Natal entre lobos. escrita por Thai


Capítulo 6
1 de Janeiro de 2017


Notas iniciais do capítulo

Oi amores! Tudo bom?
Esse ano voou né? Pelo menos pra mim ele passou muito rápido. Alguns momentos ruins, outros bons, como tudo na vida com seus dois lados.
Esse é o último capítulo e eu estou muito feliz com ele, espero que gostem e que tenham gostado até aqui ♥



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1 de janeiro de 2017

Sansa nunca tinha passado um ano novo sozinha em sua vida. Mas ali estava, em seu novo apartamento, completamente solitária. As caixas se amontoavam em todos os cantos e mesmo assim tudo parecia vazio. Era uma nova cidade, portanto não conhecia ninguém além de Willas. Porém, não tinha coragem de ligar para ele. Sabia que seu ex-namorado não negaria sua companhia em uma noite que tanto exigia estar perto de quem se gosta, mesmo porque ele havia deixado claro que ainda a amava mesmo que ela quisesse por um fim na relação, mas Sansa sentia que era injusto. Havia terminado com ele justamente por achar que seria injusto mate-lo preso a ela enquanto não pudesse amá-lo da maneira como merecia. Portanto, o acordo que tinham era de que seriam amigos, mas não via como manter uma amizade com ele, pelo menos não de imediato.

Observou o seu relógio de pulso apitar para indicar que já era meia noite. Olhou ao redor, para o seu novo lar, e deu um sorrisinho mórbido. Poucas coisas estavam em seu devido lugar. A geladeira estava instalada, o micro-ondas, o sofá que lhe servia de cama e a TV. E só. Nada como sua antiga casa, como o calor de sua família tão espaçosa. Lembrava-se dos protestos de sua mãe para que lhe deixasse fazer toda a arrumação, mas Sansa sentia que fazia parte de sua adaptação ser responsável por tudo. Mesmo que tivesse tido algumas dores de cabeça e frustrações.

— Feliz ano novo — sussurrou baixinho para si mesma.

Não havia ninguém que pudesse lhe responder. Nem sua família, da qual sentia tanta falta. Até mesmo de Arya conseguia sentir saudades. De suas provocações e sorrisos maliciosos. Era duro ter que crescer. Ao mesmo tempo em que lhe dava uma sensação de liberdade inimaginável.

Então caminhou até a geladeira, abriu-a para encontrá-la praticamente vazia. A não ser por alguns depósitos com restos de comida, água e uma garrafa de champanhe, não havia mais nada. Ela puxou a garrafa e a abriu, produzindo um estalo que ecoou por todo o seu apartamento vazio. Não estava acostumada a beber, nem tinha gosto pela coisa, mas o momento lhe parecia propício. Não se importou em procurar por uma taça e virou a boca da garrafa, tomando um gole generoso. Passou os olhos rapidamente pela carta de aceitação da Faculdade de Artes de Jardim de Cima sobre o balcão da cozinha que era também sua mesa. Ainda tinha uma semana para enviar sua resposta, mas ainda esperava por alguma coisa... Na verdade ainda esperava por alguém, mesmo que não tivesse esperança alguma de que ele fosse aparecer.

Acomodou-se em seu sofá-cama e ligou a TV. Passava algum especial de final de ano que não dava muita importância. Sentiu seu celular apitar e procurou-o perdido entre as almofadas. Quando o encontrou, viu uma mensagem de sua mãe.

“Feliz ano novo, querida. Espero que esteja tudo bem, não hesite em me ligar se algo estiver errado. Eu e seu pai desejamos todo o sucesso em sua nova jornada, embora eu quisesse estar aí ao seu lado nesse momento, você sabe. Bem, acredito que devo encarar que esteja crescendo. Amo você”.

Sansa sorriu. Talvez ter sua mãe controlando todos os aspectos de sua vida não fosse algo tão ruim assim, porque agora se via muito perdida. Parecia o preço a se pagar pela independência. Ter que ser capaz de se virar sozinha. Pelo menos não tinha fracassado no primeiro dia e voltado correndo pros braços de seus pais. Já resistia há cinco dias. Não era uma derrota completa. Mesmo que Robb tivesse apostado com Arya que ela não duraria um mês. Tê-los duvidando de sua capacidade lhe dava mais força, no entanto. Sempre havia sido a mais responsável entre seus irmãos, se Robb tinha conseguido, ela também conseguiria. Digitou uma resposta sentimental mas rápida, não queria começar a chorar naquele momento.

Ouviu quando algumas batidas pesadas foram depositadas em sua porta. Não estava esperando por ninguém. Bom, pelo menos não tinha esperança de que alguém fosse aparecer. Levantou-se preguiçosa do sofá, deixando a garrafa no chão, devido a falta de uma mesinha de centro, e o celular de lado. Quando abriu a porta, não conseguiu conter sua expressão de surpresa.

— Oi — Jon sorria para ela.

— Jon... — Sansa se forçou a falar. — Não esperava que viesse. — confessou, por fim.

— Posso ver — ele ainda lhe sorria. Olhou-a de cima a baixo e só então ela se lembrou de que vestia um conjunto de moletom completamente largo e os cabelos estavam presos de qualquer maneira em um coque alto. Realmente esperava estar sozinha naquela noite. — Você me chamou, não foi?

— Sim... Desculpe, entre, por favor. — ela deu espaço para que ele passasse. — Está tudo um caos, não repare. — então fechou a porta atrás de si.

Observou atenta enquanto Jon analisava cada canto do cômodo em que estavam. Esperava pela aprovação dele de forma quase infantil, como quando uma criança faz de tudo para exibir um feito para sua mãe.  

— Parece um lugar legal... Quero dizer, talvez quando estiver sem as caixas. — ele comentou divertido.

— Willas me ajudou a escolher — ela rebateu distraída, sem pensar muito.

Jon se virou para olhá-la. Ele tinha uma expressão de dúvida.

— O que aconteceu? — perguntou interessado.

— Não quero falar sobre isso — disse, sentindo-se desconfortável. Não parecia sensato falar de seu ex com um outro ex. Principalmente quando era Jon.

— Tudo bem, eu respeito isso — lhe lançou um sorriso de lado, um pouco acanhado. — Então... Parabéns? Quero dizer, é fantástico que tenha passado. Eu já sabia, claro, mesmo assim é incrível!

Ele se aproximou dela e a abraçou. Estavam sem jeito, não sabiam como agir depois de tanto tempo.

— Senti sua falta — Jon sussurrou contra o seu ouvido. Sansa suspirou.

— Eu também — era verdade, afinal. Sentia falta dele mais do que gostaria de admitir.

— Então, você realmente quer fazer isso? — ele quis saber, um pouco duvidoso, quando se afastaram.

— Sim! — Sansa alterou a voz de tão empolgada que ficou de repente. — Venha!

Então caminhou até o balcão, encarando a carta que antes estava ali intocada desde o dia em que havia chegado.

— É isso? — ele perguntou. Sansa assentiu, empurrando a carta para ele. Jon a pegou, tirando-a de dentro do envelope que já havia sido rasgado. Ele suspirou, sabendo que Willas havia sido responsável por aquilo. De alguma forma sentia que havia falhado com ela. — Tudo bem, vamos lá...

— Obrigada por fazer isso — Sansa disse antes que ele começasse. Jon deu um aceno positivo.

— Não é nada — seu sorriso era sincero. Faria qualquer coisa que ela lhe pedisse. — Cara Srta. Stark, é um prazer informar que compõe o corpo discente da Faculdade de Artes de Jardim de Cima. Estamos muito impressionados com o seu trabalho de admissão e esperamos uma resposta até o dia 7 de janeiro de 2017. O formulário anexado deve ser enviado para o endereço que se encontra especificado ao final. Atenciosamente, reitor Paxter Redwyne.

Sansa sorriu. A sensação de ter Jon lendo aquelas palavras era como se nunca as tivesse ouvido antes. Tudo parecia certo agora. Era ele quem deveria estar ao seu lado naquele momento. Mesmo que Willas estivesse lá quando descobriu, sentia como se a sensação fosse completamente nova e melhor agora que era Jon quem estava em sua frente, lhe sorrindo orgulhoso.

Havia ligado para ele naquele natal, enquanto Willas dormia. Parecia uma ideia absurda à princípio, mas Jon havia se mostrado aberto à possibilidade. Então lhe passou seu novo endereço em Jardim de Cima e disse que poderia visitá-la. Iria esperar por ele. Mas não havia lhe dado certeza, então nunca se preparou realmente para sua chegada. Mas ali estava Jon.

— Isso é incrível — ele disse. Ainda passava os olhos pela carta, lendo cada mínima informação, mesmo as nada interessantes como o material necessário. — Quando vai mandar a resposta?

— Amanhã mesmo — disse empolgada. — Obrigada de novo.

— Está tudo bem, Sansa. Estou feliz que tenha pensado em mim. Venha aqui. — ele pediu, manso. Sansa se aproximou, deixando que ele a envolvesse em seus braços, a acolhendo. — Estou tão orgulhoso de você.

Ela então o apertou contra si, sentindo-se completa. Não havia mais a solidão anterior. Jon conseguia preencher todos os espaços vazios em seu coração. Mesmo o apartamento lhe parecia mais aconchegante.

— Está com fome? — perguntou se afastando.

— Na verdade sim. Vim dirigindo de Porto Real até aqui e não parei em lugar nenhum. Queria chegar antes da meia noite.

— Falhou na missão — ela sorriu.

— Como assim? — ele olhou para o próprio relógio. — Ainda temos 20min.

— Não, Jon, já são mais de meia noite — olhou duvidosa para o relógio em seu pulso.

— Esqueceu-se de ajustar o horário, não foi? — Jon lhe lançou um olhar óbvio. É, tinha esquecido. — Não acredito que passou quase uma semana com o horário errado. — ele sorriu.

Tinha esquecido completamente do fuso.

— Nem sequer pensei nisso — disse envergonhada. Talvez por isso não tivesse ouvido os fogos. — Então ainda temos tempo. Mas só tenho lasanha congelada no congelador. — sorriu sem jeito.

— Não acredito que está comendo essas porcarias. — ele se precipitou até a geladeira, analisando-a. — Você tem algum macarrão? Posso cozinhar.

Sansa assentiu, abrindo o armário acima da pia, tirando de lá um pacote de macarrão. Havia comprado algumas comidas para preparo, mas a verdade era que tinha preguiça de fazê-las, então se contentava com pratos prontos. Entregou-o para Jon e ele logo se ocupou, abrindo seus armários como se fosse sua própria casa, procurando panelas, condimentos, temperos. Sansa observou toda a movimentação com um sorriso no rosto. Aquilo parecia tão certo. Ter Jon ali, passarem aquela noite juntos. Nem mesmo toda a bagunça que a rodeava parecia fora de lugar.

— Por que está me olhando assim? — ele perguntou, sorrindo. Os olhos encolhidos, pequenininhos, quase fechados. Aquela visão aqueceu o coração de Sansa.

— Passei muito tempo achando que nunca poderia me apaixonar mais por você... — começou, sem pudor algum. Não queria mais reprimir o que sentia. Não era justo consigo mesma. — Acho que estava errada. — Sansa o encarou, nunca desviando os olhos. Queria tê-lo em sua visão para ver sua reação. Mesmo que agora ele se encontrasse com os olhos baixos, mexendo a panela que borbulhava em fervura. — Eu te amo, Jon. Não quero mais ficar longe de você. Não quero mais insistir em relações fadadas ao fim. Eu quero você.

Ele subiu os olhos para olhá-la. Ela conseguia ver que ele travava uma batalha de emoções dentro de si, talvez um pouco surpreso. Observou enquanto calmamente apagava o fogo e caminhava até ela. Sansa estava ansiosa, sentia seu estômago se revirar. Jon então tocou sua face, a fazendo fechar os olhos instantaneamente. Sentiu os dedos ásperos dele passeando sobre sua pele e depois os enterrou em seus cabelos.

— Não quero machucá-la. — ele disse muito baixo.

Sansa abriu os olhos e viu que ele a olhava de maneira tão intensa que sua única ânsia era a de beijá-lo.

— Você não pode me machucar — retrucou.

Não tinha vontade alguma de conter aquele impulso, então quando seus lábios se tocaram, ela o beijou de maneira apaixonada e urgente. Jon não lhe ofereceu resistência. Sansa agarrou a nuca dele, o puxando para mais perto, enquanto ele a envolvia pela cintura, a erguendo em seguida, colocando-a sobre o balcão. Sansa envolveu suas pernas na cintura dele, como se aquele ato fosse capaz de prendê-lo junto a ela, para que ele nunca mais fosse embora.

— Perdemos tempo demais — ela disse ofegante quando o ar se tornou um empecilho.

— Temos todo o tempo do mundo, Sansa. — ele lhe sorriu. Sempre tranquilo.

Então, ao mesmo tempo em que eles votaram a se beijar, o barulho de fogos foi ouvido do lado de fora e o relógio de Jon apitou o início de um novo ano.

— Vamos ver os fogos, venha! — ela saltou do balcão depressa.

Pegou a garrafa de champanhe que havia deixado de lado mais cedo e o puxou pela mão até a varanda de seu apartamento. Era sua parte favorita do lugar, talvez o ponto decisivo que a fez optar por aquele entre tantos que havia visto. Era ampla e como ficava no décimo andar, podia ver toda a extensão da cidade. Os prédios em tamanho médio, alinhados e nunca impedindo que o céu fosse visto e contemplado. O clima fresco que a noite trazia mesmo com os dias de calor. Os fogos queimavam e explodiam no céu, em todos os formatos, como flores de fogo. 

— Isso é lindo — ouviu Jon dizer.

— É... — Sansa fez um brinde para o céu com a garrafa que segurava e deu um gole, depois a passou para Jon. 

Então eles ficaram em silêncio, contemplando a vista. Refletindo. Aquela era uma nova chance para eles, para aprenderem a conviver com as diferenças, com os aprendizados, com as novas fases. Eles teriam que se conhecer novamente, as pessoas que haviam se tornado com as experiências que haviam vivido.

— Feliz ano novo — Jon falou quando os fogos acabaram e apenas a cacofonia da cidade era ouvida.

— Feliz ano novo — ela respondeu, sentindo-se feliz.

Eles então entraram e Jon serviu a comida que havia preparado. Ele chamou-a de yakisoba, mas Sansa não sentiu nem de longe o sabor. Mesmo assim, parecia o melhor macarrão que já havia provado.

— Não sabia que cozinhava tão bem — ela disse.

— A gente tem que aprender a se virar quando começamos a morar sozinhos. — ele respondeu divertido.

Assim eles terminaram sua ceia modesta, acomodaram-se no sofá-cama de Sansa, abraçados e aquecidos pelo cobertor, com a TV ligada, mas sem prestar atenção no que se passava. Sansa abraçava Jon, para se certificar de que ele não sairia dali tão cedo, acomodando sua cabeça sobre o peito dele, contanto sua respiração, tendo consciência de sua presença.

— Vai ser mais fácil agora. O Jardim é bem mais perto de Porto Real, podemos nos ver com mais frequência, sem contar que seus horários serão mais flexíveis. — Jon dizia empolgado, fazendo planos.

— E quanto a Ygritte? — Sansa perguntou incerta, temerosa.

— Não há Ygritte em minha vida, Sansa. — ele disse calmo, a fazendo sentir-se mais tranquila. — Já faz muito tempo que percebi que não existiria mais ninguém em minha vida até você perceber que pertencemos um ao outro. — Sansa sorriu. Mesmo que não pudesse ver seu sorriso escondido pelos cabelos que caíam sobre seu rosto, ele sabia que ela estava sorrindo. — E Willas?

— Não há Willas — ela então o apertou mais e sentiu quando ele a envolveu também com mais força, beijando o topo de sua cabeça em seguida. Sansa ergueu os olhos para olhá-lo. — Estou feliz que esteja aqui.

— Estou feliz de estar aqui. — ele sentiu com pesar quando Sansa se desvencilhou de seus braços, caminhando até uma das caixas empilhada sobre outras ali perto. — Aonde vai?

Sansa não lhe respondeu. Então ele aguardou em silêncio e observou enquanto ela remexia na caixa. Quando voltou, sentou-se ao seu lado, lhe estendendo a mão com a qual segurava um objeto reluzente.

— Você estava certo — ela abriu um sorriso iluminado que o contagiou, fazendo com que sorrisse também.

— Guardou mesmo — Jon disse convencido.

Ela se virou para que ele colocasse o colar de volta em seu pescoço, o lugar de onde nunca deveria ter saído. Quando voltou a olhar para ele, deu-lhe um beijo delicado nos lábios e então voltaram para a posição anterior, acolhendo um ao outro.

— Então... Estamos namorando de novo? — ele perguntou, um tanto receoso.

— Vamos aproveitar o momento — Sansa então descansou sua cabeça sobre o peito dele e fechou os olhos, sorrindo.

Mas a reposta para aquela pergunta era sim. Estavam sim. Tudo estava no lugar agora.


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Notas finais do capítulo

Então é isso ♥
FELIZ ANO NOVO!!! Obrigada por acompanharem até aqui, eu amei escrever esse especial!
Até uma próxima história talvez? haha



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