Cheguei animado em casa, mas fiquei tenso quando percebi meu pai e Malu me encarando do sofá com expressões sérias.

— O que aconteceu? Quem morreu? - perguntei me aproximando dos dois para sentir um tapa em minha nuca.

Me virei e encontrei a única imagem de avó que eu tive: a de Malu. Madá me encarava com um sorriso sacana e logo foi soterrada por um abraço apertado meu.

— Como… - comecei e ela riu piscando um olho.

— Tenho que manter meus segredos, garoto. - Madá então pôs as mãos na cintura com uma expressão reprovadora. - E você, garotão? Eu sumo por uns tempos e descubro que você ainda não desistiu de se refastelar com modelos? Devia procurar mulheres com mais curvas.

Gargalhei a abraçando mais uma vez.

— É que eu não posso me apaixonar pela minha avó postiça, Madá. - expliquei e ela riu apertando minhas bochechas.

— Assim você me tenta, garotão. Pensa eu por aí com um garotão uns 50 anos mais novo que eu. - ela encarou então meu pai e Malu que ainda pareciam tensos e eu também olhei para eles.

Tanto vó Madá quanto eu nos sentamos e eu comecei a ficar ansioso.

— Falem logo o que aconteceu. - exigi e Malu me entregou um tablet com uma notícia nova sobre Giane e eu.

CHEIRO DE CRIANÇA NO AR?

Garçom afirma que o casal conversava sobre possíveis nomes de filhos enquanto almoçava.

Parece que o novo casal mais atraente de São Paulo tem mais história do que está deixando passar.

Desde que foram fotografados em clima de cumplicidade na pista de dança durante o noivado de Amora Campana com Maurício Vasquez no último mês, Fábio Campana e Giane de Sousa foram filmados em clima de romance por Sueli Pedrosa em uma floricultura e, fontes próximas ao casal, afirmam que eles estão sempre juntos, inclusive noite adentro.

Há ainda quem afirmasse há algumas semanas que eles estão muito próximos de irem morar juntos e que a aposentadoria discreta de Giane fosse uma forma de manterem a gravidez da modelo fora da mídia.

Em todo o caso, fãs do casal podem comemorar porque parece a gravidez do casal é real e eles foram vistos debatendo possíveis nomes num restaurante alternativo essa tarde.

Eles parecem estar muito empolgados com a novidade e fontes próximas ao casal continuam dizendo que eles provavelmente vão sair do país para o nascimento da criança, dizem que eles querem que a criança nasça em algum lugar exótico. Inclusive, vão manter nomes em frutas como a da irmã do futuro papai e quem ouviu a conversa que eles queriam nomes como Mirtilo ou Pitanga.

Quem pode, pode, não é mesmo?

Relembre os ex-namorados de Giane de Sousa

Fábio Campana fotografado aos beijos com Camila Lancaster

— Que merda é essa? - perguntei e meu pai me encarou suspirando.

— A mídia criou todo um conto de fadas para você e a Giane. A Malu diz que a garota não quer nada disso, mas parecem que colocam um fotógrafo só para ela nessa cidade. - ele comentou e eu senti vó Madá retirar o tablet da minha mão.

— Menino, que voracidade! - ela soltou gargalhando. - Malu, minha linda, esse garoto ia devorar a moça viva nesse vídeo!

— É fake, vó. - expliquei dando de ombros. - A Amora estava falando merda para a Giane e antes que ela quebrasse o nariz da it-filha na frente das câmeras da Sueli Pedrosa, eu agarrei a maloqueira.

— Plínio, bota esse garoto pra atuar. Ele tem o talento da mãe. - ela comentou dando de ombros.

Mãe… Eu tenho mãe? Eu tive o carinho e o amor de uma mãe de Emília e vó Madá. Bárbara nunca gostou nem da filha, imagina o quanto ela gosta do bastardo que reduziu pela metade a herança de Malu. Eu gostava de imaginar que Irene sentia minha falta todos os dias, mas eu duvidava. Eu não estava escondido no fim do mundo e não era tão difícil me encontrar assim.

— E o que eu faço? - perguntei e Malu balançou a cabeça enquanto mordia o lábio inferior. Acho que ela sentiu a mudança em mim quando ouvi a palavra “mãe”.

— Podemos anunciar que Giane não está grávida e que vocês estavam brincando com a hipótese de serem pais? - sugeriu nosso pai.

Meu celular começou a tocar e eu sabia quem era antes de ver o nome dela na tela. Me afastei um pouco dos outros ocupantes da sala, para ter alguma privacidade.

— Como você não me avisou que eu ia ser pai, maloqueira? - debochei, ouvindo ela bufar.

— Dá vontade de terminar de ferrar com essa sua cara de moleque mimado, babaca!

— Não fala assim com o pai do seu filho, pivete! - exigi e ouvi Madá gritar alguma coisa do tipo “Ela ficou mesmo com esse homão? Malu, precisamos andar com a namoradinha do Fabinho!”

— Eu falo como eu quiser, porra! — ela esbravejou e eu mordi os lábios para segurar a gargalhada que eu quase soltei. Imaginava os olhos brilhantes, as narinas infladas e as bochechas lentamente ficando vermelhas.

Tentadora.

— Fala para ela vir pra cá que precisamos planejar o que vamos falar e como faremos. - meu pai pediu enquanto Malu e vó Madá pareciam entretidas com os tais ex de Giane.

— Maloqueira, estão te convocando aqui para conversarmos. - disse e ela urrou furiosa.

— Ótimo, porque tia Salma veio com a Odila e a Rosemere conversar sobre métodos contraceptivos comigo e beleza da gravidez!

— Pergunta se elas têm alguma dúvida que você pode sanar. - comentei e ela finalmente gargalhou.

Ponto pro Fabinho!

— É por isso que mantenho essa amizade. Você é o único que não me trata feito criança.

— Na verdade, você sabe que são por outros motivos. Mas você não quer que eu te lembre na frente da minha família, não é? - zombei e ela riu mais uma vez.

— Safado, cretino e pervertido. — Giane só disse isso num tom mais mole.

— Você gosta. - tentei mais uma vez.

— Pior que gosto. Adoro um homem cretino e safado na minha cama e você sabe muito bem disso. Desses que me mantém acordada a noite inteira. — o tom era muito sensual para mim. O que essa maloqueira estava aprontando agora?

— Tem alguém aí? - perguntei tenso (e meio excitado, mas eu não admitiria isso nunca).

— Amigos idiotas que não resistem invadir eu quarto para falar que engravidar de fraldinha sãopaulino dá ruim. - foi como um balde de gelo nas minhas costas que estavam quentes. - Estou indo aí.

Ela desligou na minha cara porque ela é um moleque bruto e sem educação.

— Safado, cretino e pervertido. - disse e a porta do meu quarto foi aberta com violência por Lucindo seguido de Jonas e Douglas querendo a cabeça do mauricinho com cara de sãopaulino que abusou de mim.

Eles achavam que eu tinha quantos anos? 15?

— Você gosta. – ele me disse e eu tive uma ideia idiota para ter paz.

— Pior que gosto. Adoro um homem cretino e safado na minha cama e você sabe muito bem disso. Desses que me mantém acordada a noite inteira. - respondi no tom mais sensual que eu conseguia, quase explodindo de rir.

Foi instantâneo. Lucindo arregalou os olhos e começou a balbuciar que tinha que ir trampar, Jonas ficou vermelho da cor dos remos do escudo do Corinthians e Douglas não sabia como reagir. Mas os três foram embora do meu quarto e eu pude ter minha conversa do jeito certo. Com privacidade.

— Tem alguém aí? — ele perguntou parecendo tenso. Acho que ele se assustou com o que eu disse. Afinal, na nossa amizade quem faz os comentários idiotas e cheios de malícia é ele não eu.

— Amigos idiotas que não resistem invadir meu quarto para falar que engravidar de fraldinha dá ruim. - respondi sem muito interesse. Eu já estava incomodada com essas pessoas que não me ouviam quando eu dizia que eu não precisava nem ser protegida nem de conselhos sobre relacionamentos. Eu não era uma criança que vivia numa bolha, caramba! - Estou indo aí.

Eu tinha duas possibilidades para chegar no apartamento de Fabinho: pegar a van ou um táxi; afinal, ônibus, trem ou metrô fariam que eu fosse alvo de conversas idiotas. Fui atrás da van da Acácia, quando vi Érico chegando com o carro dele.

— Érico, tem como me emprestar seu carro? - pedi e ele me encarou como se eu fosse louca.

— O que está acontecendo? - ele me perguntou e eu suspirei cansada.

— Saiu uma fofoca de que eu estou grávida do filho do Plínio Campana, estou indo no apartamento dele para vermos se vamos falar alguma coisa ou vamos deixar as pessoas perceberem que eu não estou grávida. - respondi e ele me encarou confuso.

— Estão falando que você está grávida do Fabinho?

— Conhece a peça, é? - perguntei rindo. - E aí? Vai me emprestar?

— Eu te deixo lá no apartamento dele e busco a Renata no trabalho depois, vai. - ele me sugeriu e eu agradeci porque eu realmente não sei se saberia dirigir o carro de Érico com o estresse que estava naquele momento.

E trânsito em São Paulo é sempre estressante.

— Eu vou ser avó.

— Você não acha que está na hora de enfrentar seus medos, minha querida?

— Ele deve me odiar.

— Não tem como te odiar. Ele vai te entender.

Enquanto esperávamos Giane e sua fúria desmedida chegar, decidi contar para os presentes a minha descoberta sobre o novo brinquedo da mamãe Bárbara.

— Como assim minha mãe está mantendo um caso com o Natan? - Malu perguntou chateada e eu percebi que ela estava ferida porque ela não queria ver Maurício sofrer com a traição do pai.

Natan merecia ser exposto porque trocar a mulher maravilhosa que era a Verônica pelo monstro estranho que era Bárbara Ellen era mais uma prova que esse homem não merecia a posição que ocupava no mercado publicitário.

— O Natan assumiu, Malu. - eu afirmei e encarei meu pai e vó Madá que estavam com expressões que demonstravam que ambos nem questionavam a informação que obtive de Natan hoje.

— O que vamos fazer? - ela me perguntou e nosso pai simplesmente balançou a cabeça.

— O que podemos fazer, minha filha: nada.

— A Conceição vai dar um jeito de colocar vocês dois como os ruins da história e vai ser pior. - vó Madá lembrou se levantando. - Eu sempre achei que ela respeitaria a família do noivo da filha favorita, mas nem isso!

— E você acha que a Amora não sabe? - perguntei soltando uma gargalhada sem humor. - Amora sabe de todas as coisas erradas que a mamãezinha faz.

— Capaz que até estimule. - meu pai completou e eu podia imaginá-las rindo do fato que Verônica era traída pelo marido enquanto vivia numa bolha de felicidade.

— Mas eu precisava comentar com vocês sobre isso, porque eu não acreditava em quão burro é o Natan.

— Burro várias vezes, porque se envolver com Conceição… - vó Madá riu de seu próprio comentário.

Decidi fazer um café para todos nós para ocupar as mãos e quase acabei indo fazer um bolo para consumir tempo enquanto Giane vinha da Casa Verde. Eu devia ter ido buscá-la de moto.

Enquanto esses pensamentos me consumiam, a campainha tocou e Giane entrou como o furacão que ela era.

Reparando que tinham pessoas a mais na sala, ela teve a graça de corar e sorrir educadamente e estender a mão para cumprimentar Malu, meu pai e vó Madá.

Passadas as apresentações e as normas de etiqueta, passamos a conversar sobre tudo o que tinha acontecido nas últimas horas.

— Eu ainda acho que seguiram você, Fabinho. - Giane afirmou depois que dissemos que eles deviam estar interessados nela. - Eu passei o dia cuidando de plantas e eu ainda sofri um acidente digno de sites de fofoca.

Ela apontou para a calça rasgada no joelho e eu então pude ver que tinha um machucado feio ali.

— Você cuidou disso, moleque? - perguntei e ela me encarou sem entender e eu apontei para seu joelho. - Está feio e está com cara de que não foi devidamente limpo.

— Que frescura, fraldinha. Dá nada isso! - ela disse dando de ombros.

Mas me incomodava muito ver aquele joelho sangrento dela.

— Vem, vamos limpar. - exigi e ela bufou.

— É um arranhão, moleque mimado. Eu tenho muitos desses de jogar bola.

— Giane, está sangrando isso!

— Não, está com sangue seco. Já parou.

— É por isso que acham que vocês têm alguma coisa, certo? - perguntou vó Madá e eu me senti esquentando. Giane não estava achando graça.

— Eles acham isso porque esse fraldinha não me deixa em paz. - ela explicou e eu bufei.

— Você fica se fazendo de difícil mas adora que eu esteja por perto. - me defendi e ela gargalhou de maneira falsa.

— Até parece, tenho mais o que fazer que ficar sentindo falta de garoto metido à besta. - ela comentou e eu ia retrucar quando Malu interveio.

— É por isso que eles acham que os dois têm alguma coisa, vó.

— Eu concordo com a Giane. - meu pai disse por fim. - O Fabinho estava na Class Mídia e ele mesmo disse que estava cheio de modelos lá dentro. Talvez uma avisou algum fotógrafo.

Fazia sentido.

— Eu disse. - ela disse vitoriosa.

— Mas isso não arruma as coisas. Vocês dois ainda estão em colunas de fofoca por causa de uma possível gravidez. - Malu lembrou. Sentia a fúria de Giane cozinhar.

— Eu não quero esperar meses só para descobrirem que eu não sou mãe, mas não quero ter que falar sobre uma fofoca de estar grávida porque vão querer conversar sobre o pai. - todos parecemos considerar.

— Eu acho melhor vocês assumirem um relacionamento e acabarem com a graça deles. - vó Madá sugeriu. - Digam logo “estamos juntos e não é da conta de vocês, mas a Giane não está grávida”.

— Nós não estamos juntos! - Giane e eu dissemos em uníssono.

— Você mesmo disse, Giane, que as pessoas iam pensar que você está com o Fabinho se você ajudasse a Toca. - meu pai lembrou e ela mordeu o lábio inferior.

— E se… - eu tive uma ideia. Era idiota, mas atrairia atenção para o que queríamos e poderia nos livrar do filho midiático que tínhamos. - Malu, a Toca ainda tem um quintal enorme?

— Tem, por quê? - ela me perguntou coçando a sobrancelha e eu corri no escritório para pegar meu material de desenho.

— Giane, eu preciso que você consiga uma pitangueira e uns arbustos de mirtilo. - eu só disse isso enquanto começava meus desenhos.

— Você tem certeza de que quer isso para sua vida? - ela me perguntou e eu a encarei por alguns instantes. Que pessoa não ia querer ter Giane por perto?

— Nós já não temos essa opção, vamos fazer o melhor possível com o que temos. - respondi e ela mordeu o lábio inferior, mas pude ver o sorriso de quem tinha entendido tudo de Giane e logo ela já estava no celular com alguém querendo mudas.

Aos poucos, os outros começaram a entender meu plano. Malu até comentou que ela devia ligar para Bento, mas Giane comentou que ele estava com o celular fora de área, enquanto meu pai ligava para alguns amigos jornalistas para garantir que a notícia certa fosse publicada.

Já que queriam vender histórias sobre a gente, que as crianças da Toca ganhassem com isso.