Fragmentada escrita por DrixySB


Capítulo 13
Uma nova primeira vez


Notas iniciais do capítulo

Inexplicavelmente, Jemma sente falta daquilo de que não se lembra.



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Folheando seus antigos cadernos – que ela já concluíra se tratarem de tentativas infrutíferas de manter diários – Jemma encontrou uma lista de lugares e momentos especiais.

A noite avançava e a bioquímica se encontrava sozinha no quarto que dividia com Fitz. Ele ainda estava com Athena, possivelmente experimentando todos os métodos que estivessem ao seu alcance para fazê-la dormir. Desde contar histórias até cantarolar canções de ninar. E, pelo visto, por enquanto, nenhum deles havia surtido efeito. Era como se a menina quisesse passar o maior tempo que pudesse ao lado do pai depois do pesadelo que tivera pela manhã.

Ela leu atentamente a lista em sua caligrafia cuidadosa. A Caldeira na Academia da SHIELD era certamente um lugar especial até onde ela se lembrava. Perthshire, que havia conhecido com seu pais séculos atrás, quando ainda era pequena durante uma viagem para a Escócia em um feriado qualquer. O Planetário Nagoya, no Japão... Ela mal acreditava que já tinha colocado os pés lá. Era um sonho de infância que havia realizado e do qual  não se lembrava. O que era frustrante. Virando a página, ela se deparou com um lugar especial em destaque: um hotel em Budapeste. Não passou despercebido o adendo disposto entre parênteses que dizia primeira vez com Fitz. Seu coração disparou de repente, ela respirou fundo, piscando os olhos continuamente.

Jemma era de poucas palavras. Ela apenas escrevia de maneira objetiva, sem se ater a detalhes, sem floreios, sem expressar muitos sentimentos. E, naquele momento, lamentou ser uma cientista racional e não uma aspirante a escritora. Ela queria saber mais acerca dos momentos dos quais não se lembrava. Como era ser tocada por alguém. Ser tocada por Fitz...

Ela largou os cadernos sobre a cama e levou as mãos à cabeça. Por mais que não se lembrasse, sentia falta daquilo de que não se lembrava. Fosse dos momentos que Fitz havia mostrado a ela por intermédio de fotografias, fosse do calor dele... Seu corpo sentia, inexplicavelmente, falta de seu toque. Afinal, eles eram casados e ela deveria estar acostumada a isso. Seu corpo havia se acostumado à sensação de dormir ao seu lado, em seus braços, todas as noites. Bem, não era apenas questão de costume. Havia sentimento. Eles se amavam, afinal... Entre eles havia amor, paixão, desejo... E uma intimidade que fora evoluindo gradativamente no decorrer dos anos.

Lembrou-se, repentinamente, de ter lido qualquer coisa acerca da primeira vez em que se relacionou sexualmente com alguém. Ela havia mencionado em um dos cadernos antigos, em uma lista de primeiras vezes que continha seu primeiro beijo, sua primeira nota A, seu primeiro bichinho de estimação, a primeira viagem que fez sozinha, a primeira relação sexual... Havia sido aos 19 anos. Provavelmente depois do ponto onde sua memória havia parado, uma vez que ela não conseguia se lembrar. Jemma sempre fora precoce em diversos aspectos, só não no sexo. Era uma curiosa, mas seletiva, de modo que demorou a se sentir pronta para explorar sua sexualidade.

Portanto, não sabia bem o que fazer. O que era estranho quando havia tido namorados, era casada e tinha até mesmo uma filha. Mas sabia que uma vez nos braços de Fitz, seria guiada precisamente pelas sensações. Seu corpo seria o responsável por guiá-la... De repente, se deu conta: estava considerando mesmo a possibilidade de fazer isso com Fitz?

Ela se jogou para trás, o impacto de seu corpo sendo absorvido pela maciez do colchão e dos travesseiros, enquanto tentava organizar seus pensamentos. Sentou-se novamente, de um sobressalto, quando a porta do quarto se abriu revelando a figura do engenheiro. Ele passou a mão pelo rosto, parecendo exausto. Então seus olhos detiveram-se em Jemma.

— Algo errado?

— Não... Não há nada de errado – ela afirmou, procurando disfarçar a tensão, mas soou como uma mentira até mesmo para os seus próprios ouvidos – por que a pergunta?

— Sei lá, você parece... Aflita?

— Não... Imagina! – ela forçou um sorriso, fazendo um esforço sobre-humano a fim de parecer relaxada – E Athena? – perguntou, tentando mudar de assunto.

— Consegui, finalmente, fazê-la dormir.

Sem perceber, como que por força do hábito, Fitz caminhou até a cama e deitou-se sobre os lençóis. Jemma suspendeu a respiração por um momento, como se qualquer movimento brusco fosse denunciar os pensamentos que perpassavam sua mente antes de ele entrar. A proximidade do corpo dele soou um alarme em sua cabeça.

— Deu trabalho, mas finalmente consegui – completou após um suspiro fatigado. Foi só então que se deu conta – Oh, me desculpe... Eu não percebi...

O engenheiro fez menção de sair da cama, mas Jemma o impediu, segurando-o pelo braço.

— Você pode ficar... Depois de tudo o que houve hoje, merece um descanso apropriado.

Ele a fitou por um instante. Um instante que se estendeu mais do que deveria, então meneou a cabeça, concordando, e procurou relaxar. O que não foi exatamente fácil. Ele estava tão cansado devido a todo o stress que vinha enfrentando nos últimos dias... Mas ficar assim, tão próximo de Jemma, só trazia à tona pensamentos que ele procurava afugentar durante a maior parte do tempo: o fato de que ela estava desmemoriada e, portanto, eles não tinham mais a intimidade de outrora. Ele tinha de ser cuidadoso, de modo que ela não se sentisse desconfortável ou que seu espaço estivesse sendo invadido. Disfarçadamente, Fitz se moveu para a ponta da cama. Algo que não passou despercebido por Jemma.

— Fitz... – ela começou após um instante de silêncio constrangedor – venha mais pra cá – disse, tocando levemente o espaço vago entre eles na cama. Sentindo que o rubor ameaçava lhe cobrir a face, evitou olhar para ele.

De repente, ele se viu sem reação, sem saber como reagir diante daquele pedido.

— Eu... Tudo bem, eu estou bem aqui.

— Não seja ridículo – Jemma revirou os olhos – não vejo como vai conseguir descansar adequadamente ficando com metade do corpo pra fora do colchão – ela o repreendeu.

— Hmm... Okay – como não havia escolha, acatou seu pedido.

— Você vai dormir assim? – perguntou ela, referindo-se ao traje social com o qual ele havia ido trabalhar e permanecera durante o dia todo.

— Eu estou cansado demais para trocar de roupa... – ele respondeu em um tom de voz sonolento.

Diferentemente de momentos atrás, quando se jogou sobre o travesseiro, desta vez Jemma reclinou o corpo gradativamente, até sentir a maciez do colchão sob suas costas. Ela permanecia tensa. Durante alguns segundos, tamborilou os dedos sobre o espaço vazio entre ela e Fitz e, após muito relutar, tornou o rosto na direção dele.

— Fitz... – murmurou.

Como não obteve resposta, ergueu ligeiramente a cabeça e notou que o engenheiro estava com olhos cerrados, seu peito subia e descia de maneira ritmada.

Estava dormindo.

Jemma suspirou, frustrada. Tinha de lhe dar um desconto. Ele estava realmente exausto.

*

Em seu sonho, o toque dos lábios dele nos seus e das mãos dele em sua pele pareceram tão genuínos que, ao abrir os olhos, Jemma teve dificuldades em acreditar que aquilo não se tratava de realidade. Aos poucos, sua visão foi se ajustando à escuridão do quarto. O ambiente era pontual e fracamente iluminado por alguns resquícios de claridade que entravam pelas frestas da cortina. Ela encontrou Fitz, ao seu lado, totalmente desperto. Sentado sobre a cama, ele consultava seu tablet e escrevia avidamente em um bloco de anotações.

— Você nunca dorme por mais de uma hora? – ela perguntou, espreguiçando-se, com uma voz quase irreconhecível, levemente alterada pelo sono – deveria descansar, Fitz – acrescentou.

Ele deu de ombros, inspirando longa e profundamente.

— Eu não consigo. Eu quero descansar, mas... Começo a dormir e sou atormentado por pesadelos, pela culpa de estar perdendo tempo ao invés de fazer algo de útil.

Jemma ajustou sua postura, sentando-se e recostando-se na cabeceira para falar com ele.

— Não pode ficar 24 horas por dia acordado para reparar erros. Precisa parar e respirar também.

Ele balançou a cabeça, resignado.

— Não adianta. Eu simplesmente não consigo relaxar.

Ela desviou o olhar, mordendo ligeiramente o lábio inferior, então se aproximou mais dele, tirando o tablet e o bloco de notas de seu colo, e os colocando sobre a mesinha de cabeceira. Ao fazer isso, ela havia praticamente se curvado sobre ele. Fitz não se moveu, limitou-se a prender a respiração e sentir a tensão envolver todo o seu corpo.

Após tirar a caneta da mão de seu marido e repousá-la ao lado do bloco de anotações, Jemma aproximou seu rosto do dele, fitando-o penetrantemente.

— Eu posso te ajudar a relaxar.

Ele nada disse. Continuou imóvel, entorpecido pelo perfume dela.

Jemma levou a mão ao rosto de Fitz, tocando levemente sua barba por fazer e, pouco a pouco, foi dissipando a pouca distância que havia entre seus lábios, capturando-os nos seus. O beijo foi doce, de um sabor melífluo. Todavia, eles permaneceram praticamente inertes durante um longo momento. Jemma não sabia explicar o que havia dado nela. Ela ainda estava insegura, ainda não sabia direito como agir. Mas foi tomada por um súbito desejo de obedecer a seus instintos e não ouvir seu lado racional, responsável por arquitetar meticulosamente suas ações. Ela agira por impulso. Mas agora que suas bocas estavam em contato, ela se viu hesitante em prosseguir. Seus ombros estavam tensos e ela podia sentir que o mesmo ocorria a Fitz. Ainda assim, foi ele quem aprofundou o beijo, levando suas mãos à parte baixa das costas dela, tomando-a mais para si, provavelmente por não conseguir mais se conter. E, assim, Jemma relaxou em seus braços, entregando-se àquele momento, deixando escapar um gemido baixinho de satisfação e deleite.

Tão rápido quanto começou, o beijo terminou. Abruptamente, Fitz afastou seus lábios dos dela e a confusão estampou o rosto de Jemma no minuto que se seguiu.

 - Nós não podemos fazer isso – afirmou, resoluto.

— Por que não?

— Você sabe o porquê – ele deu uma risada sem humor, soando indignado diante do questionamento dela – é óbvio. Você não se lembra, não é certo continuarmos com isso...

— Fitz – ela o cortou, determinada – eu sei o que eu quero. É estranho, mas... – ela cerrou ligeiramente os olhos, tentando ordenar seus pensamentos a fim de se expressar com cuidado – eu sequer sei explicar, mas de alguma maneira, eu sinto falta do seu toque... – verbalizou, posando as mãos nos ombros dele, deslizando-as pelos seus braços.

O engenheiro sentiu como se uma corrente eletromagnética atravessasse seu corpo.

— Eu sinto falta do calor do seu corpo... Da sua pele em contato com a minha – ela sussurrou, olhando profundamente em seus olhos de um tom de azul tão puro... E foi difícil, para Fitz, resistir àquelas palavras e àquele olhar.

Ele a puxou novamente para si, seus lábios colidiram em um beijo sôfrego, apaixonado que expressava, enfim, todo o desejo que um sentia pelo outro. Um desejo que fora reprimido nos últimos dias. Ela posicionou-se sobre ele, sentando-se em seu colo, com uma perna de cada lado de seu corpo. Fitz correu suas mãos pela lateral do corpo dela e pelas suas costas, enquanto as mãos de Jemma foram parar na nuca de Fitz e um gemido baixo se desprendeu da garganta dela. O suficiente para incentivá-lo a livrar sua mulher das desnecessárias peças de roupa que ela costumava vestir para dormir. Jemma, por sua vez, se ocupava de desabotoar a camisa e desafivelar o cinto que ele usava.

Assim que suas peles estavam plenamente em contato, sem que nem o mínimo tecido os separasse, ele inverteu suas posições na cama, ficando por cima dela, sem partir o beijo. Ele separou seus lábios apenas por um breve momento, para que pudessem tomar fôlego. Fitz encostou sua testa na dela, olhando-a firmemente nos olhos. Jemma correu seus dedos por entre os fios de cabelo dele antes de verbalizar o que a inquietava naquela situação.

— Me prometa que não vai ficar estranho comigo depois disso – ela pediu em um sussurro.

Fitz sorriu genuinamente antes de responder.

— Eu prometo – afirmou com veemência, antes de tornar a beijá-la.

Durante as horas que se seguiram, mais nenhuma palavra coerente foi dita. Ambos perderam-se na ardência dos toques, na sintonia precisa entre seus corpos, deixando-se inebriar pelas sensações que tomavam conta de seus seres, pelo calor que os envolvia, pelo ritmo cadenciado de seus quadris, pelo desejo extasiante, absoluto e arrebatador que os invadiu.

Jemma não se lembrava como havia sido sua primeira vez. Mas acreditava que nada poderia superar aquele momento. Era como uma nova primeira vez. Ao lado do seu único e verdadeiro amor.


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Notas finais do capítulo

Me redimindo por ficar tanto tempo sem postar. Dois capítulos no mesmo dia ;)



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