—EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU FALAR SOBRE ISSO, REBECCA!

Quem ouvisse pelo corredor do Hotel facilmente deduziria que Anna estivesse dando o seu primeiro ataque de estrelato, mas na verdade apenas perdia a paciência com sua assessora. Haviam pelo menos quarenta minutos que a mulher tentava convencer- quase obrigar, na verdade — Anna a voltar sua imagem para o garoto que partiu seu coração anos atrás, dar a impressão que a mulher que partia corações sofria por dentro, e como ponto alto revelaria o nome por trás daquilo tudo. A mulher praticamente ameaçava a carreira da garota com falsas promessas de que ela despencaria pelos fãs não receberem o conteúdo que queriam, dentre outras atrocidades. Ela somente calou a boca quando Anna pegou seu telefone, nem se importando se era madrugada na Inglaterra, ligando imediatamente para seu tio.

—Tio Simon, me desculpe te acordar a essa hora, mas é que estou com um probleminha aqui.... Não, não tem relação com a turnê.... Não, eu não podia esperar até de manhã.... Eu.... REBECCA ESTÁ ME CHANTAGENDO PARA TOCAR NAQUELE ASSUNTO NA TELEVISÃO, TIO SIMON! – O sorriso que a garota ostentou após desligar o telefone dizia que ela claramente havia ganhado aquela disputa, rendendo a sua assessora um bom sermão de seu tio.

Anna normalmente não gostava de abusar do papel de sobrinha mimada, mas em situações como essa era impossível não usar seu poder. Eles haviam feito seu último show nos Estados Unidos, seguindo em direção para a América Latina em seguida. Ela já havia tomado banho e estava quase dormindo quando seu telefone começou a apitar. Quando pegou o aparelho, viu uma mensagem de Liam pedindo para abrir a Tweetcam que os garotos faziam. Estranhando um pouco, Anna apertou no link que ele havia enviado, dando de cara com os cinco garotos de pijamas empilhados em uma cama de casal.

Anna: quer dizer que quando os meninos ficam sozinhos eles dão uma festa do pijama?

Ela comentou conseguindo passar despercebida pelas garotas, mas não aos olhares atentos de Niall que lia cada mensagem.

—Pessoal, Anna banana tá enciumada porque não foi convidada.

—Ela tá mais para abacaxi, isso sim. – Harry riu.

—Sei não, Niall.... Não acha que é por Zayn estar numa festa do pijama que não seja dela? – Louis alfinetou.

—É verdade, Zayn. Sempre me perguntei o que vocês dois fazem juntos. Porque é impossível não imaginar outras coisas. – Liam começou a divagar, esquecendo-se completamente que não estavam sozinhos.

—Ah, sabe como é né... – Zayn coçou sua nuca com sua mão direita, fazendo uma cara confusa – Nós comemos, vemos filmes e as vezes até lemos algumas coisas...

—Vocês já se beijaram? - Louis tinha um sorriso perverso, dando um pequeno sinal para Niall tirar a câmera do rosto de Zayn. Ele sabia que o moreno confirmaria com a cabeça, mas diria que não.

Anna sabia que já estava na hora de intervir, pegando o roupão mais próximo e indo até o quarto de Liam, onde eles faziam a gravação. Bateu em sua porta com um pouco de pressa e sabendo que a câmera estaria apontada para a entrada fez sua melhor pose quando abriram.

—Foi aqui que ouvi o meu nome?

Todos caíram na gargalhada ao perceber suas pantufas de monstros, calça de pijamas de bolinhas, um roupão rosa bufante com um óculos escuros do tipo abelha no rosto.

—O que foi? É o meu modelito para festas do pijama.

— Inclusive os óculos?

—Vocês não sabiam a graça é ser o mais ridículo possível?

—Então deixe de ser egoísta e dívida com a gente. – Louis brincou enquanto tirava o roupão dela e vestia, jogando seus óculos para Harry.

—E nós? -Zayn reclamou por não ter nada.

—Vocês três já são ridículos o suficiente sem precisar da minha ajuda.

—Você está melhor, Anna Banana?

—Porque não estaria?

—Talvez por você ter desabado no meio do palco? – Louis não era nada sutil

—Isso não foi nada, Louis.

—Sério que vai chamar aquilo de nada?

—Eu não me lembro de mais nada, e vocês? – Anna se virou para Liam, Harry e Zayn, que negaram exageradamente.

Não demorou muito mais tempo para que a live terminasse. Cada um foi para o seu devido quarto, mas Anna não foi sozinha. Ela já estava abrindo sua porta quando escutou seu nome ser chamado por uma voz rouca.

—Meu nariz, Margaret!

—O que tem ele, Styles?

—Me adiantei, pensei que fosse te assustar dizendo que tinha fechado a porta nele.

—Não querendo ser grossa, mas o que está fazendo aqui? Temos que levantar cedo amanhã.

—Você esqueceu seus óculos comigo.

—Combina com você, o rosa.

—Engraçadinha. Você realmente está melhor?

—Porquê...?

—Anna, você quase desmaiou no palco.

—E isso por acaso é motivo para do nada você começar a se importar comigo?

—Só porque eu me preocupo não quer dizer que eu me importe, Margaret.

Anna não respondeu nada, apenas bateu a porta em seu rosto, soltando um longo suspiro ao se jogar em sua cama.

Ele nunca iria mudar.

***

Eram cerca de quatro da manhã quando o avião decolou em direção ao México. Nenhum deles estava sociável àquela hora da manhã, preferindo manter o silêncio absoluto. Quer dizer, pelo menos em palavras já que o telefone de Anna apitou algumas vezes com mensagens.

Zayn: ouvi que tiveram gritos no seu quarto ontem à noite, está tudo bem?

Anna levantou o rosto mal-humorada, localizando a cabeça morena coberta pelo capuz do moletom do outro lado do jatinho.

Anna: eu não surtei, não se preocupe.

Anna: era só Rebecca me chantageando para dar publicidade gratuita para aquele idiota.

Zayn: como assim?

Anna: ela queria que eu fizesse papel de coitadinha e revelasse o nome dele, senão minha carreira estaria arruinada.

Zayn: e o que você fez? Aceitou isso?!

Anna: óbvio que não, Zayn! Tive que colocar meu tio nisso, só assim para ela ficar quieta.

Zayn: mas... você algum dia ainda vai revelar?

Anna: vou, não posso guardar isso para sempre. Eu preciso esfregar na cara dele isso tudo.

Zayn: ainda acho que seria melhor se você desabafasse comigo

Anna: você só diz isso por estar louco de curiosidade em saber quem é

Zayn: também, mas... a gente passa tanto tempo junto que não consigo acreditar que isso você não quer contar

Anna: te garanto que você vai preferir a surpresa na hora

***

A produção do show não era desumana ao ponto de fazê-los viajar de ônibus assim que saíssem do avião, dando o dia e noite para descansarem. Se alguém disse que os viu dando tchauzinho pela janela do hotel, com certeza mentiu, já que eles praticamente hibernaram naquela pausa, dando as caras somente no outro dia pela manhã. A banda viajaria de ônibus pelo México, poupando um pouco de tempo e dinheiro com a gasolina do jatinho.

—Se tem uma coisa que eu não consigo entender é como conseguem estilizar um ônibus de viajem. – Anna cochichou para Liam enquanto entravam no ônibus que mais parecia um grande salão.

—Do mesmo jeito que conseguem fazer uma festa de aniversário dentro de uma limusine. – Liam a ajudou a subir no degrau.

—Eu já fui em uma, uma vez. É bem louco. – Niall se intrometeu, pulando em uma cadeira e se espreguiçando.

—Todos acomodados? Nossa próxima parada será em cinco horas. – O motorista apressou a entrada de Zayn, ainda completamente grogue de sono.

—Parece que tem uma coisinha nas suas costas, Zayn. – Louis comentou do outro lado do ônibus.

—O que?

—Uma cama. Esqueceu de sair dela?

—Ah, não enche.

***

Aquela já devia ser a terceira viagem de ônibus que faziam desde que haviam chegado no país, o que já deixava tudo um pouco mais familiarizado para cada um. Era cerca de meio dia quando Louis ligou o seu Instagram para fazer uma live, chamando Liam, Harry e Zayn.

—Oi pessoal! Estamos fazendo uma live surpresa apenas para descontrair. Às vezes é chato ficar um olhando para a cara do outro aqui dentro, sabem?

—Louis, estão perguntando onde está Niall. – Liam avisou, olhando os comentários do seu próprio telefone.

— Está bem ali, ó. – Louis mudou a sua câmera, focando nas duas cabeleiras loiras que dormiam lado a lado no sofá escuro. – Não é fofinho? – Ele falava mais baixo, se aproximando.

—Seria uma pena se alguém acordasse eles, não é? - Zayn deu a ideia.

—Você não ousaria...

—Ele só dá essas ideias malucas porque sabe que Margaret não vai fazer nada com ele.

—É o que vamos ver.

Silenciosamente, Zayn chegou bem próximo das costas do sofá que não ficavam grudadas a parede, pegando seu telefone e colocando no som de uma buzina. Quando colocou no volume máximo, chegou o mais perto que pode do ouvido dois, apertando o play.

“PEEENNN”

—AHH! –Niall e Anna deram um pulo no sofá, completamente apavorados pelo susto. Zayn já tinha se agachado de tanto rir, aproveitando para se esconder da fúria que viria.

Quando Anna finalmente se recompôs, pode dar uma varrida pelo lugar, indo diretamente em Harry.

—Styles, o que você... – Anna ameaçou indo em sua direção.

—Ei, não acredito que ele fez isso para o culpado ser eu! – Harry teve que segurar seus braços para impedir que batesse nele.

—O.... quem? – Era perceptível que apesar do susto, ela ainda estava com sono.

—Ali, ó. – Harry segurou em seus braços, a virando de frente para Zayn que ria descontroladamente.

—ZAYN MALIK, SE VOCÊ PENSA QUE PODE SIMPLESMENTE ACORDAR A GENTE ASSIM....

Uma forte freada forçou todo o grupo para a frente, desequilibrando a todos e preocupando as fãs que ainda assistiam a live.

Niall não havia se machucado muito, apenas batido com a cabeça no banco, e para falar a verdade nem os outros garotos. Havia sido o suficiente apenas para desviar a câmera para o teto.

E para impulsionar Zayn para cima de Anna.

Eles eram os únicos no chão, mas o que fui o suficiente para arrancar risadas de todo o resto.

—VOCÊ ENFIOU SEU NARIZ NO MEU OLHO!

—Bem feito, ninguém mandou me assustar daquele jeito. Sai de cima de mim, Zayn! – Anna reclamou, empurrando o corpo do garoto que tirava uma casquinha descaradamente.

—Cara, nem assim você consegue alguma coisa. – Louis soltou, provocando os dois. Três, na verdade, mas ele não sabia disso.

—Até parece que um dia ele vai conseguir alguma coisa. – Anna soltou, revirando os olhos para o sorriso que o garoto prendia.

—Não é só por que eu passo a maior parte do meu tempo com ela que necessariamente quero pegar ela.  Mas se você quiser....

—Vai te catar, Zayn.

Eles podiam estar brincando, mas aquilo certamente mexeu um pouco com outra pessoa. Quer dizer então que Zayn estava interessado, mas ela o recusava? E se....? Não, seria prepotência demais achar que toda aquela ignorância significava alguma coisa. Quer dizer, eles tinham tido seus momentos “íntimos”, haviam conversado, mas ainda não seria o suficiente. Também não era nada concreto, mas começava a o irritar a vontade de observá-la sempre que possível.

O que Harry não daria para estar na segurança de sua casa.... Lá com certeza não estaria tendo todo esse contato 24 horas por dia com ela, e com certeza não ficaria arrumando desculpas esfarrapadas para trocar alguma mensagem. Aquilo tirava toda a sua paciência, ao mesmo tempo que o deixava eu fórico ao perceber que ela dirigia alguma palavra a ele. Aquilo definitivamente não estava fazendo bem a ele. Porque ela tinha de odiá-lo tanto? O que raios ele havia feito afinal? Já tinha se desculpado pelo modo que a tratou quando se conheceram, mas....

Harry sabia que quanto mais tempo passavam juntos, mais Anna cedia um pouco, porém era a única a ter coragem de tentar se afastar. Ele não conseguiria nem se quisesse, aquela coisa que ela tinha o puxava como um ímã para perto, e ele com certeza estava decidido a fazê-la mudar de opinião.

***

Já se passavam das onze da noite quando Harry saiu de seu quarto – que dividia com Louis – decidido a ir ao banhieor. Ele não deveria ter tomado tanto refrigerante antes de ir se deitar, mas agora não adiantava de mais nada. Ele estava tão afoito que sequer reparou na lâmpada do abajur aceso na sala principal, apenas tomando consciência ao sair e ir em direção ao quarto, dando meia volta e indo apaga-la.

—O que está fazendo aqui, Anna? – Harry se senyou ao seu lado, ignorando o olhar que recebeu.

—Você não deveria estar domindo?

—Eu te pergunto o mesmo.

Com um suspiro cansado, Anna não prolongou muito a discussão, sendo sincera.

—Perdi o sono, não ia cometer o crime de acender  aluz no quarto e atrapalhar o sono de beleza de Zayn – ela revirou os olhos – preferi vir para cá.

—E foi isso que te tirou o sono? -  O garoto se aproximou mais, passando um de seus braços ao redor do encosto do sofá, bem acima dos ombros de Anna, enquanto o outro puxava o pequeno caderno para o seu colo.

Anna sequer se importou dlee ler aquilo, era só uma distração.

—Margaret, sinto lhe informar, mas isso não é uma coisa de tirar o sono. É uma porcaria.

—Assim como o cara, mas não posso fazer nad. Eu não ia conseguir dormir sem saber que não tinha acrescentado alguma coisa para esfregar em sua cara depois.

—Na minha? – Ele brincou.

Antes mesmo que pudesse perder a cor, Anna teve a língua mais afiada.

—Incrível como tudo gira em torno de você.

—Não é que gire, mas a sua escolha de palavras deu a entender isso. Eu sei que nunca teria uma possibilidade de isso ser para mim. Eu nunca tinha visto garota mais estranha na minha antes. – seu tom era brincalhão, o que não passou despercebido por Anna. Talvez aquela cena estivesse mais perto do que pensava, afinal.

Anna apenas revirou os olhos, tentando não se deixar levar pelo charme que Harry tentava passar.

—Anda, deixa eu ver isso aí de novo.

“Eu não sou uma garota qualquer

Vivendo no seu mundinho comum

Quero dizer, sou quente que nem uma G5

O que ele não entende

É que essa garota tem suas próprias vontades

Eu sei exatamente o que eu quero

Você parece tão, tão, tão sincero

Falando mentiras no meu ouvido

Achando que eu não sei da parada

Você pode ficar com ela

Mas eu quero mais”

—Você foi traída, Anna?

—Margaret.

—Isso não importa.

Ele continuoi lendo mais um pouco.

“Preciso de um namorado novo

Alguém que dê valor

Às coisas que fazem de mim alguém grande

Preciso de um namorado novo

Que me trate como estrela

Sempre coloca um sorriso no meu rosto”

—O que esse babaca realmente fez, Anna? – Pela primeira vez Harry olhava diretamente em seus olhos.

—Babaca?

—Ele só pode ter sido um para ter te destratado desse jeito.

—Ah.... Bem, é o que está escrito aí. Ele tinha a mania de me colocar para baixo.

—E por isso te traiu?

—Ele não me traiu, é apenas licença poética.

Harry ficou um tempo parado, apenas encarando a garota quando puxou a caneta de suas mãos e se acomodou melhor no sofá.

—O que pensa que está fazendo, Styles?

—Te ajudando.

—Porque?!

—Já que não posso bater nele, pelo menos você pode atingi-lo. Mesmo que isso continue sendo uma porcaria.

—Porque raios você iria querer bater nele?

—Ele te magoou, Anna.

—E porque isso faria jus a você?

Anna engoliu em seco ao notar o olhar penetrante que Harry lançou a mesma, não falando nada. Ela apenas acompanhou com os olhos enquanto o garoto se concentrava e escrevia rapidamente pelo caderno. Quando ele terminou, ela mesma não se aguentou de ansiedade, praticamente arrancando de suas mãos o caderno. Sequer se importou com a mão que ele apoiou cuidadosamente em sua cabeça, acariciando levemente os fios que caiam de seu coque.

“Eu lhe prometo uma coisa

Você nunca mais vai me decepcionar de novo

Me veja passar reto

Você vai ter o que merece

Diga-me agora, amor, dói?

Cansei de brincar sozinha

Pensei que fosse real

Agora eu sei o que não devo sentir mais

Gostaria que tivesse sido tudo um sonho

Vá em frente, fique com ela

Mas não comigo”

—Uau.

—Melhorei em 110%, não é?

—Também não é para tanto. Quer dizer então que devo fazê-lo sofrer?

—Ignore, se possível. Quando ele perceber quem você é agora, vai acabar correndo atrás.

Anna segurou a imensa vontade de rir em seu âmago. Se ele mesmo queria isso, então porque não fazer ao menos essa vontade?

—Se você diz...

—Acredite em mim, Anna.

Eles acabaram por se entreolharem por um longo minuto, até que Anna se levantou rapidamente indo para o seu quarto.

—Boa noite, Styles. Obrigada pela.... Ajuda.

—Boa noite, Anna. – Harry tinha um sorriso no rosto que o impediu de agradecer de volta a garota, apenas tendo noção de seguir para o seu quarto também.