Signus, Memories escrita por Capitain Fabbris


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Grimore deu seus primeiros passos largos do dia. Anahtya, sua filha, estava de bruços no chão frio de mármore do grande castelo de Sargos, suando frio e com respiração ofegante enquanto desejava perder-se nos braços da morte. Toda juventude do mundo não poderia mudar os sentimentos senis, decrépitos de sua mente.

 

Sempre fora assim. Antes do sol dar seus primeiros sinais de vida, a bela criança loira e tão distinta de seus pais era jogada para fora de seus cômodos sem ao menos ter um momento de descanso, levando-a para sua refeição matinal – totalmente controlada – solitariamente, antes de caminhar com as mesmas vestes até o grande salão proibido.

 

Irion era um dos castelos mais belos, mesmo dentre todos os reinos possíveis de Signus. Sua estrutura de mármore aderia a coloração dos céus, como um mimetismo brando e mostrava sua grandeza comparada as pequenas estruturas da cidade. Internamente era possível perder-se dentre os corredores alvos e alumiados, com grandes portas por toda sua extensão, uma variação de salas que alternavam desde as grandes salas de reuniões do continente de Ignis, o continente onde se localizava o reino de Sargos, até grandes salas de banho.

 

Dentre tantas opções, no terceiro andar do castelo estava a sala proibida onde somente Anahtya, o rei e a rainha tinham permissão para entrar e era, naquele lugar mórbido e frio, onde a pequena elfa passava a maior parte de seu tempo.

 

— Dei-lhe Fugoe para que, Anahyta? Me responda. - Suas mãos seguravam a garganta da pequena criança, erguendo-a no ar – Você tem ideia do quão difícil foi conseguir sem que passasse por cima do cheiro daquele Tolzai Tlizal'gen? Rei Insolente e burro.

 

— Me de seu perdão – A criança sentia sua garganta arder, mas, mesmo assim, o respondeu.

 

— Se nem mesmo o estaze de sua magia pode lhe ajudar, talvez deva terminar com isso mesmo.

 

Grimore salientava-se por sua aparência forte e guerreira e um coração de um bom rei. Para a maioria dos habitantes de Sargos, o homem alto e belo era mais do que somente um elfo de cargo proeminente, era um administrador nato, o salvador, entretanto Anahtya sabia melhor do que ninguém que o bondoso rei não passava de um embuste.

 

Vagamente, enquanto se erguia, as poucas memórias que havia abrigado de sua infância surgiam, a elfa loira erguia suas mãos para mais uma tentativa mesmo sem saber o porque estava ali e quais os motivos tão cruéis de ser tratada assim.

 

O rei passou suas mãos nos cabelos vermelhos escarlates e voltou-se seus lábios as orelhas pontudas da rainha, Asticia, e sair pela porta a batendo. A presença da mulher quase nunca era notada pela criança e assim que ela se levantou podia se perceber a semelhança entre o rei e a Rainha. Os dois eram irmãos de sangue e assim se casaram para manter o nome e tradição do reinado.

 

O nascimento de Anahtya foi escondido pelos reis pela colossal dessemelhança entre a família real, de onde todos eram herdados os cabelos ruivos vermelhos, e pela grande semelhança a Deusa da criação, de onde foi herdado seu nome.

 

De início, a criança loira, ficara trancada em um pequeno quarto nas masmorras do castelo, onde era alimentada somente por um servente até que sua magia, diferentemente dos elfos, surgiu antes de sua primeira ou qualquer iniciação e desde este momento sua vida mudara e obtinha treinos diários com o rei, tendo a observação da rainha.

 

Asticia não amava sua criança e em situações onde precisava ficar sozinha com a elfa sentava-se distante mas, diferentemente do usual, aproximou-se até que a distância entre a ponta dos seus narizes estivessem menores que o tamanho de suas mãos.

 

Era a primeira vez que Anahtya via sua mãe tão de perto, olhos oliva secos e sem cor, sem amor ou nem se quer ódio, tão opacos quanto seu coração. Em um movimento rápido, suas mãos subiram ao rosto da pequena elfa desferindo um tapa em seu rosto.

 

— É melhor fazer o que sabe criança – e se afastou-se, indo em direção a porta e deixando, como sempre, Anahtya sozinha.

 

A distância entre os sentimentos felizes e inocentes e o sentimento amargo é uma linha tênue e frágil, fácil de ser atravessada mesmo nas menores idades.

 

Anahtya não havia chorado, as lágrimas já não lhe ocorriam mais da forma que sempre fora e seu coração endurecido com o tempo traziam pensamentos que ocorrera por muito tempo. Passou uma de suas mãos na maça de seu rosto, sentindo-a quente e mordeu o interior de sua boca levemente, sabendo que se havia alguma chance de escapar daquele inferno e descaso familiar, aquela seria a única.

 

Seus olhos passavam devagar por toda a extensão do grande salão que estava a procura de uma saída que pudesse trazer sua liberdade e talvez, aos pensamentos leves e tão límpidos, uma nova vida a garota elfa.

 

Voltou-se para a janela para medir a altura, por mais que houvesse grande agilidade em suas pernas o deslize de cair e machucar-se poderia custar não só uma chance de sair do grande castelo e sim tornar-se a única chance de tal feito.

 

Eliminando a opção mais próxima, seus olhos mediram todas as áreas de onde estava até encontrar um buraco oval, não tão grande, mas o suficiente para seu corpo diminuto passar com facilidade: a tubulação de circulação.

 

— Ok – sussurrou para si – eu consigo.

 

Com um suspiro deu alguns passos para trás antes de saltar em direção a fisga que havia na parede de mármore, colocando os pés na superfície lisa para dar duas passadas antes de se estabilizar com as duas mãos no orifício.

 

Sua respiração estava controlada e moderada, um sintoma de sua convicção de uma vida nova. Enquanto se erguia para entrar no buraco nada se passava em sua mente, não havia falhas de pensamento que a traziam para um retorno ao lar, não havia família, amigos, para Anahtya aquela era a única alternativa e então, mesmo tão tacanha seguiu seu caminho indo em direção a escuridão do túnel.

 

Mal conseguia enxergar suas mãos enquanto caminhava em qualquer direção quando ouviu ao fundo a voz do Rei surgir, eles haviam entrado na sala proibida e a ausência da pequena elfa já havia sido descoberta. Sua respiração agora se tornava imoderada, tentando respirar aos poucos e fracamente, com medo de ser ouvida.

 

— Guardas! – a voz de seu pai tornou-se alta ao gritar – Procurem-na, procure em todo o castelo, na vila, nas florestas e me tragam aquela criança maldita viva!

 

Voltou a correr dentre a tubulação, agora com medo de ser descoberta, descendo por alguns vãos até chegar no andar térreo do castelo. Seus joelhos ardiam de engatinhar-se. Ao contrário do mármore polido do castelo, as tubulações continham deformações que acutilavam e feriam a pele frágil de suas rótulas.

 

Assim que encontrou o brilho ardido dos dois astros luminosos que viviam paralelamente na abóboda celeste saiu em passos rápidos, correndo em direção a grande floresta de Sargos sem pensar em quaisquer planos em mente.

 

A floresta Tabby, como era chamava, não tinha grande densidade, com árvores sutilmente afastadas entre si e predominantemente verdes chartreuse e bandeira, destacando as cores de forma única e mágica, como uma paz inesquecível.

 

Não havia parado de correr e com razão, após alguns minutos de chispada algumas vozes surgiram em sua traseira, adultas e nada gentis.

 

— Pare! – ouviu-lhes gritar entre arfadas de ar – Nós atiraremos!

 

De primeira, seus pensamentos foram pouco abalados. Seu pai a queria com vida e sabia que nenhum dos seus guardas iria contra sua palavra principalmente porque perderia sua própria vida, então continuou a disparar entre os troncos marrons e folhagens vivas até que um grande zunido passou rápido como uma luz a aumentar a dando pouco tempo de desviar. Sentiu o ardor da flecha cortar sua panturrilha enquanto sua seiva pingava escarlate, manchando a vegetação.

 

— Venha, criatura, não iremos te machucar mais se decidir vir conosco. – falou um dos cavaleiros.

 

— Não! – gritou, se afastando enquanto sentia sua perna fraquejar.

 

— Não temos escolha – disse o outro, pegando uma de suas flechas com aparência peçonhenta.

 

A aura rocha e maliciosa parecia sentir o medo, finalmente, de Anahtya, onde tinhas suas mãos trêmulas. Seu coração palpitava e doía, corrompido pelo desespero e medo de voltar ao lugar que tanto a maltratara.

 

Em um pequeno instante as mãos grossas e calosas do guerreiro, e agora que percebera, um centauro, esticara a corda do arco para atirar.

 

A magia não é um artefato corporal tão simples quanto a habilidades físicas. Ela se descontrola, como a raiva, a fome e pode ser não somente uma forma de ataque e defesa como uma bomba. Usuários de magia são comumente chacinados ao se descontrolar e extrair a vida e alma de seres, mesmo sem culpa de tal desvairar.

 

Antes que a corda fosse solta e a flecha disparada um brado de dor, tristeza e desespero saiu da pequena garganta da elfa, um rugido assustador que trouxe a magia que tanto Anahtya se recusara a usar. Da terra úmida e fértil, caules criavam vida prendendo-se nos membros dos guerreiros que ali estavam, imobilizando-os primeiramente para depois perfurarem seus corpos.

 

A criança fechou os olhos e voltou-se a levantar, se martirizando pela vida dos dois homens que ali estavam, gritando de dor e angustia, enquanto a árvore entrava nas entranhas de seu corpo, tirando-lhes a vida.

 

Os cabelos loiros voltaram a balançar enquanto corria, mas não antes de dar uma última olhada em seu feito. Duas árvores no formato dos guerreiros, banhadas com seu próprio sangue que pingavam das pontas triangulares das folhas.

 

— Me desculpe – sussurrou, antes de partir.


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Notas finais do capítulo

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