When we were young escrita por Bibela


Capítulo 4
Parte IV


Notas iniciais do capítulo

Harry e Gin ♥



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POV HARRY

 

 

 

Eu conheço a Ginny desde que me entendo por gente. Nossos pais são amigos desde a adolescência e quiseram que seus filhos tivessem a mesma união que eles sempre tiveram, por isso fomos criados praticamente como irmãos. Dizer que conheço a Ginny desde antes dela nascer não seria nenhum exagero da minha parte, várias fotos minhas e do Ron acariciando a barriga da tia Molly durante seus nove meses de gestão comprovam isso e mais um monte de fotos de um Harry aos dois anos segurando uma Ginny bebê em seu primeiro ano de vida reforçam a teoria de que fomos criados para sempre sermos parte da vida um do outro.

Acho que o sonho dos nossos pais sempre foi que nos tornássemos um casal no futuro e uníssemos nossas famílias por um laço definitivo - sempre nos consideramos uma família, mas se eu a Ginny nos casássemos um dia eles teriam netinhos em comum pro resto da vida -, embora eles nunca assumiram esse desejo para nenhum de nós dois. Quando começamos a namorar a felicidade e realização deles foi muito gratificante, dissipando todo nosso medo sobre uma possível reação reprovatória deles por essa coisa toda de irmandade, apesar de que sempre acharmos que isso seria meio impossível de acontecer.

Nossos pais nunca imaginaram que no fim iríamos bagunçar tudo e jogar fora a união que eles levaram anos para construir. O término conturbado do meu namoro com a Gin não afastou nossos pais ou abalou a amizade deles em nenhum momento, essa nossa confusão me mandou pro outro lado do mundo de coração partido e ela saiu de casa pra morar sozinha bem antes do planejado. Claro que isso os magoou de uma forma que eu nem consigo imaginar, no entanto eles se esforçam o máximo que puderam durante incansáveis seis anos para que nós dois - na realidade a Ginny - deixasse o orgulho de lado para conviver amigavelmente, o que de fato nunca aconteceu. Até aquele maldito almoço de ação de graças, que no fim não foi tão maldito quanto eu imaginava e nem mudou muita coisa a princípio.

Nossa história é longa e eu diria que um tanto complexa também, mas muito cheia de amor. Ginny e eu crescemos juntos, ela sempre foi uma linda menina de cabelos ruivos, sardinhas pelo rosto e olhos cor de mel, preciso confessar que muito mimada mais de um humor incomparável. Durante muitos anos, ela acompanhou eu e o Ron nas brincadeiras, nossa diferença de idade era pouca, então sempre conseguimos nos divertir juntos.

A Ginny era um tipo diferente de menina, não era cheia de frescura e enjoamento, ela não se importava de sujar as roupas e os pés, de ficar descabelada, suada e com as unhas encardidas. Sempre alegre, divertida e bem resolvida, ela me encantava e durante muitos anos eu só a enxergava como a irmãzinha do meu melhor amigo, eu nutria um carinho e cuidado imenso por ela desde sempre.

No entanto pra ela sempre foi diferente. Meu pai piadista e bem humorado como sempre foi, vivia provocando o tio Arthur e se divertindo dizendo que um dia eu ia roubar o coração da sua princesa, eu ficava morrendo de vergonha e ralhava com ele toda vez por isso, mas a Gin ficava toda feliz e fazia questão que todos os “com quem será” dos seus aniversários fossem cantados comigo e eu morria de vergonha todo ano.

Quando tinha 11 anos descobri pelo Ron que a Gin tinha uma paixão irritante - essas foram as palavras descritas pelo Ron - por mim. No começo foi engraçado, todas as cartinhas, balas e chocolates que ela me mandava diariamente causavam boas risadas em mim e no Ron. Como a garota bem resolvida que sempre foi, ela não se deixou abalar por todas as vezes que eu a ignorei e insistiu  em tentar me conquistar até que seu primeiro namoradinho apareceu. Por muito tempo, eu só conseguia olhar pra Ginny como a irmã mais nova que nunca tive e isso a irritava profundamente, pois ela tinha convicção que era o amor da minha vida.

Isso não me incomodou por muito tempo, eu até gostava de ser o centro da atenções dela, eu só passei a ficar irritado quando comecei a paquerar as garotas e ela espantar todas elas de perto de mim. Esse foi o momento em que eu tive que dizer pra ela que entre nós nunca aconteceria nada e que ela era como uma irmã pra mim - essa foi sem dúvida uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida. Ver ela sair chorando e me direcionar um olhar mortal me deixou muito mal, mas uns dias depois ela voltou a me tratar como sempre, o que foi um alívio pra mim.

Conforme fomos crescendo, nos tornamos muito próximos, passávamos muito tempo juntos e compartilhávamos tudo. Eu sabia que ela ainda nutria os mesmos sentimentos por mim, mas gostava da amizade dela e achei que conforme fossemos estreitando esse laço de amizade ela entenderia que entre nós não ia acontecer nada além disso e eu tinha certeza de que ela ia superar essa paixão de infância quando conhecesse outros caras, mas aí a vida veio e me surpreendeu.

A adolescência transformou a Gin em uma garota linda e de um corpo admirável. Eu me sentia mal pelas vezes que olhava pra ela com desejo, era difícil olhar pra ela e reconhecer que a menina divertida que eu sempre considerei como irmã tinha se transformado em uma garota atraente e que surpreendente - e sem que eu pudesse controlar - dominava os meus sonhos.

Aos quatorze anos a Gin já chamava a atenção de muitos caras em todos lugares que ela ia e nessa fase ela também começou a frequentar algumas festas comigo e com o Ron. Foi aí que comecei a perceber que as coisas estavam um pouco diferentes, eu comecei a sentir ciúmes dela,  claro que na época eu justificava como cuidado e proteção com a irmã do meu amigo, mas era muito além disso e eu ainda não sabia.

Pouco tempo depois ela se encantou por um idiota chamado Dino e teve seu primeiro namoro. Isso me incomodou de uma forma tão intensa que o Ron começou a me zuar dizendo que eu sentia falta das rimas e chocolates que a Gin me mandava todo dia. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, nunca tinha me apaixonado antes e a sensação era completamente nova pra mim. O que aconteceu foi que ela passou a ficar muito tempo com o namorado e quase nunca ficava perto de mim, eu comecei a sentir saudade dela e toda vez que ela chegava perto de mim parecia que eu tinha engolido uma pedra de gelo, meu coração acelerava e eu não sabia como me comportar perto dela mais, um nervosismo me dominava, eu ficava tímido e era tudo muito estranho.

Ela sempre foi uma garota linda, com aqueles compridos cabelos ruivos, olhos intensos e o sorriso que fazia tudo dentro de mim sair do lugar. Eu conseguia ficar olhando pra ela por vários minutos e nem perceber o tempo passar, ela povoava meus sonhos frequentemente e eu me pegava direto imaginando como seria beijar aqueles lábios tão vermelhos e afundar o rosto naquele pescoço tão branquinho e sentir aquele cheiro floral tão maravilhoso que exalava dos cabelos dela. Eu me via fazendo vários planos para um futuro em que Ginny Weasley era minha namorada e esses pensamentos me assustavam muito, eu não sabia o que fazer e nem queria assumir pra mim mesmo que estava perdidamente apaixonado por ela.

Eu não sei dizer muito bem como aconteceu, só sei que quando vi ela dedicando sua atenção e carinho para outro cara eu desejei cometer um assassinato e tirar aquele imbecil do lado dela, parecia uma cena tão errada de se presenciar sabe?! Ver que a Gin podia ter o riso fácil e ser tão espontânea com alguém que não fosse eu despertou em mim um desejo tão grande de ser a razão da felicidade dela e o causador daquele sorriso lindo brotar, de ser o motivo pra aqueles lindos olhos não pararem de brilhar. Eu passei a sentir uma necessidade gigantesca de estar perto dela e não fazia a menor ideia do que fazer diante disso.

A primeira a perceber meus sentimentos pela Gin foi a Hermione, claro que ela fez tudo parecer muito fácil e me garantiu que eu não deveria pensar que estar apaixonado por ela erra errado, afinal não éramos parentes de verdade. Ela me acalmou dizendo também que tinha certeza de que a Gin ainda era apaixonada por mim e que na hora certa, eu iria conseguir conquistar ela pra mim. Claro que essa informação vindo da Mione que era melhor amiga e cunhada dela me tirou um peso enorme das costas, era só uma questão de tempo para ela se cansar daquele idiota e eu ter a oportunidade de correr atrás dela, meu coração quase pulou pra fora do peito e eu não sabia como lidar com essa expectativa de ter ela pra mim.

Outra insegurança me dominou depois dessa conversa com a Mione e essa me assustou por completo: qual seria a reação do Ron quando soubesse que eu estava apaixonado pela sua irmã? Ele era muito ciumento e eu senti um medo absurdo disso influenciar na nossa amizade de alguma forma, então resolvi que só contaria pra ele se á Gin realmente quisesse alguma coisa comigo, porque ia ser terrível ter o coração partido na primeira vez que me apaixono e ainda perder o meu melhor amigo junto.

Tudo aconteceu muito rápido, em um dia eu me vi apaixonado pela Ginny e no outro eu já não conseguia mais parar de fazer planos e desejar poder andar de mãos dadas com ela por aí. Meus sentimentos por ela se tornaram tão intensos que foi assustador pra mim, era uma sensação tão nova e tão boa que me preenchia com a expectativa de como seria quando ela finalmente soubesse que estava certa esses anos todos, em como seria quando eu pudesse abraçar e beijar ela todos os dias.

Mas estar apaixonado por ela também me trouxe uma boa dose de sofrimento. Ver ela compartilhando momentos com outra cara fazia com que eu me sentisse péssimo e tive que engolir a vontade de socar a cara dele por vários meses só por ele estar perto dela e eu não, até que em um belo dia a Gin veio me contar que tinha terminado o namoro porque o idiota era ciumento demais. A felicidade que me invadiu com essa revelação dela quase me fez estragar tudo quando me vi abraçando e sorrindo feito um idiota pra ela.

Eu planejei por quase dois meses como faria pra me declarar pra Gin, eu queria que fosse especial e marcante pra nós dois, no entanto uma insegurança até então desconhecida tomou conta de mim. Eu senti medo dela não sentir mais o mesmo por mim, de me ignorar como fiz com ela por tantos anos e inseguro com a reação dela, resolvi adiar o momento.

Nosso primeiro beijo aconteceu em um momento inesperado e completamente diferente de tudo que eu já tinha planejado. Era um sábado à tarde e estávamos assistindo um filme romântico qualquer na sala da casa dela, nossos pais tinham ido passar o fim de semana na praia e o Ron tinha ido ao cinema com a Mione, então estávamos a sós. Em uma cena toda melosa, eu olhei pra ela e a Gin sorria lindamente olhando o casal fazer juras de amor no filme e eu me perdi olhando pra ela, aquelas sardinhas lindas perto do nariz, o sorriso largo estampado no rosto e olhos brilhando sonhadores.

Ela me prendeu como uma íman, eu não conseguia desviar os olhos dela, sentia meu coração acelerado e minhas mãos suarem. Fiquei não sei quanto tempo olhando-a e quando ela percebeu  que eu não prestava mais atenção no filme, me olhou de volta com o sorriso mais lindo do mundo. No momento em que nossos olhares se encontram eu pude conhecer a plenitude que era estar apaixonado e compartilhar momentos como este com a pessoa que agente ama.

Tudo aconteceu sem que pudéssemos controlar, nos olhamos intensamente por vários minutos e quando percebi, minhas mãos afagavam a boxexa da Gin enquanto eu podia sentir minha respiração acelerar junto com a dela, batendo quente no meu rosto. Quando nossos lábios se encontraram pela primeira vez eu achei que tinha chegado ao paraíso. A Gin infiltrou seus dedos em meus cabelos me puxando pra mais perto de si, enquanto eu enlacei sua cintura e grudei o corpo dela no meu. Nosso primeiro beijo foi lento e cheio de carinho, nos perdemos por não sei quanto tempo nos lábios um outro, explorando cada canto até então desconhecido da boca um do outro.

Nossas línguas encontram um ritmo perfeito imediatamente e os beijos logo se tornaram intensos e sem que eu percebesse, acabei deitado em cima dela no tapete da sala enquanto a Gin tinha as duas mãos espalmadas na minha bunda. Fiquei surpreso com a Ginny cheia de atitude que conheci, ela não teve vergonha de intensificar nosso momento e fazer suas vontades, se esfregando em mim constantemente e sempre me deixando grudado ao corpo dela. Eu não era muito experiente em ficar com garotas, mas ela com certeza fazia tudo ser perfeito e único demais.

Depois de muito tempo trocando beijos e carinhos, beijei sua testa e me sentei encostado no sofá e puxei ela pra se sentar ao meu lado. Peguei sua mão e fiquei brincando com seus dedos por vários minutos enquanto encontrava as palavras certas pra dizer pra ela tudo que eu sentia. No entanto, mais uma vez fui surpreendido pela Gin. Ela fez com que palavras não fossem necessárias nesse momento e sem que eu não esperasse, virou meu rosto em direção ao dela, me olhou nos olhos e abriu o sorriso mais lindo que já vi na vida pra mim. Eu sorri de volta e ela grudou seus lábios nos meus em um beijo apaixonado e cheio de carinho.

Esse beijo significou as palavras que não dissemos, foi a declaração silenciosa e  a demonstração de que estávamos perdidamente apaixonados. O que se seguiu foram momentos de completa entrega e felicidade pra nós dois. Nossas famílias ficaram felizes e realizadas de uma forma que não imaginávamos. Só o Ron que ficou enciumado no começo, mas a Mione fez com que ele esquecesse a implicância bem rápido.

A cada dia que passava com a Gin eu me sentia mais apaixonado, ela foi me envolvendo de tal forma que eu não conseguia mais dar um passo se ela não estivesse ao meu lado. Tínhamos uma coleção de momentos especiais e apaixonados, compartilhamos tantas primeiras vezes na vida que ela sempre vai ser a minha menina linda, minha parceira e cúmplice pro que quer que for.

Se eu fechar meus olhos consigo ouvir como se estivesse acontecendo agora a primeira vez que ela disse que me amava. Consigo me lembrar com exatidão da forma como seus os olhos brilharam e o perfume dos seus cabelos que grudaram em mim na nossa primeira noite de amor. Não me lembro de ter me sentido mais pleno e realizado na vida do que na primeira vez que a Gin se entregou pra mim, as sensações que nós dois sentimentos naquela noite são sem sombra de dúvidas especiais e inesquecíveis para nós dois. Consigo me recordar com clareza de todos os toques da Gin em mim e de todos os gemidos que envolveram a melhor noite das nossas vidas.

O que se seguiu nos dois anos que estivemos juntos só serviu pra nos deixar ainda mais apaixonados e com a certeza de que queríamos passar o resto da vida juntos. Com esse objetivo destinado, me dedique a proporcionar o melhor futuro que pudesse pra Ginny, eu sempre soube que os pais dela deram um duro danado para criar os filhos e eu queria que em nossa vida, ela tivesse todo conforto possível e nenhuma preocupação com dinheiro, e foi com essa intenção de dar o melhor que eu pudesse pra ela que acabei com tudo que tínhamos.

Eu era novo nesse lance de tomar decisões, apaixonado e querendo proporcionar uma vida de rainha pra mulher que eu amava. Sei que éramos jovens e que tínhamos muita coisa pra viver ainda, mais a certeza de que eu queria me casar, ter filhos e envelhecer ao lado da Gin me cegou. Se fosse hoje e com a maturidade que tenho, teria feito escolhas totalmente diferentes.

Eu sempre tive o sonho de ser médico, me especializar em oncologia e poder deixar a vida das pessoas um pouco melhor. Não vou negar que cursar medicina na melhor faculdade do mundo fez bem para o meu ego, mas ao contrário do que a Gin pensava, não foi o que me impulsionou a tomar a decisão de ir. Quando eu resolvi aceitar a bolsa, pensei que essa era a chance da minha vida, que eu ia morar nos EUA por cinco ou seis anos, ia continuar namorando a Gin - e quem sabe ela não iria pra lá comigo também depois que terminasse o colegial -, voltaria com a vida feita, com um futuro promissor e cheio de oportunidades pela frente. No entanto, o plano deu errado antes mesmo de começar.

Perder a Gin foi quase insuportável, tive que fazer um esforço sobre-humano pra não abandonar tudo, cruzar o oceano e só sair da porta da casa depois que ela me perdoasse. O vazio que ela deixou na minha vida e a insistência em não me atender fez com que tudo que acontecesse na minha vida nos anos seguintes fosse uma sucessão de escolhas erradas. Eu sentia falta dela todos os dias, sentia em cada passo que eu dava que esse não era meu lugar, muito menos o meu caminho, mas já era tarde demais pra voltar atrás.

Depois de um ano tentando contato e ela me ignorando, decidi que era hora de seguir em frente. Quando soube que ela tinha saído de casa e se afastado drasticamente da família me senti um grande idiota por envolver pessoas que eu amava nessa nossa confusão.

Uns meses depois eu conheci uma mulher num bar quando fui espairecer a cabeça, a Cho era linda, atraente e divertida. Deixei me envolver e uma coisa foi levando a outra, quando dei por mim ela já dormia na minha casa quase todos os dias e tinha mais roupas dela do que minhas no meu armário. Era horrível viver sozinho em outro país, a carência bateu e eu acabei me apaixonando por ela, mas não era nem de longe a pessoa que queria viver o resto da vida. A solidão me levou a continuar com esse relacionamento mesmo não sentindo tanta empolgação e quando ficou insuportável e eu quis terminar tudo, ela me contou que estava grávida.

Essa notícia me tirou o chão por uns dias, essa sem dúvidas não era a vida que eu planejei quando vim pra cá é muito menos a que me faria feliz. Eu não amava a Cho, fiquei contente pela criança, mas fiz o que a educação que meus pais me deram me ensinou a fazer, me casei. E essa foi a decisão mais difícil que eu tomei na minha vida, abandonei minhas esperanças de reencontrar a mulher que eu amava e tudo parecia tão errado, tão vazio, eu me praguejei muito por ter deixado minha vida vira essa bagunça toda há trás tantos anos atrás.

O casamento foi o que eu imaginei que fosse ser, uma droga. A Cho ficou insuportável e falava da Gin o tempo todo. Minha vontade era largar tudo e voltar pra casa dos meus pais, mas a responsabilidade não me deixou fazer isso. Quando as coisas estavam entrando nos eixos e se tornando mais suportáveis, perdemos o bebê - era menina, mas ainda não tínhamos escolhido o nome.

Esse foi sem dúvidas o momento mais sombrio e solitário da minha vida. Acho que ninguém nunca está preparado pra perder um filho e essa lição eu aprendi mais cedo do que gostaria. Depois disso a minha vida se tornou um tormento sem fim, a Cho só chorava e eu fiz tudo que podia para confortá-la, mas ela só dizia que a culpa do que aconteceu era minha. Um mês, depois decidimos que o melhor era pedir o divórcio e assim que resolvi a parte burocrática da separação, voltei para casa dos meus pais - a minha casa -, sem pensar duas vezes.

Eu já tinha iniciado a especialização em oncologia mais poderia transferir para Londres e também seria fácil conseguir uma residência por lá, tinha conseguido boas referências nos anos que estivesse nos EUA e isso com certeza me abriria muitas oportunidades, minha carreira não iria me prender mais a uma cidade que só me trouxe  sofrimento. Eu já tinha perdido tempo demais tomando decisões erradas e agora que a vida tinha me dado uma segunda chance, eu iria agarrá-la e correr atrás de tudo que perdi, custe o custar.

Assim que cheguei, meu primeiro impulso foi ir atrás da Gin, no entanto minha mãe me garantiu que eu a encontraria no almoço do próximo dia e que eu precisa refletir bem sobre a melhor maneira de fazê-la me ouvir, pois nem com ela e meu pai ela conversava direito. Quase não dormi a noite, a ansiedade por reencontrar a mulher da vida depois de tanto tempo não me deixava relaxar, eu sentia meu estômago embrulhando e a taquicardia me arrebatar. Conhecendo a Ginny como eu conheço, tinha certeza que ela não iria facilitar as coisas pra mim, no entanto eu estava determinado a conquistar ela de novo pra mim.

Encontrar com a Gin depois de seis anos foi indescritível pra mim. Quando coloquei meus olhos nela eu senti uma saudade sem tamanho me dominar, ela estava mais linda do que eu me lembrava e meu coração parecia que ia explodir de tão acelerado que estava. A rejeição dela a mim foi algo que eu já esperava, porém, o olhar de raiva que ela me lançou me doeu mais do que imaginei. Desejei o tempo todo ter um momento a sós com ela e quando a oportunidade apareceu não pensei duas vezes, nos tranquei dentro da adega de bebidas do tio Arthur.

Eu esperava várias reações da Gin, mas nenhuma perto da que ela teve. Quando ela me beijou pela primeira vez depois de tanto tempo, eu entrei em êxtase, só conseguia pensar que queria mais dela pra mim e matar toda a saudade que dominou ao longo desses seis anos. A surpresa que perpassou por mim quando ela me sentou na poltrona no fundo do cômodo e se acomodou sem receios sobre mim me proporcionando o melhor sexo da minha vida foi surreal. Ter a Gin em meus braços - por vontade e iniciativa dela -  outra vez, ouvir ela gemer meu nome e me proporcionar todas aquelas sensações que só ela conseguia me fazer sentir, me mostrou que eu a amava mais do que podia mensurar.

Eu esperava apanhar, ouvir gritos, xingos mais nada comparado a receber tanto prazer e felicidade da parte dela. Claro que a recusa dela a conversar e há me deixar plantando quando foi embora me desanimou, mas no fim do dia eu me sentia bem confiante, afinal se ela tinha se entregado pra mim daquela forma é porque algum sentimento ainda tinha restado naquele coração endurecido.

Eu me senti feliz quando deitei pra dormir naquela noite, ia fazer tudo que estivesse ao meu alcance para conquistar a Gin pra mim outra vez. Depois de uns dias, pedi o numero dela pro Ron, eu sabia que da parte dela não haveria nenhuma tentativa de contato comigo, então resolvi tomar a iniciativa. Claro que ela ignorou minha mensagem e isso não me surpreendeu. A Mione me aconselhou a dar um tempo para ela assimilar as coisas e depois tentar novamente.

Como eu só poderia transferir minha especialização depois de janeiro, consegui uma residência temporária de três meses no Hospital Central de Londres no setor oncológico e aluguei um loft temporário pro mesmo período ao lado do hospital. Se a Ginny continuasse com a recusa e não quisesse mesmo nos dar uma segunda chance, eu voltaria pros EUA. Não teria mais nada pra mim aqui se ela não me quisesse mais, claro que eu amava e queria estar perto dos meus pais, mas se eu não tivesse sorte no amor ia fazer com que minha carreira fosse a mais bem sucedida possível.

Eu estava doido pra ir atrás da Gin outra vez, no entanto o Ron e a Mione insistiram pra que eu esperasse um sinal dela e foi isso que eu fiz. À angústia de esperar por ela me corroía por dentro, tudo que eu mais desejava agora que estava tão perto dela era poder abraçar, beijar e amar essa mulher que tanto me enlouquecia. Como minha única alternativa era esperar, fiz a única coisa que era possível, me afundei no trabalho. Fazia muito tempo que não me sentia tão realizado assim, a rotina embora exaustiva, me proporcionava uma satisfação pessoal tão grande que conseguia deixar de focar na falta que aquela mulher de cabelos ruivos fazia pra mim.

Numa quinta-feira nublada depois de fazer um plantão de 12 horas, fui acordado às 14:02 horas por alguém tocando a campainha. Resolvi ignorar, como não tinha muitos amigos na cidade devia ser algum engano, no entanto, depois da mesma ser tocada repetidamente mais 4 vezes resolvi levantar. Ainda estava meio sonolento quando abri a porta e  me deparei com a Gin parada com aquele vestido branco justo no corpo, eu achei que estava sonhando. Demorei alguns segundos para assimilar que era mesmo ela ali e a convidar pra entrar. A visita inesperada dela me pegou de surpresa - certamente ela teria pego meu endereço com o Ron - e eu não sabia como agir.

Ela estava tão linda como essa roupa que deveria ser seu uniforme de trabalho que fiquei desorientado. Depois de fazer minha higiene matinal, voltei imediatamente pra sala e acabei me esquecendo de vestir uma camiseta e me senti realizado quando flagrei a Gin admirando minha barriga definida. Quando ela me disse que veio para termos a conversa que eu queria quase não acreditei, era muito sorte ela estar disposta a me ouvir tão espontaneamente e me permiti sentir esperanças.

A conversa se desenvolveu de forma melhor do que eu esperava, a Gin me ouviu pacientemente e eu tive certeza que acreditou em todas minhas palavras, eu a conhecia bem o suficiente pra conseguir identificar que seus olhos me transmitiam carinho e sinceridade, então eu pedi pra ela voltar pra mim. O beijo que trocamos em seguida foi o mais apaixonado e cheio de carinho que já recebi na vida, deixamos que toda saudade que sentíamos um do outro fosse exterminada nesse momento e eu me permiti acreditar que as coisas entre nós pudessem dar certo outra vez, no entanto, fui surpreendido quando a Gin foi embora correndo e me deixando plantado mais uma vez na porta do meu prédio.

Assim que entrei em casa permiti que todas as lágrimas de angústia que segurei durante esse mês viessem a tona em toda sua intensidade. Eu não esperava essa recusa depois de toda compreensão e reciprocidade que recebi da Gin, ela retribuiu ao meu beijo com tanto carinho, porque diabos ela foi embora dizendo que não conseguia? Fiquei destruído e sem saber o que esperar agora, eu já tinha feito tudo que podia e decisão agora estava nas mãos dela. Quando me senti melhor, me joguei na cama e só acordei no outro dia de manhã, eu estava emocionalmente e fisicamente cansado demais.

Sete dias se passaram e eu não recebi nenhum sinal da Ginny, nenhum indício de que ela estava disposta a tentar de novo. O Ron e a Mione não sabiam mais o que me dizer e eu já estava ficando incomodado com o olhar de pena que recebia deles, consegui entender perfeitamente como a Gin se sentiu quando fui embora e foi mais fácil entendê-la. Eu senti que não teria mais chances, eu tinha a machucado demais e se ela tivesse que voltar pra mim já teria voltado. Embora eu soubesse que ainda teria um mês e meio pra tomar minha decisão definitiva, as circunstancia me levaram a tomá-la antes do tempo programado, eu estava cansado de esperar e de machucar, então marquei minha passagem de volta pros EUA dali a três dia.

Fui me despedir dos meus pais e eles foram o que sempre foram comigo, compreensivos. Lamentaram muito que as coisas entre nós não estivessem dado certo e me desejaram boa sorte na minha nova empreitada da vida. O meus amigos - Ron e Mione - disseram que eu deveria ter mais um pouco de paciência e eu garanti a eles já tinha esperado o suficiente. Depois de passar os últimos dois dias resolvendo a parte burocrática e devolvendo o loft alugado, tinha chegado o dia de voltar pros EUA. No caminho para o aeroporto, passei numa floricultura e mandei um buquê de rosas pra Gin, no cartão resolvi colocar o horário do vôo - embora achasse pouco provável que ela as recebesse a tempo -, se ela ainda tivesse alguma coisa a me dizer, teria a última oportunidade.

Quando sentei na sala de embarque do aeroporto eu me senti péssimo, a sensação de déjà vu me pegou em cheio e eu só conseguia pensar que podia estar fazendo besteira de novo, no entanto, eu tinha me aberto pra ela, contando minha história, pedido perdão e pra ela voltar pra mim, dei espaço, tempo e esperei por mais de um mês, tinha feito tudo que estava ao meu alcance e se ela não conseguisse me perdoar, o melhor que eu podia fazer era seguir em frente.

As horas esperando o vôo foram uma tortura, embora eu não acreditasse muito que ela fosse aparecer, coração apaixonado sempre nutre aquela esperança. Eu estava chateado, não era o fim que eu queria pra minha volta pra casa, no entanto, me sentia tranquilo porque tinha feito tudo que estava ao meu alcance. Quando eu já tinha perdido as esperanças e estava conformado com meu destino de solteirão solitário, ouvi aquela voz que tanto esperei chamando meu nome no meio daquele emaranhado de conversa.

Meu coração deu salto, eu não conseguia acreditar na sorte que tive, ela tinha ido atrás de mim, não tinha desistido de nós! Quando levantei a cabeça vi que ela se aproximava de onde eu estava, sorrindo lindamente e com a expressão mais serena que a vi desde que voltei. Não consegui acreditar quando ela me pediu pra ficar e me beijou na frente daquele monte de gente. Eu me senti o homem mais feliz do mundo - sem exageros -, me senti completo de uma forma que não me sentia a vários anos, era uma sensação tão boa que até hoje não consigo definir. A Gin me chamou pra ir casa e foi isso que eu fiz, a certeza de estar no lugar certo com a pessoa certo me inundou de uma forma tão intensa que eu não conseguia parar de sorrir.

Nossa vida dali em diante foi um festival de coisas maravilhosas. Com a convivência, percebemos que ainda tínhamos a mesma conexão e afinidade de antes, fomos nos apaixonando cada vez mais - todo dia eu achava que não era possível amar ainda mais aquela mulher e no final, eu sempre descobria que era possível - e ficamos plenamente felizes. Moramos juntos desde o dia em que ela me buscou no aeroporto e nossas famílias não se cabia de tanta felicidade. Nós casamos depois de 3 anos e nosso primeiro filho James, nasceu dois anos depois.

Hoje, olho pra minha linda mulher - que dorme tranquilamente ao meu lado -, e agradeço por ela nunca ter desistido de nós, por ter perdoado meus erros e ter encontrado uma forma de voltar pra mim. Já fazem dez anos que estamos juntos e sete como casados, formamos nossa família, temos dois filhos lindos e nossa princesa está a caminho. Me considero o homem mais feliz do mundo e compartilho de um amor que poucas pessoas conseguem desfrutar ao longo da vida. Não consigo deixar de pensar no quanto fui sortudo por aquela linda menininha de cabelos ruivos e sardas pelo rosto ter visto em mim o amor da sua vida.

Escorro meus dedos pelo cabelo da Gin, que dorme esperada de barriga pra cima em seu sexto mês de gestação e me sinto mais uma vez realizado. Ter essa visão todo dia antes de dormir me enche de forças pra enfrentar o que quer que seja que a vida coloque em meu caminho. Sorrio ao sentir ela se virar na cama me procurando ao seu lado e me abaixo para depositar um beijo em sua testa.

— Eu te amo tanto - sussurro próximo ao ouvido da minha esposa e deposito mais um beijo em sua testa.

Sei que ela não vai me ouvir, mas dizer essas palavras pra ela me parece a coisa mais fácil do mundo e ouvi-la dizer que ama também, faz com que eu me sinta como o jovem Harry apaixonado de 17 anos, quando descobria o amor pela primeira vez.


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Notas finais do capítulo

É com o coração partido que chegamos ao fim de When We Were Young, como minha primeira história, é meu xodó ♥ Gostaria de agradecer mais uma vez minha queria consultora Paulinha por todo apoio ao longo da criação dessa história e a todos vocês que acompanharam, lerem e comentário minha história. Espero que vocês tenham ficado imensamente feliz em ler como fiquei em escreve-lá. Não me deixem de contar o que acharam do final e da história toda, atendeu as expectativas?
Mais uma vez, obrigada a todos que estiveram comigo nesses quatro capitulos! Um grande beijos de luz e nos vemos na próximo (quem sabe não está pertinho já hahaha) ♥



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