Uma Mera Coincidência escrita por ChatterBox


Capítulo 1
(1)


Notas iniciais do capítulo

Gente estou repostando essa fanfic.
Eu nem sei como mas a primeira vez que a postei eu marquei como "Terminada" e depois não consegui editar para postar nenhum capítulo novo.
Espero que gostem.
Boa leitura.
Bjitos, Chatterbox.



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Roberto abriu a porta e atendeu o carteiro. Era mais um dia especialmente normal do seu cotidiano. Contas de luz, água, telefone, e um pacote de papelão retangular, que evidentemente escondia um livro.

— Ah, mais um desses livros.

Baforou. Era o segundo mês que recebia livros promocionais pelo correio. Ele era produtor de filmes, e algumas editoras credenciadas lhe enviavam as obras mais recentes, esperando que ele pudesse indica-las a sua preciosa lista de amigos artistas intelectuais.

— Obrigada, Raimundo.

Agradeceu ao carteiro, que se despediu com um aceno de cabeça e um “não há de quê, seu Roberto”.

Fechada a porta, ficou na quietude do seu apartamento, exceto pelo gato que lhe roçava os pés naquele momento. O gato, Frederico, era o mais fiel dos companheiros para Roberto, que odiava companhias escandalosas.

Era muito cômodo, miava, mas só de vez em quando. Comia, esquentava seus pés durante a noite e era bom acaricia-lo.

Examinou as correspondências e a caixa com o livro. Era uma sexta-feira atípica naquela semana. Sem trabalho. Nada de projetos. Se deu o direito de ir para casa e descansar, desfrutar da companhia silenciosa do seu gato e um bom punhado de filmes bem categorizados.

Jogado no sofá, deu uma boa olhada na caixa que guardava o livro e resolveu abri-la. Quem sabe não tinha a sorte de ter achado uma boa leitura?

Aberta a caixa, leu o título grafado na capa dura: “O dia é mais um sonho”. Blergh, título manjado. Nada que pudesse o impressionar, mas por encargo de consciência, preferiu olhar a contracapa e fazer uma análise da sinopse.

“A vida icônica e interessante de Roberto Prazeres, um astro irreverente, nascido em uma cidade pequena, com um grande sonho e grandes mudanças. A trajetória modesta e cheia de risos que vai fazer o mundo sorrir.”.

Leu novamente. E mais uma vez. Seria alguma piada?

— É só o que me faltava terem feito uma biografia não autorizada minha...

Resmungou consigo mesmo, ainda hesitante em acreditar no que via. Cruzou o olhar pela sala e encarou uma pilastra sentindo um leve embrulhar no estômago. Não podia acreditar na possibilidade daquilo estar acontecendo.

Seria uma coincidência? Mas como? Era o nome dele, e as descrições, leu mais uma vez, eram: “astro irreverente”, “nascido em uma cidade pequena”, “grande sonho” e “grandes mudanças”... Nada que fosse mais específico sobre ele.

Olhou a orelha do livro, a procura do nome do autor. Era uma autora. Gabriela Faria. Quem seria essa mulher? Examinou a sua foto. Nunca vira ela na vida. Aparentava ser mais jovem que ele, mal ter virado os trinta anos, e ele beirava os trinta e dois.

Poderia ser alguma espécie de fã? Uma louca?

Como ela achou que isso seria permitido? E a estranha coincidência do livro ter sido enviado para sua casa era muito suspeita.

Com certeza havia algo de errado. Sentiu a testa queimar, e baforou a primeira vez, irritado. Abriu o primeiro capítulo do livro, e para se impressionar mais ainda, viu que era narrado em primeira pessoa.

Inflou o peito de ar, com toda a frustração. As primeiras linhas pareciam terem sido narradas durante sua adolescência, e era estranho como as palavras eram parecidas com a que ele usava.

Era provável que a história tenha terminado quando conseguiu se mudar para o Rio de Janeiro e começar uma carreira como cineasta, julgando pela decoração da capa, que lhe aparentava ser meio juvenil.

Era muito frustrante ter que ler aquele livro, mas se ele queria acusar a autora de algo, tinha que ter certeza de que era realmente sobre ele.

Ao continuar a leitura do livro, fez algumas descobertas ainda mais angustiantes. Havia detalhes sobre sua vida. Coisas muito particulares que ele nunca tinha contado para ninguém. Aliás, quanto mais avançava no livro, mais tinha certeza de que ele tinha escrito. Porque a forma de escrever, as palavras e tudo que ele pensava... Estava tudo ali.

Cada página era mais agoniante. Ele mudava de posição. Não satisfeito começou a andar de um lado para o outro da sala, tenso, e lendo em voz alta cada palavra, cada vez mais desesperado.

Tirou os óculos de grau do rosto algumas vezes, para limpar o suor que escorria na testa. Ele queria parar de ler, mas a sua curiosidade não lhe permitia. Sempre virava a próxima página na esperança que alguma coisa estivesse fora dos acontecimentos reais da sua vida, ou alguma chance, qualquer pista de aquilo pudesse fazer sentido.

Qual era a explicação para tal fenômeno?

Ele passou a tarde inteira, e parte da noite lendo o livro sem parar. Se alimentou mal. Preparou qualquer comida que não demandasse muito tempo perto do fogão e longe do livro.

E quando terminou, se viu na deplorável posição de confusão completa, que era: sentado na balaustrada da entrada da casa, com os braços apoiados nos joelhos flexionados e encarando o livro. Que ele cuidadosamente posicionou no braço do sofá bege à sua frente.

Aquele livro era impossível. Ele nunca, jamais, poderia existir. Tinham informações que ninguém poderia descobrir. Coisa sobre a sua vida, que nem ele se lembrava mais, e não tinha contado para seus pais, ou seus amigos. Pensamentos íntimos, verdadeiros... E a descrição de tudo. A sua aparência quando mais novo. O temperamento difícil do seu pai, as loucuras e as vergonhas que passou enquanto tentava angariar um emprego e até uma paixãozinha antiga que não deu em nada.

Como ela poderia saber de tudo isso?

Estava confuso. Mas de alguma forma, assustado. O fato de não conseguir explicar aquele fato fazia com que inventasse teorias malucas de conspiração.

Pensou até que poderia ser um sonho. Que a qualquer momento ele poderia acordar na sua cama de casal solitária, suando e desorientado, porém aliviado por tudo ter voltado ao normal.

Mas e se não fosse? Quais eram as hipóteses?

Pensou nas seguintes:

Era uma pegadinha

A autora era uma louca, stalker, que vem espionando ele, e descobrindo tudo sobre sua vida durante todo esse tempo

Havia uma explicação espiritual ou mística para aquela situação (embora se detivesse a pensar nisso e colocasse como última das opções, por ser um pouco cético)

Para terminar a sua crise existencial, ele pensou no que fazer. Seguiria sua vida como se nada tivesse acontecido, ou iria até as últimas consequências? O que ia acontecer caso ele não fizesse nada e o que ia acontecer se ele fizesse?

Valia a pena mexer naquela história?

Pegou o livro mais uma vez, e encarou a foto da autora. Magra, aproximadamente 23 anos, cabelos castanhos um pouco abaixo dos ombros e pele clara. Tinha os braços cruzados sobre o peito e vestia um moletom salmão, sorrindo timidamente para a foto.

Haviam algumas informações sobre ela e resolveu lê-las.

“Gabriela Faria, nascida em 14 de junho de 1992, já tem dois livros publicados e mora atualmente em São Paulo. Gosta muito do gênero jovem-adulto, mas pretende se aventurar nos outros estilos algum dia. Entre seus hobbys o mais importante é escrever.”.

São Paulo. Aquilo dificultava a teoria de que ela vem o espionando durante todo esse tempo, já que ele morava no Rio. E de uma certa forma, era reconfortante, porque saber que alguém vinha acompanhando todos os seus passos o deixava com um frio na espinha.

Porém, se aquela não era mais uma opção tão plausível, o deixaria com as outras opções não muito coerentes. Deveriam haver mais motivos possíveis.

Foi então que lhe veio a ideia: “Eu estou louco”. E de uma forma perturbadora, aquela hipótese pareceu ser a mais coerente. Teria ele inventado tudo aquilo? Estaria no meio de um surto psicótico, ou sei lá o quê?

Mas até duvidava da capacidade da sua própria mente de criar tantos detalhes. Se sentia tão confuso...

Numa atitude súbita de consciência, ele resolveu ir até o seu notebook. Digitou o nome da autora no Google e esperou que isso lhe desse algumas pistas.

Encontrou lá, algumas coisas como: o título dos seus outros dois livros publicados, o perfil do facebook, uns poemas postados em alguns blogs, e por incrível que pareça, umas fanfics de sua autoria.

Imaginou que fosse encontrar alguma referência a ele em algum momento. Que ela tivesse compartilhado algo referente a ele, porque aquilo explicaria melhor a possibilidade dela ser uma fã obsessiva. Mas não havia nada. Nem seus livros eram sobre qualquer tema suspeito. Em grande parte eram apenas romances para jovem-adultos um tanto clássicos.

Fotos amigáveis dela em festas familiares, algumas noites de autógrafos e umas selfies. Parecia ser totalmente normal. E era mesmo esquisito que alguém pudesse ser fã dele. Diretores não alcançam tanto prestígio assim no Brasil. Poucos nomes são popularmente conhecidos, e ele... Não tinha tido trabalhos de tanta expressão assim. Atualmente vinha trabalhando com frequência na área de comerciais, nada que lhe obtivesse renome.

Não tinha nada suficiente para uma pessoa se apaixonar obsessivamente a ponto de escrever um livro inteiro sobre sua vida. Mas a mente de pessoas loucas não era tão facilmente explicada, quem dera.

Mas tinham mais perguntas sem resposta naquela questão. Aqueles detalhes... Aqueles nomes, acontecimentos... Mesmo para alguém que tivesse o perseguido, jamais seria possível ser tão fiel à realidade.

Era como se ele mesmo tivesse escrito.

E se tivesse? Teria relatado aquelas coisas em algum lugar e não se lembrava? Pouco provável. Apesar da sua veia criativa, nunca teve tanto interesse em escrever. Especialmente sobre sua vida.

O que mais rabiscava eram roteiros de peças e afins. Teria se lembrado se houvesse algum manuscrito perdido que pudesse ser plagiado.

No fim das contas nada fazia sentido.

Foi uma noite agitada. Uma parte do seu cérebro não queria deixa-lo dormir. Só queria ficar acordado com os olhos arregalados pregados no teto, se afogando ainda mais na própria paranoia. Tinha que se recuperar, pensou. Não podia deixar aquele acontecimento acabar com a sanidade dele.

No dia seguinte, tinha olheiras profundas abaixo dos olhos e uma manhã que não queria encarar. Cansou de se debater no colchão às seis da manhã, e pôs-se de pé para ir à cozinha, preparar um café.

Ali, detrás de um dos balcões da cozinha, com uma das mãos espalmadas sobre a superfície e a outra com a xícara de café, imaginou se não seria a hora de parar de surtar. Queria que seu cérebro parasse de pensar naquilo, e quando a xícara estava vazia, já tinha tomado uma decisão.

Ia fazer o possível para não pensar mais no assunto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Até o próximo.
Mil bjs,
Chatterbox.



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