Storm escrita por O Espinho Carmesim


Capítulo 6
A Praga




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 Ora, quão estranha era aquela situação toda. Ela não tinha muita lembrança, exceto do que havia vivenciado por si só até o momento em que, com os olhos encharcados, vislumbrou algo cinza e reluzente, e que de certa forma a fez imaginar ser o próprio Aesir que a tivesse vindo buscar para leva-la à  Valhalla ou Helheim.

                Agora estava ali, sem nem entender porque, numa cama, tonta, e bebendo da bebida esquisita e sem graça que o elfo lhe entregará. A única certeza que tinha era que Halfdan - o gigante, estava morto. O que para ela era ridiculamente inacreditável. Pois ele costumava ser boa pessoa, até mesmo para os padrões vikings, era bom e honrado, e Lilibeth tentava entender em sua mente o que diabos havia acometido o rapaz, que ela tinha como irmão.

— eu não estou falando bobagens... – ela sussurrou ao sorver da bebida. – e o que diabos é isso? Parece...quiabo batido! Eca! – a cara de desgosto era como se tivesse lambido uma caramujo fresco.

— é remédio. Ao anoitecer, já estará melhor. – respondeu o elfo, com prepotência, e virando-se para a porta, disse a Cedric – espero que recobre a sanidade também. Agora, vá Cedric, eu me comprometo em observa-la. Sei que existem uma serie de preparativos do seu povo para o funeral

— funeral?  - Lilibeth tomou grande susto e tentou a todo custo se levantar da cama, mas quase caiu no chão, se não fosse por Cedric e seu reflexo.

— wow! Calma Lilibeh!  - a voz pesarosa e grossa disse com tranquilidade. – o senhor tem razão Thranduil. – concordou com o elfo – Lilibeth, fique aqui. Tome o remédio, se reestabeleça. Quando melhorar, venha ao salão, e conversaremos sobre o que houve na clareira, mas ate lá...busque estar em paz. – os olhos de cedric eram de um azul incomum quando tristes, e sem duvidas esse era o dia. – eu agora, de fato, devo organizar o cortejo de meu irmão... – disse a ajudando a sentar-se na cama.

— Halfdan? – lilibeth sentiu o estomago se revirar com a bebida, e pelo pesar do amigo, sentiu a tristeza perfurar seu coração – então... assim se foram seus dias?

— receio que sim, minha jovem senhora... – respondeu o viking ao passar por Thranduil que olhava sem nem uma reação, além da clássica postura de quem com nada se importa após tantas eras de vida.

— então, gostaria de poder ascender a barca, se me permite...sei que você é o irmão, mas...

— barca? – Thranduil olhou sem entender.

— sm, a barca senhor, entenderá mais tarde. E ...veremos como estará ate lá Lilibeh. De qualquer  forma, estará lá. Isso é certeza. – dizendo isso Cedric saiu pela larga porta de madeira velha e escura. Deixando ambos para trás.

                Thranduil, em contrapartida parecia mais um carrasco que um ser de luz – um elfo. Estava ali, com seu manto negro, revestido de vermelho. Na mão direita, caminhava com um cajado de madeira contorcida. E em sua cintura, estava presa uma longa espada élfica.  Os cabelos longos e quase brancos de tão claros caiam-lhe sobre os ombros organizados e impecáveis.

                Quando Lilibeth secava poucas lagrimas que lhe sobravam nos olhos,  ele que era imóvel, então móvel o olhar, uma luz estranha os tomou, parecia amaldiçoar aquelas lagrimas e quando sentiu a distancia de Cedric, disse finalmente em tom baixo:

— quem diria, uma mortal com tamanha habilidade de fingir sentimentos... isso me é bastante surpreendente..

— mas do que é que está falando afinal? – Respondeu com dor na alma. – Você não sabe o que é real. Não conhece a minha dor e muito menos o que vivi. Halfdan... – pareceu pensar e disse apenas – você não sabe nada sobre ele. Nem nunca saberá!

— Lamenta a morte dele?

— Obvio que sim!

— Mesmo depois do que ele fez? – pareceu pensar ao ascender uma vela, o tempo chuvoso apagou  o brilho do dia em Helsinquia. – dizem que a dor, da morte... só dói nos que amam..

— sim!  Ele estava louco! – ela respondeu voltando a chorar e a se lembrar do que de fato ocorrerá, ergueu os olhos e olhou Thranduil – como assim “ depois do que ele fez?” ... Thranduil... o que você sabe sobre Halfdan?

— bom, ele ia te tirar a vida. E eu tirei a dele antes. – respondeu com frieza, e continuou – mas seria bom, Cedric não saber desta parte...

— você o que? – se assustou. – impossível... você não estava lá! Alias, eu te esperei por horas e você... não apareceu! NÃO APARECEU!

— não se atreva a falar comigo desta forma, sua mortal. – num tom desprezível, voltou-se a ela e disse com tamanho descaso pela vida – eu estive lá. E ele também. Se não deveriam ser vistos, como poderia eu me mostrar a quem lhe observava? E sim, você sabe que apareci!

 - como é que ... – Lilibeth vasculhava a própria mente e não achava nada que pudesse concordar com ele.

— quando estava no chão... – ele disse calmamente – quem achar que realmente foi ao seu auxilio?

— eu não sei... – ela disse chorosa -  eu vi uma luz, nas trevas, pensei que era ...

— Aesir? – ele esboçou um sorriso – lembro do nome que disse quando a acordei.

— sim! – o medo tomou conta de Lilibeth – então... foi você...

— quem é Aesir? – ele disse curioso  - o mesmo barqueiro que leva as almas para a tal Valhalla, ou alguém que ainda não vi neste salão?

— sim... Aesir... – ela concordou – o barqueiro... eu... pensei que estava morta ...finalmente.. e então...

— finalmente? – riu da fala e foi ate a janela – beba logo toda a poção. Antes que perca o efeito. Sobre o que houve, está morto. Acabou. Louco ou não...matei Halfdan. Disse que ouvi rumores de lutas na floresta, e fui até lá... quando cheguei, você estava no chão...e haviam gobblins contra Halfdan. Ele já estava quase morto quando cheguei...

— você...inventou uma mentira! – ela sussurrou espantada, apoiando-se na cama, buscando manter-se de pé. – Thranduil...

— o que queria que eu fizesse? Viesse e contasse a verdade? – ele a olhou – não fui em quem começou essa maldita narrativa nestes salões. Mas, me perdoe, irei terminar. – meneou a cabeça e caminhou ate a porta – é bom que concorde comigo, pois eu desejo meu reinado de volta e custe o que custar...eu voltarei para lá. Então, para sua segurança, conte a minha verdade...

— a sua mentira! – ela disse corajosamente. Sentindo ódio em seu coração por saber que ele havia escondido a verdade de Cedric.

— minha mentira manterá você viva. E eu quero achar a fonte da magia que me trouxe.

— e não importa quem morre ate que eu te diga não é? – retrucou – não é difícil entender porque seu filho prefere “sumir” da sua presença!

— não, se atreva! – com velocidade incrível ele voltou e avançou sobre ela sem tocar-lhe um fio de cabelo. Como era alto demais precisou curvar-se para falar-lhe. – quem não sabe nada sobre ninguém é você, cale-se sobre a minha vida.

— vida? – ela riu irônica  - obrigada por salvar a minha. Uma favor por outro. Lhe darei sua volta em retorno mas nunca mais se aproxime de mim, oh grande rei élfico e monstro sob a floresta...

— você não sabe o que esta dizendo... – ele disse revoltado, mas controladamente imóvel.

— sei sim, meu prazer será te ver longe daqui, monstro! – sem notar a diferença, talvez pela revolta de toda aquela situação confusa, Lilibeth nem percebeu que conseguia caminhar como se nada tivesse ocorrido.

                 Saiu às pressas dali, deixando o elfo para trás, o ódio movia suas pernas, e o pesar controlava sua mente. Halfdan não era o primeiro, certamente não seria o último a morrer as suas custas. Mas nem ao mesmo, ela conseguia entender de onde viera aquela loucura dele.

                 Quando saiu das casas de cura e olhou o tempo, chuvoso e impaciente, escuro como tarde de inverno cinzento, pensou duas vezes e olhou em direção ao grande salão. As tochas estavam ardendo, altas e firmes. Em torno dela, num entra e sai, estavam guerreiros, mulheres e crianças. 

                Cantavam, entoavam poemas  e dançavam canções lendárias, de fato um funeral começara. Ao contrário de outras culturas,  ali, a morte não era motivo de choro. Pelo contrario, deveriam comemorar a partida do morto. Dar e ele as honrarias que mereceu em vida, e que com Halfdan, que ate aquele dia era bem quisto, não seria diverso.

                 De acordo com a tradição, a musica seria cantada, entoados os poemas, o mais velho da casa do morto, daria a ele as honras de casta e o sepultamento – se em terra fosse, seria num barco, num chão seco e circundando por pedras, no formato de um barco. O escudo e a espada estariam com o morto, para chegar certo de defesa em Valhalla.

                Joias, comida, pentes de osso e ate mesmo animais deveriam seguir o jovem morto que ali repousaria. Lilibeth não queria mais fazer parte daquilo, mas viu todos a sua volta se encaminharem para o salão. O céu era castigado por Thor e suas marteladas, pareciam lamentar pelo jovem cadáver.

                Suspirou fundo, sabia que mesmo na sua arrogância e prepotência fria, Thranduil estava certo em mentir, pois ninguém acreditaria neles, e muito menos aceitar facilmente a morte de Haldan. Então decidiu, carregar em segredo aquele peso. Ainda descalça, desceu o primeiro degrau de pedra fria, e sentiu novamente a chuva na pele.

                As gostas gélidas eram como facas, eram as chuvas do inverno, anunciando a mudança da estação, seguiram-se dias assim até que  o frio absoluto e a neve chegassem com a segunda lua de sangue e em seguida a lua azul.

                Não podia evitar, aqueles passos na grama gelada e na lama eram terríveis, por saber que ao entrar no salão deveria agir como se tudo o que o elfo fosse realidade. Os cabelos soltos pela primeira vez em 15 anos, começavam a molhar, esvoaçavam teimosos ao sabor dos ventos que corriam lamuriando a morte do vikings.

— Odin! – disse quase que em um grito. – se estiver aí com Thor...e eu sei que está...  Tenha pena da alma Halfdan! Nos sabemos o que houve e que ele não morreu covardemente. Duvido muito disso... logo, o receba nos teus salões. Sirvam a ele do hidromel e que escutem dos feitos dele, de forma que ele jamais envergonhe os antepassados dele e possa se sentar ao lado deles para o banquete da noite...

— Lilibeth... – a voz dele cortou a prece que ela fazia – porque?

— como se ateve a me dirigir a palavra elfo? – o ódio tomou conta dela. E ambos na chuva eram ignorando por aqueles que se apressavam para o cortejo.

— jamais foi meu desejo atravessar seu destino, muito menos trazer esse luto.. um mistério para meu entendimento, juguei ter ajudado – disse cordialmente. – ainda que tenha feito tal erro, peço que me perdoe, não interferirei mais na sua vida e no que resta dela.

— ora! – disse ela ainda confusa de sentimentos, mas determinada a ser menos cruel o possível – Thranduil... você é de fato, incapaz de amar. De entender como as coisas realmente são e...

— você o amava? – franziu a testa, incrédulo. – mas...

— não! – ela negou, tirando alguns frio de cabelo da face, pois colavam com a agua – eu não o odiava, certamente que não...e Halfdan não estava normal. Ele nunca me faria mal..

— não foi o que vi. – disse com seriedade. – de qualquer forma, não desejei lhe fazer mal.

— e não fez... – disse relutante – não fez mesmo, sou obrigada a reconhecer que me “salvou”. Porque...eu não tive a coragem que deveria ter. eu mesma deveria ter matado ele. Essa é a lei.

— que lei mais tola... – friamente respondeu.

— é, pode ser. Mas é a lei de meu povo, a qual eu de certa forma sou quem mais deve manter. – riu sozinha o medindo de cima a baixo – ou ao menos não deveria ter mentido! Porque você mentiu?

— porque, não se diz a um mestre hospitaleiro que você matou o irmão dele, que diante de você era uma mosca inofensiva!

— mosca? – ela riu sem acreditar. – olha, ok, você é quem você é...  – fez uma reverencia cômica, e disse: - chamar Halfdan e mosca é loucura!

— eu o matei com um único corte.

— Como? – ela se assustou, e tentou enxergar o fundo os olhos extremamente claros e azulados, quando um raio caiu próximo dos dois, na mata fechada, reluzindo brilho azul, ambos olharam aquilo, ela cobriu os olhos com uma cdas mãos afim de evitar que a agua atrapalhasse de ver o que era aquilo.

— lhe cortei a garganta com Glamdring. – Respondeu frio. – você consegue ver o que vejo... – o elfo estreito os olhos, mas sua visão foi empedida por algo.

— tanto faz.. o que é aquilo? – como uma boa viking, naquela hora aquilo deixou de ter importância e ela começou a caminhar em direção a luz. Ambos começaram.

— você deveria voltar  Lilibeth... – ele disse tomando frente com sua postura ereta e assustadoramente imponente – é a mesma luz que me trouxe! – esboçou um sorriso e virou-se a ela, tocando-lhe os ombros, olhou no fundo de seus olhos e sorriu – Devo lhe pedir um favor, em troca de ter lhe salvo a vida...

— como assim? – ela tentava observar o que tinha na mata.

— volte ao salão, legolas e os demais estão lá, ordene que venham até mim, e partiremos!

— que? Mas ..está louco Thranduil!!? – ela tentava se soltar.

— porque estaria? Não vê é  o portal... devemos partir. – imediatamente, o elfo pos a mão sobre o peito e sorriu – não foi tão complicado afinal. Perdão por trazer-lhe dor. E ... – estendeu a mão a ela, abrindo a palma estavam o anel de Lilibeth e a pedra de lasgalen. – como o prometido...

—Thranduil... – ela riu achando fofo o gesto, mas se conteve – você não vê? É um presente... – estendeu a mão e fechou as pedras nas mãos dele. – quero que guarde! Mas... você realmente não vê?

— o que quer que eu veja minha cara Lilibeth? – disse quase que num tom amoroso.

— quero que veja o que tem diante dos teus olhos, elfo! – riu alto. – é fogo! Somente fogo azul!

— fogo? Onde? – ele caminhou sem se importar com ela ali na chuva. – não é...

                Ambos se entreolharam, Lilibeth tentava não rir da inocência do rei élfico que acreditava ter visto um portal, mas deu um desconto, pois sabia como era horrível estar longe do lugar que amava. Ela foi caminhando atrás dele, que sorrateiramente, não fazia ruídos no caminhar, nem mesmo ao pisar na agua, fazia rumor. Ela pelo contrario, era um festival de barulhos.

                Adentraram a floresta novamente, Lilibeth usava um enorme e incomodo vestido azul marinho, que não lhe permitia mover-se com facilidade. A sua frente uma cascata branca de cabelos, locomovia-se com total destreza, quando ergueu a mão e parou repentinamente, baixou a fronte e se esgueirou, fez sinal com os dedos para que ela olhasse também.

                Lilibeth debruçou sobre o ombro esquerdo do rei, que não se agradou muito do jeito estabanado dela de ser, mas ficou incrédula, pasma com o que viu. Ambos puderam ver, alguém de capa e capuz, circundando o fogo azul, que chamuscava, como se consumisse a agua dos céus.

                Esse alguém estava descalço, pele branca tinha, e proferia palavras em língua desconhecia. Jogava no fogo coisas, que Lilibeth não sabia discernir, e vez por outra, parecia incomodado com algo no mato, talvez pressentisse a presença dos dois ali.

— isso aí é bruxaria! – ela disse sussurrando incrédula por aquilo que presenciava.

— ora, se não me contasse, seria eu incapaz se adivinhar... – ele respondeu com ironia – pode por favor, sair de meu ombro e me dizer quem é a bruxa?

— como vou saber? – Sussurrou abismada. – tem várias malucas nessas terras.. mas nunca pensei que tivesse uma doida nesse nível...

—mas que tipo de nobre é você? Não sabe nada nunca! – respondeu a olhando.

— eu não vivo aqui a séculos! – ela respondeu. E por alguma razão começou a rir do elfo. – sabia que você chega a ser doce de tão serio que é?

— Lilibeth... não temos tempo... – ee fechou os olhos e pensou alto – é mais fácil negociar com um anão de erebor..

— nossa... – ela riu – precisava?  Olha..eu realmente não sei quem p..

quem está ai? -  a voz ressoou pela mata. Veio da figura misteriosa que conjurava feitiços na chuva. Mas era difícil dizer se era homem ou mulher. – vamos! Revele-se! Eu posso te ouvir... eu sinto o seu cheiro, não me é estranho por razão nenhuma...  quem é você que se coloca entre eu e meu feitiço? O que vai fazer filho de Oropher?

— Essa coisa viu nos dois! – disse Lilibeth para Thranduil que pensava sobre o que ouviu. – diga-me que tem mais que esta espada? Vamos... conseguimos!

—cale-se! – ele tapou a boca dela com a mão e a olhou com pavor. – fique de boca fechada! É minha ordem!

                Lilibeth viu o pavor dos olhos do rei élfico e não entendeu absolutamente nada, pois os olhos dele, ficaram mais claros que o costume, ela tentou mesmo que com a boca tapada, quase sentada ao lado dele na grama, olhar quem falava.

você está sozinho não esta?  Que decepcionante. você esta isolado e nenhuma ajuda virá.e que cheiro mortal e efêmero é esse? Ah... você a trouxe...ah..o amor, sua maior fraqueza oh!rei dos elfos da floresta negra... — a voz passou a engrossar, mas era assustadora de todo jeito, não ecoava. Era torpe.

                Thranduil olhou desconfiado para Lilibeth, quando notou que  a pessoa encapuzada vinha na direção deles. Fez sinal para que ela se mantivesse em silencio e com uma destreza que somente era dada aos elfos míticos, ele se levantou, puxou Lilibeth pelos braços e a carregou, correndo dali.  Foi tão ágil que não houve tempo de resmungos por parte da jovem, que estava estarrecida com o feito nunca antes presenciado.

                O elfo correu pelas matas, porém, um chama azulada os seguia por onde passavam até que alcançaram a clareira, e por alguma razão a chama apagou-se. Outra vez, no mesmo dia,  estavam ali, onde Halfdan caiu.

                Thranduil a colocou de pé no chão, e ele sem entender ficou olhando para a mata, esgueirando-se buscando entender o que, ou quem era.

— Lilibeth, minha paciência tem limites... – ele disse, claramente transtornado, mas buscando auto controle. – quem é a bruxa?

— olha...eu realmente não sei, existem milhares delas, mas nunca vi fogo azul, não assim... – ela respondeu  sussurrando – você deve saber! Ela saber que você estava lá! Você a ouviu, ela foi clara... “ filho de Oropher!”

— isso ouvi. Mas... – ele pensou – não era humana...não aquele ser...

— bom, pela voz, não me pareceu mesmo...

                Então, eis que novo raio atingiu a mata, mas nada entre as folhagens fora visto, até que fumaça começou a subir do chão. Uma fumaça escura e esverdeada, como nevoa começou a se alastrar, e  a voz retornou:

diga-me rato! Como pretende me desafiar? Não lhe sobrará nada para me dar além da sua própria morta elfo...— a voz torpe disse ao rosnar.

                Thranduil desembainhou Glamdring e apontou naquela direção, puxando a mortal para trás de si, não parecia nem um pouco intimidado, pelo contrario, parecia sentir alegria em ouvir aquela voz. Como quem sentia paz em achar um combate.

— revele-se monstro, a mortalidade não me pertence. Não há o que lhe dever. Poderemos nos enfrentar por séculos, afinal, o que é um século para os mortais, para mim é apenas o tempo de piscar os olhos.

— hey! – Lilibeth olhou para ele revoltada e ao mesmo tempo, notou que ele pouco se importava com ela ali.

elfo... não é a sua hora, nem a dela...— respondeu a voz – mas, tudo o que um dia foi, deixará de ser. Tudo me pertence, o passado... o presente e o futuro que os seus olhos não podem enxergar sindar.

e quem disse que eu pretendo dominar as forças ocultas que estendem o olhar sobre as vidências? - Retrucou.

                O chão ficou tomado da névoa estranha e densa, e a voz se calou. Por segundos nada se ouviu, Lilibeth estava confusa demais para questionar qualquer coisa, por mais estranho que parecesse, ouviu um canto sereno e calmo, distante, quando um pequeno ruído se ouviu, não eram galhos, folhas ou pedras rolando com as aguas da cachoeira. Foi como um riscar de pedras para ascender fogueiras, e com ele, fogo.

                Uma chama sem igual se ascendeu, a nevoa era como um combustível que a fazia queimar mais forte, Thranduil habilmente tirou o manto e jogou por cima de Lilibeth a envolvendo e num salto absurdo, quase que fisicamente inexplicável lançou o próprio corpo para o alto, e caindo sobre a terra, arrastou Lilibeth para a floresta.

                Na louca correria,  parecia arrastar um saco vazio, pois Lilibeth estava imóvel. O fogo consumia a mata, portanto, ele tratou de leva-la a algum lugar distante daqui. Mas ao mesmo tempo, quando olhou para trás, viu na clareira, enormes azas se abrirem. Não pode ver que cores tinha ou os olhos, mas era certamente um dragão.

                Como não tinha jamais visto antes, possuía duas cabeças.  Os dentes saiam lhe da boca de forma desalinhada, era uma veste feroz. Vendo-se que se tratava de um dragão já no alto da colina, perto do grande salão, mas ainda dentro da floresta, o elfo a colocou no chão.

— desde quando vocês tem problemas com dragões?

— desde nunca! – ela respondeu, retirando de si o manto. – será que você pode me dar alguma explicação? Eu já estou perdida... se me perguntarem o que estou fazendo nem eu sei dizer!

— você nunca viu dragões por estas terras, Lilibeth?

— obvio que já vi! – ela respondeu irritada – são mais comuns do que se pensa, para nós vikings. Confesso que não os zíperes arrepiantes.

— quem? – ele olhou atordoado.- que nome absurdo é esse?

— é como chamamos essa espécie...não temos um livro que diga o nome de registro de nascimento deles, nõ na nossa língua! E  não são comuns aqui, não mesmo. – disse pensando só – uma cabeça cospe gás letal... outra ascende o fogo. .mas nenhuma fala.

— não falava, porque não foram ouvidas nunca.

— jura? Thranduil... alguém já te disse que sua inteligência supera tudo? 

— Chega! – disse irritado finalmente. – essa besta, vai querer morte, sangue é o que lhe trará sossego! Você não entende?

— entendo... ou ouro.  – ela riu, cruzando os braços – e isso nós podemos arranjar. É só saquear algum canto e pronto ...ele pega e some, ou matamos ele.

— você é maluca?

— depende do ponto de vista!

— Lilibeth... – ele se aproximou de forma dura, imparcial. De forma tal que a fez dar um passo para trás – quem era o ser amaldiçoado na floresta? Você sabe quem é..e eu exijo saber...

— Eu já disse querido... eu realmente não faço a menor ideia, não é difícil descobrir, são poucas as que conjuram magias fortes...e quase nenhuma capaz de conviver com um dragão... – ela respondeu tentando manter a postura.

                A medida que ele se aproximava, ela caminhava para trás, talvez, tivesse contado com a sorte quando Halfdan a atacou, mas seria igual com Thranduil? Descruzou os braços e tentou tatear o que tinha atrás, quando pisou em falso e deu um grito.

                Seu pé ainda descalço havia deslizado pela lama do cume, a fazendo cair e no impulso agarrou o elfo pelos cabelos. Ambos rolaram colina abaixo batendo-se alternadamente contra arvores, raízes e pedras. Uma cena absurda. Obviamente, o elfo com habilidades incontáveis logo conseguiu se recompor, e a segurou pela mão enquanto terminava a queda absurdamente ridícula

— como você sobreviveu ate hoje, me pergunto? – disse a ajudando a manter-se em pé e retirando do rosto dela os cabelos molhados.

— sorte eu acredito... – disse sem jeito, limpando ou tentando limpar o que se amontoava sobre ela. – só isso explicaria minha vida, senhor...  – e olhou para cima rindo.

                Ali, na escuridão e discrição da floresta isolada, acompanhados apenas pelo barulho da chuva, frente a frente, os olhares se encontraram. Mudos, perderam-se por segundos no olhar um do outro. Já era a queda da noite.

                Ele levou a mão ao rosto delicado dela, e como se pudesse ler poemas em seus olhos, uma força em sua alma o fez se aproximar mais ainda. Ela, perdeu o encanto do sorrir, os lábios fecharam-se lentamente, mesmo que mantendo-se entreabertos, deixavam escapar o quente ar da respiração, causando pequena nevoa contra apouca luz.

                Lilibeth jamais havia se sentido tão agoniada. Como que torturada, pois ao passar os longos dedos pela pele de Lilieth, Thranduil parecia estar contornando uma estátua admirada, como se jamais tivesse avistado tamanha beleza.

                Lilibeth, sem reações pensadas, fez o mesmo, admirando o rei dos elfos, atreveu-se a tocar-lhe  o branco e másculo rosto. Que apesar de saber que viram eras de vidas, tinha a pele macia e fresca de jovem. Quando irracionalmente, ele deu um passo adiante, passou a ponta do polegar sobre o rosado lábio superior dela, ambos entregaram-se a uma sensação louca de que deveriam abraçarem-se.

                Folhas caiam com a chuva, que fazia seu típico rumor, o fogo mesmo que distante, faziam ruídos displicentes quanto que entre eles o silencio era a única língua falada.  Ainda que ela estivesse completamente encharcada, ele que tinha cabelos molhados parecia ter as vestes secas e limpas.

                Quando aproximaram os rostos para finalmente fazerem os lábios se tocarem em uma troca sinfônica de sentimentos secretos e reprimidos, ouviu-se brutos estalares de galhos ao chão, com eles latidos e rosnados absurdos e seus donos enormes mastins, invadiam a floresta.

                Ambos os viram e aproximar contra a luz das tochas empunhadas por guerreiros, todos com machados e espadas. Eram homens e mulheres, entre eles. Legolas e outros elfos vinham sobre os galhos das altas arvores.

                Os dois antes que pudessem ser notados pelos cães se soltaram, sem saber exatamente como procederem, olharam-se desconcertados, Lilibeth puxou o tecido do vestido que lhe estava colado ao corpo e correu ao encontro dos cães, ouviu o soneto das trombetas de chifre de cabras montanhesas e gritou para Thranduil:

— são meu povo! Venha Thranduil...existe algo que não vimos ainda! – correu em direção aos vikings e quando alcançou o limite da mata, freou. – mas...

— Lilibeth... espere... – ele correu atrás dela, antes que pudesse pega-la, ela escapou-lhe os dedos. – Legolas... vá atrás dela... antes..

                Legolas que mal chegara ao lugar, concordou com a cabeça e retornou, Thranduil não ficou para trás, juntou-se aos elfos. Agora eram um pequeno bando de quatorze elfos sob o comando de seu rei.  Eram velozes e destemidos dentro das matas. Silenciosos, mas todos possuíam o rosto assustado.

                Quando chegaram no limite da floresta, parecia surreal o que viam. Havia desordem enorme, alguns corpos pelo chão, desde o salão ate a vista se perder em alcance. Haviam grandes e vários grupos de guerreiros, lutavam como loucos, e Lilibeth, mesmo descalça e de vestido, estava com um enorme machados de dois fios, girava-o no ar, acertando cabeças de seres estranhos e contorcidos.

                O fogo reinava e se espalhava voraz, como se não tivesse fim, arqueiros posicionavam-se e apressavam-se em destruir a corja inimiga. Um caos tremendo se instaurou, e enquanto os céus eram cortados pelos raios de Thor, dragões voavam, seu zunido era ouvido e vez por outra escutava-se a voz de Cedric gritando:

— Abaixem-se e se protejam! – um enorme homem corria com seu escudo, jogou-se numa cambalhota ao chão, e destemidamente, consegui cobrir Lilibeth a tempo. Pois o dragão incendiou-se e cuspiu de seu ódio sobre eles.

— o que foi isso agora? – Lilibeth caída no chão apressava-se a se levantar e Cedric se posicionava de forma a combater.

— não sabemos, começou na floresta, e surgiram cada vez mais e esses malditos...  – apontou os seres quase demoníacos que vinham pela terra. – onde você estava? Não a encontrei nas casas de cura...

— não! – Lilibeth correu e juntou um escudo do chão, nesse momento, uma das criaturas horrendas, com um tipo de foice mostrou-lhe os dentes e partiu para cima dela – as que diabrura é essa?

— são orcs! – uma espada reluzente passou pelos cabelos de Lilibeth, como uma lança e se cravou no peito do ser, que caiu duro no chão. – servos de Morgorth!

— Legolas... – ela o olhou assustado.

— eles não vão parar – disse o jovem elfo, aplumando suas flechas para começar uma nova matança.

                O grupo de elfos chegou, matavam tudo o que vinha em direção a eles, Thranduil, usava duas espadas, parecia um toureiro espanhol ao passar as laminas tão próximas de seu próprio corpo e deixando para tras cabeças e corpos separados e ao chão.

                Ao ver a abertura entre a frente de batalha, Lilibeth pensou e correu ao salão, não faria muita coisa de vestido e saiu em disparada para lá. Chegando as portas do salão sentiu a dor da morte. Sobre a mesa principal o corpo de Halfdan, arrumando, com seu machado sobre o peito, o escudo sob a cabeça e vestido com sua melhor veste. A sua volta, trombetas, taças, facas e joisas. Lilibeth  reverenciou o morto e apressou-se, correu para a biblioteca.

                Lá encontrou um bau enorme, jogou de qualquer jeito os livros amontoados sobre ele no chão, e o abriu. Os gritos e sons da batalha la fora não passavam, e então se apressou em se despir.

                Do lado de fora, Cedric bravamente, rechaçava e fazia voar por cima e para os lados corpos de orcs fedidos. Em linha única, os elfos pareciam varrer da face da terra as podres almas, mas os dragões pareciam enlouquecidos, queimavam tudo o que viam pela frente. Um deles, ignorou os guerreiros e tratou de ir ao grande salão, ao alcançar o local, voou baixo, cuspindo seu ódio contra o telhado e iniciando grande incêndio.


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Notas finais do capítulo

o que poderá acontecer agora?
Lilibeth sairá viva de lá?



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