Os Sofrimentos de Tanaka Ryuunosuke escrita por Vulpe


Capítulo 2
Evento Zero: AsaNoya


Notas iniciais do capítulo

(eu disse uma vez por semana, mas pelamordedeus, deixar só 540 palavras para sete dias é meio cruel)



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Para a surpresa de ninguém, quem abriu seus olhos foi Nishinoya. Noya, sempre o temerário, sempre abrindo os caminhos. Mas dessa vez, assim como com algumas coisas que Noya lhe mostrara na internet, Tanaka preferiria que ele não tivesse feito nada.

Não fora intencional, é claro. Noya era um furacão, que seguia e destruía por acaso o que aparecesse na frente. Se um pouco da sanidade mental do seu melhor amigo fazia parte das baixas, ele só podia pedir desculpas.

Nishinoya era um furacão. Tanaka tinha essa noção estabelecida de forma muito clara, desde o começo.

Não ficaram na mesma sala no primeiro ano, mas Tanaka vira a sombra de Noya antes da reunião inaugural do clube. Ouvira uma voz alta e animada ecoando nos corredores, e tinha se identificado com aquele desconhecido que estava tendo uma reação tão parecida com a dele ao início do ensino médio. Quando ouviu a mesma voz vindo da quadra de vôlei no final do dia, correra mais rápido. Era o destino, pensou, e mais tarde teve certeza.

De primeira vista, não achou que tanto som pudesse vir de uma pessoa tão pequena. Mesmo que fosse uma pessoa pequena com um cabelo tão legal. Tanaka supusera que ele devia ser um líbero.

Estava errado. Nishinoya não era um líbero qualquer. Nishinoya era o líbero.

Colocados em times opostos, isso não impedira Tanaka de exclamar em satisfação quando Nishinoya salvou um ataque com a naturalidade de quem fazia coisas impossíveis todos os dias. Ele se teletransportara para baixo da bola e devolvera para o outro lado como se não fosse nada demais.

—Cara, isso foi muito bom! – Tanaka gritara para o colega, cujo nome ainda não decorara.

Nishinoya abrira um sorriso que dizia que ele tinha plena consciência de que fazia milagres.

—Valeu, monge! – gritara de volta, fazendo um joinha com o polegar.

—Foco no jogo! – repreendera o velho treinador Ukai.

Se na época tivesse a visão que tem hoje, Tanaka talvez houvesse entendido o olhar deslumbrado de Asahi como o que verdadeiramente era. Porém, jovem e inexperiente, achou que o fascínio do veterano vinha de um sentimento igual ao seu, a constatação de que estava de frente a uma pessoa com uma capacidade fantástica. A uma pessoa fantástica.

Era de fato parecido, mas o olhar de Asahi estava envolto em uma espécie de calor que Tanaka não conhecia e, portanto, não identificou. Não percebeu nem quando Asahi fez três pontos seguidos e o mesmo brilho apareceu nos olhos de Noya.

Nishinoya e Tanaka logo se reconheceram como iguais e tornaram-se inseparáveis, almoçando e voltando para casa e passando tempo fora da escola juntos. Mas, quando entravam em quadra, Noya focava em Asahi. Isso não significava que parava de falar com Tanaka; significava que, toda vez que Asahi se movia, os olhos de Noya acompanhavam. Os gestos, os risos. Noya absorvia tudo com uma atenção que não conseguia reunir durante as aulas, e na volta para casa narrava o que vira para os outros primeiranistas.

—Vocês não acham o Asahi-san incrível?! Vocês viram a altura que o Suga-san levantou para ele naquele último ataque? E ele alcançou super de boa! Eu sei que ele é muito alto, mas não deixa de ser incrível, porque não tem como defender quando ele faz aquilo. Você vê chegando, e você sabe que não vai conseguir impedir, e dá um troço no seu peito, sério, cara! Eu tentei pegar semana passada, e, olha! Olha, o hematoma ainda não sarou! Ele é muito forte. Ele provavelmente conseguiria me carregar nas costas. Eu preciso convencê-lo a treinar comigo. Se eu conseguir segurar os ataques dele, se eu aprender a aguentar bolas desse nível-

—Noya, respira. -Ennoshita precisava lembrar. Noya respirava pela boca, juntando fôlego, e começava tudo de novo.

Quando os dois conversavam, Noya pulando em volta de Asahi e Asahi parado como que com medo de estragar uma coisa preciosa, dava para ver que a admiração era recíproca. Por mais diferentes que fossem, os dois desenvolveram uma amizade sólida, baseada em confiança e respeito mútuos, que se estendeu para fora da quadra. Quando Tanaka não encontrava Noya na sua sala rumava sem hesitar para o corredor dos veteranos, seguindo as exclamações de Noya e os risos baixos e graves de Asahi.

E então tiveram o jogo contra a Date Tech e tudo caiu aos pedaços. Foi um período ruim. A vassoura quebrada, a suspensão. Noya não sendo ele mesmo, mal-humorado e irritadiço, se metendo em encrencas sem Tanaka para ajudar, Asahi escondido em sua toca e mudando de direção toda vez que via um membro do time se aproximar. Tanaka conseguia entender o ponto de vista dos dois, o que não mudava o fato de que achava que estavam sendo idiotas.

Precisava agradecer a Hinata e a Kageyama por trazer o grandalhão sensível de volta. De algum jeito que não os deixasse cheios de si, porque não precisavam de mais incentivo do que a história do Duo Impossível.

As coisas não só voltaram ao normal, as coisas ficaram melhores. Asahi recuperara seu orgulho e sua confiança, e agora entendia o conceito de time. Tanaka nunca esqueceria como os olhos dele haviam se enchido de gratidão quando Nishinoya o fizera entender que estaria sempre lá, que ele podia cometer todos os erros que precisasse para aprender.

Os dois ficaram mais próximos do que nunca. Tanaka só soubera exatamente quão próximos algumas semanas atrás.

Era um daqueles almoços durante os quais Noya sumia. Isso vinha acontecendo com mais frequência, e agora Tanaka não o encontrava sendo seu caracteristicamente animado ser perto das salas dos terceiranistas. Noya só sumia e Tanaka estava ficando preocupado. Não que acreditasse que alguém tivesse capacidade de fazer bullying com Noya, mas um bro está sempre ligado no outro. Se havia alguma coisa incomodando seu bro, Tanaka queria saber e queria socar essa coisa até ela parar.

Decidiu que era hora de uma missão de exploração. Comprou um pão de yakissoba na cantina - as expressões intimidadoras que desenvolvera no vôlei eram muito úteis para outros momentos, como filas - e saiu andando pela escola, tentando pensar em onde Noya poderia estar. Seu instinto fez com que seguisse para a parte de trás da quadra, e foi recompensado pela risada nítida de Nishinoya. Ei, pensou, se ele está se divertindo enquanto eu me preocupo, posso muito bem dar um susto nele. E se aproximou pé ante pé, visando não fazer nenhum som. Espiou pela lateral do prédio para ver o que estava acontecendo antes de pular no meio.

Nishinoya não estava sozinho. Asahi estava com ele, e seu cabelo estava solto, e essa era só uma das coisas estranhas da cena. Uma de suas mechas estava enrolada entre os dedos de um Noya sorridente, e Asahi olhava-o com um sorriso afetuoso.

Eles estavam sentados bem perto. Tanaka e Noya costumavam dormir apoiados um no outro depois de jogos, mas a proximidade entre Noya e Asahi parecia diferente. Premeditada.

Tanaka encarou, tentando desvendar aquilo. Estava próximo o suficiente para ouvir o que conversavam.

—Seu cabelo é muito macio, Asahi-san! Tipo o de uma garota! – exclamou Nishinoya, admirado. Tanaka cobriu a boca com a mão para não rir. Asahi ficou abatido.

—Não sei se esse elogio me deixa feliz, Noya.

—Pff, como se você fosse parecido com uma garota, Asahi-san! Você tem barba e cara de adulto delinquente! – Dava para ver o coração de vidro de Asahi adquirindo mais uma rachadura.

Mas então ele suspirou e puxou Noya contra si em um abraço que envolveu todo o pequeno corpo do líbero. Apoiou seu queixo no topo da cabeça dele e fechou os olhos.

—Ei, você vai estragar meu cabelo, Asahi-san! – a recriminação perdeu a força por ter sido dita enquanto Noya o abraçava de volta.

—Você estragou o meu, é justo. – resmungou Asahi, sem abrir os olhos.

—Eu gosto do seu cabelo solto.

—Hmm.

—Asahi-san?

—Hmm?

—O que você está fazendo? – perguntou Noya, sem soltar.

—Estou recarregando. Preciso de força extra para o resto do dia.

Noya deu uma risadinha e um apertão nas costelas dele. Asahi soltou um grunhido.

—Ei, não me sufoca.

Noya afastou-se um pouco, obrigando Asahi a levantar o queixo, olhos animados procurando o rosto do outro.

—Eu acabei de te mandar uma superdose de energia! Você sentiu?

Asahi assumiu uma expressão resignada. Então passou o braço pelos ombros de Noya e deu um beijo na sua testa, murmurando sem se afastar:

—Não sei como você consegue ser tão fofo.

—Hehehe!

Foi quando as mãos de Tanaka escorregaram da parede onde estavam apoiadas e ele caiu de cara no chão com um baque. É desnecessário dizer que Noya e Asahi perceberam sua presença depois disso. Asahi ficou pálido como papel e Noya gritou:

—Ei, Ryuu! Espiar é feio!

A amizade entre Noya e Asahi não era só amizade. Foi uma informação difícil de processar naqueles primeiros segundos, afinal, Noya gostava de garotas bonitas e delicadas, assim como Tanaka! Noya amava Kiyoko-san! Asahi não era nem um pouco parecido com Kiyoko-san!

E então Tanaka percebeu que fazia sentido. Rebobinou tudo o que sabia, e percebeu que fazia sentido. Que era quase óbvio. Teve essa epifania enquanto respirava terra.

Noya falou sem parar enquanto o ajudava a levantar; pediu desculpas por não ter contado antes, não era que não confiasse nele, mas Asahi-san era muito tímido. E de qualquer forma achava que já tinha deixado claro o que sentia. A isso, Tanaka teve que assentir, um pouco zumbificado, os olhos ardendo porque esquecia de piscar com tudo em que estava pensando.

—Você está se sentindo bem, Tanaka? – perguntou Asahi, ainda branco, mas preocupado demais para apenas morrer de vergonha.

Não, Tanaka não estava se sentindo bem. Noya era seu bro e ele tinha um namorado e meninas do primeiro ano choravam quando Tanaka tentava ajudá-las a achar suas salas.

—BRO, POR QUE NINGUÉM ME AMA? – exclamou em um uivo de dor, agarrando a frente da camiseta de Noya. Os olhos do amigo se arregalaram em choque.

—NÃO DIZ ISSO, BRO! EU TE AMO, BRO!

—MAS BROOO... – os olhos de Tanaka começaram a marejar e os de Noya se encheram de água também.

—BRO! VOCÊ É O MELHOR BRO DO MUNDO!

—Eu acho que vou voltar para dentro... – disse Asahi, um pouco assustado, mas nenhum dos dois escutou. Estavam muito ocupados trocando juras de amizade eterna.

Nada mais justo que, depois de jogar todas as certezas de Ryuu no chão, Noya ajudasse a colocá-las de volta nas estantes. Mas o que fora visto não podia ser desvisto, e Tanaka se sentiu um cego ao qual a visão tinha sido restituída com um golpe forte na cabeça. Ele aprendera algo, uma lição que levaria para a vida.

Colegas de time podiam ser gays.

E logo descobriria que, mais do que poder, a maior parte deles exercia esse direito plenamente.


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Notas finais do capítulo

http://ikipin.tumblr.com/post/142202092602/sometimes-u-just-gotta-hug-someone-to-get-extra /// uma imagem que me inspirou durante a escrita desse capítulo.
É sempre bom ouvir o que vocês acharam (ノ◕ヮ◕)ノ*:・゚✧