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 “Pela dor somos feitos, pela dor somos criados, e pela dor seremos mortos”
Autor desconhecido

Era um lago, a água era como um espelho, nem uma única ondulação, o que ajudava a refletir a noite completamente escura e o céu coberto de nuvens grossas e negras como o breu, a escuridão enchia o lugar, o fazendo parecer uma caverna, e o lago que parecia não ter fim, parecia fazer com que você estivesse no nada, se você estivesse nesse lugar.
Uma única borboleta começava a voar pelo local, o seu amarelo refletido na água escura parecia emitir uma luz inexistente no mar de trevas que se via, ela voava lentamente e calmamente, como se nada de ruim ou estranho estivesse acontecendo no local, como se a escuridão não a afetasse, era como se um brilho se formasse em volta dela, seu leve jeito de voar, fazia essa cena um pouco melancólica de se assistir.
Ao voar pelo local, observar isso parecia trazer um estranho tipo de conforto de alguma forma, ela suavemente, pousa em uma superfície, algo que não teria sido notado se não fosse pela nossa pequena amiga, uma rosa preta parada em um montinho de terra isolado no meio desse imenso lago, algo surreal, porem, ao mesmo, estimulante e melancólica.
O silencio, que não era quebrado devido ao tempo monótono do local e a ausência de vida inteligente, de repente, e quebrado por um som, o som de carne batendo contra a água, alguém nadando, de forma cansada e lenta, ondulando o lago, quebrando esse tempo monótono, dando a verdadeira impressão de o tempo estar passando, de algo estar acontecendo.
Finalmente a borboleta se levantava, e voava, de forma mais decidida, porem calma ao mesmo tempo, observando o ser que nadava, não que importava, pois não dava para distinguir muito, pelo fato de estar coberto por um manto branco-avermelhado, com detalhes dourados, o manto deveria ser bonito, mas parecia incrivelmente rasgado e sujo, ele ia apenas indo nadando, não se sabe pra onde, ele apenas seguia em frente seu parar, mas seus braços já estavam um pouco mais cansados que antes, não ia demorar muito, com certeza...
Uma luz.
Um único raio de luz do amanhecer podia ser visto através das nuvens, clareando o local, iluminando o ar seco e a praia rochosa a vários metros da rosa, e a ainda mais metros da figura encapuzada, seus braços já estavam bem mais lentos do que antes, quase parando, ela levantava a cabeça pra respirar, mas o manto encharcado de couro, rasgado e manchado, já estava mole, não nos permitindo enxergar o rosto de nosso caro amigo, mesmo a luz já iluminando uma área um pouco maior da praia rochosa de areia negra, com suas pedras despedaçadas devido a grandes ondas, a vários metros, ao tentar respirar, o ar seco havia entrado dentro das narinas do ser no manto, mas ele já estava exausto, extremamente exausto, ao ponto de, quando parou pra respirar, afundou a cabeça logo em seguida, pois seus pulmões não aguentavam mais essa tortura que estava sendo obrigado a passar.
Lentamente, ele afundava na água escura e profunda do local, ele ia afundando lentamente, bolhas escapando, ele ia perdendo seu ar aos poucos, suas chances de sobrevivência eram zero, era ali que ele acabaria, para sempre, afundando na escuridão eterna, que logo, era partida por raios de luz, iluminando um pouco do fundo...
“Gostaria de saber o nome dele...”
O manto balançava flácido no lago, que parecia deixar não apenas o local mais lento, como também dava a impressão de que nunca acabava devido a escuridão do local, apenas escuridão podia ser vista nos últimos instantes do ser dentro do manto, ele estava lá, pronto para partir.
“Ele nunca desistia, sempre estava lá comigo...”
Uma luz submersa.
Uma luz saia de dentro do ser dentro do manto, pouco a pouco, um rosa calmo e suave que girava, era uma luz muito forte, não dava pra distinguir exatamente o que era, mas dava pra ver ele subindo, iluminando tudo, enquanto o corpo flácido parecia afundar mais rápido que antes, nessa água sem fim, sobreviver não era algo possível para ele, não havia mais esperança naquele corpinho flácido, que caia, caia, caia, sem parar, a escuridão ia sendo deixada para trás, e aquela luz, parecia atrair algo, bem do fundo da água, a luz do amanhecer chegava até o outro objeto que emitia luz que tinha saído do homem, que agora, parecia atrair o mínimo de vida de dentro da água, estranhos seres nadavam rapidamente em direção ao objeto, antes que ele se perdesse.
“Ele não é o tipo de pessoa que desistiria tão fácil...”
Apenas escuridão podia ser vista, pra que se preocupar mais, na parte mais profunda do lago, onde esperança parecia inexistente, se render teria sido o certo a se fazer, teria sido o sensato, pois era isso que ele iria fazer agora, iria se render, e se deixar afundar no fundo do lado, para todo o sempre...
“Não é mesmo?”
Uma luz surreal.
Antes que se desse conta, o ser já havia batido a cabeça de forma lenta no chão, de forma lenta e calma, como se estivesse deitando na superfície gelada em que se encontrava, e, por puro instinto, ele, calmamente, abre seus olhos lilás, e corre eles pelo local, ao perceber que estava, por uma espécie de milagre, consciente de novo, mexe os dedos de sua mão, coberta por uma luva sem dedos, e começa a se levantar, com uma respiração ofegante, e olhar ao redor, na escuridão do local, ele repara a superfície em que estava, uma espécie de vidraçaria, como as de uma igreja, ele pisava nela, observava ela, com vários símbolos estranhos que ele não reconhecia, com varias cores vibrantes, de vermelho ao roxo, de azul a amarelo.
Ele não entendia o que estava acontecendo, nem o que era aquilo tudo, mas ele tinha a sensação de que a vida dele iria se complicar a partir de agora.