Flores De Maio escrita por Maitê Miasi


Capítulo 5
Nem Tudo São Flores


Notas iniciais do capítulo

Dedico esse capítulo a minha querida e fiel leitora Naty Leme, aproveita querida, que esse é seu!!



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Teus olhos são meus livros.

Que livro há aí melhor,

Em que melhor se leia

A página do amor?

 

Flores me são teus lábios.

Onde há mais bela flor,

Em que melhor se beba

O bálsamo do amor?

— Machado de Assis

****

O domingo seguiu normalmente para ambas as famílias, bom, dentro do que se pode chamar de normalidade para eles. Para uma, discussões atrás de discussões em volta de um mesa farta, para a outra, sorrisos e demonstrações de carinho, sem uma mesa farta na qual eles pudessem ficar em volta, e um prato de comida com quase nada, apenas o suficiente para passar aquele dia, mas mesmo assim, eles não reclamavam, sabiam que uma hora aquilo tudo ia mudar, só não sabiam como, mas sabiam que isso ia acontecer um dia.

Mais uma segunda-feira chegara, e junto com ela as reclamações cotidianas sobre... Ela mesma. Os comentários comuns, como “segunda-feira deveria ser feriado” ou até mesmo “quem foi que inventou a segunda-feira?” foram ditas diversas vezes naquela manhã, e em sua companhia, ela trouxe um trânsito infernal, bom para Estêvão, que adorava os ‘trânsitos infernais’, assim lucrava mais com a venda dos seus doces, e não tão bom para Maria, que provavelmente chegaria atrasada no trabalho, sim, Maria Cristina trabalhava, por isso não gostava tanto dos finais de semana, pois teria que aturar a mãe, irmão e marido dois dias inteiros.

Dito e feito, Maria chegou atrasada no trabalho, o que a fez apertar o botão do elevador trocentas vezes, e xingar mentalmente as pessoas que chamavam o elevador no primeiro andar.   

“Por que essas pessoas não descem de escada?” – Pensou com uma certa raiva, enquanto apertava o botão do elevador exaustivamente.

A empresa que Maria trabalhava era de Enrico, o que dava a ela certa vantagem sobre os outros funcionários, já que ela o representava ali, mas isso não era motivo para chegar atrasada, ela fazia questão de dar exemplo. A empresa se chamava Aquela Essência, e produzia cosméticos, mas sua maior fonte de lucros eram os perfumes extraídos das mais exóticas e raras flores. Agora dá para entender o amor de Maria por esse trabalho.

Aquela Essência era muito bem vista por todos os compradores, vendedores e até pelos funcionários local. Seus produtos eram vendidos dentro e fora do país, o que deixava Enrico cheio de orgulho da sua pequena Maria.

O prédio onde Maria trabalhava era fino, requintado e com muito luxo. Era formado por alguns andares: o térreo, que tinha uma sala de espera, onde os clientes aguardavam serem atendidos, banheiros, bebedouros, sala informatizada e biblioteca; o lauch, onde tinha um auditório que eram realizadas palestras sobre assuntos diversos, e um local para treinamento de funcionários; o primeiro andar era responsável por alocar a área médica, caso acontecesse algum imprevisto com os funcionários; no segundo era a área administrativa; o terceiro ficavam os responsáveis pelo controle de qualidade dos produtos fabricados e por fim o quarto, onde os perfumes e cosméticos eram fabricados. Tudo era com a máxima cautela, de acordo com a legislação vigente.

Por fim o elevador chegou. Para sua sorte, ela subira só, então o elevador só parou no seu andar, o quarto. Maria trabalhava na manipulação de perfumes, era o que ela amava, as flores, os perfumes, sua delicadeza, e poder mostras isso ao mundo era gratificante demais para ela.

— Isso são horas? – Perguntou Lívia olhando o relógio enquanto Maria entrava na sala.

— Lívia, sem sermões, peguei um trânsito horrível hoje! – Lavava as mãos e se preparava para paramentar-se, após colocar sua bolsa no armário.

— Ihh, calma, só tava brincando. – Saiu da área da balança e foi até Maria. – Já chegou a essência que tanto queríamos.

— Sério! – Olha para Lívia sorrindo. – Ah, eu não via a hora dela chegar! E cadê ela? Eu quero logo começar a manipular! – Esteva eufórica.

— Calma Maria, ela tá lá em baixo passando pelos testes, daqui a pouco eles sobem com ela.

— É, essa semana tá começando bem! – Sorriu satisfeita enquanto colocava a touca e o jaleco.

— Mas me diz – guardava algo no armário – como foi seu fim de semana?

— Rum – a olhou com uma cara como se já desse a resposta – do mesmo jeito de sempre. Apartando as brigas entre minha mãe e Enrico, repreendendo minha mãe por discutir sem necessidade com a tia Fifi, tendo que aturar a cara de deboche de Sérgio e Fernando, basicamente isso.

— Shii – franziu a testa – é Maria, definitivamente você tem a melhor família do mundo! – Ironizou.

— Ô, com certeza! – As duas riram.

— E o Fernando hein? Se eu fosse pra cama com ele ao menos uma vez, eu poderia virar lésbica depois, pois já realizei meu desejo! – Mordeu o lábio com cara de tarada.

— Ai Lívia, que horror! Tantos caras aí te dando mole, e você vai querer logo o meu irmão? Ah não, não te quero como cunhada, para o seu próprio bem!

— Ah Maria, deixa de ser antiquada! Eu não quero me casar com teu irmão, só quero ter um lance com ele! Se bem que casamento seria uma ideia ótima.

— Eu vou fingir que não ouvi isso.

Maria olha para Lívia com ar de reprovação (as duas eram amigas de longa data, e Maria era como a irmã mais velha de Lívia) e vai ver quem estava batendo na porta.

— Senhora Maria Cristina, aqui está a amostra que a senhora pediu.

— Obrigada. – Sorriu gentilmente.

— Precisa de mais alguma coisa?

— Não, se eu precisar ligo lá pra baixo.

— OK, com licença.

— Toda. – Fechou a porta e foi até Lívia. – Bom, vamos parar de papo furado e vamos trabalhar. – Se vira e vai até a balança.

— Tudo bem... Maria?

— Oi. – Se virou para ela.

— Você prefere que eu te chame de chefinha ou de cunhada?

— Ah, pensei que era algo sério sua boba! Mas respondendo sua pergunta, me chame de vossa majestade!

As duas se puseram a rir. Maria fazia jus à frase: “Trabalhe com o que gosta, e não precisará trabalhar.”. Ela adorava o que fazia, adorava estar na companhia de Lívia, que era uma pessoa super bem humorada, de bem com a vida e que tinha uma quedinha por Fernando, porém nunca foi notada por ele.

****

Enquanto isso na mansão Goulart...

— Enrico – tentava se desculpar – nós estamos fazendo o possível, mas não tem sido fácil!

— Eu não quero saber, vocês são pagos pra isso! – Se vira e vai ate a janela, estava alterado.

— Eu sei, mas se passaram trinta anos, o que você quer que façamos? Um milagre?

— Eu só queria uma única alegria antes da minha morte – se vira para ele – é pedir demais? Eu pensei que você e sua equipe fossemos melhores investigadoes, mas acho que me equivoquei.

— Enrico... – A única coisa que saiu de sua garganta. – Eu estou dando o meu melhor. – Disse por fim depois do pequeno silêncio que se formou na sala.

— Seu melhor – Desdenhou. – Isso não é suficiente pra mim. – Se serviu de um gole de whisky.

Enrico estava prestes a chorar, mas se segurou. Talvez ele devesse permitir ao menos uma vez que suas lágrimas se libertassem, pois há tanto tempo elas estavam presas em seu olhar frio.

O telefone do investigador toca.

— Um minutinho Enrico. –Tira o celular do bolso e se distancia.

— Claro. – Foi indiferente.

Após alguns minutos rápidos, o investigador voltou sorrindo.

—Trouxe boas notícias meu caro! – Sorria de orelha a orelha.

— Diz logo.

— Encontraram!

— Não, é sério!? – Sorri esperançoso.

— Sim. Acabaram de me ligar confirmando, sua espera acabou Enrico!

— Não acredito... Não acredito que ainda vou sorrir de novo, tô me sentindo ótimo agora!

— E eu estou me sentindo aliviado.

— Já era hora né, como vocês são moles!

— Nem assim você deixa de ser rabugento né? Bom, eu vou indo, qualquer coisa te ligo. – Vai até Enrico e aperta sua mão, e ele retribui com um sorriso.

— Finalmente eu te encontrei...

O que deixara Enrico tão feliz? Quem, ou o que ele estaria procurando? Será que é algo relacionado à empresa, ou o seu amor do passado? Seja o que for, deve ser algo muito importante para fazê-lo sorrir, já que as únicas pessoas que conseguiam isso era Maria e Fifi.

****

— Cecília?

— Sérgio? – Olhou para trás. – O que está fazendo em casa?

— Vim pegar umas pastas que esqueci. – Se senta ao seu lado no sofá. – Viu quem acabou de sair daqui?

— Vi, e dava tudo pra saber o que eles conversavam.

— O que será que Enrico está investigando hein? Ou quem será?

— Não faço a menor ideia. Eu o conheço bem, e por isso fico mais curiosa ainda.

— Você acha que... Ele tá desconfiado de alguma coisa? – Ele a olha de uma forma que ela entende o que ele quis dizer.

— Não, claro que não. Se soubesse já teria jogado na minha cara, fica tranquilo, esse segredo ele não vai ficar sabendo...

****

— Fifi, Fifi? Josefina? – A gritava pela casa.

— Que foi Enrico? Que gritaria é essa?

— Quero que você coloque sua melhor roupa, hoje Maria e você vão jantar fora comigo! – Ele a puxou, colocando-a em seu colo na cadeira de rodas, e beija ostensivamente sua bochecha.

— Meu Deus! – Se levanta ajeitando sua roupa. – O que houve Posso saber o motivo dessa alegria?

— Você e Maria são o motivo da minha alegria. – Disse de forma doce e suave. – Avisa a Maria, quero vocês duas impecáveis às 20:00 h.

****

Mais um dia cansativo chegava ao fim. Um dia como todos os outros, com pós e contras, sorriso, suor e trabalho, muito trabalho, principalmente para Estêvão, que ralava como um cão, mas nesse dia sorria de uma forma diferente, pois conseguira mais dinheiro que o normal, e dessa forma faria uma bela surpresa para suas meninas.

— Quer dizer então que hoje tem jantar especial! – Perguntou Babi sorrindo durante o caminho até a casa de Estêvão.

— Sim – sorriu – vou preparar algo especial pra elas, uma surpresa! Hoje o dia foi muito produtivo!

—  Que bom Teb, torço de coração que você se livre dessa pindaíba!

— Janta com a gente hoje.

— Tem certeza que me quer por perto – Ficou surpresa com o convite. – Você pode não resistir a tentação! – Brincou.

— Deixa de ser Boba Babi, você é super bem vinda lá em casa. Não é porque não te vejo como mulher, que não podemos conviver bem como amigos.

— Claro.

Conversa vai, conversa vem, e eles chegam à casa de Estêvão, mas antes que pudessem passar pelo portão, Aninha sai de dentro da casa gritando de forma preocupante.

— Aninha, por favor, se acalma, e me diz o que está havendo. – Segurava o ombro da filha.

— Pai, é a minha bisa, ela tá muito quente, e falando umas coisas nada a ver. – Disse por fim.

— Ah não! – Passa a mão no cabelo. – Eu vou levar ela agora mesmo ao médico, e você Aninha... – Pensa num instante o que fazer com ela.

— Vai tranquilo – interrompe os pensamentos dele – eu fico com ela!

— Valeu Babi, eu te adoro!

Ele a testa das duas, pega sua avó e sai as pressas em direção a um hospital.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Coitado do Teb, mais uma vez sua vó vai parar no hospital. Será que esse sofrimento não fim?



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