30 de dezembro de 2018

Eu sei que pode parecer estranho uma mulher de 30 anos escrevendo em um diário, mas eu não sei mais em quem confiar por aqui. Há alguns dias, eu o vi fazer algo que jamais imaginei. Honestamente, eu estava torcendo para que fosse coisa da minha cabeça, mas tudo se confirmou quando vieram informar sobre sua “saída rápida”. Esperei alguns dias, mas eu não sei se consigo continuar aqui, e, se consigo, não faço ideia de quanto tempo aguento. Não vou mais me arriscar. Não me importa quem ele é, ele não pode me prender aqui, ainda mais se não me encontrar. Nós não temos que prolongar isso. Esse maldito ano já está no final, assim como a minha estadia.

A morena fechou a caderneta de couro e guardou na mochila sobre a cama, junto com a caneta. Dobrou a folha que havia retirado anteriormente e a pôs sobre o criado-mudo. Levantou e pôs a mochila nas costas, seguindo para a porta da casa. No percurso, observou bem cada cômodo, suspirando profundamente antes de fechar a porta atrás de si. Levantou o capuz de sua jaqueta, pondo as mãos nos bolsos, e caminhou em direção à saída da comunidade. Era noite, portanto, seria mais difícil de a verem, já que conhecia bem as rondas dos guardas.

A torre acima dos portões estava vazia, provavelmente por estarem na troca de turnos, então, não foi difícil abrir o pequeno portão e sair. A comunidade era um pouco afastada de Sloans Valley, um município localizado ao sudeste do estado do Kentucky, eram poucos minutos de carro e aproximadamente duas horas a pé. Mas, em sua situação, aquilo não desanimaria a mulher, pelo contrário. Conhecia tão bem a floresta, que não tardou a encontrar a direção da cidade por dentre as árvores. Afinal, havia passado os últimos quinze anos de sua vida correndo pelas redondezas. Aparentemente, conhecia melhor a floresta do que aqueles que chamava de família.

Era por volta de meia-noite quando alcançou a cidade. Por ser tão tarde, grande maioria das pessoas já estava em suas casas, provavelmente dormindo. Ela foi até o posto próximo à rodovia e observou o lugar. Pegou um pedaço de papel no bolso e leu a identificação, logo começando a procurar. Localizou o dono da placa anotada, um Mustang preto de 1969. Ela parou ao lado da roda dianteira e tateou em busca das chaves. Jogou a mochila no banco traseiro e entrou no carro, dando a partida. Saiu do posto em direção à rodovia, só então, notando um pequeno bilhete no banco do passageiro, o que a fez sorrir.

“Aproveite. – O”

Oliver era um de seus amigos mais antigos na comunidade, haviam se conhecido na noite em que ela chegara. Um rapaz de bom coração, que havia sido renegado em sua casa devido à sua maldição, e uma moça de cabeça dura, que havia fugido de casa devido à sua maldição. Não tinham nada em comum, mas, ainda assim, conseguiam se entender como ela jamais conseguiu com ele.

Seus devaneios duraram a noite inteira. Pensou e repensou seus erros, suas ações e suas escolhas, tudo que havia a levado até aquele momento. Até aquela cidade. Jamais pensou que voltaria, mas a placa de Nova Orleans estava bem à sua frente, indicando que sua viagem estava chegando ao fim. Antes que alcançasse a cidade, entrou em um caminho alternativo que a levaria até a costa. Parou o carro perto de um celeiro e o escondeu no mesmo, pegando seus pertences. Terminaria o seu trajeto a pé, já que não estava muito longe de seu destino. Não passou meia hora andando até que alguém a encontrasse.

— Alto! — a voz masculina ordenou. O som de gravetos se quebrando indicava que ele estava atrás dela. Pelo que imaginava, não seria bom se mover bruscamente, ela poderia ser tratada como hostil, e era a última coisa que precisava. Ela se virou de frente para o homem devagar, mas a tempo de ver a surpresa tomar conta de suas feições. — Mack?

— Olá, irmão.