Mulher que se impõem

Mulher que se garante

   Histeria

Mulher que se cala

Mulher que se culpa

   Agonia

Mulher que se esconde

Mulher que se odeia

  Pobrezinha

Mulher que não se abala

Mulher que não chora

  Antipatia

Mulher que não aceita

Mulher que não quer

   Vadia

Mulher que não

Mulher que sim

 Mulher sem fim

Mulher sem respeito

Até o fim.

Mulher, eu sou mulher. Nasci com estigma, sem respeito, embora digam que eu sou exagerada. 

Era mais um quarta-feira, eu estava terminando minha graduação, e pensei que pegaria o melhor estagio, mas o Pedro pegou. O trabalho de conclusão dele não foi nem de perto tão bom quanto o meu, mas aparentemente o instinto masculino vale mais que competência, porque no final eu não iria aguentar a pressão e desistiria. "Foi melhor assim, Julia", meu orientador falou.

Eu peguei um trabalho menos importante e só peguei porque o Gustavo, também da minha turma, desistiu. E o pior, eu vi o contrato dele e o meu, ele ganhava cerca de vinte por cento a mais que eu, no mesmo trabalho, na mesma posição e com a mesma formação. Mesma formação entre aspas, porque eu obtive um aproveitamento bem maior que ele, mas tudo bem.

Então o Isaac chegou e ficou numa posição superior a minha. Isaac, o cara que começou a invetar boatos e  me chamar de vagabunda porque eu não quis ficar com ele. O mesmo Isaac que denunciou a garota que abortou um filho dele, abortou porque foi dopada em uma festa, a menina denunciou, mas Isaac é filho de promotor, Isaac nunca faria algo assim, Isaac é o coitado que teve um filho abortado por uma garota que não sabia lidar com suas responsabilidades.

Então veio meu chefe, que me assediou mesmo sendo casado. Eu denunciei, sai do emprego, fiquei com a fama de aproveitadora, golpista. Daí gritei, e me chamaram de feminazi mimizenta. Então chorei, e fiquei cansada. Como continuar lutando quando quanto mais eu grito mais minha voz é silenciada?

O que fazer quando se esta cansada demais para continuar?