Seren escrita por Karina A de Souza


Capítulo 11
Presa na Escuridão




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Você o matou. Você o matou, Seren!

—Sinto muito. –Sussurrei. –Eu sinto muito. Nunca quis que...

De repente, Loki se levantou e começou a rir.

—O que?

—Acha mesmo que pode ser mais esperta do que eu?-Perguntou, um sorriso enorme no rosto. –Estou sempre à sua frente, sua tola.

—Como... Como você...

—Não era veneno, aquilo que Idga lhe entregou. Eu venci, Seren. Eu sempre vencerei.

—Você... Não tinha como saber...

—Sempre sei de tudo o que acontece aqui. Sei de todos os seus passos. –Avançou lentamente na minha direção. Engoli seco. –Isso não vai ficar assim.

—O... O que vai fazer comigo?

—Vou pensar em alguma coisa. Algo bem ruim. –Recuei. –Não devia tentar me matar. –Então saiu, transformando-se em Odin antes de passar pela porta.

Caí sentada em uma cadeira. E agora?

***

Quando Idga entrou no quarto, trazendo uma bandeja, tudo o que eu pude sentir foi raiva. Ela havia me traído, entregado meu plano a Loki. Isso eu não poderia perdoar.

—Precisa de algo, senhora?-Perguntou, inocentemente.

—Preciso. Preciso que suma da minha frente, sua traidora! Como pode mentir para mim?

—Desculpe-me, rainha, eu...

—Você o que? O que ele lhe deu? Ouro? Uma casa? Ou foi algo pior?

—Não sei do que a senhora está falando.

—Vendeu sua alma à Odin. Contou a ele sobre o veneno. Como pode?

—Senhora...

—Saia daqui!-Levantei, agarrando a jarra e atirando na direção dela, que desviou. –Saia daqui e não se atreva a aparecer na minha frente novamente, ou juro que a mandarei para a prisão!

—Mas, minha rainha...

—Saia, Idga! Agora!-Fez uma reverência apressada e saiu correndo, trancando a porta.

Agora eu era uma prisioneira.

Passei os dias seguintes trancada no quarto. Idga não retornou, e mandou outra serva em seu lugar. Loki não voltou ao “nosso” quarto, e nem disse o motivo disso. Talvez temesse que eu o matasse durante a noite, ou algo assim.

Naquela manhã, a serva retornou com uma bandeja, e não pareceu nada surpresa ao me ver descabelada, e com o mesmo vestido que usava há dias.

—A s-senhora precisa de mais alguma c-coisa?-Gaguejou assustada. Sorri, me aproximando.

—Preciso que me desculpe por isso. –A empurrei, agarrei a chave que trazia na cintura e saí correndo do quarto, trancando a porta.

—Seren!-Me virei, Loki se aproximava rapidamente com alguns guardas. Fiz a única coisa que pude... Corri. –Não deixem a rainha escapar!

No pátio, encontrei um dos cavalos sendo escovados por um servo. Não era Sleipnir, mas teria que servir. Empurrei o servo e montei no corcel negro, saindo o mais rápido possível do palácio. Pude ouvir Loki, com a voz de Odin, mandar que os guardas se apressassem.

A perseguição foi longe. Eu estava perto da costa, quando uma flecha passou rapidamente pela minha cabeça. Loki gritou com alguém, então meu cavalo se assustou, empinando-se nas patas traseiras e me fazendo cair. Rolei para longe dele, batendo a cabeça com força em algumas pedras. Antes de cair penhasco abaixo, consegui me segurar, mas isso não ia durar muito tempo.

—Seren!-Olhei para cima. Loki, em sua verdadeira forma, estendeu a mão. –Vamos, se segure em mim.

—Prefiro cair. –Sussurrei, vendo o mundo se encher de manchas negras.

—Não faça isso. Dê-me a sua mão. –Escorreguei mais um pouco. –Seren!

A inconsciência de repente me puxou. A última coisa que ouvi foi Loki gritar meu nome.

***

—... Ferimentos graves... Não sabemos se irá resistir... Muito ferida...

—... Fizemos o que podíamos... Algumas semanas, talvez meses...

—... Adormecida até lá... Escuridão... Lamentamos muito... Nada pode ser feito...

—... Seren? Está me ouvindo? Por favor, acorde. Não pode ir. Eu te amo. Eu te amo...

***

—Senhora? A senhora pode me ouvir?-Abri os olhos lentamente, então franzi a testa.

—Por que está tão escuro? O que houve?

—Eu... E-eu preciso que a rainha fique calma... –Me sentei, colocando a mão na testa.

—Por favor, será que pode abrir as cortinas, ou...

—As cortinas estão abertas, soberana.

—Então por que está essa escuridão toda?-Sem resposta. –O que está acontecendo?

—As... As... Curandeiras disseram que a senhora... Bateu a cabeça muito forte quando caiu nas rochas. Ficará sem visão por algum tempo. Elas dizem que é reversível...

—O que?-Algumas lágrimas escaparam. –Eu estou cega?

—É temporário, rainha, não ficará assim para sempre.

—Me deixe sozinha.

—Senhora, o Pai-de-Todos ordenou que...

—Me. Deixe. Sozinha! Saia daqui!-Ouvi os passos dela se afastarem, então a porta abrindo e fechando. –Isso não pode estar acontecendo. Não pode... Eu não fiz nada para merecer isso.

Apertei a coberta com força, tentando parar de chorar. Tinha que ser um sonho, um pesadelo... Não podia ser real.

—É um castigo, não é?-Perguntei em voz alta. –Por não entregar Loki. Por... Por não tentar exterminar o que estou sentindo. É isso? É um castigo? Eu tentei fazer a coisa certa, eu tentei!-Ouvi um som baixo, parecia alguém prendendo a respiração. –Quem está aí?-Fiquei em silêncio, tentando ouvir mais alguma coisa. –Quem está aí? Eu sei que não estou sozinha. –Sem resposta. –Por favor, diga alguma coisa. Por favor...

***

Os dias se arrastaram lentamente, comigo presa na escuridão. Não havia o que fazer. As curandeiras me garantiram que em breve eu enxergaria de novo, mas não acreditei nelas.

Loki não apareceu mais. Eu sequer ouvia a voz dele. Bom, era a única coisa que eu podia fazer, afinal. Ouvir. Apenas isso. Ele se manteve distante, e não mandou nenhum recado.

Sempre havia uma serva para passar o dia comigo e me ajudar, mas eu geralmente ficava furiosa do nada e expulsava a infeliz do meu quarto aos berros. No dia seguinte, outra vinha para substitui-la. Acho que elas começaram a ficar com medo de mim e se recusavam a voltar.

Também sempre havia uma presença forte de alguém no quarto. Alguém que nunca dizia nada, mas eu sabia que estava lá. No início, suspeitei que fosse a serva do dia, que insistia em ficar, mas depois de alguns testes, descobri que não. A pessoa, seja quem for, nunca disse nada, sempre em silêncio, e sempre escapava quando eu tentava encontrá-la andando pelo quarto. Nos primeiros dias eu esbarrava nos móveis e acabava me machucando, então Loki ordenou que as servas colocassem tudo para os cantos, deixando um espaço livre caso eu quisesse andar.

***

—Bom dia, senhora. –Franzi a testa, tentando reconhecer a voz da serva. –Precisa de algo?

—Quem é você? Ishaia?

—Não reconhece a voz de sua melhor amiga, Seren?

—Sif? Sif, é você?-Estendi a mão, ela a segurou.

—Sim, sou eu. O Pai-de-Todos me contou o que houve. Sinto muito.

—Há mais alguém aqui?

—Não. Por quê?-Decidi não contar sobre a presença. Ela podia me achar louca.

—Nada. Como você sabe... Eu não posso ver nada.

—Idga me disse que está presa aqui há dias. Por que não sai um pouco?

—Sair para que? Para apreciar a vista do jardim?

—Vamos lá, minha amiga. Não pode se isolar. –Me ajudou a levantar. –Odin acha que seria bom tirá-la daqui para um passeio pelo palácio. Se bem que com esse cabelo...

—O que tem de errado com meu cabelo?-Coloquei as mãos na cintura.

—Nada demais, apenas parece um ninho de corvos. –Me guiou através do quarto. –Sente-se aqui. Isso. –Senti a escova passar no meu cabelo.

—Senti sua falta. Onde estava?

—Em muitos lugares. Era uma missão secreta, não posso falar dela com você. Ordem do Pai-de-Todos. –Suspirei. Sif colocou algo na minha cabeça.

—Eu não quero usar a maldita coroa.

—Ishaia que a fez. –Ergui a mão, tocando o enfeite, era uma coroa de flores. –Ela disse que você jogou sua coroa de ouro no chão outro dia.

—Meu humor não anda muito bom.

—Ah, eu imagino, você sempre foi meio... Irritável. Vamos, assim está bem melhor. –Fiquei de pé.

—Tomara que seja boa em guiar as pessoas, ou eu vou cair. –Riu.

—Serei cuidadosa, eu prometo.

Pude perceber o exato momento em que chegamos ao jardim de Frigga. O cheiro era único. Doce, porém não enjoativo. Era o lugar mais lindo do palácio.

—As servas estão cuidando bem das flores?-Perguntei, sentindo uma das rosas que minha mãe importou de Midgard.

—Parece tudo igual, você não percebeu... Desculpe, eu esqueci que...

—Não tem problema. Lembro-me muito bem daqui. –Então, a presença apareceu novamente. –Sif, há alguém aqui?

—Tirando nós duas? Não.

—Tem certeza? Eu sinto a presença de mais alguém.

—Acha que é um inimigo?-A ouvi desembainhar a espada.

—Não. Claro que não.

—Como pode ter certeza?

—Por que eu sinto. –Coloquei a mão no peito.

—Eu sinto aqui.

—Sif! Sif, preciso que venha aqui um momento!

—Quem é?

—Hogun. –Respondeu. –Eu já volto. Não saia daqui. –Revirei os olhos.

—Como se fosse fácil. Eu não tenho nenhum senso de direção.

—Então fique exatamente onde está.

Ouvi os passos dela se afastando. Girei lentamente no lugar, querendo captar algum movimento, ou algo assim, mas havia apenas escuridão.

—Sei que tem alguém aqui. –Avisei. –Por que nunca diz nada? Diga alguma coisa, por favor. –Silêncio. –Por favor, não me deixe falando sozinha. Quem é você?

—Por que está falando com as paredes?-Sif perguntou, se aproximando.

—Eu sinto que tem alguém aqui. É uma presença forte.

—Não há ninguém aqui além de nós, Seren. –Suspirei. –O Pai-de-Todos ordenou uma nova missão em breve. Preciso me preparar.

—Leve-me de volta ao meu quarto, por favor.

—Não quer ficar mais um pouco?

—Não. Sinto-me melhor lá dentro, cercada por paredes. –Entrelaçou o braço com o meu.

—Isso é apenas o medo falando mais alto. Você cresceu nesse palácio, conhece cada canto dele. Nada mudou.

—Mudou, sim. Eu não vejo nada. Isso é o que mudou.

***

—Tem que estar aqui em algum lugar. –Murmurei, estendendo os braços na frente do corpo. –Vamos, onde você está? Sei que não estou sozinha. –Esbarrei no pé da cama e caí. –Maldição!
Esfreguei os olhos, furiosa. Eu tinha uma pequena percepção de luz, começou quando acordei naquele dia. Então, assim que senti aquela presença novamente, tentei procurar o dono, ou dona, dela. Não estava fácil.

Voltei a abrir os olhos. Minha visão agora estava embaçada, mas eu podia ver um pouco. Ergui as mãos, conseguia distinguir meus dedos.

—Estou voltando a ver. –Sussurrei incrédula. Comecei a rir. –Estou voltando a ver!

Fechei os olhos e os reabri algumas vezes, notando como minha visão voltava aos poucos. Depois de algumas tentativas, eu estava vendo normalmente.

—Eu posso ver!-Gritei, então cobri a boca com as mãos, rindo. –Eu posso ver... Espera.

Olhei em volta, então encontrei o dono da presença que havia sentido o tempo todo.

—Você?


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Notas finais do capítulo

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