All I ever wanted escrita por Tris Lupin


Capítulo 2
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Olá, povo! Estou muito feliz com os comentários de vocês. É muito bom saber que não sou a única a shippar esses dois *-* Espero que gostem do capítulo, está saindo do forno. Boa leitura!



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O dia seguinte amanheceu nublado, algo atípico em Doce Horizonte no verão. Em sua sala, a Madre Superiora terminava de assinar os boletins das alunas já aprovadas, momento em que é interrompida por uma Irmã Fabiana bastante agitada.

— Licença, Madre. Preciso falar com a senhora, e agora!

— O que é isso, irmã Fabiana? - Ralhou a diretora - Desde quando você pensa que pode invadir minha sala aos gritos?

— Desculpe Madre, mas o assunto é muito grave. Eu e as demais Irmãs já vasculhamos o colégio inteiro e não vimos a Cecília em lugar nenhum. E eu acabei de voltar do nosso quarto e as coisas dela sumiram e...

— Irmã, feche a porta e sente-se.

— Mas Madre...

— SENTE-SE, AGORA!

A amiga de Cecília prontamente cumpriu a ordem, quase caindo do assento.

— Eu sei que a Irmã Cecília não está no internato. Eu estava terminando de assinar os boletins para reunir todos na sala dos professores e dar a notícia em coletivo. A Irmã Cecília deixou o colégio.

Fabiana ficou literalmente boquiaberta com a notícia.

— Como assim, deixou? Porque?

— O porquê você deve saber melhor do que ninguém, Irmã. Não é possível que você só pense em comida e música e não enxergue um palmo a sua frente.

— Perdão Reverenda, eu ainda não tomei café da manhã. Não entendi nada.

A Superiora bufou.

— Cecília foi para o interior porque precisa fazer um exame de consciência, pois não sabe mais se o celibato é sua vocação. Entendeu ou quer que eu desenhe?

— Entendi. Por que ela não se despediu de ninguém? Nem de mim? - choramingou a noviça.

— Cecília é uma jovem muito sensível. Preferiu partir inesperadamente para evitar sofrimentos. Mas, ela deixou algo pra você. - disse a freira, entregando-lhe um envelope que se encontrava na gaveta de sua mesa.

— Uma carta?

— Sim. Eu tenho outras aqui, endereçadas a Dulce Maria e a Família Oliveira. Vou lhe pedir um favor, Irmã: Não comente com ninguém antes que eu dê o anúncio a todos. Vamos evitar comentários desnecessários perto das crianças neste momento de exames finais. Vá para o seu quarto e leia a carta sozinha.

— Está bem, Reverenda. Com licença.

— Passar bem.

Fabiana saiu em disparada ao seu dormitório e se certificou de fechar a porta, conforme a Madre lhe ordenara. Afoita, ela abriu o envelope quase rasgando seu conteúdo, a carta de Cecília.

Querida Fabiana,

Primeiramente, quero lhe pedir perdão por não ter contado nada a respeito da minha saída do colégio, nem ter me despedido. Não queria causar sofrimentos a ninguém, já que este é um problema pessoal. Porém, você além de minha companheira, é como uma irmã de sangue para mim. Ao escrever estas palavras, sinto meu coração apertar de saudade de sua alegria contagiante e das nossas aventuras.

Você deve suspeitar o porquê de abandonar o internato. Tentei negar para todos e para mim mesma o sentimento que tenho pelo Gustavo. Estou farta de fingir. E me envergonha ter que admitir que me apaixonei por alguém ainda noviça. Por isso, tomei esta abrupta,no entanto acertada decisão. Não poderia mais continuar vestindo este hábito tão indignamente.

Sei que talvez você não entenda minhas razões, mas tenho certeza que você será a única das religiosas que não irá me julgar, e sim me compreender. E esta é mais uma das razões que, desde já, quero lhe agradecer, minha amiga. A única coisa que peço é que cuide da Dulce. Ampare e a proteja das maldades da Bárbara e Frida. Só não volte a lhe dar lições de caratê - quero ter certeza de que você ainda continuará lecionando no Internato Doce Horizonte. Brincadeiras a parte, confio a você o zelo de meu maior tesouro: nossa amada menina.

Assim que me instalar em definitivo, volto a entrar em contato. Que Deus lhe abençoe.

Um grande abraço,

Cecília.

— Ai Ceci, que falta você vai fazer... E que enrascada você me meteu! Como eu vou contar pra Dulce que você foi embora por causa do pai dela? - Fabiana deixa a carta da amiga sobre a cama e começa a andar pelo cômodo. - Pensar de barriga vazia não rola. Comer sempre ajuda. Acho que na cozinha ainda tem uns bolinhos.

[...]


Cecília POV

Estou em Catarina, cidade do interior paulista onde fui criada, juntamente com minha irmã pelas freiras do extinto Colégio Vidal. Por mais que me conhecesse como ninguém, Clarissa se assustou ao me ver em sua porta em pleno fim de ano. Principalmente quando lhe contei que estava pensando em abandonar o celibato em definitivo. Apesar disso, como boa irmã que sempre foi, ela me apoiou incondicionalmente, cedendo um lugar em seu pequeno apartamento. Já faz um mês que saí de Doce Horizonte e confesso que sinto vergonha ao ter ido embora tão subitamente, como uma foragida.

Deixar o internato foi, sem dúvidas, a decisão mais difícil que tomei em toda minha vida. Não só pelas crianças, que eram minha fonte inesgotável de alegria, também pela convivência com Fabiana, parceira de todas as horas, as demais irmãs do Colégio, a Família Oliveira, o amável Seu Pascoal... Até mesmo a Madre Superiora, que apesar de rígida, mostrou ainda mais seu lado humano e bondoso ao me entender tão profundamente.

E a minha carinha de anjo... Ah Dulce, nunca imaginei que um dia iria lhe decepcionar! Espero que compreenda meus motivos e me perdoe por isso. As vezes, a vida sabe ser cruel conosco e com as pessoas que temos maior estima. As lembranças têm assombrado meus sonhos, embora estar com Clarissa seja maravilhoso. Simplesmente não consigo me sentir em casa.

Além do apoio de minha irmã, consegui uma vaga de garçonete numa cafeteria próxima do edifício. É a única forma de distração e a melhor maneira que encontrei para isolar minhas memórias durante o dia. Me olho no espelho e vejo profundas olheiras ao redor de meus olhos. Observo meus cabelos e me dou conta de que pouco lembrava do corte que usava antes de me tornar noviça. Agora, sem o uso do hábito, percebo meus fios curtos e livres caindo sobre meu rosto, como na adolescência. Sinto um frio na barriga, não pelo emprego, e sim por me sentir insegura ao voltar a usar roupas comuns.

Meu Deus, se não parar com essa conversa interna, vou me atrasar logo no primeiro dia de trabalho. Me dirijo à cozinha e encontro Clarissa de pé, preparando o café.

— Bom dia, dorminhoca - brincou a mais velha. - Algumas coisas nunca mudam, não é?

Reviro os olhos.

— Bom dia, Clarissa. A rotina do internato me ensinou a acordar com as galinhas. Só acabei me atrasando.

— Ok, vou fingir que acredito. - Ela sentou e me ofereceu torradas.— E aí, ansiosa pro seu primeiro dia?

— Achei que estaria mais. - Respondi com a boca cheia, como uma criança. - E você, não vai pro restaurante?

— Vou sim. Do contrário, meu chefe faz picadinho de Clarissa. — Neste momento, sorrio com a expressão dela.— E não posso abandonar minha irmã mais nova logo agora né?

— Não sei como te agradecer. Vai ser por pouco tempo, eu juro.

— Relaxe. Sinta-se em casa, Cecília. E sem segredos. Pouco você me falou desse Gustavo...

Ao ouvir o nome de seu amado, os olhos de Cecília se enchem de lágrimas.

— Não quero falar. Preciso não falar.

Clarissa percebe e desconversa.

— Está certo. Só quero que confie em mim. Você precisa parar com essa mania de guardar tudo. Desabafar é importante. - Ela me advertiu.— Mas, me responde uma coisa: e a sua situação enquanto noviça, como ficou?

— Digamos que estou suspensa por tempo indeterminado. Já assinei meu requerimento e entreguei ao Padre Gabriel. Não imagina minha vergonha.

— Não quero imaginar é você ganhando bronca do seu chefe. Olha a hora, sister!

Dei um salto da mesa, pego minha bolsa e me despeço de Clarissa rapidamente. Estou com tanta pressa que acabo esbarrando em um desconhecido.

— Me desculpe, por favor!

Um arrepio me percorre a espinha.

— Cecília?! É você?


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Notas finais do capítulo

Quem será que a Ceci encontrou em Catarina? Eu sei que esse parece nome de pessoa, mas não consegui inventar outro melhor pra cidade dela, hahaha. Bjão!