Quatro Anos de Silêncio escrita por GayBerry


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Eu tentei fazer umas contas pra ver quanto tempo havia passado, mais ou menos, no último episódio. Não sei se ficou certinho, maaas... Tá aí o que deu



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As palmas após o fim da música aos poucos foram diminuindo, as risadas viraram suspiros e a felicidade virou tristeza. Quinn, apesar de estar realmente animada por rever todos ali, não conseguiu manter o sorriso no rosto. Um sorriso genuíno e duradouro não habitava sua boca há anos.

Todos se abraçavam, perguntavam sobre os acontecimentos durante aqueles quase oito anos sem contato, falavam sobre suas conquistas e riam de lembranças da época de colégio. Quinn poderia se juntar aos antigos amigos nessa confraternização, mas a única pessoa com quem realmente queria conversar estava ocupada. Ocupada com seu marido.

Ela não se ateve a esse pensamento. Virou as costas para onde o casal estava e foi para a coxia, já mudando o rumo dos pensamentos para quanto tempo demoraria para chegar na casa de seus pais.

Estava a poucos metros do seu carro quando ouviu saltos batendo no chão, correndo. Virou-se instintivamente, esperando ver Santana ou Brittany, ou até mesmo Kitty. Nenhuma delas teria sido uma surpresa, já que eram as únicas pessoas com quem tinha mantido um certo nível de contato depois dos anos no McKinley. Mas não eram elas. Era a pessoa que Quinn menos esperava ver, mas a que mais desejava.

Quinn não sabia o que fazer. A garganta estava fechada, não conseguiria falar. Seus músculos estavam completamente imobilizados, impedindo-a de até mesmo dar um passo à frente. A chave do carro era fria em sua mão, contrastando com o calor que esquentava seu peito ao ver a morena se aproximando.

Rachel diminuiu o passo quando chegou perto o bastante para Quinn ouvi-la. Um pequeno sorriso estava em seus lábios, mas a loira nem notou. Só conseguia fitar os olhos da morena, perdendo-se no aconchego daquele castanho e tentando entender como havia passado tantos anos sem sentir aquele olhar em si.

— Você já vai? – A voz branda de Rachel cortou o silêncio, trazendo mais um questionamento para a mente de Quinn: como aguentara tantos anos sem ouvir aquela voz?

Rachel parou a pouco mais de um metro da loira e levantou uma mão para ajeitar o cabelo, que estava ligeiramente bagunçado após a corrida do auditório até o estacionamento. O brilho no seu anelar esquerdo foi o bastante para que Quinn abaixasse os olhos e respirasse fundo. Os pensamentos ainda não estavam em ordem, mas conseguiu levantar o rosto e olhar para um ponto logo acima do ombro direito de Rachel, onde ao fundo era possível ver a entrada da escola, e responder:

— Sim. Volto para Boston hoje à noite, então vou passar um tempo com meus pais antes de ir embora. - A resposta foi rápida, mas não o bastante para impedir um fraquejar na sua voz. Ela sentia o olhar de Rachel queimando seu rosto, mas continuou sem olhá-la diretamente.

— O pessoal quer ir ao Breadsticks daqui a pouco, não tem como você vir? – Quinn sentiu sua garganta se fechar mais uma vez ao ouvir o pedido. Rachel queria sua companhia. Como ela poderia negar?

Quinn cedeu. Olhou novamente para o rosto de Rachel, absorvendo a beleza da sua pele morena, dos seus olhos profundos e dos lábios cheios. A luz de fim de tarde tornava o cabelo de Rachel ainda mais bonito do que o normal. Mas Quinn se forçou a abaixar seu olhar, a perder a visão do sorriso de Rachel - um sorriso direcionado a ela — e a olhar diretamente para a pequena mão esquerda. O simples anel de ouro trazia Quinn de volta à realidade: não importava quão calorosa Rachel fosse com ela, nada nunca seria do jeito que Quinn desejava.

Não é como se Quinn não tivesse corrido atrás do que queria. Apesar de ter demorado anos para entender os seus reais sentimentos por Rachel, ela agiu bem quando finalmente compreendeu que era apaixonada pela morena. Procurou-a no seu camarim, após ter assistido uma apresentação perfeita na peça da época, e levou-a para jantar em seu restaurante vegano preferido. Haviam conversado tão bem, tão espontaneamente, como se nenhum tempo tivesse passado desde a formatura. Quinn levou-a para seu apartamento após o jantar e, num surto de coragem, disse à Rachel as três palavras mais sinceras de toda sua vida.

Não podia culpá-la por não corresponder. Quinn havia sido terrível com ela no ensino médio, apesar de terem se acertado no último ano. Além disso, Quinn havia esperado quase quatro anos após aquele último ano para se declarar, então devia ser óbvio que Rachel não diria as três palavras de volta. Mesmo assim, o coração de Quinn foi estraçalhado. Ela voltou para New Haven e jurou a si mesma que superaria aquela paixão, nem que fosse necessário nunca mais falar com Rachel.

E, quatro anos depois de toda essa situação, ela ainda não havia superado. Ela manteve sua palavra: não havia falado com Rachel desde aquela noite. Porém, manteve-se a par dos acontecimentos na vida da amada, mesmo sem querer. Recebeu o convite de casamento dois anos depois daquela noite e nunca bebeu tanto quando no dia que estava marcado no convite. Descobriu por Santana quando Rachel deu à luz ao bebê de Kurt e Blaine. Xingou Kitty por ter lhe dito sobre a premiação do Tony e xingou a si mesma por não ter tido forças para não assistir.

Quatro anos de tentativas irrelevantes para superar um amor não correspondido. Quatro anos de namoros rápidos e insignificantes, sem nenhum sentimento. Quatro anos de foco na carreira, já que não havia nada na sua vida pessoal que lhe desse prazer. Quatro anos sem Rachel Berry.

Quinn ainda não entendia como havia concordado em voltar para Lima e participar daquela reunião. Foram quatro anos se forçando a ficar fora da vida de Rachel, recusando encontros com os outros amigos apenas porque Rachel também iria, e enfim ela concorda em se torturar vendo o lindo casal cantando junto.

Quinn era patética. Nenhum título se adequava mais.

— Não, realmente preciso ir embora. – Ela virou-se e caminhou em direção ao seu carro, surpresa com a sua força. Nunca imaginaria que teria capacidade de recusar um pedido de Rachel.

A porta já estava aberta quando Rachel falou, sobrepondo o som dos seus passos chegando mais perto do carro.

— Quinn.

E aí estava sua fraqueza. Ouvir seu nome naquela voz era, provavelmente, sua maior felicidade, ainda mais depois de quatro anos. Ela sentia que seu nome havia sido criado para ser pronunciado por Rachel e por ninguém mais. Ouvi-la dizendo seu nome mais uma vez só a deu mais vontade de se libertar das restrições que pôs em suas próprias ações. Ela sabia da rejeição, sabia que nada havia mudado nesse meio-tempo, mas o desejo de mostrar a Rachel seu amor era maior do que o medo de ser humilhada novamente.

Quinn virou-se lentamente, apoiando uma das mãos na porta aberta do carro. Deixou-se encarar os olhos castanhos, que mostravam uma pontada de irritação e, talvez, tristeza. Manteve a boca fechada, com medo do que sairia se a permitisse abrir.

Rachel olhava-a com expectativa, mas Quinn apenas encarou-a de volta. Sem nem esperar muito tempo, Rachel soltou um som exasperado e botou ambas as mãos na cintura.

— Qual é o problema, Quinn? Quatro anos de silêncio não são o bastante?

Quinn engoliu em seco, mas continuou sem responder. Não achava que essa conversa iria a nenhum lugar. Com um pequeno suspiro, entrou no carro e fechou a porta, ouvindo um barulho irritado sair da garganta de Rachel, mas incrivelmente ela não falou nada.

Ao olhá-la através do vidro de seu carro, Quinn soube que nunca mais a veria se terminasse a noite assim. Apesar de não corresponder os sentimentos de Quinn, Rachel insistiu em manter contato durante aqueles quatro anos. Foram incontáveis mensagens, ligações, e-mails, convites para peças. Com o tempo foram diminuindo, mas nunca pararam. Pelo menos uma vez ao mês, Rachel fazia questão de tentar falar com Quinn. Mas, se a loira ligasse o carro e fosse embora desse jeito, ela sentia que Rachel não insistiria mais.

Ela ligou o carro. Botou a marcha ré e apoiou o pé no acelerador, prestes a ir embora.

Acelerou.

O carro não andou meio metro antes de Rachel socar a porta do motorista, dando um susto em Quinn, que imediatamente parou o carro. Em poucos segundos, Rachel estava sentada ao seu lado, no banco do passageiro, e a encarava com a testa franzida de raiva. Não havia falado nada, o que era bem incomum.

— Rachel, saia do carro. - Quinn disse, num suspiro, olhando na direção do retrovisor direito, para não encarar a morena.

Rachel não respondeu. Passaram vários segundos até que Quinn elevasse o olhar para o rosto da outra mulher. Isso lhe rendeu um pequeno sorriso, que logo desapareceu.

— Quinn. – Um arrepio lhe passou pelos braços ao ouvir a voz tão mais calma, chamando-a. Seus olhos estavam grudados, cada uma querendo entender as ações e os sentimentos da outra. – Não quero ficar mais anos sem te ver, Quinn. Por favor. – Rachel falou, deixando sua voz bem baixa nas últimas palavras. Era o pedido mais sincero que conseguia pronunciar, e queria que fosse o suficiente.

Mas para Quinn, não era. Ela considerava isso dia após dia, desde que entendera seus sentimentos: a amizade de Rachel era o suficiente? Era possível ser sua amiga, vê-la com outros? Era o bastante ter sua companhia, mas nunca seu coração?

E Quinn sempre chegava no mesmo resultado. Não.

Ela tentou passar tudo isso pelo olhar, pois não seria capaz de pôr em palavras e ainda falar em voz alta. Tentou mostrar para Rachel quanto a amava, quanto a queria perto de si, mas como não aguentaria vê-la com o Jesse ou com qualquer outro além de si.

Ela observou a mão de Rachel se erguer lentamente, aproximando-se do seu rosto. Levantou sua própria mão e segurou o pulso da outra, parando-a no meio do caminho, impedindo-a de fazer o carinho que colocaria a loira numa situação impossível de superar.

Quinn, sentindo uma dor incabível no seu peito, encarou os olhos de Rachel com toda a intensidade que pôde, para dar ênfase à sua despedida.

— Eu amo você, Rachel. Isso sempre vai ser verdade. Eu nunca vou superar isso. Então você é que tem que me superar.

Os olhos castanhos estavam marejados, mas não pelo motivo que Quinn queria. Rachel estava perdendo uma amiga, enquanto Quinn perdia o amor da sua vida.

O rosto da morena agora estava molhado, e Quinn sentiu isso quando Rachel se inclinou para lhe dar um beijo na bochecha. Quinn esperava por isso. Não achava que a morena iria embora para sempre sem um último contato.

O que Quinn não esperava era o que Rachel falou.

— Eu também amo você, Quinn.

E, assim, a porta do carro foi aberta e a loira estava sozinha novamente. Não olhou para fora; não queria ver a silhueta de Rachel se afastando. Apenas fechou os olhos e tentou guardar o som daquelas palavras em sua mente, ainda que o sentido não seja o que ela queria.

Em poucos minutos, ela chegava na casa dos pais dela. Teve que ficar no carro por mais tempo, até seus soluços pararem e seu rosto secar.

Agora, não havia motivo para se ater ao passado. Foi até a casa, pegou tudo que ainda havia deixado lá, e guardou tudo em seu carro. Seguiria em frente. Com a certeza de que nunca deixaria de amar Rachel, mas que também nunca mais a veria.


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