Ladrões de Coroas Interativa escrita por Safira Lúmen


Capítulo 16
As visões de uma bailarina


Notas iniciais do capítulo

Oi, capítulo menor, mas não menos importantes, para quem gostaria de saber sobre a Sulamita e ter a confirmação de certas teorias é este o capítulos meus caros.



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Sulamita Nankiel

Bellas Yelsatra

Parlak/ Palácio Maior

Dois meses antes de tudo

 

O ruído seguia um fluxo constante em meio à melodia adocicada, vozes grossas e finas preenchiam o salão como rosas colhidas na primavera. E ela estava no cerne, cercada pelas damas elegantes, beldades da corte. Seu desempenho atingia os corações alheios como flechas do cupido. E seu sorriso esquentava o frio arrebatador do inverno.  

A essência da dança não estava nos passos, de nada adianta saber para onde ir se não conseguir sentir. Sulamita conseguia e por isso cada gesto seu arrebatava uma nova vitima. Ela podia ver os tons vermelhos e verdes da decoração que lhe dava inspiração para um novo giro mais confiante.

Ao fim da canção ela arfava como uma senhora após o ápice de prazer. O feérico que permanecia recostado na parede pode ver as gostas de suor manchando-lhe o vestido costurado com fios dourados. Ele permaneceu imóvel quando a bailarina traçou o salão em sua direção.

Bellas nunca havia sido bom com garotas, sua arte estava na morte, com certeza ele era aquele que mais fornecia serviço para os ceifeiros.  Quando Sulamita se aproximou dele o feérico se viu rendido pela falta de palavras.

— O que sugeres para está bailarina senhor? — Ela perguntou em conflito sem notar o desespero dele diante de sua presença. — Onde vivo não existe muita coisa além de água e sidra.

Sulamita não estava mentindo. Refile era um dos territórios do leste  com maior plantação de maçãs o que tornava um inconveniente para outras bebidas. Ela jamais havia experimentado o amargar do vinho na boca após os dois goles, muitos menos a tontura subsequente. A cerveja era uma novidade ainda maior, o fato de estar sem tapas na língua era algo muito extravagante para si.

— Não me digas que também és inepto nesta matéria? — Ela arregalou os olhos espontaneamente, ela não tinha a mínima noção de que conversava com um dos assassinos reais. — Pensei que um polido nobre da corte seria de mais utilidade na arte das bebidas. Devo ter me iludido.

Bellas tentou responder, mas ele só conseguia vislumbrar as gotas de suor no pano, o cheiro de rosas se extinguindo da pele, a naturalidade com que ela o deixava abobado. Um assassino mortal rendido por uma bailarina, seu pai não poderia nem sonhar com isso.    

Sulamita desistiu da opinião de Bellas escolhendo um liquido esverdeado que ela pensou ser chá, porém ardia mais do que queimadura de terceiro grau. Os olhos da garota marejou em lagrimas, seu desejo era cuspir tudo, porém estava em um baile real e não poderia fazer feio, pois sua carreira estava em jogo.

— Engula, melhora depois que descer. — Bellas finalmente despertou do transe e conseguiu dizer.  —Mas se eu fosse você escolheria este daqui.

A tigela que ele indicou continha uma bebida amarelada, ela inalou um cheiro que recordava bebida agridoce. Bellas estava elegante nessa ocasião, parecia um príncipe, ele segurou uma taça entre os dedos e serviu a bailarina.

Tudo corria como o esperado, um baile estonteante, boas musicas, damas mimosas e sorridentes, a família real fortificando algumas alianças conforme costuravam sua teia de informação e laçava novas presas.

O feérico podia jurar que aquela seria uma noite de paz, ele não tinha nenhuma vítima em foco, e talvez, se conseguisse contornar sua inexperiência com mulheres talvez, sendo muito positivo, ele conseguisse um beijo antes do amanhecer. 

Mas ele não podia estar mais enganado. Enquanto vislumbrava a bailarina experimentar sua recomendação percebeu no arco da entrada a presença de cavalheiros estrangeiros. Ele olhou minuciosamente mesmo a distancia e percebeu uma pequena gota de lama na calça acinzentada de um deles.      

O feérico não pediu quando segurou a bailarina entre os braços e lhe guiou para o circulo de pares dançando. Sulamita se petrificou de susto quando as mãos enluvadas tocaram lhe as costas. Ela não gostou da conduta, porém não recusou.

—Deverias ter pedido meu consentimento para esta dança. — Ela o encarou, mas os olhos dele estavam muito além de si. Ela não significava nada para ele naquele momento. Foi nessa situação que a primeira visão dela aconteceu.

Enquanto tentava decifrar o que ocorria perdeu a noção de lugar e tempo, os olhos dele a guiou por tuneis até chegar há uma sala escura, era mofada e sufocante, mas logo foi clareada quando um circulo de fogo se iluminou no piso, era magia que protegia a coroa.

— O que foi isso? — Ele olhou para ela com uma expressão de susto. — Como você sabe da existência desse lugar?

— Eu não sei, eu apenas vi! — O jeito que ele a encarava fez suas entranhas revirarem. — Não tenho culpa, mas o que era? O que aconteceu?

Bellas não respondeu, pois ao olhar novamente para o arco na entrada os estrangeiros tinham desaparecido. Ele sabia pouco sobre visões, mas o fato da bailarina ter visto a sala onde a coroa estava lhe gerava suspeita foi por isso que ele correu nessa direção, não se dando conta que Sulamita o seguia.  

A bailarina estava apavorada com o que tinha acontecido e sua cabeça latejava agora, mas isso não a impediu de correr atrás do feérico que antes ela havia julgado ser boa campainha.  Algo estava errado e ela pretendia descobrir.

Ele se locomovia como a sombra, ela sentiu inveja, alguém com aquela habilidade poderia dançar maravilhosamente, pois ele conhecia o que muitos ignorava, o escuro, o nada, a sensação de vazio. Ele transmitia tudo isso.

A garota diminuiu o passo quando percebeu onde estava, ela havia corrido quilômetros em meio a tuneis, corredores e escadarias, mais dali a diante tinha uma trilha de corpos, dentre soldados e convidados. As paredes eram pretas e o ar ficava mais rarefeito. Além do mais, Bellas tinha desaparecido.

A bailarina seguiu desviando do sangue e dos corpos, mais tarde vomitaria, mas naquele instante a curiosidade lhe guiava, enquanto andava evitando fazer barulho seus olhos novamente se turvaram como se uma neblina cinzenta se formasse dentro de si e ela viu novamente a coroa, na mesma sala com o fogo no piso, só que desta vez o rei estava lá e ele havia criado um muro solido de escuridão na entrada para a sala.

Sulamita não entendia o que acontecia, mas soube que o que o rei fazia era certo, ele estava escondendo a coroa. Ela suspirou ainda na visão, sua noite estava ficando muito esquisita.

Após um tempo ela voltou a ver o corredor com os corpos, estava tremendo no chão, aquelas visões com certeza não era algo normal. Sua pele soava frio quando mais uma vez a neblina veio.

Desta vez ela viu asas, enormes, brancas, brilhando, e uma garota, era ela, voando, a neblina desapareceu e dessa vez ela estava vomitando no corredor em cima de um morto. Ela se levantou cambaleante, teria que sair dali o mais depressa possível.

— O que está fazendo aqui? — Bellas a jogou contra a parede. Ela não viu de onde ele saiu. Naquele instante ela percebeu que ele não era apenas um cavalheiro, ele era algo muito pior. — Você não deveria saber daquela sala e não deveria estar aqui. O que é você? Quem a mandou?

— Eu, eu não sei! — Ela sussurrou chorando. — Acredite em mim, eu não sabia que tinha esse dom de ver as coisas.

Ele pretendia lhe repreender, mas cinco homens apontaram do fim do corredor. Todos pareciam convidados mais algo em seus rostos diziam o contrario. Eles carregavam sacolas com ouros e joias.

— Não roubarão nada cavalheiros! — Bellas se posicionou tirando uma faca minúscula de algum lugar que Sulamita não viu. Ela olhou para arma dele e lamentou, era tão pequena comparada a dos outros.

O resto do acontecido foi mais rápido do que ela previa. Bellas se misturava as sombras e matava como a mesma facilidade que o ceifador recolhia suas vítimas, eles pareciam ter uma sincronia, ela viu as tripas de um deles cair no piso e a cabeça de outro rolar.

O ceifador recolheu a alma do recém-falecido. Foi nesse instante que tudo gelou em Sulamita, ela estava vendo um ceifador, ela estava vendo um anjo, e ele acenou para ela sorrindo. Isso era loucura pensou.  

— Está tudo bem? — Bellas a encarou acenando para o vazio. — Quem você está cumprimentando?

—Ninguém. — Sulamita recolheu a mão e balançou a cabeça. Ela deveria sair dali o mais depressa possível. Mas havia mais, muito mais ladrões. Bellas nunca tinha visto tantos reunidos. Eles sabiam se infiltrar como ninguém.    

O feérico ficou tão focado em derrotar os muitos inimigos que não percebeu quando levaram Sulamita.

 

{...}

Tempos atuais

Sulamita Nankiel

Essas eram as ultimas memórias de Sulamita, o rosto do feérico às vezes a acalmava em meio aos conflitos na sua busca interior. Ela conseguia constatar o mundo a sua volta. Sentia o cheiro de chá, e o friozinho da brisa ao entardecer  que adentrava pela janela. A quentura do sol sobre sua pele às vezes a despertava da solidão. E tinha o gato que às vezes encostava-se ao seu corpo imóvel.

Quando despertasse daquilo iria abraçar o serzinho com força e agradecer por estar por perto, ela já se sentia intima do animal, era estranho sua percepção da realidade mesmo presa.

Sua audição também era surpreendente. Enquanto tentava abrir os olhos ela pode escutar os passos subindo uma possível escada de madeira pelo ranger. Logo o a conversa lhe tornou audível.

—Você me deve um favor, eis o que lhe imponho. — Era o tom familiar de alguém lhe visitava todos os dias, Sulamita sabia. — Você me ajudará a levá-la até os curandeiros do oeste.

—Santo senhor dos anjos! O que foi que aconteceu com ela. — A voz alta e eufórica acabou agitando o coração da ouvinte. — A bruxa está colecionado corpo de garotas agora é? Que eu saiba isso se chama necrofilia!

Sulamita se arrepiou mentalmente uma vez que seu corpo não reagia. Então aquela que cuidava de si era uma bruxa? Talvez estivesse mais ferrada do que imaginava.

— Mais uma piadinha e eu te entrego aos malditos lobos que eu tive que expulsar daqui! — A voz de Dagna não foi agradável. — Entendeu Ellah.

— Você não tem nenhum pingo de senso de humor! — Ellah respondeu revirando os olhos. Mas Sulamita não o viu.

— Você me ajudará a transportá-la, compreendeu?

— Sim mamãe! — Sulamita até que achou graça dessa vez. Queria poder conhecer aquelas duas figuras.

{...}

  Bellas Yelsatra

O feérico andava agoniado pelo convés do navio, o rei estava a sua esquerda enquanto contemplava a imensidão de águas diante deles. A frota era imensa e todos os navios estavam fortemente armados.

— O que passas na sua cabeça, Bellas? — O rei perguntou sem ter o que fazer. — Para onde seus pensamentos o arrebataram?

O feérico pensou, talvez não devesse partilhar seus pensamentos, mas o rei poderia ajudar.

—Lembras-se do dia em que os ladrões invadiram o palácio majestade? — O rei confirmou. — Eles queriam a coroa, mas não a encontraram. E por isso saquearam a sala do tesouro.

O rei concordou novamente, foi nesse dia que ele decidiu organizar a expedição pelo mar cheio na intenção de esconder a coroa em um lugar onde nenhum ladrão poderia alcança-la. 

—Pois bem, eu só consegui prever onde seria o ataque graças a uma garota. —Ele explicou. —Eu havia notado a presença dos estranhos, eles já estavam na minha mira, porém não pensei que fossem ladrões.

— Então como soube que eles queriam a coroa? — o rei indagou em um tom tão baixo que ninguém poderia ouvir. Ninguém da tripulação sabia o que carregavam no baú. — Como soube para me avisar.

— A garota, eu dançava com ela para não levantar suspeita daqueles que eu observava, porém ela me lançou uma visão da coroa na sala secreta protegida pelas chamas.

— Foi ai que você correu para me avisar. — O rei disse compreendendo.

Os ladrões não conseguiram ver a sala secreta, pois o rei era um ocultista das sombras, o que lhe permitia criar imagens falsas e confundir a mente daqueles que são atacados. Os ladrões não encontrando o que desejavam optarão por saquear a sala do tesouro, pelo menos não apareceriam a Mizael de mão vazias.

—Exatamente. — Bellas concluiu. — Um dia eu queria ter a oportunidade de reencontrar aquela que me deu a visão.


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Notas finais do capítulo

É isso, meus amores. Estarei fazendo um post hoje no grupo do face com algumas curiosidades, espero que vocês gostem.

Ainda tem muitos acontecimentos pra preencher as lacunas na vida da Sulamita, mas esse é um começo, e agora pelo menos sabemos o que a frota real está transportando.

O que estão achando?

Beijinhos de guloseimas!



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