Um amor de mãe escrita por Carol Bandeira


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Bem, fico pensando em como Betty Grissom deve se sentir em relação à nora. Essa fic é uma junção do que eu acho que pode se passar na cabeça dela, e é um tanto quanto triste.



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Betty Grissom acabara de chegar em casa após um longo dia de trabalho na Fundação Gilbert. A senhora adorava seu trabalho e era muito ativa na comunidade dos surdos, mas era certo que já não tinha mais o mesmo fôlego que antes. Porém, apesar do cansaço que sentia todo o fim de expediente, ela considerava essa uma alternativa melhor do que ficar em casa sozinha, somente com livros para companhia.

         Após um banho quentinho e uma sopa para o jantar a senhora foi até seu computador, querendo ver se um certo alguém estava disponível para conversar. Na sua lista de contatos brilhavam muitos números, menos aquele que ela buscava. Desapontada, Betty desligou o computador e foi até a estante buscar um livro para ler.

         Enquanto passava os olhos nos títulos a sua disposição Betty deixou seu olhar cair em uma foto exposta ali. Era de um momento recente, no qual seu filho levou ela e sua esposa para um jantar que ele havia prometido. Na foto estavam os três, Gil no meio com um braço em cada mulher. O sorriso era radiante em seu rosto. A senhora lembrou que após a foto ele deu um beijo em cada uma e disse como ele era feliz em ter mulheres tão fantásticas em sua vida.

         Aquela tarde, vendo o casal tão confortável e amáveis um com o outro, Betty até imaginou que para eles seria possível superar a distância. Mesmo com toda sua experiência de vida lhe dizendo ao contrário, ela queria acreditar, pois a felicidade de seu filho dependia disso. A felicidade de seu filho parecia estar com Sara e isso tinha de ser suficiente para ela.

         Então, quando algum tempo depois ela recebeu a informação de que eles iriam se separar ela se entristeceu. Pela expressão do filho soube como aquilo o estava afetando mais do que ele queria transparecer. Sua segunda emoção foi raiva, raiva daquela mulher que fazia seu filho sofrer. Porque em sua opinião não poderia ser Gil a terminar a história deles. Seu menino havia mudado de continente para estar com ela, e o que Sara fizera para agradecer?

         A bem da verdade, a opinião de Betty sobre a nora nunca fora uma das mais favoráveis. Não era como se ela detestasse a morena, na verdade, ela sabia bem da boa índole dela. Sara era uma mulher forte e com um bom coração. Não era o caráter dela, nem o fato de ter ciúmes da relação dela com o filho. Mas desde o início do relacionamento dos dois a senhora tinha dúvidas se ela era o que seu filho precisava. Betty bem se lembrava daqueles tempos longínquos.

         A primeira vez que seu filho tocara no nome Sara Sidle foi quando ele fora promovido a supervisor do turno da noite em 2000. Betty se lembrava de estar preocupada com Gil, pois vira no noticiário a cobertura do trágico acidente com uma colega de trabalho. Ela somente conseguira falar com o filho uns dois dias depois. Gil aparecera em sua casa para lhe acalmar e explicar a situação. Ele não parecia muito feliz com o jeito como fora promovido, mas não havia muito o que pudesse fazer a respeito disso. Ele tocou em Sara de passagem, dizendo que trouxera uma amiga para cuidar do caso de Warrick.

         Enfim, desde então, se ele falava dela era sempre uma situação condicionada ao trabalho, assim como Gil falava de qualquer um de seus colegas. Naquela época, Betty já desistira de sonhar com um casamento para seu filho e netos. Ela se contentara em saber que, ao menos Gil parecia contente com sua vida.

         A situação começou a mudar em 2005, logo depois daquela horrível situação com Nick Stokes. A senhora acompanhou as notícias pela tv, como os outros habitantes de Vegas, e como sempre, seu filho lhe contara uma versão açucarada dos fatos, após tudo ter se resolvido. Mas as coisas não voltaram a ser como antes. Desde que Betty se mudara para Vegas, ela estava acostumada a receber uma ligação de seu filho por semana. As visitas eram sempre nas noites de folga dele, quando Gil a levava para jantar em um restaurante chique, ou então para assistir a algum show ou peça de teatro.

         Entretanto, Betty passou quase um mês sem receber notícias dele após o ocorrido. Sabendo que seu filho por vezes podia ficar perdido no trabalho a senhora achou por bem deixar passar mais uma semana. Afinal, se algo de ruim acontecesse, ela seria a primeira pessoa a ser contatada. Quando nem uma mensagem ele se dignou a enviar, Betty resolveu já ser tempo dela se intrometer. Esperou dar uma hora mais provável para ele estar em casa, e telefonou. A senhora esperou e esperou. Quando achou que ele não iria atender seu menino finalmente pegou o telefone.Ao perceber que era sua mãe, Gil se desculpou profusamente e prometeu compensar sua falta fazendo uma visita.

         A visita em questão foi naquela mesma semana, em um dia de trabalho. Betty não gostou muito, sabendo que seu filho poderia ter que sair sem nem mesmo terminar o jantar que ela preparara com tanto gosto. Mas sua decepção foi logo deixada de lado, quando Gil a explicou o porquê de seu sumiço. Ele estava namorando! Betty não coube em si de felicidade e quis marcar logo um dia para conhecer a futura nora. Gil não falara muito, somente que seu nome era Sara, ao que a senhora perguntou se era a mesma Sara de São Francisco. Gil confirmou e disse que sua mãe iria gostar muito dela.

         A partir daí Betty já começou a ter suas dúvidas. Ela sabia que essa Sara trabalhava para Gil, e isso poderia ter muitas consequências negativas para a imagem de seu filho. Ela não expos seu pensamento a seu filho, querendo não tirar aquele sorriso do rosto amado. Quando Gil trouxe Sara para sua casa, aí então que Betty perdeu o chão. Sempre muito educada, a senhora não destratou em nenhum momento a jovem namorada de seu filho. Mas ao ver o quão nova aquela garota era, bem... seus medos pareciam ter fundamentos. Afinal, por que uma mulher tão jovem iria querer se juntar a um homem mais velho? Ainda por cima sendo mais um lobo solitário do que qualquer outra coisa? Ela tinha medo de que Sara simplesmente quisesse subir na carreira utilizando seu menino.

         Enfim, Gil pareceu perceber o desconforto de sua mãe, e na próxima vez que ele veio visita-la, confrontou a senhora sobre isso. Betty tentou expor seu ponto de vista, mas Gil disse que Sara não precisava de nada daquilo para subir na carreira, afirmando o quão competente ela era. Mostrando-se chateado, Gil quase foi embora da casa da mãe, mas Betty o segurou pelos braços e pediu desculpas, mas ela só queria cuidar dele. Como todo filho, Gil disse que já podia se cuidar sozinho, e Betty prometeu tentar uma aproximação de Sara. Satisfeito, Gil prometeu a mãe que quando ela conhecesse Sara melhor, ela entenderia o que ele estava falando.

         Betty e Sara se esforçaram para melhorar o clima uma com a outra, mas a senhora ainda não via o que a jovem tinha para oferecer a seu filho. Primeiro, elas eram mulheres de gerações muito diferentes. Enquanto Betty fora criada para ser esposa e mãe, Sara era tão orientada para a carreira quanto Gil. Ela não era feminina o bastante e nem se esforçava para deixar a casa arrumada para receber a Gil. Ela tinha opinião sobre tudo e invariavelmente discutia seu ponto de vista com unhas e dentes. Também não parecia ligada a sua família Além disso, a comunicação entre elas era precária, já que Sara mostrava dificuldades em aprender a língua dos sinais. Somado a isso, elas quase não passavam tempo juntas. Betty então achava que Gil podia encontrar alguém melhor para se relacionar, mas nunca diria isso a Gil. Afinal, ele parecia feliz com a morena.

         No ano de 2007 mais uma vez a vida deles deu uma reviravolta e Sara foi raptada e deixada para morrer no deserto. Graças ao bom Deus eles puderam encontra-la a tempo, e nos dias seguintes Betty ficou ao lado dos dois para ajudar. Enquanto Sara convalescia a senhora pode ver o carinho que seu filho cuidava dela, e a devoção de Sara para seu filho podia ser vista nos olhares húmidos que trocavam. Betty então decidiu que, mesmo Sara não sendo a mulher que ela idealizara para seu filho, nenhuma outra conseguiria enxerga-lo com tanta paixão, paixão esta que ela só vira refletida nos olhos de seu finado marido, que Deus o tenha.

Naquela época, os dois já moravam juntos e tinham até um cachorro. Então não foi com surpresa que Gil pediu o anel de noivado de sua família. De bom grado ela deu a peça para o filho e mais uma vez agradeceu aos céus por poder estar presenciando aquele momento. Betty achou que poderia morrer em paz agora, mas que também poderia esperar mais um ano para ver um nascimento de um neto, quem sabe?

Mas a vida não deixa que reles mortais façam planos, e mais uma vez Betty viu seu filho se voltar para seu mundo solitário, quando Sara foi embora de Vegas. Todas as dúvidas voltaram feito flechas, e a senhora teve ímpetos de ir atrás dela e fazê-la engolir toda a dor que seu filho sentia. A situação só piorou com a morte de Warrick, e Betty não pode fazer nada a não ser observar seu filho cair em depressão.

Colocando a foto no lugar, Betty desistiu de pegar um livro e optou por colocar uma música para tocar. Sentando-se em sua confortável poltrona, ela alcançou o chá que havia deixado na mesinha ao lado e bebericou o líquido quente. Pensou então nos anos que se passaram, em como o filho saiu do laboratório para ir atrás de seu amor. Betty recebera postais e fotos vindos de Costa Rica, e a seguir um convite para um casamento. Ela já não estava muito feliz com esse reencontro, pensando que se Sara bem decidisse partir novamente, dessa vez mataria a Gil. Não havendo nada que pudesse fazer, ela assistiu a uma simples cerimônia, e contava os dias para as longas conversas de Skype, enquanto eles andavam em Lua de Mel por toda a Europa. Quando Gil resolveu trabalhar na França, então, Betty quase pegou um avião e foi até lá cuidar de seu menino, sabendo que Sara não saberia fazer isso bem.

Novamente, quando ela já começava a se acostumar com a ideia de seu filho longe, mais uma vez ela levou uma bofetada. Sara estava de volta, e sem o seu marido. Dessa vez, Betty teve que tomar partido. Falou aos dois que aquilo não era um casamento, sendo bem mais explicita com Gil. Para Sara, ela escreveu uma carta perguntando como é que a nora esperava manter seu marido feliz estando a mais de mil quilômetros de distância? Ao que parece, sua carta não foi muito bem recebida, e ela teve que escutar seu filho lhe dando uma bronca e dizendo que do casamento deles, eles que sabiam o que funcionava ou não.

Agora Betty podia dizer com certeza que a distância fez mais uma vez sua vítima. Uma lágrima escorreu em seu rosto. Betty não era de chorar, mas ela realmente tinha tanta esperança no casal. Embora Sara nunca fosse sua escolha ideal, ela acabara por passar a borracha no passado. Se seu filho podia perdoar a mulher, quem era ela para não fazer o mesmo? Mas ao que parece, Sara tinha coisas mais importantes em sua vida que seu casamento e jogou Gil para escanteio. Balançando a cabeça, Betty foi colocar a xícara na pia e já ia se deitar quando um apito soou pelo aposento. O mais rápido que pode Betty foi até o computador e aceitou a chamada. Do outro lado da tela, estava seu filho, e com os olhos embargados ela sorriu. Seu menino parecia bem, mas havia um ar de melancolia em torno dele que deixou a senhora desconfortável.

—Meu menino...como está a sua viagem?

—Bem, mamãe...- mas ela podia ver que nada estava bem.

—Vai passar meu filho... eu estarei sempre aqui para você...

—Eu sei, minha mãe- ela pode ver um sorriso brotar em seus lábios- Não se preocupe, vai ficar tudo bem!

E sim. Vai ficar tudo bem...   


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Notas finais do capítulo

No final, fica tudo bem mesmo não é?



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