Pulsos escrita por Fuqboi


Capítulo 1
Minha saída de emergência


Notas iniciais do capítulo

Olá! Estou trazendo a vocês mais uma one.
Desta vez, participo do grupo CcL (Café com Letra). Depois de duas coletâneas perdidas, pois não consigo cumprir prazos, estou aqui contribuindo para a 14ª.

Caso queiram, recomendo que leiam ouvindo a música que serviu de base para a história — Pulsos, Pitty.

Espero agradar-lhes. Boa leitura. ♥



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Mais um dia por aqui, neste apartamento sem graça.

Se alguém me visse no momento acharia que encontro-me num estado de paz. Engano.

O marasmo corporal apenas esconde o fluxo de pensamentos revoltos que se passa em minha mente.

Não consigo compreender se esta atitude será realmente sensata. Porém agora não procuro me preocupar com algo, eu quero somente esquecer-me do que se passa ao meu redor.

Olhar para o céu é algo tão comum que as pessoas acabam não observando-o como merece. Por trás daquele tom azulado há algo mais profundo, algo particular e só seu.

Todos temos o nosso céu. Eu o definiria como a junção de partes que nos completam, sejam elas más ou boas. Confuso? É, eu não sou muito organizada.

Lembro-me do dia que perguntei à minha mãe por que o céu era azul. Todos temos essa fase, não é mesmo? A fase dos por quês. O período em que enlouquecemos nossos pais com perguntas e mais perguntas.

O diálogo estava tão presente comigo, a lembrança se recusava a ser esquecida. Eu não quero esquecê-la.

"Mamãe, por que o céu é azul?"

"Sabe, a luz do Sol tem várias cores..."

"Mas eu só vejo amarelo."

Ela havia sorrido e abaixou-se para tentar me explicar. É claro que eu não podia esperar uma resposta simples, minha mãe, como professora de física, fez questão de me dizer alguns detalhes. Confesso que não entendi muita coisa.

"Não conseguimos ver todas, querida. Uma das cores é o azul e seu tamanho é menor que o das outras. No ar, há várias coisinhas bem pequeninas que chamamos de partículas de ar, elas sentem-se... hum, iguais à cor azul. O azul é pego por elas e as partículas o liberam por todo este espaço que vemos. Por isso que todas as pessoas enxergam o céu azul."

Não, mamãe. Desculpe-me, mas a senhora estava errada. Nem todos vemos o céu da mesma cor, o meu céu não é azul.

A senhora conhece alguma cor que englobe tristeza, fraqueza, insegurança e covardia? Acho que não.

Talvez o meu céu seja cinza e nublado. Eu não sei, só consigo enxergar as emoções que envolvem-no.

Estou sozinha. Você não faz-se presente aqui comigo.

Sinto-me cansada de tentar entender as outras pessoas, cansada de tentar fazer com que elas me compreendessem, de estar sempre sozinha e de me sentir tão vulnerável.

Quero desistir de tudo isso. Não sei se é coragem ou covardia tirar a minha própria vida. Só sei que fui paciente para aguentar isso e mais um pouco.

Esta é a minha única saída. Minha saída de emergência.

Estou desistindo.

Talvez o efeito da grande quantidade de remédios esteja manifestando-se agora. A fraqueza tomou conta do meu corpo, causa do sangue derramado.

O que terá mais efeito sobre mim? A overdose, ou a falta de sangue? Mais uma coisa que eu não sei.

Tudo bem, decidi que não iria me preocupar com nada.

Talvez eu encontre minha redenção... bem longe daqui. No meu céu.

Adeus.

— Márcia.

 

Ela havia constituído uma família. Márcia e sua filha, Lorena. O seu céu.

Aquele momento foi marcado por angústia, ambas não conseguiam dizer sequer uma única palavra. Minutos antes, Lorena encontrou a carta que fizera parte da pior situação que sua mãe enfrentou.

As duas estavam despedaçadas. Márcia por ter sua fraqueza exposta ao seu ser mais amado, e Lorena por imaginá-la em uma situação de total desespero. Não era algo fácil.

Márcia sentiu toques delicados em direção ao seu antebraço. Ela sabia o que sua filha iria fazer.

A garota levantou a manga comprida da blusa e viu ali o que havia constatado um pouco antes. As marcas gravadas no pulso.

Márcia percebeu um olhar ferido pesando sobre si. Ela não queria fitar aqueles olhos marejados, sentia-se covarde. Sua resposta fora apenas uma lágrima solitária e pesada.

Estava ali o seu pedido de desculpas não proferido.


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Notas finais do capítulo

Confesso que não estou muito satisfeita com a narração após a carta, porém eu não consegui mudar. Mesmo assim, estou feliz com o resultado de minha primeira contribuição para o grupo.

Até alguma outra one! ♥