Fate/ Siege of Truth escrita por Raguer, Nobody


Capítulo 1
Prólogo - Os dias antes da Guerra - Parte I


Notas iniciais do capítulo

O prólogo é grande e vai ser dividido em duas partes. Esta é a primeira, espero que gostem e boa leitura~ ♥



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[10 anos atrás]

Finalmente acabara. Finalmente a maldita guerra tinha chegado ao fim.
No meio dos escombros, uma garota ferida, suja e ensanguenta permanecia no chão, ajoelhada junto do corpo do ultimo mestre a cair. Ele ainda respirava com dificuldade, suplicava pela sua vida, enquanto olhava para os olhos vermelhos dela. Aqueles olhos vermelhos cheios de ódio, e com ausência de piedade.
— Saber, acaba com ele. - Ordenou, firmemente, sem qualquer tipo de hesitação. - É uma pena que isto tenha que acabar assim.
Uma mulher loira aproximou-se e com a sua espada da cor da iris da garota e num gesto rápido, penetrou a barriga do homem, acabando por fim o seu sofrimento.
Com isto, vencera, o graal finalmente era seu.
Némesis - seu nome - abaixou a sua cabeça. Com as costas da mão limpou o sangue que tinha pingado na sua cara e deixou com que os seus cabelos escuros tapassem o seu rosto. Ficara assim por uns momentos até se levantar e ir até ao cálice que emanava uma luz dourada forte.
Sorria. Haviam lagrimas nos seus olhos, mas ria, ria enquanto segurava nas duas mãos a recompensa de todo o seu esforço. Olhou para trás, e acenou para a mulher de negro que ainda estava ali, sacudindo o sangue da sua arma. Agradeceu, quase num sussurro inaudível, enquanto estendia a mão em sua direção.

Uma forte luz iluminou o antigo prédio, e quando cessou, a serva, sua mestra e o cálice tinham desaparecido, deixando para trás caído num degrau um pendente de cristal em formato de gota.

[Presente]
[Aeroporto de Fukui]

Pouco a pouco o avião ia perdendo altitude e alcançando a pista. Cláudia observava a bela vista da cidade, enquanto agarrava firmemente no pendente de cristal que trazia ao pescoço.
— Irmã... Eu sinto tanto a tua falta. - Suspirou, enquanto relembrava o rosto da falecida irmã mais nova. Quando deu por si, o avião já tinha aterrado e as pessoas tinham começado a sair.
Pegou a bagagem de mão, e a única que trazia, e dirigiu-se lentamente para a saída. Estava nervosa, depois de anos a estudar magia em Inglaterra era a primeira vez que estava regressando para a sua cidade natal. Tinha deixado tudo para trás, e agora regressava.
Ao sair das portas do aeroporto sentiu um cheiro nostálgico. As pessoas entravam e saiam apressadas de seus carros, empurrando-a ocasionalmente para não perderem tempo, mas ela não parecia ligar. Ficou observando a rua durante um tempo e depois fechou os olhos, apreciando os aromas do seu pais de origem.
Os seus devaneios foram interrompidos por um garoto mais ou menos da sua idade,segurando uma mala de pele com o símbolo da Clock Tower cravado nela.
— Você é a garota que estava no meu lado durante o voo, não é mesmo? - Ele sorria. A garota assentiu com a cabeça, não tirando os olhos do emblema que ele tinha na sua bagagem. - Oh, você notou.
— Bem me parecia que tinha um outro mago naquele avião. - Cláudia devolveu o sorriso, e cruzou os braços. - Sinto-me idiota por não ter notado antes que era você.
— Você também estuda lá não é mesmo? - Perguntou. - Poucos magos vão para Inglaterra sem ser para estudar lá.
— Eu posso estudar em Hogwarts. - Ela riu, e pegou na sua mochila, colocando-a sobre o ombro. - Agora se me dá licença, tenho que ir. Já perdi tempo demais.
— Oh, e para onde você vai? - O garoto agarrou no seu braço e a impediu de ir embora.
— Para Amakusa. Não é muito longe daqui, posso até ir a pé.
— Que coincidência, também vou para lá. O meu pai chamou um motorista para mim, eu posso te dar boleia.
— Sério, não precisa se incomodar. Eu me viro bem sozinha, eu cresci aqui, conheço a cidade melhor que ninguém. - A morena continuou andando, deixando o outro mago para trás. Acenou para ele, e agradeceu rapidamente antes de prosseguir o seu caminho.
Depois de um tempo andando, Cláudia se arrependeu de não ter aceitado logo a boleia do garoto. Os seus pés doíam devido ás botas de salto alto que tinha calçado, e sentia a mala cada vez mais pesada, apesar de ter trazido poucas coisas. Decidiu descansar um pouco e tomar um mocha de chocolate num café ali perto enquanto pensava sobre a vida.
Sentou-se à janela e começou a observar tudo o que a rodeava. Pelo vidro viu duas garotinhas correndo e lembrou-se de si e da sua irmã. Sentiu algo quente e molhado escorrendo pelas suas bochechas e percebeu que estava chorando.
— Némesis, eu vou te encontrar. - Disse, olhando para o pendente de cristal que emanava uma luz azul fraca, mas ainda assim forte o suficiente para fazer a garota se assustar. Nunca tinha acontecido algo parecido antes, e isso a fez estremecer. Olhou em volta procurando alguma fonte de luz que talvez tenha se refletido no cristal, mas nada encontrou, e o pequeno objeto continuava emitindo aquele brilho esquisito.
Ainda perturbada, a garota pagou a bebida rapidamente e saiu do café correndo, em direção do cemitério onde estava localizado o túmulo da irmã. Nunca tinham encontrado o corpo dela na verdade, mas ainda assim fora construida uma pequena sepultura para orarem pela garota, onde quer que ela estivesse. A ultima vez que foi vista tinha sido à exatos dez anos, num prédio abandonado nos arredores da pequena cidade de Amakusa. Tudo o que fora encontrado na altura tinha sido o pendente, aquele pendente que Cláudia trazia sempre consigo.
Na entrada do cemitério, o cristal reluzia cada vez mais e o azul que outrora era claro e quase impercetível era agora um vermelho forte. O coração da morena batia cada vez mais rápido a cada passo que dava, as suas pernas cambaleavam um pouco, as suas mãos tremiam e chorava cada vez mais. Subiu o morro com alguma dificuldade, as pessoas a olhavam com repulsa e a desprezavam, outras comentavam entre si o que se passava, mas logo depois ignoravam e continuavam os seus rituais.
Quando chegou ao sepulcro atirou a mochila para um canto e caiu de joelhos sobre a pedra. Naquele momento a luz do pendente desapareceu e o fio se quebrou, fazendo com que o cristal caísse no chão, ficando completamente destruído. Confusa, a garota apenas reuniu cada pedacinho e colocou no bolso do casaco. Fez a sua oração e sacudiu o resto das lágrimas, estava mais calma agora.
Não era de todo o seu plano ir até ali, doia, fazia lhe relembrar momentos que preferia esquecer. Mas agora que lá estava, não fazia sentido ir embora. Percebeu que o túmulo estava meticulosamente arranjado, as flores eram recentes e parecia que a vela tinha sido acendida a pouco tempo. Passou a mão pela inscrição na pedra “Onde quer que esteja, que Némesis Nakamura descanse em paz” e fechou os olhos.
— Irmã... Eu peço desculpa por não ter vindo antes, mas eu estive estudando magia em Londres durante estes anos todos. Eu fiz uma promessa ao papai que te iria encontrar sabe, eu prometi para ele antes de falecer. Ele sempre teve esperança que você estivesse viva algures, e eu também acredito que você não partiu. Eu vou te encontrar, eu vou participar na Guerra do Santo Graal e eu vou a ganhar, eu vou ganhar por você, acredita em mim. - Fez uma pausa e levou a mão ao bolso, retirando de lá o cristal destruído. - Bem, ele se quebrou, me desculpa por isso. Agora tenho que ir embora. Provavelmente o artefacto já chegou no meu quarto da faculdade e eu quero preparar o ritual logo. Bem, isto é um até já certo? Espera por mim.
Quando acabou, Cláudia se levantou e sacudiu a poeira dos seus joelhos, sorriu, e colocou sob o túmulo o resto do pendente quebrado. Sem olhar para trás desceu o morro, em direção à saída. A tarde estava acabando, e o sol estava se escondendo. Olhou para o céu e observou as belas cores que o coloriam, laranja e rosa, parecia uma tela.
Chamou um táxi e sentou-se no banco de trás, observando pela janela o por do sol que a encantava. Em Inglaterra não havia pores do sol assim, ou pelo menos ela não os notava, pois estava sempre confinada no seu quarto estudando e treinando magia para se tornar cada vez mais forte. Esta era a primeira vez em anos que aproveitava a beleza das coisas, e se sentia bem por isso, mas não podia ignorar a sua missão de ganhar a guerra para se reencontrar com a sua irmã mais nova.
Quando chegou no Campus da faculdade já era de noite, as estrelas brilhavam no alto e a lua parecia imensa. Entregou os seus documentos ao guarda e seguiu em frente, até que notou que não sabia onde eram os dormitórios e não haviam placas que o indicassem.
— Esta perdida? - Um garoto loiro mais ou menos da sua altura chegou junto dela. Os seus olhos eram de um tom vermelho hipnotizante e a sua palidez era quase surreal. Ele sorria de uma forma reconfortante, e segurava um livro nas suas mãos.
— Oh, para ser honesta sim. Eu acabei de chegar e estou procurando os dormitórios. - Respondeu, coçando a nuca um pouco envergonhada.
— Vem, eu te mostro, novata. - Ele guardou o livro na sua mochila e começou a andar. - Oh, que má educação, eu me chamo Takeru Yukki.
— Cláudia. Cláudia Bond.
— Não sabia que a aluna nova era da família do James Bond. - Ele se voltou para ela e riu.
— Agora falando a sério, o meu nome é Cláudia Nakamura. Prazer em te conhecer, Takeru.
— Nakamura? - O loiro parou por uns momentos, mas logo sacudiu a cabeça e seguiu em frente. - Chegamos.
— Obrigada. - Ela sorriu para ele e acenou, antes de entrar para o edifício. - Nos vemos amanhã? Vou tentar não me perder desta vez.
— Até amanhã, Nakamura-san. - Ele ficou observando ela durante uns segundos, até que a garota desapareceu do seu campo de visão. Suspirou e então deu a volta e foi em direção ao dormitório masculino. - Nakamura, hein? Não sabia que a Némesis tinha uma irmã.

[2 semanas atrás]
[Andrew Shaefer - Escola de magia Clock Tower]

— Entende a importância desta missão, correto? - Lord Julius Schaefer II estava de costas para o filho, que o observava de pé à frente da grande secretária de madeira escura.
— Sim pai, eu não irei te desapontar. - Respondeu. O homem virou a cadeira e apoiou os braços na mesa, o olhando.
— Eu sei que você não me irá desapontar, é um dos maiores e melhores magos que temos aqui. No entanto, não esperava que você aceitasse. - Retirou do bolso do casaco um envelope branco, e o entregou ao garoto. - Aqui está uma passagem para Fukui. É aqui que a guerra irá se desenrolar.
— Obrigado por confiar em mim, pai. - Shaefer saiu, colocando o envelope dentro da sua mochila. Fechou a porta do escritório do pai e seguiu para a sala de aula. - Pfft, nem um boa sorte, hein?!
Á medida que foi passando pelos corredores outros magos o aplaudiam, pelos vistos as noticias corriam rápido. Todos sabiam que ele era um dos mais poderosos, e isso o orgulhava de certa forma, apesar de também o assustar um pouco. Sentia-se confiante, mas ao mesmo tempo tinha medo de desiludir o seu pai, desiludir a escola toda e desiludir a si mesmo.

[Presente]
[Aeroporto de Fukui]

A morena continuou andando, deixando o para trás. Acenou para ele, e agradeceu rapidamente antes de prosseguir o seu caminho. Andrew acenou de volta, mas ela já se tinha infiltrado no meio da multidão. Pegou no celular topo de gama e ligou para o seu pai, sentando-se em cima da mala de viagem.
— Cheguei. - Anunciou. - E encontrei uma outra maga. Acho que ela também vai participar na guerra. Não acredito que um mago poderoso tenha vindo para Amakusa nesta altura só para ter momentos de lazer.
— Você conseguiu alguma informação acerca dela? - Uma voz grossa soou no outro lado da linha. - É importante conhecer os seus oponentes, mesmo que seja apenas uma teoria.
— Não falamos muito. A única coisa que sei dela é que cresceu aqui e estuda na nossa escola. - Disse, hesitando um pouco. - Acha que você consegue descobrir o arquivo dela apenas com isto? Não deve haver muitos estudantes japoneses vindos desta cidadela no fim do mundo.
— Vou tentar. Agora tenho trabalho a fazer e acredito que o seu motorista esteja chegando. Me liga quando estiver no hotel. Até.
— Até. - Desligou, se despedindo de uma forma seca. Não é que tivessem um mau relacionamento mas estava magoado com toda aquela situação. Será que seu pai se importaria se o seu filho morresse na guerra?
Naquele momento sentiu uma presença nos arredores. Não era uma aura tão poderosa quanto o da garota de antes, mas sentia que um mago estava por perto e cada vez mais próximo de si. Olhou em volta, mas o fluxo de pessoas que chegavam e partiam estava cada vez maior e isso dificultava tudo. No meio da confusão, um garoto que tinha acabado de sair chocou contra ele, pediu desculpas num japonês meio ruim e entrou para um dos muitos táxis que ali estavam à porta. Era ele, era esse o mago. Mas deveria-se preocupar? Um mago fraco não teria porque entrar numa guerra, sabendo que outros seis magos poderosos estariam nela. Era suicídio de certo, a menos que tivesse com ele um servo incrivelmente forte.
Quando deu por si, o motorista já tinha chegado e o esperava pacientemente à frente da porta do carro, a segurando. Andrew agradeceu e ajudou o homem a colocar a sua mala na bagagem do carro. Entrou e então notou uma caixa no banco com o seu nome escrito. Abriu, nela estava um pedaço de pano negro rasgado devido ao tempo que passara, ainda assim, era possível a reconhecer como uma bandeira pirata. No entanto, não era uma qualquer, pertencia ao grandioso navio Calisco Jack, como indicava num envelope junto a um bilhete de seu pai.
“Querido filho, desculpe por não te poder acompanhar nesta viagem mas você sabe que tenho a escola para gerir. O motorista, Charles, é um antigo amigo da família e ele vai te ajudar em tudo o que você precisar. Antes de invocar o seu servo, gostaria que você lesse sobre elas no livro que te ainda hoje vai ser entregue ao chegar ao hotel. É importante as conhecer e ser amigável para elas, porém autoritário. Use os seus selos de comando com precaução, eu confio em você e sei que vai ganhar. Não deixe o emocional te afetar e mate se necessário, não tenha piedade com ninguém. Isto é guerra, é um jogo onde você mata ou é morto. Com amor, o seu pai.”
Sorriu, aquelas palavras tinham sido o suficiente para o reconfortar e devolver a sua confiança. Voltou a meter a tampa e colocou a caixa no seu colo e se encostou no banco de trás.
— Senhor, não o quis incomodar antes, mas eu devo-me apresentar. O meu nome é Charles, e é meu dever te proteger enquanto você está de visita. Se se sentir ameaçado, me liga, ou se tiver algum outro problema. Para além de seu motorista, eu sou teu guia e guarda costas. - Disse, o olhando com ternura pelo espelho. Era óbvio que aquele homem tinha muito carinho pela sua família.
O carro parou na fachada de um hotel, um dos mais belos e caros da região. O seu pai tinha caprichado, a arquitetura era antiga e tinha um aspeto de um palácio, com capitéis e colunas de pedras com belíssimas decorações cravadas. Na frente, havia um pequeno jardim, com uma estatueta de um anjo no meio de um lago cheio de peixes laranjas e castanhos. Não era uma decoração muito típica do Japão, e lembrava mais hotéis caros da Europa. Isso o faria sentir em casa.
— Então chegamos. - Agradeceu e estendeu a mão para o mais velho que a apertou firmemente. - A partir de agora eu vou sozinho, não precisa de me ajudar. Qualquer coisa eu te ligo. De novo, muito obrigado.
Saiu do carro, pegou na caixa com o artefacto e na sua mala e seguiu para a receção do hotel. Novamente sentiu a presença de um mago no recinto, o mesmo de antes talvez.
— Merda, hotel caro da porra! - Ouviu uma voz masculina gritando em inglês. Era o mesmo garoto de antes, aquele com que tinha esbarrado no aeroporto. Os seguranças o estavam expulsando enquanto ele esbracejava e gritava um monte de atrocidades que fazia os hospedes presentes rir um pouco. Mais uma vez o mago o ignorou, achando que aquela pessoa era demasiado fraca para ser seu rival.
Fez o check in e dirigiu-se para o elevador, apertou o número cinco e esperou que chegasse ao seu andar. Ao chegar no corredor, procurou o número de seu quarto e colocou a chave na fechadura, rodou-a e entrou.

[Tarde anterior]
[Diego Curt - Museu de História (Florida)]

— Seguindo por este corredor vamos entrar na nossa mais recente exposição. - A Guia falava com uma voz irritante. Era baixa, gordinha, usava uns óculos que lhe caiam do nariz e tinha um cabelo curto e ruivo, cheio de brancos. - Os assassinos em série mais famosos da história! Interessante não é mesmo?
O grupo de turistas a seguia, com as maquinas fotográficas em mão e as mochilas ás costas que lhes davam um aspeto de tartarugas. Muitos deles não ligavam realmente para a explicação da mulher, e passavam maior parte da visita tirando fotos a tudo o que viam à sua frente.
No meio deles, um garoto se destacava. Não parecia ser estrangeiro, era diferente dos demais que ali estavam e segurava um livro de aparência incomum. As páginas eram escritas à mão, já estavam bem amareladas e a capa parecia ser de couro avermelhado, dando um aspeto bem valioso. No entanto, o garoto não parecia ser exatamente alguém rico ou de muitas posses, vestia um moleton cinza bem básico e calçava uns all star sujos, algo bem típico de um adolescente comum de classe média.
— Estas são as adagas do temível Jack, o Estripador. - A mulher abriu o vidro e segurou as armas bem nas suas mãos, as exibindo para todos os que estavam na sala. - Este assassino aterrorizou Londres no século 19, e é um dos mais conhecidos da história da humanidade.
Diego fechou o livro e fitou as lâminas. Olhou de relance para a capa e passou a mão pelas letras negras cravadas na pele encarnada: “Diário de Ryouma Kuroshiki - Sobrevivente da 5ª Holy Graal War”. Participar na guerra o iria tornar num mago ainda mais habilidoso, bem, era isso que ele pensava ao menos. Na verdade, era mais uma sentença de suicídio, mas ele não sabia disso, ou apenas ignorava o destino que o esperava, cego pelo poder que desejava. Guardou-o na mochila que trazia ao ombro e saiu do museu, em direção à paragem de ónibus que o levaria até sua casa. Estava decidido, naquela madrugada ia para Fukui.
Depois de esperar um pouco, o seu transporte tinha chegado. Entrou, entregou o dinheiro para o cobrador e sentou-se num dos últimos lugares à janela. A viagem ainda era longa, pegou no seu celular, colocou alguma música no aleatório, tirou o diário e o continuou a ler, esperando não ser incomodado durante o trajeto.
Ao chegar no seu ponto, saiu, acenou para o motorista e continuou andando um pouco mais, entrando depois para o bairro onde morava. Descendo a rua, notou algumas crianças que brincavam no meio da estrada com uma bola toda rasgada. Uma delas chutou-a para junto de si e o garoto a apanhou e ao olhar para o estado do objeto pensou que talvez conseguisse o recuperar com um pouco de magia. Sem ninguém notar, apertou-a com as duas mãos e começou a sussurrar umas palavras. Um feixe de luz emanava do brinquedo, e pouco a pouco a bola ia ficando como nova. Chutou-a de volta para as crianças que o olhavam maravilhadas, e ele apenas sorriu e foi em direção à sua casa.
Ao abrir o portão, fora recebido pelo seu cachorro e grande companheiro, Rex. Acariciou o animal e pegou as chaves que estavam escondidas no vaso, abrindo a porta.
— Como foi o museu, Diego? - A sua mãe gritou da cozinha. - Aprendeu muito ou só foi para lá gastar dinheiro?
— Alice, você não sabe que agora não se paga? - O seu pai estava na sala, lendo o jornal e ouvindo o relato do jogo de basketbol que passava na rádio. - Você fez muito bem em sair de casa e fazer algo cultural, filho, melhor que ir para bares como os outros adolescentes da tua idade.
— É, hoje estava uma exposição sobre assassinos em série famosos ao longo da história. - Respondeu, não parecendo muito interessado em continuar a conversa. - Vou para o meu quarto acabar de ler o meu livro.
— Está tudo bem? Você parece estranho. Geralmente fica mais entusiasmado quando tem exposições assim. - A mulher perguntou, preocupada. Secou as mãos com um pano e tocou na testa tentando medir a febre do filho, que apenas assentiu com a cabeça. - Quando o jantar estiver pronto eu te chamo, ok?
— Não tenho fome, comi um hamburguer antes de ir embora. - Mentiu. Diego se afastou, e foi por fim para os seus aposentos. Colocou a mochila sobre a cadeira e sentou-se na beira do colchão. Estava ainda um pouco hesitante com toda aquela situação, mas não podia desistir. Não podia contar a verdade aos pais, que obviamente nunca permitiriam que ele se envolvesse em algo do tipo. Desde muito novo tinha sido muito protegido relativamente à magia, e tudo o que sabia tinha sido através de livros que tinha encontrado na garagem.
Abriu o armário e pegou em alguma roupa, colocando-a de qualquer jeito num antigo saco de ginásio. Fechou-o, colocou-o debaixo da cama e voltou a ler o seu livro, esperando que os seus pais fossem dormir.
Quando era por volta da meia a noite, a sua casa estava num profundo silêncio. Cuidadosamente, pegou nas suas coisas e abriu a janela. Respirou fundo e colocou a primeira perna para fora, depois a segunda e saltou para o quintal evitando fazer barulho. Rex começara a latir, achando ser um intruso, e rapidamente o garoto fez um gesto para o mandar calar. Acariciou a cabeça do cachorro uma ultima vez antes de partir e o abraçou.
— Eu vou voltar, eu prometo. - Murmurou. Olhou para o seu lar, para a janela dos seus pais e mordeu o lábio inferior. Era um até logo, ou era um adeus. Nada lhe garantia que iria voltar vivo, mas tinha confiança. Dirigiu-se à caixa de correio e colocou um envelope nela, era a sua carta de despedida relatando a sua decisão.
Correu pelo bairro até chegar na paragem, o ultimo ónibus em direção ao Museu de História estava quase passando. Estava sozinho ali, e estava nervoso, com medo que fosse apanhado antes do tempo.
Quando o veiculo chegou, subiu, tirou desajeitadamente algumas moedas do seu bolso e a entregou ao motorista. Estavam apenas mais duas pessoas lá dentro, que o olhavam fixamente. Ignorou, achando que era apenas coisa da sua cabeça e se sentou no mesmo local de antes. A sua perna tremia devido à ansiedade e a música não o conseguia acalmar. Decidiu abrir o livro de feitiços, mas estava demasiado desconcentrado para ler. Acabou por ficar observando as luzes da cidade passando enquanto batia com os dedos no banco da frente.
— Está fugindo de casa, garoto? - Uma garota ruiva sentou junto dele e sorriu.
— O-O que? - Corou, não tirando os olhos da rua. - Eu estou indo me encontrar com uns amigos.
— Sério mesmo? Duvido. - Ela riu, debochando dele. - Está tremendo desde que entrou aqui, e vem com esse saco atrás.
— M-Mas eu não estou. - Diego a olhou. - E-Eu...
— Não precisa continuar, eu já entendi. - A ruiva se levantou e carregou no botão de “stop”. Acenou para ele e se preparou para descer naquele ponto. - Cuidado, Fukui pode ser perigoso nesta altura do ano.
Ao ouvir estas palavras o garoto estremeceu, o seu rosto ficou tão pálido que parecia um fantasma. Durante o resto da viagem ficou pensando naquilo, e em possíveis explicações. Será que tinha ouvido bem ou foi um truque de sua mente? Seria ela também uma maga e iria participar na guerra? Pensou várias vezes em voltar, mas estava cada vez mais perto do seu destino. O plano era fácil e se tudo corresse bem, ainda naquela madrugada estaria voando direto ao Japão.
— Até à próxima! - Gritou, ao sair na paragem do museu. Naquele momento, tudo o que ouvia era o seu próprio coração batendo cada vez mais rápido e a sua respiração. Era como se apenas estivesse ele ali, ele e a entrada do grandioso monumento. Olhou em volta, não havia ninguém pelas ruas, carros não passavam, estava deserto. Devia ser por volta da uma da manhã, como calculado, devia ter tempo ainda para apanhar o próximo voo ás duas e meia. Só tinha que roubar as adagas e chamar um táxi direto ao aeroporto.
Pegou no livro de feitiços e procurou por entre as marcações nas páginas as palavras para destrancar fechaduras, leu as para si e o fechou. Cerrou os olhos e esvaziou a mente, levantou a mão direita em direção ao portão e recitou calmamente o que havia decorado.
— Efatá! - Nada. A porta nem se movera. Repetiu um pouco mais alto, de forma mais autoritária. - Efatá!
Quando ouviu o som das grades se abrindo, sentiu um enorme alívio. Repetindo o feitiço, invadiu a casinha do segurança e procurou o molho de chaves que lhe garantiam entrada no resto do edifico. Tinha que poupar mana para controlar os guardas ou qualquer outro tipo de testemunho que pudesse vir a encontrar. Antes de ir embora, desligou as câmaras de segurança e os alarmes das alas em que iria passar e então seguiu para as traseiras do prédio.
Não era propriamente uma missão fácil para alguém que nunca tinha feito algo parecido antes.
— Ei você! Não pode estar aqui a estas horas! - No momento em que estava prestes a abrir o acesso aos fundos ouviu uma voz vindo por trás de si e passos cada vez mais próximos. - O que está fazendo?
— Estou procurando o meu gatinho! - Respondeu rapidamente. Sem nem pensar duas vezes, escondeu o chaveiro no bolso das suas calças e levantou o braço. - Imperium lemmas!
Os olhos do homem mudaram de coloração para algo acinzentado, fosco e quase ausente de vida. As suas feições faciais estavam neutras e a sua pose era quase robótica. O feitiço funcionara.
— O que deseja, mestre? - Perguntou, quase não movendo os lábios e fitando o vazio.
— Me leve até ás lâminas de Jack, o estripador. - Ordenou, com a voz um pouco trémula e ainda meio hesitante. Estendeu-lhe as chaves e o seu servo enfeitiçado as usou para abrir a tranca da porta.
— Certo. - Começou a andar, e o garoto o seguiu, ainda espantado com o que conseguira fazer.
De noite, todos aqueles artefactos e objetos antigos tinham um ar sombrio e assustador. Os olhos dos manequins de cera pareciam o seguir e julgar, por trás das vidraças grossas. Tentou ignorar o seu medo e continuou, agarrando a manga da farda do seu guia.
— Aqui está. - O segurança informou. E deu meia volta, entrando no elevador no fundo do corredor. Diego finalmente encontrou o que procurava, uma grande placa dizendo “Exposição: Assassinos em série” demarcava o lugar. Sorriu ao ver as adagas brilhando no seu mostruário, bem no meio do salão, como se estivessem chamando por si. Cautelosamente, se aproximou delas e abriu o vitral, as pegando uma em cada mão e as segurando no alto fazendo-as refletir a luz do exterior que entrava pela janela.
Guardou-as no saco, embrulhou-as nas suas camisetas de forma desajeitada e colocou-as bem no fundo da sacola. Lançou um último olhar para a vitrina vazia e virou as costas. Era hora de ir embora.
Saiu correndo dali o mais rápido possível e só parou quando avistou de longe uma praça de táxi do outro lado da rua.
No único veículo estacionado, o motorista estava dormindo, o que pelos vistos indicava que não tinha muito serviço naquela altura. O garoto bateu no vidro, acordando o homem que pulou assustado. Quando se recompôs, fez um gesto para que entrasse. E então o jovem mago sentou-se no banco, e cumprimentou o homem.
— Para o aeroporto por favor. - Disse. O taxista assentiu com a cabeça e ligou a ignição do carro. A viagem fora rápida e silenciosa, tudo o que se ouvia era o motor e a música jazz que tocava na rádio. Ao chegar, se despediu e seguiu as direções para a zona de partidas. Novamente, abriu o seu livro de magia, folheou-o agilmente e procurou o feitiço certo. Faltava meia hora para embarcar.
— Cara, vai logo ao banheiro. Ainda são doze horas até Fukui e a cabine está sempre ocupada. - Dois homens conversavam junto da passagem reservada à tripulação. Vestiam um terno azul escuro,com detalhes dourados nas mangas e nos botões e usavam uma gravata vermelha. Um deles, possivelmente o piloto, tinha uma águia bordada no peito e segurava o chapéu debaixo do braço. Depois de uns momentos, um deles se afastou em direção aos quartos de banho e Diego o acompanhou, era a sua chance.
— Imitatio Oculorum. Me mutario illac humanus, me dare id suus vultus, me cohibeo quomodo hic hominem. - Começou a recitar as palavras que havia decorado anteriormente. Pouco a pouco a sua aparência ia mudando e o homem na sua frente estava cada vez mais pálido, como se a sua vida estivesse sendo sugada. Caiu no chão, desacordado e o garoto, agora com a figura do tripulante, o trancou num box e se olhou ao espelho. - Hm, fico bem legal com barba e cabelo claro.
— Nathan! Estamos quase embarcando. - O piloto de antes aparecera, chamando por si. O loiro saiu, com um sorriso nos lábios enquanto ajeitava a gravata. Estava orgulhoso, naquela noite tinha provado a si mesmo que a sua magia não era tão fraca assim.

[Presente]
[Hotel Grand Palace - Amakusa]

— Merda, hotel caro da porra! - Gritou para a rececionista que o olhava confusa. A mulher fez um sinal aos seguranças e eles o pegaram pelos braços o arrastando para fora dali. Debatia-se, no entanto sem sucesso algum e acabou por desistir. - Me larguem porra.
Ao ser expulso do edifico, sentou-se na calçada, não parando de xingar todos os que passavam por ali. Tinha tentado controlar a atendente, mas a sua mana estava fraca devido ao disfarce no avião. O que lhe restava era encontrar um sitio mais barato para ficar com o pouco dinheiro que tinha trazido consigo.
Saindo de um carro blindado, um homem com uma batina negra veio até ele, com um papel nas mãos.
— Sabe, você não deveria xingar assim as pessoas. - Ele disse calmamente, estendendo o folheto com uma imagem de Deus. - Ligue para este número, vá à igreja, você precisa de se purificar.
— Ah cala a boca, seu otá... - Ao olhar para o panfleto notou algo peculiar na mão do padre. Pegou no papel e observou com mais atenção as marcas, eram selos de comando, tinha a certeza disso. Levantou-se rapidamente, ainda confuso e meio atordoado e bateu contra uma figura feminina que estava saindo do veículo carregando algumas malas. Fitou os seus olhos verdes e logo a reconheceu, era ela, era a garota do ónibus que sorria para ele mostrando os perfeitos dentes brancos.
— Oh, que bom te rever. - Ela sussurrou, para evitar que o mais velho a ouvisse. Segurava um pendente com uma cruz, a acariciando com o polegar. - Pensei que você tivesse voltado para junto dos seus pais.
— Haru, vamos logo! Estou cheio de fome. - O sacerdote já a esperava mais à frente. A ruiva se despediu rapidamente com uma reverencia e partiu, deixando Diego para trás.

[2 dias atrás]
[Marxel Lucas - Basílica de São Pedro (Vaticano)]

Ajoelhados perante o altar decorado com belas flores e figuras religiosas, quinze dos mais poderosos clérigos rezavam. Passos lentos ecoavam pelas paredes da velha abadia, fazendo todos os bispos se virarem em direção do som. O Papa, vestido com um manto branco se aproximava do centro, segurando o seu ceptro na mão esquerda e a bíblia na direita.
— Boa tarde. - Cumprimentou os presentes e se dirigiu para a mesa de pedra. - Nós, como a suprema Igreja, temos uma missão importante. Acredito que já estejam informados sobre a Guerra do Santo Graal, aquela que há dez anos deixou grandes cicatrizes com as perdas que sofremos. A maldita garota gerou a morte dos nossos melhores representantes de Fukui, aqueles que verdadeiramente pregavam a doutrina de Deus. Que descansem em paz. Mas o que é importante aqui é que não devemos deixar que aquele cálice caia nas mãos erradas, nas mãos de magos impuros, infiéis que desejam todo aquele poder para si próprios, que têm pensamentos egoístas e que não sabem controlar o Graal tão bem como nós. Aquilo nos pertence, é o nosso dever proteger a população do caos da Guerra e evitar que gente de fora se magoe. Marx, por favor, se levante.
O homem obedeceu, fazendo uma reverência ao seu superior e ergueu o braço, exibindo o símbolo marcado em sua mão.
— Apareceu-me à uns dias. - Informou, acariciando a impressão e olhando diretamente para o velho. - O Graal me selecionou.
— Acredito que tenha feito uma ótima escolha. - Fitou o teto da abóbada, com a imagem da criação do Homem pintada por Michael Ângelo e cerrou os olhos. - Irmão, você sabe o que fazer para vencer, em nome de Deus, não sinta piedade por esses hereges. Eu te abençoo.
Ao finalizar a reunião, os padres foram dispensados e lentamente foram saindo do edifício. O mago foi em direção ao jardim que ficava nas traseiras da capela, e sentou-se num banco de madeira voltado para a cidade. Pegou num cigarro e o levou aos lábios secos, dando uma leve tragada enquanto observava os prédios no horizonte. Lucas fazia parte de um grupo especializado em lidar com magos, que caçavam e os eliminavam de todo o tipo de maneiras cruéis e doentias. Ao contrário do que muitos pensavam a Igreja Católica estava bem ciente da magia, no entanto por ser considerada heresia, desde os tempos antigos feiticeiros eram presos em calabouços e queimados nas fogueiras. O irónico é que muitas vezes a magia era usada para derrotar a própria magia. Muitos dos caçadores eram eles também magos, que para fugir da rígida inquisição se uniam à religião e perseguiam os seus. No entanto atualmente isso já não era como antes, agora, a associação apenas tratava daqueles mais problemáticos que usavam os seus poderes para o mal. De resto, havia uma relação estável entre os dois lados.
Ao acabar o seu charuto, o homem apagou as cinzas na parede e voltou para dentro. O corredor era imenso, as colunas e os arcos góticos davam-lhe um aspeto ainda mais grandioso, mas ele não queria saber. Os seus pensamentos estavam focados na sua missão, na sua viagem para o Japão. Há anos que não voava, desde que a guerra contra os magos tinha acabado, o seu trabalho se tornara monótono e aborrecido. Por um lado sentia saudade de percorrer o mundo, mas reconhecia o quanto o seu emprego era terrível e injusto. Perdido na sua mente, nem tinha percebido que chocara contra uma garota, fazendo-a cair.
— Oh, peço desculpa. - Estendeu-lhe a mão, tentando a ajudar. Ela aceitou e se levantou rapidamente, ajeitando o vestido e recolhendo os seus itens do chão.
— Tudo bem, eu estava distraída. - Ela se desculpou também, e se preparou para seguir o seu caminho. No entanto Marx a parou, segurando o ombro magro dela.
— Eu nunca a vi por aqui. - Confessou. - Como é o seu nome?
— Luna Kotomine. - Ela se soltou e prosseguiu, sem olhar para trás. Confuso, pois não se lembrava de ter ouvido esse nome antes, ele continuou o trajeto para fora da Basílica. Tinha que preparar as coisas para a sua estadia no Japão.

[Presente]
[Hotel Grand Palace - Amakusa]

— Vamos logo! Estou cheio de fome. - O sacerdote já a esperava mais à frente, no cimo das escadas. A sua assistente acenou com a cabeça e pegou nas malas com alguma dificuldade as puxando para o hall de forma desajeitada. - Vá, eu te ajudo.
— É mais que seu dever me ajudar! - Reclamou, cruzando os braços e o fitando com fervor. - Não sua empregada.
— Você não mudou nem um pouquinho. - Ele riu e desarrumou os seus cabelos. - Estava com saudades desse seu jeito.
— Você continua o mesmo merda de sempre e eu não saio por ai destruindo a tua chapinha que demorou horas a fazer. - A garota corou e desviou o olhar, se arrumando com a ajuda do reflexo da janela.
— Não precisava ter se arranjado tanto para me ver. - Um sorriso de deboche tinha-se formado em seus lábios.
— Flor, eu não me arrumei para você não! - Haru estava cada vez mais vermelha com as provocações. - Preferia até pegar o garoto mal educado que estava lá fora.
— Se você diz. - O padre se dirigiu à receção e pediu as chaves. - Sou o representante que Igreja enviou, tenho uma reserva para dois quartos.
— Hm, desculpe. - A mulher parecia desesperada. Carregava ferozmente nas teclas do computador, suando nervosa. - Houve um problema e só temos uma suite.
— Que?! - A ruiva se aproximou e bateu com o punho em cima do balcão de madeira. - Nem sonhando que eu vou dividir o mesmo espaço que ele.
— Pelos vistos quem fez a marcação errou. - A cara da senhora estava cada vez mais pálida, e a sua voz tremia. Estava claramente intimidada.
— Olha é assim, ou você me arranja um sitio bom para eu descansar, que tenha jacuzzi no banheiro e um mordomo gostoso para me servir ou eu vou escrever no livro de reclamações!
— P-Por favor se acalme. - Gaguejava. - Eu estou tentando arranjar uma solução mas estamos cheios.
— Nós ficamos com esse quarto. Eu e ela vamos resolver isto lá dentro. - Ele pegou no chaveiro e voltou as costas para as duas. Marx ria discretamente, o que deixou a sua amiga ainda mais irritada.
— Olha, é assim! Eu só não faço um barraco porque sou educada. Você vai dormir no chão, ta?
— Certo, como quiser. - Chamou o elevador, que estava parado no quinto andar. - Trouxe a lista que te pedi?
— Claro, mas você acha que eu ando a brincar em serviço? - Ela levou a mão à sua bolsa e puxou de lá uma pasta azul.
— Me deixe ver. - Folheou rapidamente, e parou na ficha de um homem mais ou menos da sua idade. - Alex? Aquele mercenário vai participar da guerra? Pfft, ele não sabe a merda que se está metendo.
— Conhece esse homem? - A garota perguntou, curiosa. - Ele é bonitinho, podia me dar o número dele?
— Acho que você não gostaria de passar tempo com esse ser humano repugnante. - O elevador chegara, entrou, se encostando ao espelho e inspirando fundo.
— Eu passei anos contigo. Eu aguento qualquer coisa. - Ela riu e olhou para o seu reflexo, colocando um pouco mais de batom.
— Você se queixa tanto mas aceitou logo vir comigo para Fukui. - A sua voz estava mais séria do que antes.
— Não posso perder a chance de viajar. Fazia tempo que não vinha ao Japão. - Ela continuava retocando a maquilhagem, finalizando com um pouco de pó. - Carrega logo na porra do botão que eu não vou ficar aqui para sempre.
— E porque você não faz isso? - Reclamou, enquanto selecionava com força o último andar.
— Olha, eu estou fazendo coisa de mulher, não está vendo? Agora para além de burro é cego! - Respondeu pegando no estojo cheio de pincéis, sombras e batons e o esfregando na cara dele.
— Você que é cega ao pensar que com tanta pintura vai deixar de ser feia! - O tom de brincadeira tinha voltado. Ainda estava um pouco tenso, mas sentia-se bem ao te-la do seu lado.
Eles se conheciam quase desde pequenos e a sua relação sempre fora assim. Frequentemente o sacerdote a descrevia como “cabeça quente, mas no fundo um amor de pessoa”. Ela mesma era também uma caçadora, mas se afastara do cargo após o incidente na anterior guerra que matou um dos seus melhores amigos e a destruiu completamente. Por fora parecia estar bem, e ela sempre tentava mostrar isso, mas na verdade as marcas continuavam bem evidentes. O seu maior confidente, Lucas, era o único que tinha conhecimento dos pesadelos constantes, que notara que ela já não sorria tanto como antes e percebera que também deixara de usar magia de vez. Tinham passado cinco anos separados, já que ela fora viver para os Estados Unidos e ele nunca teve a chance de a visitar, mas sempre se falaram regularmente.
Apesar do seu trauma do passado, a garota aceitara o apoiar. Inicialmente estava relutante, mas sentia que devia enfrentar os seus medos e ir para a cidade de Amakusa, onde tudo aconteceria. Desta vez não ia perder outra pessoa importante para si, estava decidida em o proteger, mesmo que tivesse que perder a sua vida para isso.

 


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