Flores De Maio escrita por Maitê Miasi
Das flores mais lindas, encontrei
você. Dos pequenos gestos, os seus me
encantaram
A muito o que caminhar, a muito o que
percorrer
Mas se estiver contigo não devo
temer
Porque o bem vence qualquer
barreira
Ao teu lado nada pode me deter.
— Guilherme Sarate
****
Algumas semanas se passaram depois da festa, depois da briga, depois do beijo. Os dois mal se falavam, apenas o essencial: bom dia, boa tarde, boa noite, e Estêvão não estava gostando nada daquilo, mas respeitou a decisão dela, porém não iria abrir mão dela assim tão fácil, para ele, ela era a mulher perfeita, aliás, tinha um pequeno defeito: era casada.
Estêvão ainda não tinha encontrado alguma coisa para fazer, algum trabalho, mas não ia desistir, porque ficar naquela casa o dia todo era agoniante. Cecília praticamente o proibiu de vender seus doces no sinal, disse que isso poderia prejudicar a reputação da família. Nesse seu período de “férias”, ele levou Aninha em alguns lugares que provavelmente nunca levaria se estivesse na condição financeira de antes, e ela, é claro, adorou. Ah, Aninha e Maria ficavam mais amigas cada dia que passava.
— Senhor San Roman? – Uma empregada se aproximou dele, ainda não se acostumara com tanta formalidade para com ele.
— Oi. – A fitou.
— Tem uma senhorita que deseja falar com o senhor, seu nome é Bárbara.
— Babi! – Se entusiasmou. – Peça pra ela entrar por favor.
— Sim senhor, com licença.
A empregada se retirou, e após alguns segundos voltou acompanhada de Babi.
— Babi! – Abraçou a amiga. – Que bom te ver aqui!
— Oi Teb, tive que vir até aqui te ver, já que você esqueceu a gente!
— Claro que não Babi! Senta aí. – Eles se sentaram um de frente para o outro.
— Os senhores desejam alguma coisa? – Perguntou a empregada.
— Eu não. Quer alguma coisa Babi?
— Um suco?
— Algum sabor em especial senhorita?
— Abacaxi?
— Sim senhorita, já trago. – Se retirou.
— Teb, isso aqui é melhor que eu pensava, o serviço é express! – Disse admirada.
— Sim Babi – sorriu – ainda estou me acostumando com tanta mordomia.
— Senhorita, aqui está o seu suco. – O entregou a Babi e se retirou.
— Ual – toma um gole de suco – Teb, meus parabéns, a vida de deu um presente e tanto!
— É né, quem podia imaginar que meu pai era um ricaço, e que eu iria ficar com todos os bens dele. Mas, aconteceu alguma coisa, eu não te esperava por aqui.
— Não, só vim te ver mesmo, depois que você enricou não apareceu mais lá no morro, ficou metido.
— Não diga isso Babi! Eu só tô dando um tempo, se eu for lá, vou lembrar da minha vó, e ainda tá muito recente, mas eu vou lá, vou acertar minhas dívidas, e calar a boca daquele povo que me chamava de caloteiro.
— Tá certo, e cadê a Aninha?
— Saiu com a Fifi.
— E quem é Fifi?
— É a irmã da minha “madrasta”. – Fez aspas.
— Vem cá, toda vez que você falar da sua madrasta, você vai fazer isso? – Fez sinal de aspas com os dedos.
Eles riram.
— Vou parar de fazer isso, é que é engraçado o fato de eu ter uma madrasta, nunca pensei nessa hipótese.
— E como ela é?
— Séria, chata e grossa. – Foi direto.
— Nossa, ela é uma verdadeira madrasta! – Riu do próprio comentário.
— Pois é.
— Teb – se levantou – eu já vou, tenho umas coisas pra fazer. – Deixou o copo em cima da mesa de centro.
— Tudo bem – se levantou também – apareça mais vezes, a Aninha vai adorar de ver.
— Claro que apareço.
— Manda um abraço pra galera e diz que qualquer hora eu dou um pulo lá.
— Pode deixar.
Os dois se abraçaram bem forte, como bons amigos, sem maldade da parte dele, mas nesse momento Maria descia a escada, sem fazer barulho, e nenhum dos dois ouviu ela se aproximar.
— Tchau Teb! – Foi em direção à porta, sendo observada por Estêvão.
— Teb? – Disse Maria dando um pequeno susto nele. – Quanta intimidade! – Terminou de descer os degraus.
— Maria, não sabia que estava aqui!
— Não precisa se preocupar, eu não ouvi a conversa com sua amiguinha, só o Teb. – Debochou.
— Não conhecia esse seu lado debochada, por acaso não está com ciúmes, ou está?
— Ah, não diga tolices! – Ficou com raiva do comentário, e saiu em direção à estufa sendo seguida por ele.
— Maria, espera Maria...
****
Do lado de fora da casa.
— Posso saber o que uma mulher como você está fazendo aqui? – Perguntou Sérgio malicioso a Babi.
— Ah senhor – ficou nervosa – eu não ia mexer em nada, só estava olhando!
— Calma, eu não vou brigar com você. Por acaso você é amiga do Estêvão?
— Sim, sou, e vim aqui pra visitar ele.
— Não precisa me explicar, a casa é dele, e ele recebe quem quiser. Você esteve aqui na última festa, não é mesmo? – Ela balançou a cabeça confirmando.- Me lembro de você, estava linda!
— Brigada. – Estava sem graça.
— Tô vendo que você está um pouco envergonhada. Que tal eu levar você pra beber alguma coisa, assim quebramos esse gelo, aceita?
— Tá, não vejo mal nenhum nisso. – Forçou um sorriso.
— Então vamos!...
****
Estêvão foi atrás dela, chamando-a, e ela continuou o ignorando. Ele não sabia que ela podia ser tão dura. Ela entrou na estufa, e ele ainda atrás dela sendo ignorado, ela botou seu avental e pôs-se a tratar das plantas, de maneira que ele jamais vira, e pensou que ela pudesse estar fazendo algo de errado, já que eram pequenas plantas, ela descartava algumas flores.
— Maria, dá pra você me dá atenção!
Ela respirou fundo e finalmente o olhou.
— O que você quer?
— Que você pare de agir como se eu não existisse.
— Ah, ficou sentido? Pelo que eu vi, você está muito bem acompanhado, Teb. – Voltou a podar suas mudas.
— Depois diz que não está com ciúmes! A Babi é só uma amiga! – Falou alto. – E não me chame de Teb, isso não soa muito bem saindo da sua boca.
— Tudo bem San Roman, é só isso que queria me dizer? Já ouvi, agora será que pode me deixar em paz?
— Não, não terminei de falar. Por que você está me dando gelo, só por causa daquele beijo?
— Fala baixo! – Apontou a tesoura para ele. – Me escuta – falou de forma mais branda – é melhor nós esquecermos o que houve, quando você precisar de alguma coisa, pode falar comigo, mas fora isso, continuamos somente com as saudações cordiais, tudo bem pra você? – Continuou a poda.
— Não, não está tudo bem pra mim, se lembra que o Enrico disse no testamento, que você tinha que me ajudar em tudo que eu precisasse?
— Você não é nenhuma criança! – Não o olhava. – Pode se virar sozinho. – Jogou umas flores no descarte.
— Por que você está jogando essas flores fora? – Se incomodou.
— Eu não estou jogando essas flores fora – o olhou – elas serão utilizadas para outra coisa, mas o princípio ativo que eu quero está em outra parte da planta, por isso não vou usa-las.
— Isso não faz sentido, todos os princípios ativos ficam nas flores, você está errada!
— Quem foi que te disse isso? Os princípios ativos das plantas não ficam só nas flores.
— Só porque você é riquinha e estudada não quer dizer que sabe tudo.
Pronto, ele conseguiu tirar Maria do sério. Ela deixou sua tesoura na bancada e se aproximou dele, estava com raiva.
— Para o seu governo, eu sou graduada em química, e passei dois anos na França, na escola de perfumistas, a melhor do mundo, então não venha me dizer que, o que estou fazendo, é errado!
— Calma – fez sinal de rendição – eu acredito no que você está dizendo, até porque se eu não concordar, acho que você me mata com essa tesoura! – Riu. – Desculpa por ter duvidado.
— Ai San Roman – passou a mão pelos cabelos – eu é que peço desculpas, fui muito grossa com você, é que odeio quando discordam de mim quando o assunto é esse.
— Tudo bem, então você me desculpa, eu te desculpo e ficamos kits. – Deu aquele sorriso que ela adorava. – Eu pensava que o princípio ativo das plantas ficavam só nas flores.
— Não, se fosse assim não teria porque existir as outras partes das plantas. Em algumas ficam nas flores, ou no caule, ou no tronco, ou na semente e até mesmo na raiz.
— Realmente não sabia.
— É normal, muitas pessoas pensam como você. Na faculdade aprendemos sobre isso, tem um módulo só pra isso, e a gente se aperfeiçoa com o passar do tempo. No meu caso foi fácil, sempre amei plantas, e pra minha sorte, meu padrasto, seu pai, é dono da maior empresa perfumista do país, quiçá do mundo. Quer dizer, agora você é o dono. – Sorriu.
— Não sabia que a empresa produzia perfumes.
— Não? – Ele balança a cabeça em sinal de negação. – Ela fabrica perfumes e cosméticos, e euzinha sou umas das perfumistas.
— Agora um bocado de coisas fazem sentido. E esse perfume que você tá usando agora, você que fez? – Se aproximou sentindo seu perfume.
— Sim. – Se afastou. – Se você quiser, podemos ir até a empresa, pra você ver como funciona, afinal, você é o dono.
— Será que é uma boa ideia?
— Se atreva! – Tirou o avental e saiu da estufa.
Estêvão entendeu o recado e foi atrás dela.
****
Em algum restaurante qualquer.
— Então quer dizer que você é apaixonada pelo Estêvão?
— Sim, mas ele já me disse que não me vê como mulher, apenas como amiga, por mais que eu tente, ele não me olha.
— Eu sei como é isso, sou apaixonado por uma mulher, mas ela também só me vê como amigo, eu já insisti tanto, mas ela não quer nada comigo.
— Eh, temos algo em comum.
— Pode ser. Mas tenho que dizer que as coisa pioraram um pouco quando Estêvão foi morar lá na mansão.
— Por que?
— Porque ele tá de olho na mulher que eu amo. Eu vou entender se ela preferir ele a mim, mas vou lutar por ela até o fim!
— Eu não sabia disso! Eu não vou perder o meu Estêvão pra essa mulher que acabou de chegar na vida dele!
— Concordo com você! Não podemos perder quem amamos sem lutar!
— Mas... Espera um minuto... Não foi você que bateu no Teb por que ele tava dançando com uma mulher na festa?
— Sim, fui eu.
— Pensei que você tivesse alguma coisa com ela, agiu de uma forma, que eu teria medo.
— Bárbara, eu amo a Maria, mas ela não quer nada comigo, e ao vê-la dançando com Estêvão fiquei possesso de ciúmes, e não aguentei, parti pra cima dele, ela brigou comigo por isso, mas não aguentei vê-la nos braços de outro, mesmo que fosse só uma dança.
— Entendi.
— Escuta, podemos nos aliar para afastar os dois, que tal? Eu tô sempre na mansão, posso ficar de olho neles.
— Não sei...
— Você quer ou não o amor do Estêvão?
— Claro que quero!
— Então, no amor vele tudo, eu faço tudo por ela, e você por ele! O que me diz? – Estendeu a mão.
— Tá certo! – Apertou a mão dele.
****
— Por que você não dirige? – Perguntou Estêvão rompendo o silêncio.
— Digamos que seja um trauma. Minha antipatia por carros veio no acidente que Enrico e eu sofremos, desde então, prometi a mim mesma que não pegaria num volante.
— Que acidente foi esse?
— Eu era criança, tinha uns sete anos, Enrico e eu estávamos no carro, e inevitavelmente, capotamos. Comigo não aconteceu nada grave, mas ele perdeu os movimentos da perna.
— Ele não andava? – Arregalou os olhos.
— Não. – Olhou pela janela. – Chegamos, vamos!
Ele a acompanhou pelo caminho, até a entrada do prédio. Ele parecia uma criança, olhava para todos os lados, admirando a beleza daquele lugar.
“Se é assim por fora, imagina por dentro?” – Pensou.
Ele nunca vira Maria com tanta atitude antes, ela ficava ainda mais bonita assim, forte, decidida.
— Estêvão San Roman – parou um pouco depois que entraram – te apresento a sua empresa!
— Maria... É tudo lindo! – Disse admirado.
— Você ainda não viu nada! Vem comigo! – O puxou pela mão.
Maria se sentia a melhor pessoa do mundo naquele momento. Para ela, mostrar cada detalhe daquela empresa para quem quer que fosse, dava a ela um sensação tão boa, ainda mais para ele, que era o dono da empresa, era melhor ainda!
Ela mostrou tudo a ele, foram em todos os andares, e em sua face ficou visível sua empolgação com tudo aquilo, seu dia não tinha como ficar melhor.
— Bom – girou a maçaneta – aqui é um dos laboratórios, onde tudo acontece. – Eles entraram e ela fechou a porta. – Aqui nessa sala onde Lívia e eu trabalhamos. Nós duas fabricamos perfumes. Nesse andar tem outras salas para perfumes e cosméticos também.
— Caramba, nem sei o que dizer!
— Vem. – Foram em direção a um armário. – Essas aqui são as matrizes da linha Abstratos. Esse aqui é o Felicidade Suprema – apontava – esse, Desejo Proibido, esse Paixão Avassaladora e esse, Amor Eterno Amor, que é o que eu mais gosto. – Pegou o frasco. – Sente. – Espirrou o perfume no dorso da mão dele.
— Hum – sentiu o cheiro – que cheiro maravilhoso! Nunca senti um cheiro tão bom quanto esse! Deve ser divertido criar perfumes.
— É bem complicado. Tem perfumes que tem mais de dez princípios ativos em sua composição e demora muito tempo pra um perfume ir ao mercado.
— Caramba, não sabia.
— Pois é. Lívia e eu estamos trabalhando com uma essência retirada de uma flor super rara da África, testamos com algumas essências, mas não chegamos em resultado satisfatório.
— E há quanto tempo estão nisso?
— Um ano e meio. – Ele arregalou os olhos.
— Maria! – Lívia abriu a porta. – Tá aqui? – Os viu. – Ah, tá e muito bem acompanhada! – Brincou indo até eles.
— Oi Lívia! – A saudou Estêvão.
— Oi Estêvão, tudo bem?
— Tudo.
— Eu não quero atrapalhar a conversa dos dois, só vim pegar – foi até o armário – minha bolsa – foi em direção à porta – e já estou indo, beijos! – Saiu batendo a porta.
— Ela é louca! – Disse Maria rindo.
— Parece divertida.
— Ela é.
Eles ficaram conversando por um tempo ainda, para falar de perfumes e essências, não faltava assunto para Maria. Eles conversaram tanto que quando se deram conta, já era tarde, e o expediente já tinha se encerrado, a sorte que Maria tinha as chaves.
Eles caminharam até o elevador, ainda conversando sobre assuntos diversos. Estêvão era uma pessoa muito alto astral, e tinha assunto, era uma boa pessoa para se ter ao seu lado nos dias entediantes, ele acabaria rapidamente com o tédio.
O lado bom de ficar até tarde no trabalho, era a hora de pegar o elevador, pois não iria ter nenhum pentelho chamando-o no primeiro andar.
— O motorista ainda está esperando a gente?
— Não – apertou o andar térreo – eu o dispensei. Podemos chamar um táxi.
O elevador descia tranquilamente, até o segundo andar. Quando lá chegou, ele deu uma alavancada, e parou, apagando a luz que iluminava a pequena área.
— Maria, o que foi que houve? – Perguntou assustado.
— O elevador parou!
Continua...
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Hum, o que será que vai acontecer nesse elevador, hein? Espero que gostem, bjs!