Herança dos Lobos escrita por Woodsday


Capítulo 2
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❝ — Nós não podemos mudar as coisas que não podemos controlar. É verão em algum lugar, então você não deveria estar com tanto frio. 

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— Vovó. — Lily chamou a atenção da mulher de idade avançada pela terceira vez, soando desesperada. — Não podemos manter um estranho em nossa casa. Vamos mandá-lo ao hospital de uma vez por todas. É sério! — Lily olhou nervosamente para o homem corpulento e em seguida para Mags cantarolando como se não houvesse um cara sangrando na casa delas. — E se ele for um assassino? Tipo, como nos filmes?

— Sinto que ele precisa de nós. — Mags respondeu empinando o nariz enrugado e voltando a colocar panos limpos sobre a ferida do homem gigantesco estirado sobre a cama. Lily suspirou, rendendo-se finalmente e ajudando a avó a virá-lo de posição, mesmo sob os protestos e gemidos do estranho. — Vamos, Lils, me ajude aqui.

— Isso é uma loucura, vovó. — Resmungou a neta sem deixar de fazer o seu melhor para manter o corpo do estranho ereto. De olhos fechados e com a expressão suave, ele era ainda mais bonito do que quando apareceu no seu jardim, na tarde anterior com a expressão furiosa e assustadora.

Lily passou os dedos suavemente pelas linhas de expressão do seu rosto, questionando-se o que fazia agonizar-se tanto à ponto de delirar e gemer. 

Bella. É o nome que ele chamava constantemente enquanto a febre oscilava entre alta e baixa.

— Será que é a namorada, vovó? — Questionou Lily e a avó balançou a cabeça, pegando o pescoço do estranho cuidadosamente e deitando-o sobre os travesseiros. Mags levou a mão ao peito musculoso, massageando o local com gentileza enquanto recitava as palavras desconhecidas que Lily nunca aprendera. — Acho que deve ser a esposa. — Lily comentou observando o estranho parar de lamuriar-se diante da massagem da sua avó e cair mais uma vez em um sono silencioso. — Será que ela morreu?

— Lils, querida, saberemos quando ele acordar. — A avó deu dois tapinhas nos ombros de Lily, recolhendo a bacia de água e os panos ensanguentados. — Agora, leia para ele um pouco. Devemos diminuir o tormento do pobre homem. 

Lily suspirou, assentindo e puxando a poltrona para mais perto da cama enquanto apoiava o rosto nas mãos, observando as linhas bem desenhadas do seu rosto. Talvez ele tivesse vinte e tantos anos? Parecia velho, e parecia cansado. Como se não dormisse por dias, Lily podia ver as olheiras profundas sob a pele morena. E ele era quente, estava queimando em febre e apesar de Lily saber que havia algo de estranho nisso, Mags não se importava. Agia como se tudo estivesse bem.

Da mesma forma que agiu quando Lils na semana anterior contou à ela que um homem desconhecido iria desmaiar no jardim da casa delas exatamente naquele dia. Mags arrastou Lily até a loja de departamentos e juntas elas compraram novas roupas de cama, cobertores e roupas masculinas do tamanho grande e extra-grande. Lily tentou convencer a avó que aquilo era uma loucura, mas ela também sabia que suas premonições nunca haviam falhado antes, de qualquer forma, ela acompanhou Mags na montanha russa de informações e elas esperaram pacientemente pelo estranho que chegaria na sua casa.

Completamente ferido. Lily só não sabia que esse homem estaria tão ferido por dentro, quanto por fora. Não havia um celular ou roupas, nem se quer um documento junto dele. Era um completo estranho.

Bonito e sarado, mas ainda um estranho.

Com um suspiro Lils retirou da gavetinha do criado mudo o único livro que dispunha em casa, Alice no País das Maravilhas e começou a ler para o estranho o mais suavemente que pôde. 

— "Meu Deus, meu Deus! Como tudo é esquisito hoje! E ontem tudo era exatamente como de costume. Será que fui eu que mudei à noite? Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei hoje de manhã? Estou quase achando que posso me lembrar de me sentir um pouco diferente. Mas se eu não sou a mesma, a próxima pergunta é: 'Quem é que eu sou?'. Ah, essa é a grande charada... — Lily interrompeu-se quando um gemido soou aos seus ouvidos, estava tão entretida com a leitura que de fato, não ouviu o estranho se mexer na cama.

Uma olhada no relógio mostrou à ela que já haviam se passado três horas desde que vovó Mags saiu do quarto e que Lils já tinha lido boas páginas do livro em voz alta. 

— Olá? — Ela inclinou-se em direção ao homem tocando sua testa e bochechas, arfou surpresa quando ele girou repentinamente, pegando-a em um aperto. — Me solte! Ei cara! Acorda!

— Sanguessuga! — gritou furioso com Lils, prendendo-a sobre um aperto sufocante, Lily desesperadamente tocou o rosto do estranho, tentando fazê-lo acordar e foi com alívio atordoante que sentiu o aperto em seu pescoço afrouxar e o homem arregalar os olhos, nervoso, quase empurrando-a para longe. — Merda! — ele rugiu, olhando-a estranho enquanto Lily atravessava o quarto em passos rápidos e atordoados. — Merda. Me desculpe. — Ele levou as mãos aos cabelos, olhando-a preocupado, apesar do recente surto. — Você está bem?

— O que houve Lils?! — Mags surgiu pela porta, olhando de Lily para o estranho que agora se sentava na cama. — Oh, você acordou finalmente!

— Onde eu estou? — ele questionou sem tirar os olhos de Lily, carregava uma expressão carrancuda no rosto mas ainda tinha um brilho preocupado em sua direção. — Eu te machuquei, não é? Que merda!

Lily pigarreou, finalmente dando um passo para mais perto. — Eu estou bem. Você acordou à tempo. — Ela levou as mãos a cintura, olhando-o curiosa. — Você está na nossa casa. Eu sou Lilian e essa é minha avó, Margareth. 

— Oh Lils! Para que tanta formalidade, meu bem? — vovó Mags se aproximou, sentando ao lado do estranho e puxando Lily que caiu sobre a poltrona onde antes estivera. — Pode me chamar de vovó Mags, querido. E essa aqui é Lils.

— Lilian. — Corrigiu Lily impaciente. — Vovó, esse cara é um estranho. 

— Nós ajudamos estranhos, Lils. — Sua avó chamou sua atenção impacientemente. — E agora ele pode deixar de ser um estranho, certo? Vamos lá! Me diga seu nome, rapaz. 

Ele suspirou, olhando confuso e impaciente de uma para outra. — Eu me chamo Jacob Black.

— Perfeito! — vovó Mags deu dois tapinhas nos ombros de Jacob. — Você tem onde ficar essa noite, Jacob?

— Bem... Eu...— Jacob suspirou, apoiando os braços nos joelhos e olhando resignado para a velha senhora. — Na verdade, não tenho, senhora. 

A mulher de idade avançada sorriu calorosamente para ele e Jacob ouviu um pequeno bufo, olhou para a garota miúda que o encarava preocupada e mais uma vez a culpa o corroeu. Nunca foi sua intenção machucá-la e na verdade, não era parte da sua natureza ser violento com quem quer que fosse. No entanto, não sabia o que havia acontecido com ele. Por um momento, tudo que ele viu á sua frente foi um vampiro sanguinário e não uma garota pequena com um pescoço tão fino que Jacob poderia quebrá-lo ao menor movimento. Estremeceu com o pensamento e ouviu um pigarro da mulher ao seu lado, Jacob desviou os olhos da garota, sentindo-se constrangido por ter ficado tanto tempo encarando-a.

— Você pode ficar aqui, conosco. — Ofereceu a mulher retomando à conversa mais uma vez. — Temos esse quarto sobrando, Jacob.

Ele achou a oferta muito generosa, mas estranha. Porque duas mulheres indefesas abrigariam um estranho dentro da própria casa?

— Olha, senhora..

— Vovó Mags. — Ela corrigiu bravamente. 

— Vovó Mags... — Jacob repetiu sentindo-se ridículo. — Não quero incomodar vocês, eu agradeço pelo que fizeram mas eu sou um cara da estrada. Não pretendo ficar.

Vovó Mags sorriu, pegando sua mão entre as delas. Jacob sentiu a textura enrugada da pele de Mags e sentiu-se acolhido, inacreditavelmente. Ela tinha algo que fazia com que Jacob sentisse como se fosse novamente uma criança que acabou de enterrar a mãe. 

— Bobagem, meu querido. — murmurou docemente. — Seu lugar é aqui conosco. Eu e Lils vamos ficar muito contente em tê-los. 

— Eu não sou um cara legal, Mags. — Jacob tentou ser sincero. Porque realmente, não era mais o adolescente gentil que fora um dia, com o tempo e a dor, muito coisa dentro dele havia mudado e Jacob já não tinha a mesma paciência e doçura de antigamente. 

Vovó Mags riu suavemente, fazendo um gesto de mãos como se o que Jacob tivesse dito fosse uma enorme besteira.

— Meu querido, você é o cara certo.— Ela piscou antes de se levantar e indicar a neta com a cabeça. — Lils vai te mostrar a casa, minha bacia já não é a mesma desde Woodstock.

— Vovó! — A garota deu um sorrisinho e balançou a cabeça, ambos receberam um gesto de mãos de Mags e ela suspirou. — Pode me chamar de Lily. — Continuou estendendo a mão quando Mags deu às costas para ambos saindo do quarto, Jacob olhou desinteressado para a mão pequena estendida, mas por fim aceitou o aperto. — Você vai ficar?

— Provavelmente não.

Lily assentiu lentamente e Jacob estudou o rosto miúdo da garota, ela tinha olhos negros, como jabuticabas e os cabelos eram claros caindo em ondas por seus ombros, alcançando o meio das costas. Talvez tivesse dezesseis ou dezessete, o rosto ainda era inocente e infantil. Não havia nada em Lilian que o lembrasse de vampiros, lobisomens ou corações partidos. Era como um sopro de alívio.

— Você devia, sabe. — Ela continuou, cruzando os braços e recostando-se na poltrona. — Ficar.

Jacob franziu as sobrancelhas. — Porque?

— Porque, sabe, nós não podemos mudar coisas que não podemos controlar. E é inverno em algum lugar, mas agora, aqui... — Ela sorriu gentilmente. — Aqui é verão, você não deveria sentir tanto frio. 

Jacob ficou em silêncio e Lily sorriu, levantando-se e passando as mãos pelos jeans nervosamente.

— Bem, você pode descansar mais um pouco. É da nossa família agora, Jacob Black. E nesta casa, o sol sempre está brilhando.  — Ela piscou, saindo do quarto e Jacob ainda passou bons minutos olhando por onde ela havia partido antes de seguir seu conselho e se deitar novamente. 

 


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Notas finais do capítulo

Contrariando todas as expectativas, aqui estou eu no nyah - AINDA - atualizando essa história por amor as leitoras que não conhecem a maravilha que é o wattpad sakloask pode demorar mais para que eu att aqui, mas eu venho!
Espero que gostem e se lerem, comentem por favor, eu vou amar saber as opiniões. ♥



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