Storm escrita por O Espinho Carmesim


Capítulo 9
A Longa Noite




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A caminhada do retorno à casa do rio foi tão pesada. Era como se carregasse todos os carvalhos de toda a Ilha nas próprias costas. As pernas lhe pesavam, a cabeça era como rocha. Ela estava cortada por dentro, seu coração sangrava e não entendia porque doía tanto.

                Olhou para tras, mas nenhum sinal, seria bobagem  desejar que ele voltasse. Até mesmo porque, ela mesma disse, era loucura. Sentiu aquela dor a consumir, mas não disse nada. Até porque, quem a ouviria?

                Segurou-se em uma das colunas de madeira, e chorou sozinha. Como era hábil em dizer adeus mesmo sem querer. Ao limpar o rosto da agua e da chuva e das lagrimas, sentiu uma enorme força a puxar pelo antebraço, a força não era bruta, porém a fez girar e chocar-se contra o corpo enorme a sua frente, e sem tempo de reação, foi abraçada com força.

                O abraço era forte, confortável e amável. Mesmo com tecidos e peles molhadas, era quente e adorável. Um abraço de amor. A mão enorme posicionou-se atrás de sua cabeça a levando para m dos largos ombros, enquanto a outra, agora largava seu antebraço e deslizava para suas costas, era quente e perceptível de toda a forma por onde tocava. A sensação era tão estranha que a fez esgueirar a coluna, e quando no susto de toda aquela situação estranha ela olhou a quem lhe abraçara, viu os longos cabelos brancos em seus ombros, a pele branca e o manto cinza. Era obvio que era ele: Thranduil.

— Mesmo que seja loucura, não faz sentido não viver. – disse sussurrando de forma que talvez somente ela naquela terra pudesse entender.

                Soltou um pouco o abraço, de forma que ela pudesse lhe olhar a face. Ela não acreditava, mas sorriu, ao ver que era real. A alegria se apoderou de sua existência, não podia explicar se fosse questionada sobre isso, mas sentia a alma arder de alegria, não podia se conter daquela forma.

                Sem se controlar, tratou de passar as mãos pelo rosto do elfo, acariciando-o a face e encarrando o par de olhos azuis, como se mais nada existisse. Ele esboçou um sorriso suave, fechou os olhos sentido o suave toque das mãos dela.

                Apesar da chuva continuar castigando a fauna e a flora dali, ambos ignoravam a frequência da mesma. Viviam uma frequência única, criada pela noite e pela corrente sanguínea dos dois. Aquela caricia pareceu uma eternidade. Ele, que outrora parecia feito de aço e gelo, agora, permitia-se a sentir o calor de receber um carinho, não necessariamente estavam em extase, porém, já não existia volta.

                Ela perdida naquele que admirava e que horas antes havia recusado, e até mesmo desejava de forma lúdica que fosse embora, agora estava ali com ela. Lilibeth não conseguia manter a própria alma calma, entreabriu os lábios rosados para que o ar quente deixasse seu peito com melhor eficiência.

                Jamais imaginaria se ver naquela situação. Foi quando ele abriu os olhos, vagarosamente, os fixou nos dela, sorriu, algo tão estranho era vero grande rei élfico sorrir de alma leve. A puxou com furor novamente, apertando o abraço  e com a mão direita tratou de lhe tirar do rosto os fios negros que mantinham-se colados a pele branca, por conta da agua.

                Ela suspirou e sorriu enfeitiçada por ele, mas na nova proximidade dos corpos, era inevitável que ambos não olhassem um ou ao outro com desejo.

                Aquele velho desejo conhecido no mundo dos homens, tal qual ferida aberta que ao invés de curar-se com o tempo e proximidade daquele que lhe infligira o golpe, só aumentava. Porém ambos pareciam gostar disso.

                Assim se deu, neste novo abraço, o calor gerado entre os corpos e  o nervosismo daqueles segundos que mais pareciam ter horas dentro deles, faziam ambos rirem livres de preocupações, foi quando ele, sem mais aproximou o rosto de forma atrevida e bem vida, e lhe tocou suavemente os lábios.

                Ela não sabia o que sentir, então permitiu-se fechar os olhos e entregar-se a sensação única daquelas novas sensações que lhe cortavam o corpo como um raio. Naquela hora, nem uma reflexão veio a mente dos dois.

                A única testemunha deles naquela altura era a própria lua. Quando os lábios se tocaram uma vontade voraz se apoderou das almas por completo. Lilibeth o agarrou pelos cabelos, sem puxa-los, claro, porém  emaranhou os dedos neles e o apertava contra o próprio corpo. Ele, espalmava as enormes e másculas mãos pelas costas dela.

                Quem não sabia e visse a cena de longe, podia imaginar o quanto de desejo existia entre aqueles jovens e ávidos amantes, que de toda forma, buscavam pelo néctar da boca e alma um do outro.

                Se vampiros fossem, era possível alegar que alimentavam-se de suas almas, sem cansaço. Ele, com toda aquela postura, chegou a curvar-se pouco, para que aquela conexão fosse possível, com o contato tão ardido, a impulsionou para trás de forma que como sincronizados, como que valseando, foram caminhando aos beijos para dentro da casa em um piscar de olhos.

                Chegava a ser desesperador, pois eram agoniados, mas eram felizes na agonia. Riam e sorriam quando podiam, ali dentro, não havia nem mesmo a lua como testemunha, a porta, com o sabor do vento de chuva que corria, se fechou sozinha.

                 Isolados, a trilha sonora era o som da chuva impiedosa e de vez por outra raios e trovoes. Por alguma razão. Ela bateu-se contra a mesa, pois andava de costas e de olhos fechados, ele riu alto, como talvez séculos não fazia.

                 Nesse riso solto, a segurou firme pela cintura. Ambos sentiram a chama das almas queimarem de forma inexplicável, ao ponto em que ele mordeu os lábios desejoso dela e ela, mesmo que enrubescida, sorriu, desceu as mãos, deslizando-as pelos ombros, braços e mãos dele, as quais agarrou com paciência e escapando da mesa, o puxou, pelo o único caminho que existia ali.

                 Como tratava-se de uma casa velha, os passos dela faziam ranger poucas tabuas, bem lisas, agora pingadas de agua fria. Havia após uma pequena cortina de conchas brancas, um corredor, escuro, pela noite e tabuas da qual todo o local era feito. Caminhavam ele e ela de mãos dadas, ela a frente e ele calmamente atrás. Era necessário que baixasse a cabeça pela estatura e porte.

                Ao fim do curto corredor a única porta, com um comodo, que como todo o resto, era limpo e calmo. A cama, espaçosa e coberta por mantos de lã de carneiro, brancas, tão brancas que era quase inacreditável a cor reluzente. Sobre estas, um manto vermelho, algo de nobreza, parecia um veludo raro. Haviam almofadas, pequenos moveis de madeira, bem talhados e uma janela grande, fechada adornada por cortinas que iam ate o chão.

                No chão um tapete, também de lã. Obviamente pelo teor que o frio trazia por ali. Num dos cantos, uma pequenina lareira de cerâmica queimada. Era simples porém aconchegante. Ela sorriu virando-se para ele e sem dizerem única palavra, ele voltou a beija-la.

                Desta vez, com maior ternura, agarrou-lhe o rosto entre as mãos. Beijou-lhe primeiro a testa e sorrindo, tratou-lhe de lhe beijar os lábios. Lilibeth tinha a pele avermelhada pela intensidade do beijo anterior, mas com maior alegria, entregou-se novamente aquela doce tortura.

— somos dois loucos... – ele sussurrou entre os beijos.

                Ela concordando, riu-se e o abraçou , novamente passando uma das mãos pelos cabelos dele enquanto a outra, agora livre, deslizava pelos largos ombros dele. Ela o olhou fulminante e ambos entenderam o que estavam fazendo:

— Deveríamos ser normais? – ela respirou fundo tentando reunir forças para resistir.

— não. – ele riu – talvez, eu tenha aprendido que nem tudo se pode esperar para ter...

— Thranduil? Do que esta falando? – ela riu sem entender.

— eu passaria ... – ele respondeu com sinceridade – antes...eu viveria pela eternidade sozinho nos meus domínios..

— e... ?– ela achou engraçado e estranha a fala.

— e agora quero ficar aqui...  – ele abriu os braços  e riu, de forma esquisita e ate mesmo psicótica – o que é um absurdo, um insulto a mim, Thranduil...filho de Oropher... rei..

— minha casa é um insulto para você? – ela sentiu a fala como um balde de agua gelada.

— não! – ele riu – você não entende? O tempo já não existe Lilibeth... por algo que nem mesmo posso controlar, não cabe a mim. Não cabe mais ...

— o que? – ela tentou entender, e passou as mãos pelo rosto receosa, envergonhada e ate mesmo irritada – olha... acho que nos excedemos, e bom, ninguém viu... então ninguém jamais saberá. Isto é um assunto morto... está...

— está mais louca que eu... – disse ele rindo, e andando pelo cômodo como quem procura por algo e encontrou. Uma garrafa velha. Abriu sem ter a liberdade para tal ato, cheirou seu conteúdo e bebeu.

— o que esta fazendo? – ela se assustou com a atitude.

— vivendo.  – ele sorriu alegre. Nem parecia o mesmo ser. – venha... – ele mesmo abriu a janela deixando o vento frio correr ali e olhou a lua.

                 Apesar da chuva era possível ve-la no ceu, suprema. Ele olhava a lua com a mesma perdição que olhou para Lilibeth e disse :

— apesar de mortal, você carrega aquele brilho nos olhos... – e a chamou com as mãos para olhar.

— o que tem nessa garrafa? – ela achou estranho o quanto bebia despreocupado, e falava.

— vinho ao que parece... – riu – devo dizer, é péssimo... mas não me importa.

— obrigada de novo ...  – ela riu pensando: “ pobre rei, além de tudo enlouqueceu”.

— eu quem agradeço. Por tudo. – ele a olhou calmo e assustadoramente feliz. – obrigado por me devolver para mim.

—Thranduil... eu acho que você deve ter bebido demais... – ela ria se divertindo.

— pois então beberei por toda a vida... – ele riu, vontando-se a ela e puxando a janela.

                Sem entender, ela julgou melhor beber também, então esticou a mão e pegou a garrafa, como boa viking bebeu bastante do liquido, ele tomou dela a garrafa e a colocou onde estava e sem mais, investiu contra ela, como num ataque.

                Mesmo que mantendo a elegância suprema, ele queimava por dentro, sem perda de tempo e palavras os dedos ávidos caçaram a beira das vestes dela, que com pressa foram removidas, revelando branca pele e vezes por outras cicatrizes grandes.

                Eram lembranças de uma vida de lutas, e como não era distante de seu povo, uma tatuagem enorme de fenrir no meio das costas. Com vestes ninguém jamais diria que era capaz de ter tal desenho ou marcas de batalha.

                Pelo frio, tinha a pele endurecida e arrepiada, e ficar assim, sem camisa de repente não era comum, revelava mais do que deveria – se é que deveria revelar. Os seios firmes estavam livres, em atrito com as vestes dele, que já que incomodavam os dois, ela, atrapalhadamente teve dificuldade de  remover.

                O beijos eram ardidos, uma paixão queimava ali, sem avisos. Somente a chuva e as respirações pesadas eram ouvidas. Nas narinas os cheiros das peles eram agradáveis a ambos, e as mãos dançavam num frenesi louco, numa leitura em braile das anatomias corporais.

                Ela, estranhava quando tateava na penumbra o corpo, que deveria ser simplesmente perfeito, pois, assim como no próprio corpo conseguia sentir os resultados das batalhas passadas pela qual o rei havia vivido.

                Os corpos quentes, não se demoraram em explorar outras partes ainda cobertas pelo tecido. Ela conseguiu se livrar das peças que queimavam nas peles alvas, agora nus e sem vergonhas estavam ali – um para o outro.

                As caricias e beijos eram perdidos, demorados e saboreados como uma excelente leitura, que não cansava os olhos, e que ao mesmo tempo lhes dava vontade de poder entender tudo, num único segundo.

                Ah que agonia sentiam, daquela forma, tornaram a valsear ´pelo local ate que, ao bater a parte de trás da perna na cama, desabaram sobre ela. A cama era surpreendentemente macia, e com as lãs sobrepostas, mantinha-se aquecida, muito embora, tido o que não faltava entre Thranduil e Lilibeth fosse o calor.  

                Ora, uma vez entregues aquele terrível destino que ambos, fortes não podiam controlar e nem resistir, decidiram que era melhor perderem a guerra da resistência e se permitirem perder a compostura juntos. Como aliados.

                Ele, deslizava as mãos sobre ela como se fosse feita da maior preciosidade já vistas por aqueles olhos, ela era trêmula, pois já não existia ali controle, nem mesmo sobre a respiração, os corações batiam fortes e saudáveis no mesmo ritmo insano.

                Não existe um poque descrever como ambos chegaram a consumar tal ato de ardor, onde para ela, não existia onde se segurar. Onde o desespero de não saber de onde vinham as sensações causadas ao seu corpo a consumia, onde não conseguia dizer, se queria parar ou se deveria se usar mais força.

                Ele, estava em transe, não estava aparentemente tão perturbado como ela, porém, visivelmente e incansavelmente, movia-se sobre ela, segurando as mãos dela sobre a cabeça. Os dedos entrelaçados, não sabiam dizer se eram apoios para a tortura infringida sobre ela ou se eram cumplices das sensações manifestadas no físico de ambos.

                Mesmo para uma viking, esse não era um costume dela, e certamente era a primeira vez que um homem a via nua, ou melhor, era a única vez que qualquer pessoa a via e tinha naquela situação.  Quando as mãos se soltaram, entre pesados suspiros e risos, inevitavelmente num reflexo cravou-lhe as unhas nas costas, os beijos, se pudessem incendiariam a casa do lago.

                Pareciam que se pertenciam desde o início da  eternidade na mesma frequência mantiveram-se equalizados pela noite toda. Cultuavam-se e totalmente entorpecidos de amor permaneceram, entre mordiscadas saborosas, arranhões carinhosos e literalmente caricias apaixonadas, passaram a noite fazendo amor até que horas depois, quando o sol ameaçava erguer=se soberbo sobre a copa das arvores, riram mais uma vez, exaustos. Já não se sabia quem era mais ofegante, quente e suado.

                As gotículas escoriam pela face vermelha dela que demorava a recuperar o folego. Ele parecia alegre e em paz. Deitou-se ao lado dela e abrindo o braço, fez com que ela reoupassase a cabeça cansada sobre o peito nu.

                Abraçaram-se, e ela puxando a coberta, tratou de cobrir suas vergonhas. Agora, a penumbra dava lugar aos primeiros raios de luz prisma do dia que se erguia despedindo-se das gostas da chuva passada. Como dois adolescentes, estavam deitados, juntos, nus e de mãos entrelaçadas, a exaustão de toda aquela noite passou e começou dar lugar a necessidade de descansarem, mas ela pensativa dizia aos sussurros:

— Thranduil... – sussurrava pelo cansaço e também com receio.

— sim Lilibeth... – respondeu com a voz grossa, aos sussurros delicados, admirando cada partícula de ar suspensa contra a luz que entrava das frestas da janela.

— o que será de nós agora? – ela receiosa perguntou, fechando os olhos com toda a força que podia, como se tivesse medo de ver a cena do questionamento. Ou temendo pela resposta.

— como assim?

— entre meu povo... – ela disse e pensou – nossa... por Odin! No seu povo também..

— o que tem nossos povos? – ele disse fechando os olhos calmamente, enquanto lhe acariciava os cabelos com uma das mãos e com a outra, segurava a mão dela sobre o seu peito.

— como vão entender isso? – ela disse com preocupação – meu povo vai me condenar... mas sou livre para fazer o que quero da vida. Porém... você é rei..

— sou menos livre?

— não...mas é rei...

— meu povo deve entender que sentimentos assim não tem donos ou como serem domados. Eu me dominei por tanto tempo...que estive morto.

— mas... – ela achou estranho.

— agora que tenho vida, pouco me importa o que pensam de mim. – ele riu. – deixe as coisas de mortais, deixe que se questionem...descanse Lilibeth....

                De fato, era tarde para refletir sobre os atos e as consequências que eles tomaram. Era terrível o que poderia haver no reino dos elfos. Porém, provavelmente seria algo que viveria somente ali.

                Era o dia do festival da lua que amanhecera. Talvez, ele tivesse de ir embora, mas Lilibeth não quis tocar neste assunto. Não naquele momento, e como uma viking saberia que se ele decidisse ir embora, não haveria nada que ela pudesse fazer.

                Ele fechou os olhos e acariciando os cabelos dela serenamente adormeceu, e ela seguiu por minutos a mais, pensativa, querendo de alguma forma desvendar o que viria. Ou ao menos entender se deveria voltar a Helsinquia com ele.

—odin... o que eu fiz? – ela se questionava em silencio.

                Porém, a noite passada foi longa e a fez ter sono, e ali no silencio da calmaria do novo dia em casa, nos braços dele, o som do pulsante coração forte do rei élfico a embalou num doce sono de repouso sem igual.

             Não demorou nada, ate que ambos adormecessem tranquilos e ocultos ali. A casa e o lago eram feitos em silencio, algumas aves cantarolavam vez por outra. Mas nenhum outro som era ouvido ali. Nem mesmo o respirar do elfo era audível.

Mesmo no mundo dos sonhos, as ideias de como faria no amanhacer a assombravam. o que lhe reservaria este futuro incerto?

 

 


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