and i wanna come home to you escrita por SayakaHarume


Capítulo 2
02


Notas iniciais do capítulo

Minha Nossa Senhora da Bicicletinha, minha internet anda impossível
btw, qualquer menção a ligação nesse capítulo se refere a mensagem de íris
semideus não anda com celular, for god's sake



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Passado algum tempo, você tem aprendido todas as regras, os controles, e está pegando o jeito e está completamente viciado naquilo. É divertido, e tudo é tão fácil. Não tem como não ficar horas e horas jogando. É impossível. Até que aparece o primeiro chefão difícil. Você tem certeza na hora que o vê que vai tirar de letra, não é nada que você não possa enfrentar — e realmente acredita nisso —, até que se vê empacado, não sabendo desviar de seus ataques ou como passar por esse bicho. Mas você não pode desistir na primeira dificuldade, pode?

—x-

Talvez fosse melhor se eles estivessem brigando. Se não houvesse aquele silêncio no apartamento.

O fato era: eles não estavam falando e isso era pior do que qualquer grito.

Nico tentava não pensar demais sobre isso. Repetia para si mesmo que não era algo para se preocupar. Pessoas como eles, que sobreviveram a guerras juntos não se afastavam por coisa como distância. Porque era só isso, realmente. Distância. Will fora do acampamento para cursar universidade — NYU, ele jamais se separaria de Nova Iorque —, Nico dividindo seu tempo entre os acampamentos grego e romano não só a trabalho, mas também por segurança — ataques de monstros uma hora paravam de ser aventuras para serem apenas chatos —, uma vez que Nico ainda era filho de um dos três grandes.

Ainda existia aquela familiaridade do começo, com Will ainda ficando irritado quando Nico usava exageradamente viagem nas sombras...

— Não vivemos mais na Idade Média e você já tem mais do que a idade necessária pra ter carteira de motorista. Compra a droga de um carro!

... ou como Will ainda esperava acordado Nico chegar — seja de uma missão ou de uma viagem — e os dois acabavam adormecendo envoltos em uma coberta, em um silêncio que não era sufocante e que tinha gosto de casa.

—x-

Era apenas um daqueles dias.

Nico não se sentia mais assim com a frequência de antes. Provavelmente por ter sido forçado a parar de se isolar ou os anos de terapia em Nova Roma que ele começara por livre e espontânea pressão — deuses, Reyna podia ser assustadora —, ele tinha melhorado. Os dias ruins não eram tão ruins, e quando eram, ele sempre tinha Will por perto.

Exceto que dessa vez ele não tinha.

Will estava em época de exames e Nico tinha experiência o suficiente para saber que apesar de não parecer, ele conseguia passar por esses dias. Então quando Will lhe ligou antes de ir para a aula, Nico disse que estava bem da maneira mais convincente que podia e desejou boa sorte. E depois de desligar, se enrolou na cama do chalé de Hades resolvido a passar o dia inconsciente.

Quando Nico acordou, imediatamente teve sua atenção voltada pra o sanduíche que ele tinha certeza absoluta que não estava ali quando ele se deitou. Olhou para os lados, ainda desorientado, mas por fim, estava cansado demais para tecer teorias e se a criatura que tinha entrado no seu quarto não o tinha matado, não era um assunto de urgência.

Mal tinha voltado a dormir — ou talvez tivesse se passado algumas horas — quando novamente despertou, dessa vez para achar Kayla em seu quarto. Nico sentou-se em um instante, arqueando uma sobrancelha. A garota apenas ergueu as mãos em rendição, sorrindo constrangida.

— Will mandou mensagem de íris mais cedo pedindo pra gente manter um olho em você até ele chegar. Era suposto você nem perceber que a gente esteve aqui.

Nico queria responder. Queria estreitar os olhos e dar uma resposta mal-humorada sobre o excesso de preocupação de Will, o tipo de resposta que faria Kayla revirar os olhos e rir no instante que ela estivesse do lado de fora. Mas as palavras ficaram engasgadas em sua garganta e ele apenas assentiu.

Ele não queria se sentir ainda mais sozinho agora que sabia que Will de longe estava cuidando dele, mas ainda assim, ele sentia.

Nico estava acordado quando Will chegou, mas não tinha certeza se conseguira retribuir o cumprimento que Will lhe dispensara enquanto caminhava até sua cama. Os barulhos dentro de sua cabeça estavam altos demais para se concentrar em qualquer outra coisa. Porém Will sabia, ele sempre sabia, então ele enrolou os dois na coberta e os dois ficaram ali sentados, com Will abraçando-lhe pelos ombros e Nico ouvindo as batidas do coração do namorado.

—x-

— Eu nem sempre te falo, mas você sempre sabe quando eu estou tendo um dia ruim — Nico comentou em uma tarde que, em uma ironia do destino, era ele que fazia um curativo em Will, que fora meio chamuscado durante uma caça à bandeira e a culpa era inteiramente de Leo. — Como você sabe?

— Eu conheço você. — Will sorriu por um instante antes de deixar a preocupação dominar seu rosto. — Mas sabe, você deveria me contar. Eu sei que você lidou com tudo isso por anos sozinho, mas você não precisa mais.

— Depressão não presta — Nico resmungou, ainda se concentrando na atadura. — Eu nem lembro como eu era antes, não realmente. Eu lembro das coisas óbvias, deuses, eu até lembro um pouco da Itália, mas não como eu costumava... pensar. Sinto falta da Bianca — confessou, por fim. — Ela era a pessoa que me conhecia. Eu morri um pouco, sem ela.

Will retirou seu pulso de entre as mãos de Nico e segurou-lhe o rosto antes de beijar a ponta do nariz e a testa do namorado.

— Eu sinto muito, Nico — sussurrou.

— Tá tudo bem. — Nico deu de ombros e sorriu discretamente, ainda um pouco triste. — As coisas estão melhores agora.

—x-

As coisas não estavam melhores.

Decididamente não estavam piores, mas enquanto olhava para o espaço caótico da cozinha, a palavra melhoria ou qualquer uma de suas variantes decididamente não passava pela cabeça de Nico.

— Que porra é essa? — Ele ia colocando sua jaqueta em cima do balcão, mas ao ver as quantidades de farinha, mudou de ideia.

No meio de tudo aquilo, estava Will. Sua face suja de farinha e chantilly, tentando se encolher dentro do avental que vestia. Uma visão que Nico até chamaria de adorável dentro de sua cabeça se ele não estivesse puto de raiva.

— Eu posso explicar. — Will mordeu o lábio. — Eu estava tentando fazer um bolo...

— Você assassinou um bolo e foi uma luta e tanto...

—... eu meio que tive um dia estressante na faculdade e cheguei mais tarde do que imaginei...

— E você então decidiu descontar na cozinha?

—... não era pra você ter encontrado essa bagunça! — Will cruzou os braços, sem jeito. — Era pra ser uma surpresa.

— Bem, eu fui bem surpreendido. — Nico arqueou uma sobrancelha.

— Uma surpresa boa, idiota. — Will revirou os olhos. — Eu sei que a cozinha está uma zona, mas daqui a trinta minutos, vai sair um bolo do forno! — disse animado, mas depois fez uma careta. — Bem, provavelmente.

— Will, eu amo você, mas por favor, fique longe da cozinha. — Nico passou a mão pelo cabelo, tentando já pensar em uma estratégia de limpeza. — Nós dois sabemos que você só é especialista em comida de micro-ondas.

— Hoje era pra ser especial — Will, abaixando os braços em frustrada derrota, gemeu tão baixo que Nico quase não ouviu.

— O que? — Nico se alarmou. — Eu esqueci alguma coisa?

Porém, antes que Nico terminasse de vasculhar sua memória por alguma comemoração esquecida, Will, depois de um segundo de pânico, deixou que a determinação lhe dominasse e, depois de tirar algo do bolso de seu jeans, se ajoelhou na frente de Nico.

— Casa comigo? — O jovem era metade determinação e metade pânico com uma cobertura de ansiedade.

O cérebro de Nico entrou em curto-circuito.

— Nossa, você realmente não quer que eu fique irritado com você, não é? — Foi o que ele conseguiu responder.

Will revirou os olhos, mas seu nervosismo não cedeu.

— Foco, Nico.

— Não me entenda errado, eu só quero tirar isso do meio do caminho, mas você lembra que só vai completar vinte anos próximo mês? — Nico se ajoelhou na frente de Will, tomando cuidado para não tocar no ovo quebrado no chão.

— Eu não me importo! Muitas pessoas se casam antes dos vinte.

— É, no século passado. Hoje a maioria espera pelo menos terminar a primeira parte da graduação. — Nico tentou limpar um pouco da farinha no cabelo de Will. — Por que você está me pedindo agora?

— Isso é um não? — Will parecia tão desapontado que Nico quase desistiu do que estava tentando fazer.

— Eu só estou tentando entender o que está acontecendo aqui. — Nico deu de ombros. — É uma decisão séria, sabe.

Will suspirou e se sentou no chão, as costas apoiadas no balcão, e logo Nico sentou-se ao seu lado.

— Eu não sei... Nos últimos tempos eu tenho notado que você tem tido períodos ruins, e eu sempre estou preso na faculdade e eu não quero que você pense ou se sinta abandonado. — Will escondeu o rosto nas mãos. — Talvez eu tenha exagerado um pouco.

— Eu não vou dizer que tem dias que eu estou um lixo humano, mas, racionalmente falando, eu sei que você vai voltar e tal. — Nico não era a melhor das pessoas expressando os próprios sentimentos, mas ele estava tentando. — E quando eu estou em crise não tenho como realmente controlar o que penso e sinto, mas isso não é sua culpa.

Will abaixou as mãos e sorriu discretamente, olhando para Nico, e pegou a mão do namorado entre as duas.

— E quanto ao pedido de casamento... — Nico se amaldiçoou ao sentir seu rosto esquentando, mas teimosia também podia ser uma benção. — Consiga seu diploma e podemos falar sobre isso outra vez.

— Sabia que você só tinha interesse em alguém pra te sustentar — Will falou brincalhão, aliviando o clima na cozinha.

— Com certeza não estou com você pelas suas habilidades culinárias. — Nico revirou os olhos. — Até porque — apontou com a mão livre para o forno, onde podia-se ver pelo vidro um monstro biológico ganhando vida. — aquilo não é um bolo.

— Oh, merda.


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