por causa daquele pokémon inútil – ameaçava soltar uma gargalhada. – Não fique preocupado... Nesse momento, Phill já deve estar com ele...

Aquelas palavras congelavam a espinha de Johann. Não acreditava no que escutava, com a raiva progressivamente tomando o lugar do equilíbrio que apresentava até então. Suas pupilas dilatavam, ao passo que o coração batia mais rápido e uma espécie de angústia tomava-lhe o peito. Segurava, em um segundo, o menino à sua frente pelo pescoço, apertando-o forte consideravelmente. Tal reação não assustava somente aos demais do grupo, mas também a recepcionista que falava no telefone até agora e pouco ligava para aquelas crianças. As palavras de Johann também eram embutidas de grande teor de ódio, escapando pelos dentes que quase rangiam.

—Ei, vocês! Para fora! – a mulher levantava de sua cadeira tentando expulsar aquele potencial problema.

—É o que você escutou... – embora tivesse o pescoço sob pressão, o garoto era capaz de falar. – Phill pegou aquele encardido e só Deus sabe o que ele vai fazer...

Mais um soco atingia as costelas de Johann. Ele soltava o menino à sua frente e olhava para o outro que desferiria o golpe. Antes que as vias de fato chegassem, o grupo era posto para fora novamente pela recepcionista, que desta vez levantava de sua preguiça e cadeira e se dirigia até eles. Lá fora, a iminente briga finalmente ia acontecer, mas para Johann nada daquilo lhe era vantajoso. Liberava logo Rhydon de sua pokéball. O rinoceronte impunha um certo temor aos garotos que olhavam para o chifre dele girando intermitente como uma broca.

—Só irei perguntar mais uma vez... Onde ele está?

—Acha mesmo que vai colocar medo com isso ai?! – o menino que tomava o lugar de Phill lançava uma pokéball com uma expressão já mais séria.

Entre os dois garotos, surgia um pokémon volumoso. De mesmo tamanho e formato de um barril, suas longas orelhas se dobrava uma única vez no espaço. Talvez esticadas tivessem maior comprimento que o próprio corpo de Diggersby. Em suas pontas, parecia que cada uma se transformava em patas acessórias, sujas de terra. O coelho dava um sorriso jocoso enquanto encarava Rhydon. Os demais do grupo se agitavam e pareciam se animar. Alguns já até sacavam algumas pokéball.

—Nada disso Erik... – uma voz um pouco fina surgia atrás daquele bando. – Eu mesmo terei a honra.

Phill sorria enquanto caminhava até os amigos. Em sua mão havia algo que logo chamava a atenção de Johann e intensificava neste ainda mais raiva. O menino mais robusto elevava-a então, em tom de provocação, enquanto se aproximava-se do treinador de Noibat. O sorriso não só demonstrava como aquilo era divertido, mas também o prazer que sentia ao ter uma vida daquele jeito... Em sua palma da mão.

—Esta não é a pokéball de Noibat? – dizia de modo sádico. – Pois bem, já deve saber que eu lhe fiz o favor de ir buscar aquele lixinho para você, não é?

—Onde ele está?

Sem pensar, Johann investia contra Phil. Só não conseguia alcançá-lo, pois Diggersby lhe acertava uma investida, jogando a um metro de distância. O choque no solo era doloroso e lhe causava um arranhão na palma esquerda. Ela ardia e sangrava, mas tampouco era um obstáculo para o garoto se levantar. Já Rhydon ao perceber que seu treinador fora acertado, corria em direção ao coelho. Poucos metros dele, parecia fazer um acrobacia mesmo com o pesado corpo. Como um míssil, lançava-se em rotação. O Drill Run acertava em cheio o corpo volumoso do alvo, empurrando a uma distância considerável. O pokémon arremessado de forma brutal passava ao lado de Phill, arrancado deste um grito de temor pelo susto. Johann olhava a cena surpreso, mas logo segurava na camisa do valentão a sua frente ainda atônito.

—Onde ele está? - repetia.

—Eu... – ainda sem palavras, mas se recompondo, o mais gordinho se soltava e empurrava Johann. – Olha que nojo! Você sujou a minha camisa desse seu sangue nojento! – irado, ele gritava. – Agora, você é quem vai ver!

Mais um pokémon era liberado naquele terreno. A presença de tantas criaturas e o falatório junto a gritos já chamavam bastante atenção. Um grande bode surgia à frente de Phill. Possuía olhos vermelhos ameaçadores, como se já estivesse com raiva de Rhydon. Seus chifres negros eram postos em direção daquele que escolhera como rival em mais um sinal de hostilidade. As folhas ao redor de seu pescoço, seu dorso e sua cauda agitavam-se, fazendo um hino de batalha, começando, então, a raspar o solo com o casco de sua pata direita. Em resposta, o rinoceronte soltava um imponente grunhido, mudando a direção de seu chifre em rotação, direcionando ao Gogoat.

A rivalidade não ficava apenas em reações. O primeiro movimento provinha do pokémon de grama, ao ameaçar Johann por este tentar outra investida contra seu treinador. O pesado corpo de Gogoat, já impulsionado, era segurado nos chifres por Rhydon, impedindo que o Take Down se transformasse em algo devastador contra o menino. Este recuava ainda surpreso com o possível risco à sua vida, afastando das duas criaturas que disputavam forças. O rinoceronte batia a sua cauda no chão, enquanto encarava o bode. Poucos segundos após a troca de olhares nada agradável, ele investia a sua cabeça contra a do oponente.

O Megahorn provocava um pequeno aumento do chifre de Rhydon. Este, ao efetuar o ataque, não conseguia mais segurar Gogoat. Desse modo, embora fosse um golpe extremamente poderoso, não se tornara fatal, uma vez que o pokémon de grama fora capaz de reduzir parte do dano com um salto para trás. Entretanto, a potência do choque era tanta, que esse pulo dava mais intensidade ao empurrão, jogando o bode a alguns metros de distância.

—O que diabos vocês estão esperando? – Phill gritava aos amigos após assistir Gogoat se chocar contra o chão.

Em resposta a solicitação, Diggersby avançava contra Rhydon. A poucos metros, o coelho volumoso demonstrava uma agilidade surpreendente ao seu corpo. Em um giro, acertava dois chutes de grande eficácia. O Double Kick não era capaz de nocautear mas ganhava tempo para que um Pyroar e um Pangoro fossem liberados de suas pokéball. Assistindo a desvantagem, o rinoceronte dava alguns passos em recuo. Porém, logo Johann o assistia com um Vaporeon. Este havia recém evoluído de um Eevee que capturara alguns meses atrás. Ainda assim, os garotos riam e olhavam com escárnio. A vantagem numérica lhes davam segurança para tal.

—Se você se comportar direitinho e deixar a gente se divertir, não vamos causar muitos ferimentos em seus pokémon – Phill estalava os dedos. – Mas, é claro, se você deixar a gente bater em você... Afinal, essa desobediência – balançava a cabeça negativamente, com uma expressão de pesar. – Essa desobediência não pode passar – sorria.

Johann olhava-o. Seus pokémon davam dois passos para trás, de modo a ficar ao redor do garoto. Ele, contudo, não pensava naquela ameaça nem na batalha em desvantagem. Somente Noibat vinha em seu raciocínio e o medo desse laço com Brunhild se romper. Faria de tudo. Tudo mesmo. E, assim, antes de que o gorducho voltasse a abrir a boca, o treinador lançava mais uma pokéball para a direção dele. Ela quicava no chão a poucos metros das costas de Phill, que, surpreso, olhava para trás. Depois do pouco tempo da libertação de Drapion, este já usava suas pinças para imobilizar o alvo pelos braços em uma posição de crucificação. O ferrão venenoso já era deslocado para próximo do pescoço do garoto. Este, sem reação inicial, começava a suar e gritar por ajuda. Seus amigos se afastavam também temerosos daquela cena.

—Espere Drapion... – Johann impedia a ferroada, enquanto retornava seus outros pokémon. Em seguida, andava até Phill, com uma expressão tão fria quanto aquela cidade. – Irei perguntar apenas mais uma vez... O que você fez com Noibat?

—Droga... – rangendo os dentes, o garoto olhava perifericamente para o escorpião próximo de suas costas. – Aquele inútil... – sentia os braços machucarem nas reentrâncias das pinças. – Eu o liberei na floresta ao sul. Agora me larga! – gritava em desespero.

—O que diabos está acontecendo aqui? – na porta de saída do prédio, incrédulo, estava o tutor de queixo caído. Não demorava para que ficasse vermelho de raiva devido à situação.

Johann olhava rapidamente de lado, mas logo voltava os olhos frios para Phill, que sentia um pequeno tremor na espinha. Em seguida, pegava a pokéball no chão, retornando Drapion. Os gritos nervosos do tutor eram ignorados pelo menino, que se colocava a correr em direção ao sul da cidade. Se sua aventura em Snowbelle já tivesse acabado, a de Noibat não.


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