Seren escrita por Karina A de Souza


Capítulo 9
Kembry


Notas iniciais do capítulo

Oi, Sumidos



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Odin/Loki tinha uma extensa reunião após o jantar. Após Idga me desenhar um mapa, eu pedi que avisasse o “rei” que eu me sentia extremamente indisposta, e não poderia comparecer ao jantar.

Quando a noite finalmente caiu em Asgard, eu saí escondida. Nenhum guarda me viu, e se visse... Bem, o que eu faria? Havia ordens para não me deixar sair? Era bem provável.

A pequena viagem até as montanhas me deixou exausta. Eu não podia ir a cavalo, por que assim poderia ser vista mais fácil.

Assim que cheguei perto da maior montanha de Asgard, parei, olhando para o topo. Como chegaria lá em cima? Levaria horas e horas para chegar até lá, e durante esse tempo, alguém poderia perceber minha falta no Palácio.

De repente, um grasnar perto de mim me fez ficar alerta. Localizei dois corvos no topo de uma árvore. Eram grandes e muito familiares.

—Os corvos de Odin. –Murmurei. –O que estão fazendo aqui?

Ambos saíram da árvore, mergulhando no ar e passando por mim, seguindo uma trilha que eu não tinha visto. Espertos como eram, deviam estar me pedindo para segui-los.

Acabei seguindo as aves. O que mais poderia fazer, levitar até o topo?

Os corvos me levaram por uma trilha que subia a montanha. Escorreguei algumas vezes, caindo e ralando a palma das mãos, e com certeza os joelhos. Meu vestido começou a ficar manchado com sangue, pois sempre limpava as partes ensanguentadas nele.

—Por favor, digam que estamos chegando. –Murmurei, tentando não tropeçar de novo.

De repente, as aves mergulharam na escuridão, sumindo das minhas vistas. Me aproximei, confusa. Meus olhos não se adaptavam, mas devia ser uma caverna. Tem que ser aqui. Entrei na escuridão também, ali dentro parecia mais claro, o que era impossível, sendo de que fora, eu não via nada.

Dei alguns passos, então parei. A caverna não era grande, eu podia ver o fim dela. Com espanto, notei algo que não deveria estar ali. Um caixão de vidro. Nele... Odin.

—Pai?-Chamei, me aproximando. –Pai? O que... –Toquei o vidro, um choque percorreu meu corpo e me lançou para trás. Loki deve ter enfeitiçado o caixão para que repelisse quem o tocasse. –O que eu faço?

O som de algo rastejando fez eu me encolher. Parecia um sussurro baixo, uma respiração estranha. E estava se aproximando rapidamente. Saquei a espada, pronta para lutar.

Os corvos se agitaram, parados numa parte saliente da caverna. O que estava vindo?

Minha respiração ficou presa, assim como um grito. Uma serpente gigante se arrastou para fora de um buraco que eu não havia notado. Era no mínimo dez vezes maior do que eu, e ocupava quase toda caverna.

—Pelos deuses... –Sussurrei. O que eu ia fazer?

A serpente atacou para frente. Tive apenas alguns segundos para desviar, porém, veneno espirrou no meu braço, me fazendo soltar um grito. Aquela coisa ia me matar!

Desviando do caixão, ela veio para cima de mim de novo. Minha espada cruzou o ar, acertando-a, mas o estrago não foi muito, parecia que havia feito apenas um arranhão.

Sem pressa, a fera me encurralou contra a parede, exibindo presas que pingavam veneno. Fiz uma rápida oração. Pelo menos morreria numa batalha, certo? A serpente atacou. Fechei os olhos, esperando, mas nada aconteceu. Abri os olhos, ela tinha desaparecido, mas havia alguém na entrada da caverna. Loki.

—O que faz aqui?-Exigiu, se aproximando.

—O que era aquela coisa?

—Eu fiz uma pergunta.

—Eu também!-A espada escorregou da minha mão, e eu deslizei pela parede áspera de pedra até sentar no chão, completamente tonta.

—Seren, o que foi?-Se abaixou na minha frente.

—E-eu n-não sei.

—O veneno pingou no seu braço. –Fechei os olhos.

—Eu vou morrer?

—Não. Mas preciso levá-la para a sala de cura. –Me pegou no colo. –O que fazia aqui?-Balancei a cabeça negativamente, o movimento me fez ficar enjoada. –Você ficará bem. Depois conversamos sobre sua tentativa de fuga.

***

—Como se sente?-Abri os olhos. Com certeza Idga havia me ajeitado na cama e me trocado, mas já não estava mais ali. Quem estava era Loki, sentado perto de mim.

—Estou viva, é isso que importa. –Tentei me sentar, ele me impediu.

—É melhor que fique deitada.

—O que era aquela coisa?

—Um guardião. Devia matar qualquer um que se atrevesse a entrar na caverna.

—Aquela coisa ia me matar?-Assentiu.

—Ainda bem que eu sempre sou alertado quando alguém entra lá.

—Alguém já entrou na caverna?

—Não. Você foi a primeira. Devia estar ocultada por magia, como a encontrou?

—Os corvos de Odin. Eles me levaram até lá.

—Os corvos? Eles desapareceram após eu assumir o trono.

—Então eles sabem que você não é Odin. Curioso, não tentaram matá-lo. –Cruzou os braços. –Eles são fiéis ao verdadeiro Rei de Asgard.

—Eu sou o rei agora.

—Não por muito tempo. –Ficou de pé.

—Não vou discutir com você. –Dei de ombros. –Não volte a se aproximar da caverna, é perigoso. O guardião ainda está lá. –Foi para a porta.

—Loki?-Se virou. –Ele está vivo, não é?

—Está. –Então saiu.

Depois disso eu não consegui dormir. Odin não estava morto, mas inacessível. Ninguém conseguiria encontrá-lo e trazê-lo de volta. Thor poderia, mas chamá-lo até Asgard era perigoso. Eu não podia colocá-lo em risco. Para quem eu poderia pedir ajuda?

—Ah, Seren, pare com isso. –Murmurei, ficando de pé. –Você é uma guerreira, não uma donzela em perigo. Pode lidar com essa situação. –Me olhei no espelho. –Precisa ser esperta. Tão astuta como Loki. –Sorri. Agora que era a “rainha”, eu tinha mais recursos. –Você não disse que era a Lady Loki?

***

—Velten. –Chamei, ele saiu de seu posto e seu aproximou, fazendo uma reverência.

—No que posso servi-la, rainha?

—Preciso que avise a Heimdall que a ordem do Pai-de-Todos ainda deve ser cumprida. Ninguém entra nem sai de Asgard.

—Sim, senhora.

—Ah, mais uma coisa. Quero que descubra todas as passagens, fora a Bifrost, que levam para fora da Morada dos Deuses.

—Eu... Não entendo... –Dei um passo na direção dele, abaixando o tom de voz.

—Há outros modos de sair de Asgard, ficam nas montanhas, pelo que ouvi. Quero que reúna alguns homens, e fechem todas as passagens, até segunda ordem.

—Sim, senhora. –Se virou para sair.

—Espere. –Olhou para mim. –O Pai-de-Todos não deve saber disso. Não quero saber que algum dos soldados andou falando demais.

—Manteremos segredo, minha rainha.

—Assim espero. Pode se retirar agora. –Assentiu e se foi.

—Impressionante, parece mesmo com uma rainha. –Me virei, colocando as mãos na cintura. Era a mulher de vermelho que estava no casamento.

—Eu sou uma rainha. E se não for, serei num futuro bem próximo. Isso eu garanto. –Sorriu.

—Ah, eu adoraria ver isso. Olhe só para você, queixo erguido, expressão de soberania... Você está levando isso a sério.

—Quem é você?

—Não vamos entrar em detalhes. Está sendo astuta, mas isso não basta. Loki saberá desestabilizá-la se desconfiar de algo.

—Loki?

—Por favor, nós duas sabemos que aquele não é Odin.

—Não sei qual é o seu jogo, senhora...

—Nenhum. Sou apenas uma... Espectadora. Quero ver que rumo tudo isso irá tomar. Você é inteligente, mas será que é o suficiente para superar Loki?

—Eu...

—Seren?-Me virei. Kembry se aproximou, confuso. –Com quem está falando?

—Com... –Olhei por cima do ombro, a mulher havia sumido. –Comigo mesma.

—É algum complexo de superioridade que as pessoas têm quando chegam ao poder?-Sorri.

—Só você para me fazer dar sorrisos sinceramente felizes. –Se aproximou, preocupado.

—Todos tem notado quão triste você está, Seren. Você está infeliz, não é?-Assenti. –Pode contar, seja o que for.

—É mais complicado que imagina, meu amigo.

—Gosto de coisas complicadas. –Segurei a mão dele.

—Queria poder... Poder lhe contar tudo, mas... Não posso fazer isso.

—É Odin? Odin está... Ferindo-a de alguma maneira?

—Não. Não é isso.

—Tem que ser isso. Ficou assim logo após o casamento. –Se aproximou. –Ele a machucou?

—Esqueça isso. É mais simples.

—Por que eu sinto que quer me pedir socorro, mas não tem coragem?

—Eu nunca fui corajosa.

—Não, você é corajosa. Eu sei disso, todos nesse reino sabem. Diga-me o que há de errado.

—Não posso. –Apertei os lábios, frustrada e triste. Não podia envolver Kembry nisso. Nunca ia me perdoar se algo acontecesse a ele.

—Odin me mandou em missão. Vou sair do reino amanhã. Não sei quando retornarei. Se me pedir para ficar, para ajudá-la... Eu ficarei.

—Não pode desobedecer a uma ordem do Pai-de-Todos.

—Por você, eu mesmo inicio o Ragnarök. –Respirei fundo. Não chore. Seja forte. Não quer que Kembry se machuque por sua causa, quer?—Seren?

—Está tudo bem. Não quero que se preocupe comigo. Pense em sua missão.

—Eu sei que está mentindo.

—Por favor, pare com isso. Estou bem. Apenas... Preocupações tolas. Nada que... Que requer sua atenção. –Assentiu, pensativo.

—Preciso ir. Tenho muito que preparar para a missão. Amanhã, após o nascer do sol, eu sairei de Asgard. Se precisar, pode me procurar.

—Tudo bem. –Se aproximou me dando um beijo rápido, mas que fez meu coração bater de modo acelerado. –Kembry...

—Desculpe...

—Não, é... Uma bela forma de dizer adeus.

—Eu vou voltar. Talvez possa conseguir outra bela forma de dizer “olá”. –Sorri, as lágrimas queimando para sair.

—Volte para mim, então, e eu pensarei no seu caso. –Começou a se afastar, soltando minha mão.

—Voltarei, eu prometo. –Foi embora. Meu coração apertou. Ele voltaria mesmo?

***

As batidas na porta eram fortes, quase desesperadas. Levantei-me e a abri, um pouco assustada. Era Idga.

—O que houve?-Perguntei. –É o Ragnarök?

—Senhora... Senhora...

—Diga logo!

—É o soldado, Kembry...

—O que houve com Kembry?

—Eu... Eu lamento, senhora... Foi agora pouco... No jardim de Frigga... Eu... Não sei explicar... –Agarrei a saia do vestido e comecei a correr. –Senhora, sua coroa!

Não parei, nem voltei. Alguma coisa havia acontecido a Kembry, eu precisava vê-lo, ter certeza de que ele ficaria bem.

Quando cheguei, reconheci o corpo caído no chão, com vários servos e soldados em volta. Os empurrei, em nada parecendo com uma rainha, e então me abaixei.

—Kembry?-Sussurrei, tocando o rosto dele. Havia muito sangue. –Kembry, fale comigo. –Pude sentir quando ele parou de respirar. –Por favor. Por favor, não faça isso. Kembry...

—Ele está morto, senhora. –Velten disse. –Não pode ouvi-la.

—Não. Não, ele não pode estar morto!-Gritei. Alguns servos se afastaram, surpresos. –Ele... Ele esteve ainda pouco comigo. Vivo. Bem. Ele não... Não pode ter ido para os braços de Hela... –Não quando esteve nos meus, horas atrás...—Kembry, não faça isso comigo.

—Soberana, por favor, afaste-se, temos... O corpo precisa ser preparado...

—Não! Afaste-se você!-Recuou alguns passos. Abracei Kembry. –Ele não está morto... –Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e a cair nele. –Kem, acorde. –Sussurrei no ouvido dele. –Eu estava pronta para beijá-lo outra vez. Acorde, por favor. Não pode me deixar.

—Minha rainha, por favor... –Fechei os olhos, encostando a bochecha na testa de Kembry, sussurrando o nome dele sem parar. –Idga, por favor, leve a rainha para os aposentos dela.

Gentilmente, Velten e mais dois guardas tiraram Kembry de mim, e Idga me ajudou a levantar.

Limpei meu rosto com a manga do vestido, estava com sangue nas mãos e no peito. Respirei fundo. Todos pareciam com pena, e confusos por causa do meu descontrole. Abri a boca, mas nada saiu. Então me virei e saí correndo.


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Notas finais do capítulo

Enquanto isso, no próximo capítulo...

"-Não está falando sério.
—Tem certeza disso? Você não sabe como uma mulher pode reagir a esse tipo de situação. Não brinque comigo, ou posso fazê-lo se arrepender. –Me olhou de cima abaixo.
—Boa sorte, então. –E saiu. "
***
"-Sou discreta e confiável, a senhora sabe disso.
—Sim, eu sei.
—Então, do que a senhora precisa?
—Que me arrume um veneno letal, e que não pode ser detectado. –Arregalou os olhos. –Pode fazer isso, Idga?"

Vish, por que será que a Seren quer um veneno? Para si mesma? Para matar alguém? Para matar Loki? *música de mistério*
Até o próximo! ♥
P.S.: Comentem, eu sempre respondo os leitores ♥



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