Flores De Maio escrita por Maitê Miasi


Capítulo 27
Hora Da Verdade, Hora Da Dor


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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“Usava vermelho, mas, todos diziam

que era rosa. Ninguém ligava para

as cores, preferiam as flores. E

quem poderia negar que as rosas também são vermelhas?”

****

Ao ver aquele papel em suas mãos, seu coração bateu tão forte, que ela sentira que poderia ter um ataque cardíaco a qualquer momento. Ela se sentou na cama de Enrico, olhando a carta. Naquele momento, um sentimento estranho caiu sobre ela, por mais que quisesse abrir logo, e saber o que ali estava escrito, também havia o medo de descobrir algo que não quisesse saber, e agora, qual voz ela iria ouvir, a voz da coragem ou do medo?

— Vamos Maria – olhava a carta, suas mãos tremiam – você tem que ler, talvez as respostas estejam aqui dentro, você tem que ser corajosa, agora, mais que nunca.

Ela respirou fundo uma, duas, três vezes, e finalmente tomou coragem. Ela rasgou o envelope, e tirou carta de dentro, mas quando ela começou a desdobrar o papel, Enriquinho apareceu no quarto chamando por ela.

— Mamãe, mamãe! – Apareceu correndo.

Maria se recompôs, e redobrou a carta, colocando-a em seu bolso.

— Oi meu amor!

— Mamãe, vem brincar comigo e com o tio Fernando no jardim!

— Claro, vamos.

Ela segurou em sua mãozinha e foi. O que tivesse naquela carta podia esperar, se passou tanto tempo, um tempo a mais não ia fazer diferença.

— E então, como você tá? – Fernando a perguntou, enquanto eles olhavam Enriquinho brincando no jardim.

— Digamos que tô começando a sentir o cheiro da liberdade. – Riu. – Mas eu tenho certeza que ainda não tô livre dele, ele vai querer fazer mal pra mim, ou pra vocês, pra me atingir.

— Tá pensando em voltar atrás?

— Não! Já voltei atrás uma vez, e não vou fazer isso de novo, a gente só pode fazer besteira uma vez na vida, e eu acho que minha cota já acabou.

— Como assim Maria? – A olhou sem entender do que falava. – O que você quer dizer com não voltar atrás outra vez? Eu não entendi.

— Bom Fernando, já que as verdades estão sendo ditas, e os segredos revelados, acho que que eu tenho que revelar o meu também né. Quando eu descobri que estava grávida, eu pedi o divórcio ao Sérgio, e estava disposta a assumir meu relacionamento com o San Roman, mas Sérgio me ameaçou dizendo que mataria as pessoas que eu amo, se eu não abrisse mão disso, e foi o que eu fiz, abri mão do homem que eu amo, por medo de perdê-lo.

— Então quer dizer que o Enriquinho... – Fez uma pausa. – O Enriquinho é filho do Estevão Maria? – Ela balançou a cabeça confirmando. – Não, isso não pode ser possível! Ou eu sou muito lento, ou vocês dois são muito discretos. Quer dizer, eu sabia que rolava um clima, mas eu pensei que não tinha passado de olhares!

— Acho que você que é meio lento Fernando. – Brincou.

— O Estêvão sabe disso? Ele aceitou que você fizesse isso?

— Ele não sabe, mas tem quase certeza que o filho é dele. Eu não podia arriscar a segurança dele, e nem da Aninha, por isso tomei a decisão que tomei, mas confesso que tô com medo de Sérgio, ele não vai deixar isso barato, ele vai se vingar.

— Desgraçado! Eu não acredito que esse crápula foi capaz disso! Eu não vou deixar barato o que ele fez com você Maria!

— Ei, você não vai fazer nada, tá me ouvindo? – Segurou seu rosto. – Eu não quero que você suje suas mãos com ele Fernando. – Ele andou uns três passos a frente dela. – Fernando, você me promete que não vai fazer nada? – Ele continuou em silêncio. – Fernando, por favor, eu tô pedindo.

— Tudo bem – se virou para ela – eu não vou fazer nada pelo o que ele fez no passado, mas se ele se meter com você agora, eu não respondo por mim.

— Calma – segurou a mão dele – tudo vai se resolver. – Eles sorriram um para o outro. – E por falar nisso, por que você não tá na empresa?

— Ah, eu até fui, mas tava tudo tranquilo por lá, aí tive uma conversa desagradável, e voltei.

— Com a Lívia?

— Eu não sei o que eu faço Maria. Eu não sei se a amo, se um dia poderíamos nos tornar uma família, mas eu não quero que a minha filha cresça pensando que eu sou o pior dos pais. Nós dois não tivemos nosso pai, e sabemos o que é crescer sem um, eu não quero que ela passe pelo mesmo, e o pior, tendo o pai vivo aqui.

— Bom, você pisou na bola com ela, seria esperado que ela agisse assim né, mas não desiste, sua filha, minha sobrinha – sorriu – não tem nada a ver com isso. Eu vou conversar com ela, ver o que posso fazer, e vou ver se ela a deixa passar um dia aqui.

— Será que ela vai concordar de deixar a Acsa aqui?

— Eu digo que é pra brincar com o Enriquinho, não se preocupa, com ela eu me entendo.

— Obrigado! – Tirou o cabelo, e beijou sua testa.

— Enriquinho! – Gritou chamando o filho. – Não corre, você vai cair!

Os dois olhavam o pequeno se divertindo, sem se preocupar com o que estava acontecendo. Isso lhes dava uma paz sem igual.

— Mamãe, trouxe pra você!

— Ah que linda meu amor! – Se agachou ficando na sua altura. – Uma flor pra mamãe!

— É mamãe, e o nome dela vai ser Maria, porque ela se parece com você.

— Vem aqui no colo da mamãe – o pegou e se levantou – eu adorei a flor, aliás, só tiveram dois homens que me deram flores até hoje.

— Quem? – Fernando perguntou curioso.

— O San Roman, e o Enriquinho agora.

— Então acho que terei que ser o terceiro, minha irmãzinha merece todas as flores do mundo!

— E pode ter certeza que sua irmãzinha vai adorar! – Os dois riram. - E agora, quem é que vai tomar sorvete?

— Eu!!! – Enriquinho e Fernando responderam.

Os três foram brincando em direção à cozinha para atacarem a geladeira, e Maria havia se esquecido da carta que estava em seu bolso.

****

Enquanto isso, a casa caía para Sérgio.

— Eu não tô acreditando nisso! – Esmurrava a almofada do sofá. – Você tem noção do que tá acontecendo Babi?

— Ah claro, eu sou a única culpada por isso, eu te obriguei a ir naquele motel, e ainda posei pros fotógrafos. Você achou o que Sérgio, que nunca seria descoberto?

— Vem cá, você tá de que lado? Por que não parece que você está do meu. Mas isso não vai ficar assim – olhava para​ o nada – Cecília e Maria vão me pagar caro por isso, e eu vou precisar de você Babi. – A olhou.

— Esquece isso Sérgio, eu não vou participar de vingancinha nenhuma, eu não tenho nada a ver com isso, seu problema é com eles, então você se resolva sem mim.

— O que?! Você ficou louca Babi?

— Não, apenas tô caindo em mim. Se você quer acabar de destruir a sua vida, fique a vontade, mas não conte comigo.

— Você disse que me ajudaria! – Segurou seu braço com força.

— Eu nunca disse isso! E me solta que você tá me machucando! – Se soltou. – Eu não passo mais um segundo nesse apartamento, e pode ficar com ele de volta, eu não quero mais, e todas as joias que você me deu, eu também não quero.

— Se você sair por essa porta, eu vou entender que você também é minha inimiga.

Babi não disse mais nada, apenas pegou suas coisas, e saiu do apartamento. Mais uma que virara as costas para Sérgio, e de mais uma ele iria se vingar.

****

Aquela Essência.

Maria havia deixado Enriquinho em casa, e ido até a empresa conversar com Lívia, interceder pelo irmão.

— Maria, desiste – elas estavam na lanchonete da empresa – nada do que você disser a favor do Fernando, vai me fazer mudar de ideia.

— Lívia, ele se arrependeu do que fez, ele amadureceu nesses anos que você esteve fora, dá uma chance pra ele.

— Maria, eu sei que você ama seu irmão, mas você tem que entender que ele me machucou, quando eu mais precisei dele, ele não estava comigo. Você sabe o que é se humilhar para o seus pais, pedindo uma ajuda quando seu pai te expulsou de casa? Não foi fácil pra mim Maria, não foi fácil ter que olhar pra cara do meu pai todo o santo dia, me desaprovando, não foi.

— Eu sei Lívia...

— Você não sabe Maria, você nunca passou por isso, você não foi criada a ferro e fogo por um pai antiquado, que te expulsou de casa aos 18 anos de idade por descobrir que você não era mais virgem, você não passou por isso, porque você foi sempre a certinha.

— Eu sempre fui certinha, mas você sempre foi mais feliz que eu Lívia. Eu entendo que você esteja odiando meu irmão, e ele merece, mas somos mães, e sabemos que fazemos o que for pelos nossos filhos, e você entende isso, já que se humilhou pedindo ajuda ao seu pai, mas ela não tem nada a ver com isso, ela precisa de um pai, e o Fernando quer ser um pai pra ela, pelo menos isso.

— Não sei Maria.

— Vocês não precisam se envolver mais, mas pelo menos o veja como aquele que te deu seu maior presente, quem sabe seja melhor assim.

— Tá, eu vou pensar, mas não prometo nada. Avisa a ele que pode levar a Acsa pra passear amanhã, aliás, pede pra ele me ligar, e combinamos como vai ser, por que se não for como eu quero, ele nem precisa tentar.

— Tudo bem cunhada, digo, Lívia.

****

Finalmente era noite. Enriquinho já dormia, e Maria acabara de sair do banho, e tinha uma leve impressão que estava se esquecendo de algo.

— A carta!

Ela não acreditara que passou o dia todo com a carta no bolso de sua calça, e nem se quer lera a primeira frase. Ela pegou sua calça, e a carta que ainda estava no bolso. Ela se sentou em sua cama e desdobrou aquele papel. Ela ficou com um frio na barriga, mas respirou fundo, era chegada a hora.

— É a letra dele. – Ela olhou para suas mãos, que suavam frio e começou e ler o que tinha ali.

Cris, minha doce e adorada Cris. Finalmente você encontrou essa carta, bom, espero que seja você a pessoa que está lendo-a. Não sei quanto tempo se passou após a minha morte, mas acho que chegou a hora de botarmos “os pingos nos is” e falarmos algumas verdades. Você deve ter se perguntado algumas vezes o porquê de eu te pedir perdão, e agora estou aqui pra te revelar alguns segredos do passado, porque acredito que Cecília, sua mãe, não teria coragem de te dizer, e eu sempre soube que eu teria que te contar cada um deles, mas não me sinto honrado por isso, afinal, não tive coragem de te dizer enquanto eu vivia, pois não sei se suportaria viver sabendo que você não me olharia com bons olhos filha, eu aguentaria se o mundo inteiro me odiasse, mas só em pensar que você poderia ter um sentimento negativo ao meu respeito, meu mundo desmoronava.

Então vamos lá, vamos a verdade menos dolorosa, por assim dizer. Você sempre soube que eu nunca fui a favor do seu casamento com Sérgio, mas não era só porque ele não me inspirava confiança, mas porque eu sabia que ele escondia algo, foi então que investiguei a vida dele, e obtive resultados que me deixaram de coração na mão.

Houve uma época que sua mãe vivia saindo de casa, ela pensava que não, mas eu notava toda vez que ela saia, e o tempo que ficava fora de casa, e percebi que dinheiro, muito dinheiro estava sumindo da minha conta bancária.

Foi então que descobri Cecília tinha uma enorme dívida de jogo, e quanto mais ela jogava, mais ela se enrolava com isso, e essa dívida era para com Sérgio. Foi então que ela teve a brilhante ideia de te vender para quitar sua dívida, e o imbecil do Sérgio aceitou de bom grado.

— Isso eu já sei Enrico – pausou sua leitura – não há nada de novo aqui.

Talvez até aí você tenha levado um susto, pois não é nada legal ser vendida pela mãe, mas não é só isso. Antes que você se casasse com Sérgio, os dois estavam ficando íntimos até de mais, a ponto de compartilharem a cama por diversas vezes, é, é isso mesmo que você está pensando, Sérgio e sua mãe são amantes, e bem debaixo dos nossos olhos...

— Não – balançava a cabeça de um lado para o outro –  isso não pode ser verdade, minha mãe e Sérgio não podem ser amantes... – Ela chorou. – Eu sou muito estúpida, muito idiota mesmo, como eu nunca notei isso, burra, burra, burra, mil vezes burra...

Ela jogou a carta sobre a cama, e chorou amargamente. Mas depois de algum tempo naquele estado, ela voltou à leitura.

Cecília se achava muito esperta, e quem não se acharia? Tinha um marido bilionário, porém inválido e que a odiava, mas quitou sua dívida vendendo a filha por quem ela não tinha nenhum apresso, e de quebra, ainda vivia uma relação proibida com o próprio genro, ela pensa que eu nunca fiquei sabendo disso, mas ela não conseguia esconder muita coisa de mim. Mas uma coisa Cecília não sabia. Ela não sabia quem era Sérgio e de onde vinha, e eu tratei de descobrir isso.

Sérgio Acuña é filho de Raul, que por sua vez é irmão de Rui, seu pai, ou seja, vocês são primos. Sérgio só apareceu nas nossas vidas, com intuito de se vingar de cada um de nós, isso mesmo. No passado, Raul soube o motivo real da morte de Rui, só que ele não sobreviveu pra se vingar ele mesmo de nós, deixando essa tarefa para o filho. Sérgio sabe que Rui não morreu num infarto, como sua mãe conta, Sérgio sabe que fomos, Cecília e eu que matamos o seu pai, sim, seu pai foi morto pelas nossas mãos, por isso Sérgio apareceu nas nossas vidas, para vingar a morte do tio. Mas infelizmente, só descobri isso depois que você estava casada, e não tive coragem de te contar, me perdoa filha...

— Não – ria – não, isso não pode ser verdade, Enrico, você não pode ter matado meu pai – ela amassou a carta com raiva e jogou no meio do quarto – vocês todos são uns monstros, eu nunca devia ter confiado em você Enrico, você nunca foi diferente deles, eu não pude ter um pai de verdade por sua culpa – gritava – e do que vale o amor que você dizia? Você sabia de tudo, e me deixou continuar casada com Sérgio, sabendo que ele e minha mãe eram amantes, você conseguiu ganhar meu ódio Enrico, meus parabéns! – Batia palmas como se Enrico estivesse em sua frente.

Ela chorou, e se lembrou das vezes que Enrico a tratava como sua filha, se lembrou dos momentos entre marido e mulher entre ela e Sérgio, se lembrou de quantas vezes sua mãe e Sérgio saiam como “amigos” e ela nunca suspeitara de nada, ela se sentira a pior pessoa do mundo, e queria morrer naquele exato momento. Até que seu celular tocou, e ela teve que se recompor para atendê-lo.

— Oi San Roman. – Disse ao atender.

Maria, aconteceu algo que você não vai acreditar!

— O que foi Estêvão, me diga logo, você tá me deixando preocupada!

Foi a Babi Maria, acabaram de encontrar ela morta na própria casa...

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Enfim, uma das verdades foi contada, e que venham as próximas! :*



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