Porque até as estrelas queimam escrita por Nah Schreave


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Amados leitores,neste capítulo nossa personagem principal se apresentará à vocês,e revelará um pouco de suas angústias,no começo Camille Lowell me intrigava,mas ao longo dos capítulos me apaixonei pela sua forma de dizer que só estava procurando a felicidade... Peço desculpa por ter enrolado um pouco,e também pelas falhas,espero que gostem,Booooa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/719498/chapter/1

   – Lulu, não se mova ou irei errar seu nariz!-Resmunguei carrancuda. -Desisto, você é impossível, impossível!

   Coloquei o grafite no pequeno estojo ao lado da folha. Aquilo era muito prazeroso, captar a essência de algo através da arte, do meu porto seguro, mas definitivamente eu jamais conseguiria desenhar meu cachorro, eu estava convicta disso há tempos, não havia sentido continuar.

   Mamãe entrou de repente no quarto, como de costume.

   –Camille querida, por que não está com a máscara esfoliante no rosto? Você é linda, mas quero que esteja estonteante esta noite! –Disse ela enquanto me encarava. –Já é uma mulher, por que insiste em agir como uma adolescente?

   Suspirei. Por que insiste em me tratar como um bebê? Quis dizer.

   – Perdoe-me!-Lancei um sorriso meigo falso. -Irei me aprontar à tarde, preciso sair, e achei que não seria conveniente.

­   –Faça isso mesmo!-Mamãe deu de ombros. - O baile é um evento importante, me preocupo com seu futuro querida!

   Apenas sorri em resposta, eu a amava, mas sabia exatamente o que a preocupava.

   –Agora se me der licença, preciso ir. -Não esperei sua resposta a abracei e saí de casa apressada.

   Não que eu realmente precisasse sair, mas precisava de um pouco de tranquilidade, estava farta das frivolidades de Mamãe. Bastou cruzar o portão para sentir-me melhor.

   Andei até o cais, e me flagrei sorrindo ao constatar que nunca cansaria de admirar aquela paisagem tão familiar: Os navios chegando e saindo o tempo todo, homens trabalhando, o mar escuro ao fundo, os bancos de madeira, postes ao redor dos muros, os estabelecimentos do outro lado, principalmente cafés. A beleza daquele lugar era mágica, e eu havia me tornado sensível a ela.

   Entrei no meu café preferido, e o sino preso a porta, tintilhou anunciando minha presença.

   –Senhorita Lowell!-Virou-se o sorridente Senhor Keeper, um antigo amigo da família. -Como está crescida, já é uma bela mulher, em pensar que me ausentei por apenas um ano!

   –Ora Senhor Keeper, é muita gentileza de sua parte!-Sorri alegremente. -Como tem passado?

   –Um homem de minha idade já sofre de certos males. -Ele respondeu rindo abertamente e, me juntei ao gracioso Senhor. -E a senhorita?

   –Muito bem, graças ao bom Deus!

   –Certamente, diga ao seus pais para me fazerem uma visita, e diga também que mandei lembranças, há muito não os vejo!

   –Garanto que o convite, os deixará muito felizes, como bem sabe, é muito querido pelos Lowell!

   –Me sinto honrado. -Falou em um tom muito sincero. -O que deseja?-Perguntou ele assumindo a posição de comerciante.

   –Um pain au chocolat e um latter, por favor.

   Sentei em uma mesa próxima a janela, dei-me conta de que o local continuava o mesmo, as paredes eram brancas, assim como as toalhas de mesa, o carpete e os estofados contrastavam com um vibrante vermelho, as cadeiras e os quadros com molduras douradas, juntamente com alguns arranjos de flores, os balcões lotados de guloseimas, ocupando boa parte  do canto superior, e as pessoas sempre de bom humor. Não que fizesse muito tempo desde a minha última estadia, mas tudo em minha vida estava se transformando  rapidamente, que sentia-me aliviada em perceber que algumas coisas permaneciam iguais.

   Sem precisar fingir sorrisos, mostrar uma etiqueta admirável em jantares com representantes do governo, dançar graciosamente, esbanjar vestidos finos, joias, penteados impecáveis, ser uma “dama perfeita”.

   Eu tinha consciência de como era sortuda, na verdade eram apenas os fatos. Eu tinha consciência da boa vida que levava, da comida em abundância e de melhor qualidade, do conforto, luxo e segurança de minha casa, das roupas. Seria ignorância não admitir isso, eu apenas não me conformava com as expectativas que tinham sobre mim, do modo crucial e incerto que o destino de uma mulher era designado. Sem opções de escolha.

   Perante a sociedade, inclusive minha família, minha vida resumia-se em conseguir um bom marido (rico), cuidar da casa e dos filhos, e aceitar com graça e compostura o dia em que dividiria a casa com uma, ou mais amantes, por isso aquele baile era tão importante, eu tinha 17 anos, precisava atrair pretendentes.

   Precisava ter minha honra.

   Precisava garantir meu futuro.

   Precisava... casar.

   Antes da Grande Crise, as coisas eram de outro modo.  Aville, nosso país, era um grande exportador de especiarias, um dos mercados mais lucrativos da época. Novas nações foram surgindo e, com elas vieram as concorrências. As especiarias, principalmente, a pimenta sofreram uma grande desvalorização, e Aville entrou em uma grave crise.

   Para piorar a situação, possuíamos enormes jazidas na fronteira com os EUA, que as queriam para si. O governo não tinha finanças para negociar, muito menos para formar um novo Exército. Nosso inimigo aproveitou-se de nossa fraqueza, e anexou as jazidas para seu território.

   Aville foi devastado.

   Minha família tinha sociedade com uma empresa exportadora que foi a ruína, de onde provinha boa parte de nosso lucro, desde então dependíamos das grandes lavouras, que viviam sob constante ameaça, e era nessa questão que eu me encaixava.

   Deixei duas moedas na mesa, e saí,caminhando pelo cais, ouvindo as badaladas do grande relógio indicando que eram quase três da tarde. Precisava me apressar se não quisesse enfrentar um dos sermões de Mamãe.

   Estava admirando as grandes mansões, quando lembrei da razão pela qual havia me apressado. Entrei em casa cuidadosamente, me esgueirando por paredes e pilares, havia um silêncio raro, que durou apenas até chegar ao meu quarto.

   Mamãe e duas empregadas, Helena e Abigail, estavam a minha espera.

   –Querida, não temos muito tempo, precisa começar a se aprontar imediatamente!-Mamãe ralhou.

   Assenti levemente com a cabeça, e Abigail começou a desabotoar meu vestido e desfazer os laços do espartilho, enquanto Helena libertava meus cabelos do coque elaborado, me lançando um olhar cúmplice.

   Céus!Como eu amava aquela garota! Convivíamos juntas desde pequenas, era minha melhor amiga, confidente e conselheira, que muitas vezes fora também a irmã mais velha que nunca tive.

   Entrei na banheira, e deixei que minhas preocupações evaporassem com a água morna, enquanto massageava o cabelo e ensaboava o corpo. Quando terminei, vesti um confortável roupão e, enrolei os cabelos em uma toalha.

   –Isso pertenceu a sua tataravó, ela as ganhou em seu primeiro baile de debutante e, essa tradição seguiu até chegar a mim. -Disse Mamãe, enquanto tirava uma caixinha preta do bolso de seu vestido.

   –Lembro-me do seu primeiro riso, de seus primeiros passos, de quando aprendeu a ler, de quando cismou que havia assombrações no sótão, e resolveu investigar com Helena... -Tentei permanecer séria, mas foi uma tarefa árdua. -Olho para você hoje e ah... Percebo que chegou o momento de fazer o que irei fazer, a partir de hoje elas pertencem a você! -Concluiu entregando-me a delicada caixinha.

   Sorri comovida, apesar de seu jeito rígido vez ou outra, sempre seria minha amada mãe.

   Quando abri a caixinha perdi o fôlego. Deparei-me com um magnífico conjunto de colar e brincos, de topázio preto.

   –Nunca vi joias tão belas em minha vida! -Sorri. -Obrigada!

   –Oh, Camille... -Ela me abraçou.

   Não tive muito tempo para refletir, logo as três mulheres presentes no cômodo, estavam a minha volta trabalhando com trajes, penteados e maquiagem.Eram tantas mãos sobre mim, que temi o resultado final.

   Porém, quando parei diante do espelho me surpreendi.

   Meu vestido era branco, o decote ia de um ombro ao outro, as mangas bufantes e a faixa em minha cintura possuíam delicados bordados com um pouco de brilho, justo até o tronco, com o espartilho dando um acabamento ainda melhor e, inúmeras camadas de tecido rodeavam minhas pernas. Meus cabelos estavam presos em um coque frouxo, e alguns cachos loiros molduravam minha face, que havia sido maquiada, destacando meus lábios pintados de vermelho. A pedra topázio de um preto intenso contrastava com meus olhos verdes.

   Pela primeira vez, realmente senti-me uma mulher. Olhando para o reflexo do espelho, percebi que uma nova Camille Lowell despertava, e essa era muito mais segura de si.

   Essa segurança durou apenas até estarmos dentro da carruagem, e Mamãe começar seu tagarelar incessável.

   –O Baile no Palácio será esplêndido, toda a nobreza estará presente, inclusive pretendentes valiosos!-Mamãe dizia triunfante.

   Reprimi um gemido, quase havia me esquecido disso.

   –Celina, as joias de sua tataravó ficaram ótimas em nossa menina. -Papai comentou,piscando para mim.

   Ele sempre tornava as coisas mais fáceis sem contradizer Mamãe. Óbvio.

   –Não posso negar, ela está estonteante!-Ela exclamou e voltou a Aquele assunto. -Soube que o Conde Rouchet estará...

   Parei de ouvir o que ela dizia, assim que avistei o Palácio.

   E se realmente meu futuro marido estivesse lá? E se eu fosse conhecê-lo? E se me aprisionassem a um completo estranho?E se... argh.

   Era apenas um baile, me convenci disso enquanto descia da carruagem. Respirei fundo ignorando todas aquelas sensações.

   Não aceitaria ser intimidada. Não seria. Pelo menos era o que achava, até aquele momento.

   Tão ingênua.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Porque até as estrelas queimam" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.