Estigma escrita por CarlaC


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Acho que tudo que eu queria dizer está nos avisos da história, então se não leram, por favor, leiam.
Espero que gostem... :*



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 Ele passava as mãos com rapidez e força nas roupas. Só queria se livrar daquele líquido rubro que parecia estar grudando em suas mãos agora, seus ouvidos zumbiam, mas ele não se importava, só queria tirar aquilo de seus dedos, não queria mais olhar para aquela cor. Ele parou por um momento, olhando para o seu corpo, havia manchas escuras em sua camisa branca.

O cheiro metálico parecia impregnado em todo seu corpo, em todo ambiente, isso fazia aparentar que o lugar estava muito mais frio do que realmente estava. Era horrível pensar nisso, pensar que suas roupas, e seu corpo estavam cobertos daquilo. Cada vez que olhava para si, era como se tivesse aberto um corte dentro de si próprio. Uma dor que ele achava impossível de ser descrita, como uma ferida aberta pegando fogo. Ele olhou para as mãos que tremiam, o líquido viscoso e quente estava escorrendo por entre seus dedos, parecia que aquilo queria o cobrir inteiro, o engolindo aos poucos, como se tivesse vida própria, tirando qualquer sensibilidade onde tocasse. Seu rosto também estava sujo, mas ele não conseguia ver, e se pudesse, ele agradeceria por não conseguir ver o seu rosto tão aterrorizador como estava. Ele sentia algumas lágrimas descendo pela sua bochecha e parecia que queimavam sua face onde elas encostavam, a trilha que as lágrimas faziam limpava onde passava, fazendo com que os grossos pingos que caiam em sua roupa tivessem o tom avermelhado e aterrorizante. A luz do sol que entrava pela janela ao lado iluminava parte do seu rosto, como seus olhos e sua boca, o fazendo ficar um pouco cego pela luz, mas, infelizmente, facilitava a visão do resto do local.

Ele esfregou a mão no rosto, querendo aliviar aquilo, querendo acordar e perceber que aquilo era um pesadelo, um terrível pesadelo, mas não era. Não tinha como ele acordar daquilo. Manchas vermelhas ficaram no local onde tinha passado a mão, na mandíbula e pescoço, mas ele não se importou, ele não se importaria se não conseguisse ver aquilo. Doía demais. Ele estava com medo, não sabia por que, ninguém nunca entrava ali, mas estava com tanto medo. Seu coração ainda estava acelerado, como se estivesse levando uma descarga elétrica diversas vezes que o impedia de respirar fundo. Estava sentado no chão, encostado na parede, seu corpo todo doía, sua cabeça ainda girava. Sentia-se tonto, enjoado, parecia que iria vomitar a qualquer momento, mesmo que não tivesse comido a bom tempo.

Ele olhou para o lado, e viu o corpo encostado na parede, com a camisa completamente encharcada com sangue, mas contrariando a cena, seu rosto estava calmo, não parecia estar com dor, não aparentava medo, parecia que apenas estava em um sono profundo, ainda parecia angelical, mas seu peito não se movia, não respirava. A dor em seu corpo pareceu piorar, se era que aquilo era possível, ele olhou para baixo, não queria continuar olhando para o corpo do garoto, e notou que em uma de suas mãos, tinha um corte de um lado a outro na palma de sua mão. Ele pensou em colocar um tecido para estancar o sangue ou qualquer coisa que pudesse ajudar, mas não realizou nada, apenas fechou a mão forte e percebeu que estas ainda tremiam, não achava que um dia elas conseguiriam ficar quietas novamente.

Ele não queria mais ficar ali, não queria mais ver aquelas paredes, não queria sentir mais aquele cheiro, não queria ficar sentado naquele colchão velho. Tentou se levantar de algum jeito, mas seus próprios pés o enganaram, tentou se apoiar na parede, esquecendo por um momento que sua mão estava cortada, e sem conseguir ficar em pé ou se apoiar, caiu de costas em cima do colchão que estava sentado. Todo seu fôlego pareceu que fugiu naquela hora, ele não tinha nem mais forças para gritar, nem chorar, nem falar nada. Sua respiração falhava, o ar parecia mais pesado, nem parecia mais que era ar. Sentia-se sufocado, como se estivesse em baixo d’água, ele não sabia o que fazer. Poderia tentar se levantar novamente, mas sabia que cairia de novo. Não sabia mais o que poderia acontecer, nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida, ele sabia que qualquer coisa que tentasse fazer iria dar errado.

Passou a mão pela jaqueta que usava, apenas ela não parecia ter o cheiro de sangue que o resto do ambiente, o cheiro dela era o mesmo, o cheiro doce e viciante do perfume que tinha se tornado o seu favorito. Colocou a mão dentro do bolso dela e tirou de lá um papel pequeno, retangular. Uma fotografia. Não sabia se queria vê-la, estava com medo do que teria ali, mas seu corpo não obedecia mais, sua mão não se abaixou e seus olhos não mudaram de direção, eles demoraram um pouco para focar na imagem dos dois garotos da foto. Uma foto espontânea, onde os dois garotos nem sabiam que estavam sendo fotografados. O braço de um sobre os ombros do outro, o sorriso no rosto dos dois, os olhares que eram trocados por eles.

Sua respiração se acelerou, seu coração parecia que ia sair pela boca e tudo que ele queria era gritar. Ele não conseguia olhar aquilo, era demais, não podia. Fechou os olhos com força e amassou a foto entre seus dedos, ele sabia que aquilo não era o suficiente, sabia que não seria capaz de apagar aquela foto da memória, mesmo assim era a única coisa que ele poderia fazer naquele momento, era a única coisa que conseguiria fazer naquele momento. O sangue de suas mãos já estava seco o suficiente para não manchar o papel, era uma coisa ruim, ele queria se livrar logo daquilo, não que ela ficasse em seu corpo. Ele jogou a foto para longe e ficou escutando o som que a mesma fazia batendo no chão.

Ele queria algo que pudesse o tirar daquele lugar, algo ao a qual poderia se segurar e sair dali, porque sozinho ele não conseguiria, já estava ficando insuportável aguentar aquilo. Seu corpo queimava, ele parecia quebrado, rasgado, doente, mas não conseguia mais chorar, mesmo que dor aumentasse cada vez mais, as lágrimas quentes já não escorriam mais pelo seu rosto. E continuou com os olhos fechados, não tinha mais forças para abrir. Seu corpo pesava, como se caísse de um precipício, mas ali não tinha um fim.


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Notas finais do capítulo

É só o prólogo, espero que tenham gostado. Ou pelo menos ficado curiosos. Comentários??
Beijuus :*



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