Flores De Maio escrita por Maitê Miasi


Capítulo 7
Agimos Certo... O Tempo Que Errou


Notas iniciais do capítulo

Finalmente, o encontro! Não me matem, ops...



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Tudo que é belo renasce, cresce,

floresce, como um poema nas mãos

poeta, como um bebê no ventre

da mãe, como um pincel nas mãos do

artista. Porque enquanto o homem

destrói a natureza, ela se vinga,

criando flores. – Dalva Agne Lynch

****

— É Maria, infelizmente aconteceu o que temíamos. – Disse Cecília com ar de viúva desolada.

— Não... Não... – Balançava a cabeça sem querer acreditar. – Não, não, não, me diz que é mentira – já se encontrava em prantos – isso não pode ser verdade, Enrico não pode estar morto!

Sem mais, Maria sai num disparo para o quarto de Enrico, torcendo para que tudo aquilo fosse uma brincadeira de mau gosto. E se realmente fosse? Fifi estaria fazendo parte disso? Ao pensar nisso, seu coração temia mais, sabia que sua tia não se prestaria a esse papel, ou seja, o que disseram era verdade.

Ela chegou frente à porta do quarto,  ficou receosa em abrir e encontrar algo que seus olhos não queriam ver, mas ela tinha que o fazer, constatar com seus próprios olhos o início da sua tristeza, o começo da sua melancolia, e por fim, com um gesto de coragem, abriu a porta. Ela viu. Ela o viu ali estirado, sem movimentos, já sem poder sobre si mesmo e tão vulnerável, e tá aí uma coisa que Enrico nunca foi, vulnerável. Suas lágrimas começaram a rolar desenfreadamente, sua família também já se encontrava no quarto dele, e ela chorava em cima de seu corpo, implorando para que ele voltasse à vida.

 — Enrico, Enrico... Volta Enrico, por favor, não me deixe aqui... Acorda Enrico, e me diz que isso não passa de uma brincadeira, Enrico por favor... – Se debruça sobre o corpo dele, e assim fica por alguns segundos. – Enrico – se levantava em meio aos soluços – por favor, não me deixe aqui...

— Maria – Fernando tentava tira-la de cima do corpo – vem irmã, não tem mais nada que possamos fazer...

Com muito custo, ele consegue tira-la dali, e a aconchega em seus braços, consolando-a. Ele foi muito útil a ela naquele momento, apesar das discussões, ele sentia um imenso carinho por sua irmã, talvez só estivesse no lugar errado, com pessoas erradas.

— Chora Maria, chora... – Dizia ao passar a mão no cabelo dela.

— Ele se foi Fernando, o Enrico se foi...

— A vida é assim Maria, vive nos surpreendendo.

Maria não conseguiu se segurar diante do comentário da mãe, e esse era o momento propício para soltar tudo que estava preso em sua garganta.

— A culpa disso tudo é sua Cecília! – Gritava se afastando de Fernando.

— Você ficou louca Cris?

— Eu não estou louca, e não me chame de Cris! Você o matou Cecília, você o matou...

— Eu não vou admitir que...

— Você não tem que admitir nada – interrompeu – você é a culpada pela morte dele, você tanto quis, e hoje ele está morto! Eu nunca vou te perdoar por isso Cecília, nunca! Eu te odeio como nunca antes odiei alguém!

— Já chega de show Maria! – Disse Sérgio a segurando.

— Me solta Sérgio! – Tentava se soltar, em vão.

— Solta ela Sérgio. – Fernando a puxou para si.

— Será que dá pra vocês respeitarem a memória de Enrico Se não o fizeram em vida, façam agora! – Disse Fifi autoritária.

Maria olhou para Cecília com ódio, um ódio jamais visto naqueles olhos verdes encantadores, mas no momento encanto era a última coisa que existia em seu olhar. Ela saiu da presença de todos, e se trancou em seu quarto, tentando digerir a notícia que lhe foi dada.

****

E chegara a hora de encarar a família, quer dizer, a única pessoa que restara na vida de Estêvão, Ana Lara.

— Pai! – Se jogou nos braços do pai, que acabara de entrar.

— Filha – disse por fim depois de algum tempo abraçados – vamo ter que ser fortes, agora somos só nós dois.

— Pai, essa fase ruim vai passar, e eu vou sempre estar aqui com você!

Quem diria, uma garotinha com apenas dez anos de idade consolando seu pai, eh, a vida nos surpreende. Estêvão olha para sua filha mais uma vez, e a aperta em mais um de seus abraços.

— Aninha, você pode ir lá no quarto rapidinho pegar a minha bolsa? – Pediu Babi.

— Já entendi que você quer falar com meu pai Babi, era só ter sido direta. Eu vou sim, e aproveito pra pedir pra Deus pra receber minha bisa, e dar pra ela um lugar bem especial lá no céu. – Sorriu e saiu.

— Ela é muito especial. – Sorri sentando e convidando Babi para sentar também.

— Sim, ela é, e às vezes as crianças são mais espertas que os adultos, e a gente subestima elas. E você – coloca a mão na coxa dele – como tu tá?

— Quebrado, destroçado, dilacerado... Tá sendo muito difícil Babi – as lagrimas apareceram novamente – primeiro meu pai, depois minha mãe, Adriana e agora a minha vó, o que mais a vida quer tirar de mim?

— Não faz essa pergunta, ela pode entender como um desafio! Você não está sozinho, você tem a sua filha, e você tem que ser forte por ela, ela é a que mais precisa de você, e você também tem a mim. – Acaricia seu rosto. – Eu sempre vou estar ao seu lado.

— É Babi, tenho que confessar que você é mais que um rostinho bonito, você tem sido muito útil pra mim, não sei se um dia vou conseguir te agradecer.

— Teb... – Sorriu – Sei que esse momento já tá doloroso demais, mas você ainda tem que cuidar dos trâmites para o enterro.

— O médico que cuidou dela disse que vai bancar tudo, ele se compadeceu muito dela nesses dias. Eu somente abracei ele agradecendo por tudo.

— Deve ser muito gente fina. Então – se levantou – vai tomar um banho e tenta descansar um pouco, você tá exausto. Eu vou preparar alguma coisa pra gente comer.

— Tudo bem. – Se levanta puxado por ela. – Babi – olha em volta – a casa está com luz, o que houve?

— Teb, seus vizinhos são muito amigos seu mesmo. Eles viram que o seu momento não era dos melhores, e quiseram ajudar de alguma forma, e então se juntaram e pagaram todas as contas.

— É sério isso Babi?

— Claro que é Teb! Você merece! – Dá uma batidinha em seu ombro.

— Caramba, eu nunca vou poder agradecer o que vocês têm feito por mim! – Se emociona.

— Agradece indo descansar um pouco, vai – o empurra em direção ao quarto – vai, vai, vai...

****

E ali estavam eles para o sepultamento de seus entes queridos. Estêvão e Maria, tão pertos um do outro, sofrendo de dores parecidas, mas eram completamente estranhos entre si, jeitos diferentes, costumes diferentes, pensamentos diferentes, mas naquele momento tinham algo em comum: carregavam a dor do adeus.

A cada pá de terra que era jogada em cima dos caixões, era como se fosse uma mão que esmagava seus corações tristes, era uma lágrima que rolava sem compaixão, era a tristeza de não poder ver nunca mais aqueles à quem um dia dedicaram seus amor.

Maria se encontrava só, sentada em um banco do cemitério, quando recebe uma ‘visita’ inusitadamente agradável.

— Oi.

— Oi. – Respondeu Maria olhando para o lado.

— Eu vi que vocês estava tão triste, e vim falar com você. Meu nome é Ana Lara, mas pode me chamar de Aninha. Posso me sentar do seu lado?

— Claro. – Se ajeita para que ela se sente. – Mas o que uma criança está fazendo no cemitério?

— Não chore assim moça – ignora a pergunta de Maria – aposto que a pessoa que você enterrou não ia gostar de te ver assim.

— É que dói tanto, e agora parece que estou sozinha nesse mundo, sem motivo nenhum para seguir em frente.

— A gente sempre tem um motivo pra seguir em frente, mesmo que seja só um. Sabe, meu pai sempre diz que as coisas vão melhorar, e que sempre tem gente que tá com um problema maior que o nosso, e eu acredito nisso, eu também tô triste, acabei de enterrar minha bisa, e tá sendo difícil, mas eu sei que foi melhor assim, nada acontece por acaso.

— Engraçado, você aqui me dando forças, era pra ser ao contrário. – Sorriu.

— Espero que você consiga superar essa morte, e consiga sorrir. Sabia que você tem um sorriso lindo? Bom – se levanta – eu preciso ir, meu pai deve tá me procurando. Tchau! – Saiu correndo.

— Vamos Maria? – Perguntou Lívia que acabara de se aproximar. – Que cara de boba é essa?

— Às vezes aparecem anjos vindos do céu do nosso lado. – Se levanta.

Maria acompanha Lívia sem dizer uma palavra, somente pensando nas coisas que Aninha dissera a ela, uma menina que talvez ninguém daria nada por ela, mas que fez muito bem seu papel. Elas mal podiam imaginar que se tornariam muito boas amigas.

****

Se passam os minutos, as horas, os dias e as semanas, e a saudade doía cada vez mais.

— Filha, você precisa comer alguma coisa, há dias que você mal se alimenta. – Diz Fifi se aproximando de Maria que estava no jardim.

— Tô sem fome tia.

— Enrico não ia gostar nada disso. Toma – tira algo do bolso – é pra você.

— O que é isso? – Abre a carta curiosa.

— Essa carta Enrico pediu que eu te entregasse depois que morresse.

Maria sentiu Enrico perto de si mais uma vez, mesmo que fosse um pouquinho. Ela começou a ler a carta só para si, e seus olhos marejaram.

A carta continham essas palavras:

Cris, minha pequena e doce Cris, talvez nesse momento você já esteja desabando em lágrimas, por isso não consegui te dizer o que vou tentar dizer agora, pra não ver você chorar, essa era uma coisa que eu não gostava, ver seu choro. Não quero que você passe o resto da vida triste por minha causa, quero que você viva, e viva de verdade, sem medo, com orgulho, e ainda desejo aquele alguém, lembra? Eu sei que se lembra. Cris, seja alguém além de uma mulher apaixonada por flores, por perfumes, se aventure, faça coisas que vá se arrepender depois, mas faça. Quero que casais apaixonados te sintam, sintam a sua essência ao usarem os perfumes feitos por você, não quero que eles somente usem, mas se inspirem em você. Coisas sobre o passado virão à tona em breve, você precisará ser forte, e eu sei que vai conseguir. Espero que um dia possa me perdoar, e nunca se esqueça de mim, pois você estará marcada sempre em meu coração Cris. Te amo filha!

— Ah Enrico... Por que me pede perdão?... – Abraçou a praia pensativa.

****

Alguns dias depois.

— Maria – disse Cecília ao entrar no quarto – já vai começar a leitura do testamento do Enrico, só falta você.

— Interessante né Cecília – dizia sem olha-la – finalmente seu sonho vai se realizar.

— Deixa de ser infantil Maria, você só está tornando as coisas mais difíceis.

— Difíceis pra quem? – A olha. – Pra você Seu cinismo me dá náuseas! – Faz cara de nojo.

— Eu não sei pra que toda essa cena, você não pode estar tão triste assim, ele não era seu pai de verdade, ele nem tinha o seu sangue!

— Quer saber de uma coisa Cecília, se fosse você que estivesse agora a sete palmos abaixo do chão, eu não estaria nem um pouco triste, talvez estivesse até comemorando. E se me perguntassem quem eu queria vivo aqui agora, eu responderia sem medo de errar, que preferiria o Enrico!

As palavras de Maria fizeram Cecília sentir um arrepio na espinha, por mais que ela não fosse a melhor mãe do mundo, não esperava ouvir aquilo de sua ilha, sua primogênita, nem um animal merecia ser tratado daquela forma. Eh, ela estava colhendo os frutos daquilo que plantara.

— Estamos te esperando. – Saiu às pressas.

****

— Então, já estou aqui, podemos começar com a palhaçada. – Disse Maria ao entrar e se acomodar.

— Calma Maria, ainda falta mais um herdeiro. – Disse o advogado calmamente.

— Que herdeiro? – Perguntou Sérgio espantado.

— Enrico não tem mais nenhum herdeiro! – Exclamou Cecília.

— Desculpe senhora, mas tenho que desaponta-la. Só vamos começar quando o herdeiro chegar.

Como assim? Mais um herdeiro?! Eh Enrico, até depois da morte deu um jeito de atormentar Cecília.

Não muito tempo depois, chegou um segurança, e ao lado o tal herdeiro com sua filha. Ambos não entendiam o motivo de estar ali, e nem sabiam que suas vidas mudariam totalmente em questão de segundos.

— Pronto, chegou o herdeiro! – Disse o advogado.

A vontade dele era correr, sumir dali, um lugar completamente diferente, ele se sentia como um peixe fora d’água, suas pernas tremiam, seu coração disparava. Mas quando ele ia se retirar, seus olhos se encontraram com os olhos daquela de quem nunca vira, ele poderia ficar horas olhando-a. Seria amor à primeira vista?

Foi assim

Como ver o mar

A primeira vez

Que os meus olhos

Se viram no seu olhar...

 

Quando eu dei por mim

Nem tentei fugir

Do visgo que me prendeu

Dentro do seu olhar...

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Maria foi meio dura nas palavras que disse a Cecília, mas convenhamos, ela mereceu. Espero que gostem, bjs!!